Tempo de voltar finalmente à PS3 (e virão mais uns quantos artigos desta plataforma muito em breve) para jogar um dos primeiros títulos da Platinum Games, lançado no ano de 2009, alguns meses após o lançamento do seu jogo de estreia, MadWorld e do Infinite Space, um interessante RPG da Nintendo DS que gostaria de arranjar um dia destes. E este Bayonetta é um excelente hack ‘n slash repleto de sequências de acção over the top, uma jogabilidade frenética tal como a série Devil May Cry (o que também não é por acaso, pois ambos têm o Hideki Kamiya como produtor) e com uma personagem principal muito icónica. Já não consigo precisar onde nem quando comprei o meu exemplar, mas foi seguramente barato.
Jogo com caixa, manual e papelada!
O contexto deste jogo passa-se num mundo outrora controlado por duas facções distintas: os Lumen Sages, movimento do lado do bem, e as Umbra Witches, cujo seu poder advinha das forças das trevas. No entanto, apesar dessas forças antagónicas, o mundo estava em equilíbrio. Eventualmente algo acontece e as bruxas são practicamente todas extintas pela facção rival… todas excepto a Bayonetta, protagonista que controlamos, que acorda sem grandes memórias do seu passado e Jeanne, uma outra bruxa rival que aparenta conhecer bastante do passado de Bayonetta. Portanto sim, este é um jogo que nos vai colocar a lutar contra as “forças do bem” onde a maior parte dos inimigos são criaturas angelicais, com halos na cabeça e tudo.
Os controlos não podem ser customizados, mas encontram-se aqui perfeitamente bem explicados
Já a nível de mecânicas, este é, tal como referi acima, um jogo de acção bastante over the top e frenético e que, tal como a série Devil May Cry, mistura o combate corpo-a-corpo com recurso a armas brancas e o de armas de fogo, possuindo uma grande variedade de diferentes combos possíveis, muitos deles bastante estilosos até, mediante as armas e acessórios que tenhamos equipado na altura. Um dos grandes focos está na mecânica de dodge onde, quando nos desviamos de algum golpe inimigo mesmo à última, entramos automaticamente e de forma temporária num modo de câmara lenta (witch time), onde os nossos golpes se tornam bastante mais poderosos. Se sofrermos dano enquanto estamos nesse estado, ele acaba por ser logo interrompido, no entanto. Portanto, como devem imaginar, esta é uma mecânica de jogo importante e que nos obrigará a estudar bem o movimento dos nossos inimigos para causar o máximo de dano possível, até porque a nossa performance vai sendo medida ao longo do jogo e os pontos extra que ganhamos em jogar bem serão igualmente importantes para comprar itens ou outros upgrades. De resto, para além da barra de vida, Bayonetta vai tendo também uma barra de magia, que pode ser utilizada para uma série de outras habilidades especiais, incluindo as técnicas de execução rápida de certos inimigos. No entanto, sempre que somos atingidos perdemos magia também. De resto convém também mencionar que o jogo possui também um simples sistema de crafting onde podemos criar itens que nos regeneram vida, magia, deixam-nos temporariamente mais fortes entre outros, se bem que o jogo nos penaliza na avaliação se os utilizarmos.
Os primeiros combates acabam por servir de um pequeno tutorial que nos vai ensinando o básico
Mas para além da acção frenética que tão bem caracteriza os jogos da Platinum Games, este Bayonetta em particular tem uma estética e direcção artística muito peculiar, a começar precisamente pela sua personagem. É certo que Bayonetta é uma personagem feminina cheia de curvas interessantes, provocadora e sedutora, mas nada disto é propriamente gratuito. As suas poses exageradas e/ou provocadoras durante os combates e cut-scenes são sempre apresentadas com um bocadinho de bom humor, o que acaba por suavizar a coisa para os mais sensíveis. De resto, a restante visão artística deste Bayonetta é também muito interessante pelas influências do estilo barroco, quanto mais não seja por enfrentarmos inúmeras criaturas angelicais, em contraste com uma outra visão mais distópica de ficção científica que também nos é apresentada. O voice acting, que nos é apresentado apenas em inglês, é também bastante bom e a actriz que deu a voz a Bayonetta teve um óptimo papel. A banda sonora é uma interessante e agradável mistura entre temas mais jazz, electrónica ou música mais orquestral, com um toque de música sacra, o que uma vez mais se adequa ao mundo em questão.
A direcção artística deste jogo é muito boa, especialmente no design dos inimigos e bosses
Visualmente é também um jogo muito interessante, embora o meu primeiro impacto não tenha sido nada positivo. Já há algum tempo que não jogava nada desta geração, então quando o comecei a minha impressão foi “uau, isto parece um jogo de PS2” visto que os modelos e texturas são muito mais simples do que o que estamos habituados a ver actualmente, pelo menos logo nos momentos iniciais, que também são acompanhados daqueles tons cinzento e castanho que tanto representaram aquela geração de consolas. Esse trecho inicial ainda me causou grandes motivos de preocupação pois a acção frenética fazia com que a PS3 se arrastasse de forma bem notória e incomodativa e os meus pensamentos foram logo “ok, a internet estava certa, a versão PS3 deste jogo é mesmo má”. Mas à medida que fui jogando tudo isso se dissipou. É verdade que a performance do jogo não é incrível na PS3, mas depois desse segmento inicial nunca tive problemas tão notórios de performance. E os gráficos, assim que começamos a explorar cenários mais abertos e combater criaturas mais variadas, o jogo foi crescendo em mim, muito por culpa também da direcção artística e sequências de acção extrema, características da Platinum Games. Tornou-se óbvio que o jogo é graficamente superior a qualquer coisa da geração anterior, as minhas impressões iniciais não poderiam estar mais erradas e ainda bem!
Referências à Sega são sempre bem-vindas!
Portanto este Bayonetta é um excelente jogo de acção e um marco na Platinum Games. Pena que na altura, enquanto eles tiveram um contrato de publicação com a Sega, muitos dos seus jogos acabaram por serem fracassos de vendas, o que é pena, pois este Bayonetta e o jogo que lhe seguiu, o Vanquish, são ambos clássicos absolutos dessa geração. Pelo menos a série Bayonetta acabou por receber algumas sequelas, após uma parceria com a Nintendo que levou a essas mesmas sequelas acabarem por ser lançamentos exclusivos para sistemas da gigante nipónica nos dias que correm.
Por fim, a colectânea que faltava! Lançada no ano passado, esta é também a primeira desta “colectâneas HD” da série Ace Attorney a receber um lançamento físico em território europeu, pelo que pela primeira vez não foi necessário importar, obrigado Capcom! Não sei porque é que apenas a PS4 recebeu o lançamento físico mas tudo bem. Esta colectânea inclui dois títulos lançados originalmente para a Nintendo DS, algures entre 2009 e 2011, com Miles Edgeworth como protagonista principal.
Jogo com caixa. Já nem ao trabalho se dão de incluir um folheto publicitário.
No que diz respeito à jogabilidade, na verdade nada muda assim tanto desde a introdução dos primeiros Ace Attorney. Apesar de Miles Edgeworth ser um procurador (advogado de acusação), vamos na mesma precisar de investigar cenas de homicídio, recolher provas e interrogar uma série de testemunhas, muitas vezes procurando contradições ou inconsistências nos seus testemunhos. Existem outros procuradores e detectives que competem connosco e muitas vezes as pessoas erradas acabam por ser suspeitas, pelo que o nosso trabalho muitas vezes até parece o de um advogado de defesa… de resto, todos os casos aqui retratados representam apenas todo o trabalho de investigação até um suspeito ser encontrado e a sua acusação ser formalizada, não chegando a entrar no processo de julgamento (salvo raras excepções).
Os raciocínios lógicos foram uma das pequenas coisas aqui introduzidas em ambos os jogos.
A outra diferença a nível de mecânicas de jogo é mesmo a maneira como exploramos os cenários. Enquanto nos restantes jogos da série toda a navegação é feita num sistema de menus, e os objectos poderiam ser inspeccionados/interagidos através de um cursor, agora podemos mesmo explorar cada sala livremente. À medida que vamos explorando e falando com pessoas, o Miles Edgeworth ficará também com algumas ideias soltas retidas na sua cabeça, cujas podem depois serem organizadas em linhas de raciocínio lógico para chegar a certas deduções. O segundo jogo desta compilação introduz também o Mind Chess, que é uma espécie de um confronto em modo debate, para obrigar certas testemunhas que estejam inicialmente relutantes em colaborar. Basicamente temos de escolher como reagir ao que o nosso oponente nos diz, dentro de um tempo limite.
O segundo jogo introduz também o Mind Chess, onde tentamos, através de diálogo, desarmar as defesas da pessoa que queremos interrogar
Tanto num jogo como no outro vamos tendo 5 casos de homicídio para resolver e tal como tem sido habitual nos restantes jogos da série Ace Attorney esses casos vão acabar por estar todos relacionados entre si e o segundo jogo acaba por ter também uma relação directa com o anterior, pelo menos no início. Uma das coisas que mais gostei no primeiro Miles Investigations foi o facto de, ao longo dos 5 casos, terem sido repescadas várias testemunhas bastante icónicas de jogos anteriores, como é o caso da velhota Oldbag, o trapalhão Meekins ou o chato do Larry Butz. No segundo jogo algumas personagens icónicas como o Larry ou a repórter Lotta marcam uma vez mais o seu regresso, mas a história continua interessante como um todo e as novas personagens Eustace Winner ou a juíza Verity Gavèlle até que se revelaram bastante interessantes. Temos aqui também uma pequena “viagem no tempo”, onde temporariamente controlamos o pai do Miles Edgeworth. Ambos os jogos desta compilação decorrem entre os primeiros dois jogos da trilogia que tem o Apollo Justice como uma das personagens principais.
Em ambos os jogos exploramos os cenários livremente. Temos também a possibilidade de alternar entre as sprites antigas da versão DS ou as redesenhadas em HD
De resto, a nível audiovisual não há muito a acrescentar aqui. Esta compilação HD tem todos os cenários e personagens redesenhados com um pouco mais de detalhe e resolução, embora confesso que não tenha gostado tanto do trabalho dos artistas envolvidos desta vez. São aqueles sorrisos com as bocas inteiramente brancas… mas é uma pequena coisa. Sendo este um jogo de aventura/visual novel não há muito que se possa esperar daqui, até porque ambos os lançamentos vieram originalmente da Nintendo DS. A banda sonora contém músicas bastante variadas e é agradável, mas nada que seja propriamente memorável. Em suma, tipicamente os jogos da série Ace Attorney sempre foram mais apreciados pelas suas histórias e casos de homicídio algo complexos, sempre com uma boa pitada de humor e estes não são excepção.
À medida que vamos avançando nos jogos, iremos também desbloquear alguma arte adicional
Como tem sido habitual nas restantes compilações HD que têm vindo a ser lançadas desta série, poderemos também desbloquear uma galeria que nos permite ver alguma arte e os modelos 2D das personagens envolvidas, bem como a banda sonora de ambos os jogos.
Tempo de finalmente voltar para a Mega Drive e ficarmos aqui com um grande jogo da Treasure, que por sua vez já havia produzido uns quantos jogos de acção bastante bons para a consola da Sega, como é o caso dos clássicos Gunstar Heroes ou Dynamite Headdy. Este Alien Soldier tem no entanto uma outra peculiaridade, visto que não chegou a receber nenhum lançamento físico nos Estados Unidos, mas sim apenas através do serviço Sega Channel como um jogo descarregável. O mesmo aconteceu com um certo lançamento do Mega Man… e como este é um excelente jogo de acção da Treasure, naturalmente que é um jogo bastante coleccionável, pelo que as cópias japonesas e também europeias têm vindo a ser alvo de importações massivas por parte de coleccionadores norte-americanos. Ou seja, não é um jogo barato e o meu exemplar também não o foi, embora tenha tido a vantagem de utilizar alguns cupões para atenuar bastante o seu preço final.
Jogo com caixa.
Este é então um run-n-gunshooter tal como no Gunstar Heroes, mas na verdade acaba por ser practicamente um boss rush, pois os segmentos entre bosses são bastante curtos, já os bosses, esses são bastante numerosos (na casa das dezenas), pelo que há que dar algum mérito à Treasure pela variedade de bosses que temos de enfrentar, todos com múltiplos padrões de ataque. As mecânicas de jogo e os controlos são também complexos, pelo que a curva de aprendizagem é algo elevada e tendo em conta que este não é propriamente um jogo fácil (como é habitual na Treasure), vai-nos também obrigar a muita práctica e memorização dos diferentes padrões de ataque que os bosses têm para nos mostrar. Antes de começar o jogo, podemos escolher 4 armas de 6 possíveis para equipar na nossa personagem, estas variam em vários tipos de projécteis, explosivos, raios laser ou lança-chamas, todos com diferentes alcances e trajectórias de fogo. As armas que usamos não têm munição infinita, mas vão-se recarregando com tempo quando não são usadas. No entanto, ao longo do jogo, os power ups que podemos apanhar podem-nos restaurar vida, mas também podemos ver itens com armas, cujas vão alternando com o tempo. Apanhar esse power up substitui a arma que temos equipada no momento, mas caso apanhemos a mesma arma que temos equipada, essa tem as suas munições restabelecidas ou até expandidas!
Antes de o jogo propriamente dito começar teremos de escolher 4 armas distintas para equipar
No que diz respeito aos controlos, o direccional move a personagem, o botão A serve para alternarmos de arma (em conjunto com o direccional e depois pressionar A novamente para confirmar), o botão B dispara e o C salta. Mas existem muitas mais particularidades a ter em conta. Por exemplo, pressionar baixo e A permite-nos alternar entre métodos de disparo: por defeito apenas podemos disparar estando estáticos e usar o direccional para direccionar o fogo, mas podemos alternar e activar um método de disparo na direcção do nosso movimento. O botão B serve para disparar e temos autofire activado por defeito, mas se apenas apertarmos ligeiramente o botão B duas vezes seguidas activamos um escudo capaz de deflectir projécteis inimigos. Por fim, o botão C é o que tem mais que se lhe diga. Por exemplo, a altura que saltamos depende do tempo que tivermos o botão pressionado e se o pressionarmos em conjunto com o direccional para cima permite-nos saltar ainda mais alto. Pressionar o botão C novamente a meio de um salto faz com que o nosso jetpack se active e fiquemos estáticos no ar. Pressionar o botão de salto uma vez mais faz com que saltemos novamente. Durante um salto se tocarmos no tecto a nossa personagem cola-se ao mesmo, podendo-se mover normalmente de cabeça para baixo. Mas a habilidade mais importante de todas é o dodge, que pode ser activado ao pressionar no botão C em simultâneo com o direccional para baixo, com a nossa personagem a teleportar-se para a direcção onde está virada. Somos invencíveis durante a animação do dodge, pelo que será uma habilidade extremamente valiosa ao longo de todo o jogo. Para além disso, se tivermos a barra de vida no máximo quando o fazemos, a nossa personagem é envolta numa bola de fogo, retirando uma grande percentagem de dano aos inimigos em questão. No entanto também perdemos parte da nossa vida sempre que usamos esta habilidade.
Quando saltamos se tocarmos no tecto ficamos lá agarrados, o que também dá algum jeito em certos níveis.
Como podem observar, há muitas nuances nos controlos do Alien Soldier e sim, os bosses vão sendo bastante variados tanto no seu aspecto como habilidades e padrões de ataque, pelo que utilizar todas as habilidades que temos à nossa disposição torna-se crucial, bem como saber que armas utilizar em cada situação. Portanto sim, é um jogo difícil também pela sua curva de aprendizagem, mas por outro lado é também bastante recompensador quando conseguimos derrotar alguns desses mesmos bosses! Temos duas dificuldades: super easy e super hard, mas são ambas difíceis. No modo “fácil” a acção pode ser mais lenta o que nos dá um melhor tempo de reacção mas por outro lado não nos dão temos mais tempo para completar cada nível, pelo que o tempo acaba por ser um inimigo também bastante importante se decidirmos optar por esse caminho.
Visualmente é um jogo muito bem conseguido, em particular na grande variedade de bosses, bem detalhados e animados
A nível audiovisual, uma das coisas que a versão europeia deste Alien Soldier perdeu é a mensagem “VISUALSHOCK! SPEEDSHOCK! SOUNDSHOCK! NOW IS THE TIME TO THE 68000 HEART ON FIRE!” o que tirando os erros de tradução para inglês, nos indica que este é um jogo que tira máximo partido do processador Motorola 68000. E na verdade é um jogo impressionante com as suas sprites grandes, múltiplos efeitos de parallax scrolling, cenários bastante diversificados e bem detalhados e bosses gigantes, muitos deles constituídos por várias sprites articuladas, como tem sido habitual noutros jogos da Treasure. Tudo isto com uma boa performance, sem os abrandamentos comuns na rival da Nintendo. Uma das coisas que mais gostei é a maneira dinâmica pela qual os níveis vão estando divididos, onde um nível acaba, o seguinte começa logo nesse preciso local e os cenários vão lentamente se transformando à medida que progredimos no jogo. São muito poucas as mudanças bruscas de cenários! De resto, nada de especial a apontar ao som. Já a banda sonora, apesar de não ser má, confesso que gostaria de ouvir algo mais próximo de um rock pesado, algo que a Mega Drive sempre fez muito bem e a meu ver até se adequaria bem neste jogo.
A Treasure é muito engraçada. O SuperEasy é na mesma difícil, mas tem um sistema de passwords e permite-nos também controlar a velocidade do jogo.
Portanto este Alien Soldier é então um excelente jogo de acção da Treasure e apesar de não ter sido seu o último lançamento na Mega Drive (essa honra recaiu no Light Crusader) este acaba por ser um jogo bem à imagem do que a Treasure nos havia habituado até então e sim, sabe bem mais a despedida do que o action RPG acima referido. Um jogo de acção absolutamente recomendado que pode ser jogado de forma legítima e mais económica em várias compilações que foram sendo lançadas ao longo dos anos ou em lançamentos do tipo virtual console da Nintendo.
Ora cá está algo que já não jogava há muito tempo, um jogo de corridas com uma estética e jogabilidade puramente arcade, algo muito bem-vindo numa altura em que simuladores (ou pseudo simuladores) acabaram por ganhar muito mais protagonismo no mercado. Este HotShot Racing é um jogo com uma estética que faz lembrar os primeiros jogos de corrida arcade em 3D da Sega, como é o caso do Virtua Racing ou outros títulos lançados para o sistema Model-1, com um número muito reduzido de polígonos e sem texturas (embora existam algumas texturas mais discretas aqui). A primeira versão deste jogo que me chegou à colecção foi a versão PC (steam) cuja foi oferecida pela loja digital Fanatical, algures em Maio de 2023. Entretanto vi a versão de Switch em promoção na Pressstart por menos de 15€ em Agosto desse ano e acabei por aproveitar.
Jogo com caixa
No que diz respeito à jogabilidade, esta é completamente arcade, onde teremos de memorizar os vários circuitos para ter sucesso e atravessar checkpoints dentro de um tempo limite. Travar ligeiramente antes de cada curva faz com que o nosso carro entre em drift, algo que teremos de dominar para ultrapassar algumas secções mais apertadas. Sempre que fazemos drift, ou aproveitamos túneis de vento deixados pelos carros dos nossos oponentes, vamos enchendo um conjunto de 4 barras de turbo, que podem posteriormente ser utilizados sempre que tal nos convenha. É um jogo bastante divertido de se jogar, sendo apenas frustrante pelo rubber banding da inteligência artificial. Muitas vezes aconteceu eu estar conforavelmente na frente da corrida e de repente antes da meta sou ultrapassado por um carro, ou na última curva, em drift, um carro oponente dar-me um toque na traseira que me faz perder completamente o controlo, com o meu carro a ficar muitas vezes em contra-mão, enquanto o oponente segue a sua vida tranquilamente e do primeiro lugar passo para o último, sem qualquer margem para recuperar. Isto são coisas que acontecem frequentemente e tornam a experiência algo frustrante!
Visualmente é um jogo que presta homenagem aos primórdios dos jogos de corrida em 3D poligonal da Sega e isso é fantástico!
À nossa disposição vamos ter no entanto várias personagens para controlar, cujas têm também acesso a diferentes carros, cada qual com diferentes valores de velocidade de ponta, aceleração, ou drift e sim, nota-se bem a diferença entre conduzir um carro com boa aceleração e velocidade e péssimo drift, ou outro que até pode não atingir uma grande velocidade, mas que faça as curvas muito mais facilmente. À medida que vamos correndo vamos também amealhando algum dinheiro que pode posteriormente ser utilizado para customizar os diferentes carros que vamos tendo acesso. Alguns outros upgrades vão sendo desbloqueados à medida que vamos jogando e tirar partido das mecânicas de drift ou turbo. Já no que diz respeito aos modos de jogo, este Hotshot Racing inclui vários, onde o principal é mesmo o Grand Prix. Aqui o objectivo é o de correr em pequenos campeonatos de 4 circuitos cada um, onde ganhamos um número maior de pontos consoante a nossa posição no final de cada corrida, com o objectivo final de ser o primeiro na classificação de pontos no fim. Fora isso temos também a possibilidade de participar em corridas rápidas, time trial ou várias possibilidades de multiplayer, incluindo o online. Para além de tudo isto, poderemos também participar nalguns modos de jogo muito peculiares como é o caso dos Cops and Robbers, Drive or Explode ou Barrel Barrage, introduzido num DLC gratuíto que também nos traz alguns carros e circuitos extra.
Multiplayer local em split-screen é também possível, embora não o tenha experimentado.
Dentro desses modos de jogo adicionais, o Cops and Robbers é um jogo de perseguições onde, em qualquer um dos circuitos disponíveis, os jogadores dividem-se entre polícias e ladrões. Os ladrões terão de chegar à meta em segurança, já que os seus carros têm uma barra de vida que se vai desgastando com o dano sofrido. Os polícias polícias têm o papel de causar o máximo de dano possível aos ladrões, visto que os seus carros são indestrutíveis. O Drive or Explode é uma analogia aos filmes Speed. Aqui todos os carros têm barras de vida e o objectivo de cada corrida é o de conduzir sempre acima de uma velocidade limite, caso contrário começamos a sofrer dano. À medida que vamos avançando, o limite de velocidade mínima vai aumentando, pelo que vai ser cada vez mais difícil não sofrer dano. Por fim, o Barrel Damage, que são corridas “normais” onde de cada vez que passamos por um checkpoint ganhamos um barril explosivo (podendo acumular um máximo de 2) e cujos podem ser largados na esperança de causar dano a alguém. Naturalmente todos os carros possuem uma barra de vida que, se chegar a zero, coloca-nos de fora da corrida.
As corridas são frenéticas mesmo como manda a lei
Como já referi acima, o propósito deste jogo é fazer uma homenagem aos jogos de corrida arcade da Sega da primeira metade dos anos 90, como é o caso do Virtua Racing ou até do Daytona USA, embora este último já fosse um jogo de Model-2, com modelos poligonais mais detalhados e suporte a texturas. Aqui a parte estética é mesmo para replicar os modelos de baixo polígonos e sem texturas de jogos da Model 1, como o já mencionado Virtua Racing ou Virtua Fighter. No entanto, ocasionalmente vemos neste jogo algumas texturas aqui e ali, mas não tem mal, a imagem passa perfeitamente por um jogo de homenagem à tecnologia do sistema Model-1. E apesar de apenas ter aqui referido certos jogos da Sega dado a proximidade visual ao que o sistema Model-1 fazia, na verdade o que aqui não faltam são referências visuais a imensos clássicos arcade dos anos 90. Logo o primeiro circuito tem uma ponte-pênsil que nos remete para o Virtua Racing, outros têm uma roda gigante, outros túneis em encostas marítimas tal como no Ridge Racer, entre muitas outras referências, como helicópteros a sobrevoar a pista. As pistas em si, apesar de manterem estes visuais propositadamente simplificados, são também bastante variadas entre si no que diz respeito aos cenários e também aos tipos de pavimento, com a performance dos carros a responderem à medida. De resto, confesso que apesar de ter a versão PC há mais tempo, foquei-me, por comodidade, mais na versão switch. E apesar dos seus visuais propositadamente simples, a versão switch possui (muito ocasionalmente) algumas quebras bem notórias de frame rate o que num jogo deste calibre é algo que tem impacto. Por fim, as músicas são também bastante agradáveis e algo variadas entre si, com a electrónica e algum rock a ganharem papel de destaque. Cada piloto vai tendo também uma série de frases próprias que dão outra vida ao jogo (it’s not a bug, it’s a feature!), o que também é um ponto interessante.
Cada personagem tem direito a quatro carros distintos
Portanto este HotShot Racing é um óptimo jogo de corridas para quem está à procura de uma experiência tipicamente arcade. No entanto, o rubber banding da inteligência artificial pode (e irá seguramente) causar algumas frustrações, particularmente na agressividade dos oponentes na recta final das corridas. A versão switch em particular teve alguns problemas ocasionais de performance que num jogo desta fluídez acabam por ser bastante notórios.
Vamos voltar à Mega CD para um jogo que eu já tinha imensa curiosidade em jogar, particularmente depois de começar a ler os livros e ter visto os dois últimos filmes no cinema. O universo Dune, com toda a sua complexidade e repleto de intriga política agarrou-me facilmente e este Dune pareceu-me ser um título bastante interessante pelas razões que irei mencionar em seguida. O meu exemplar foi-me trazido do Reino Unido por um amigo meu algures em Julho do ano passado, tendo sido comprado na vinted britânica a um preço bem razoável tendo em conta aquilo que pedem hoje em dia por ele. Foi também um jogo que joguei pela rubrica Backlog Battlers do nosso podcast TheGamesTome, pelo que vos deixo abaixo com o vídeo onde me poderão ouvir a falar do mesmo.
O jogo baseia-se nos acontecimentos narrados no primeiro livro da série, onde a poderosa família Atreides chega ao inóspito e hostil planeta de Arrakis para controlar a extracção de spice, a substância mais valiosa de todo o universo e que apenas está disponível naquele planeta. Os Atreides substituem os seus rivais, os cruéis e implacáveis Harkonnen na gestão do planeta, pelo que ambas as famílias irão entrar em conflito entre si pelo controlo do mesmo. No entanto, também diverge consideravelmente dos livros na medida em que, quando certa personagem importante morre, nós como jogador (que controlamos o Paul Atreides), continuamos a ter de nos preocupar com a extracção de spice para enviar carregamentos ao imperador e a nossa base permanece intacta.
Jogo com caixa e manual
Este jogo, desenvolvido pela já extinta Cryo Interactive, estúdio francês responsável por muitas aventuras gráficas como os Atlantis, Drácula, Necronomicon ou Ring: The Legend of the Nibelungen (entre muitas outras não tão boas quanto isso), teve um ciclo de desenvolvimento atribulado. A gigante Virgin, depois de ter adquirido os direitos para produção de videojogos no universo Dune comissionou esse trabalho à Cryo (que na altura nem sequer ainda assumia esse nome), no entanto não gostaram dos primeiros resultados, pelo que cancelaram o projecto e contrataram a Westwood para fazer um jogo diferente. No entanto, a Cryo continuou a trabalhar no projecto em segredo. Anos mais tarde, a Virgin sofre uma restruturação, a Sega compra a parte francesa da mesma e descobre que esse projecto estava ainda a ser trabalhado pela Cryo. O jogo já tinha amadurecido consideravelmente desde que foi rejeitado pela primeira vez pela Virgin, pelo que a Cryo os conseguiu convencer a lançar o seu jogo. No entanto, a Westwood também estava a trabalhar num Dune, que sai poucos meses depois deste jogo, já com o nome de Dune II (Battle for Arrakis / The Building of a Dynasty). Esse jogo da Westwood acabou por se tornar um marco incontornável na história dos RTS mas isso seria conversa para um outro artigo.
O jogo abre com uma introdução retirada do filme de 1984 realizado pelo David Lynch
Então este Dune da Cryo é um misto de um jogo de aventura com vários elementos de estratégia. A parte de aventura tem a ver com a forma como a narrativa se vai desenrolando e a interface que o jogo utiliza para nos fazer avançar a narrativa. Basicamente faz-me lembrar aqueles jogos de aventura gráfica com uma interface por menus, onde toda a exploração é feita na primeira pessoa e podemos escolher que acção queremos tomar com base num menu: quais as pessoas que queremos falar e o que lhes queremos dizer. O jogo permite-nos também pedirmos a NPCs que nos acompanhem ou fiquem nalgum sítio a fazer alguma coisa específica, podendo ter a companhia de um máximo de 2 NPCs de cada vez e a história, particularmente no início, vai ter muito desta componente de aventura: explorar Arrakis e as povoações à nossa volta e convencer os seus líderes a juntarem-se à nossa causa. Mas o nosso objectivo primordial é o de controlar a extracção de spice e enviar carregamentos recorrentes para o imperador, que nos pede volumes cada vez maiores. Se falharmos alguma destas encomendas, é game over. E é aí que entra toda a parte estratégica.
Gravar o nosso progresso apenas é possível no palácio dos Atreides
Como já referi, vamos ter de explorar todo aquele deserto em busca de sietches (cavernas onde os Fremen, civilização local, habitam) e convencer os líderes dessas povoações a trabalharem para nós. Inicialmente apenas vamos ter a preocupação de lhes pedir para extrairem spice, mas eventualmente as forças dos Harkonnen também nos começam a atacar, pelo que também teremos de treinar alguns dos Fremen em combate militar e o objectivo do jogo é precisamente esse, derrotar toda a presença Harkonnen do planeta, enquanto conseguimos obter quantidades suficientes de spice para satisfazer as encomendas imperiais. O spice pode também ser utilizado como moeda de troca para comprar equipamento como armas, harvesters ou ornithopters, que por sua vez podem ser entregues a tropas específicas para melhorar a sua eficiência nesses processos. Uma outra vertente que eventualmente desbloqueamos é a ecológica: os Fremen podem ser treinados em terraformar o planeta, replantando vegetação nos seus vastos desertos, o que por sua vez irá diminuir a presença de spice disponível para extracção. Isto faz com que os Harkonnen não queiram atacar territórios terraformados, mas por outro lado também ficamos com menos spice disponível para satisfazer encomendas. Visto que a spice disponível é finita (os recursos de cada território vão-se esgotando), esta foi uma estratégia que acabei por não explorar. A partir do momento em que os Harkonnen nos começam a atacar, há um balanço importante a respeitar: temos de treinar bons exércitos para atacar as bases Harkonnen, pois estes podem capturar as povoações que controlamos e usá-las contra nós e não nos podemos dar ao luxo de não satisfazer as encomendas imperiais.
A exploração é toda feita na primeira pessoa onde podemos clicar nas setas disponíveis no canto inferior direito do ecrã ou clicar nos comandos disponíveis à esquerda desse compasso.
Como referi acima, as tropas têm de ser treinadas em extracção de spice, militar, ou ecológica e poderemos assignar-lhes ferramentas que melhorem a sua produtividade. Na maior parte dos novos territórios que conquistamos, se queremos explorar spice precisamos primeiro de lá enviar uma equipa de prospectores que nos indique a quantidade de spice disponível. Por outro lado também lhes podemos pedir às tropas para se relocarem para outros territórios ou irem a cidades específicas buscar equipamento que lhes teremos eventualmente comprado. Tudo isto consome tempo, assim como a nossa própria deslocação pelos demais territórios, que inicialmente é feita através de ornithopter, mas eventualmente Paul desbloqueia a capacidade de conduzir as minhocas gigantes (e pode ceder o seu veículo a qualquer uma das nossas tropas). Eventualmente também Paul vai desenvolvendo as suas capacidades “psíquicas”, pelo que poderá comunicar telepaticamente com as povoações à sua volta e à medida que a narrativa vai avançando, as nossas capacidades vão-nos permitir um maior alcance telepático, o que irá facilitar muita desta gestão adicional que teremos de fazer.
Para viajar entre localizações devemos usar sempre um meio de transporte e basta clicar na localidade que queremos visitar.
Já no que diz respeito às batalhas, assim que descobrirmos uma posição Harkonnen podemos e devemos enviar tropas para as suas posições, que irão automaticamente entrar em batalha. Podemos primeiro enviar espiões que nos indicam quantas tropas inimigas lá estão e depois a ideia é então levar um número de tropas considerável para tomar a fortaleza. Visto que o resultado da batalha nem sempre é linear e fácil de prever o resultado, o ideal é não dividir muito as nossas tropas e enviar sempre um número em quantidade considerável para aumentar a nossa probabilidade de sucesso. As fortalezas Harkonnen têm também equipamento que podem ser distribuídos pelas nossas tropas e os fremen que controlavam passam a estar sob a nossa alçada. Por outro lado, ocasionalmente podemos também interrogar os líderes Harkonnen capturados, que nos darão detalhes das suas posições vizinhas. Podemos levar o Paul para um território em disputa e controlar um pouco melhor o desenrolar da batalha, mas isso é algo que acarreta riscos, pois Paul pode morrer e temos um game over.
Ao viajar entre localizações acompanha-nos uma cut-scene em CGI que nos mostra o deserto
No entanto, apesar de todas estas boas ideias, a execução do jogo deixa um pouco a desejar, para ser sincero. Isto porque o jogo decorre toda em tempo real e teremos toda uma série de acções repetitivas a fazer. Por exemplo, sempre que há uma encomenda imperial para ser satisfeita, precisamos de nos deslocar à base, ir à sala de comunicações e ver a quantidade de spice que o imperador nos pediu, ir depois à sala principal do palácio, falar com o Duncan Idaho para ele nos dizer a quantidade de spice que temos disponível e depois sim, poderemos enviar o que o imperador nos pediu, obrigando-nos uma vez mais a deslocar à sala de comunicações, preparar o envio e esperar a resposta do imperador, que nos diz qual será o dia da próxima entrega (mas não a quantidade esperada). Tudo isto quando nós poderíamos estar do outro lado do planeta a gerir as nossas tropas e recursos e temos de parar tudo para ir ao palácio e tratar deste assunto, quando Paul poderia tratar de tudo isso de forma telepática, tal como vai conseguindo gerir as suas tropas. E depois, apesar de existir um mecanismo de fast travel, encontrar novas localizações é um processo moroso e manual. Ao falar com líderes Fremen estes podem-nos indicar localizações de outras sietches nas proximidades, mas estas não ficam marcadas no mapa. Para isso teremos então de montar um ornithtopter ou minhoca gigante e viajar na direcção pretendida e com alguém ao nosso lado, que a qualquer momento nos possa indicar que avistou a tal nova localização, com o jogo a dar-nos a opção para parar e visitá-la, ficando aí já disponível no mapa. O facto de a maioria dos territórios conquistados necessitarem de uma prospecção de spice também é algo aborrecido, visto que temos de constantemente comandar os únicos prospectores à nossa disposição para investigar esses novos territórios antes que a exploração possa iniciar-se.
A componente de aventura é muito forte neste jogo, mas mais na fase inicial. Depois é só estratégia!
A nível visual é um jogo bastante interessante. Todos os diálogos são narrados com voice acting e sempre que viajamos de um ponto para o outro somos presenteados com uma cut-scene em CGI da viagem, seja a bordo de uma minhoca da areia, seja a bordo de um ornithopter. Todos os diálogos são também apresentados com um retrato grande e consideravelmente bem detalhado das personagens com as quais estamos a interagir e, apesar de eu nunca ter visto o filme original do David Lynch, aparentemente o jogo usa algumas semelhanças desse mesmo filme, nomeadamente a parecença de algumas personagens, como é o caso do vilão Feyd-Rautha, que nesse filme foi interpretado pelo artista Sting e neste jogo possui algumas semelhanças. O lançamento original é a versão DOS, que graficamente possui ainda mais detalhe e as poucas as cut-scenes em vídeo possuem bem mais qualidade que nesta versão. Ainda assim, ainda bem que a Virgin preferiu lançar este jogo para a Mega CD e não para a Mega Drive, pois dessa forma pudemos herdar todas essas benesses devido ao formato CD, o que não aconteceu no lançamento para o Commodore Amiga, por exemplo. A banda sonora é também bastante agradável e muito única, tanto que a própria Virgin não perdeu muito tempo em lançar um álbum com a música deste jogo, algo que não era nada comum em videojogos.
À medida que vamos conquistando mais território, as acções manuais tornam-se cada vez mais morosas também
Portanto este Dune é uma interpretação muito interessante do universo Dune, apesar de ter tomado algumas liberdades com o que está nos livros, e de certa forma também se entenda que o tenham feito, dado que o foco do jogo está mesmo na sua componente estratégica ao gerir recursos e atacar as bases Harkonnen. Tem no entanto muitas mecânicas de jogo ainda algo manuais e rudimentares e o facto desta versão não suportar nenhum dos ratos que a Mega Drive recebeu também não ajuda. Ainda assim, a sua fortíssima apresentação audiovisual para a época e os elementos de um jogo de aventura tornam este título numa adaptação bastante interessante do universo Dune. Curioso para ver um dia destes o que a Westwood fez do lado deles.