Com o sucesso do Far Cry 3, a Ubisoft não perdeu muito tempo a produzir um DLC para o mesmo. No entanto, este Blood Dragon tornou-se em algo tão diferente do jogo base que a Ubisoft decidiu lançar este título como uma expansão standalone, não requerendo o jogo base para a jogar. Lembro-me de o ver várias vezes na extinta Game do Maia Shopping a cerca de 15€ e eu constantemente à espera que o seu preço baixasse dos 10€ para a comprar, mas isso nunca aconteceu, ou quando aconteceu os jogos já tinham desaparecido das prateleiras. Eventualmente adquiri um exemplar digital no cliente PC da Ubisoft (creio que terá sido oferecido pela própria Ubisoft) e para complementar comprei um exemplar físico na vinted por 5€ ainda neste mês de Fevereiro.
A história deste Blood Dragon nada tem a ver com o Far Cry 3. Pensem neste jogo como uma paródia a filmes de acção e ficção científica dos anos 80, pois este é mesmo uma espécie de visão futurista digna de um filme de acção dos anos 80. Basicamente somos levados ao “futuro” ano de 2007, após uma guerra nuclear que dizimou o planeta. Controlamos um cyborg super soldado do exército americano, Rex “Power” Colt que, juntamente com o seu companheiro T.T. “Spider” Brown se infiltram numa ilha controlada por um outro super soldado (Coronel Sloan) que se havia revoltado contra a sua nação. As coisas não correm bem e eventualmente lá somos ajudados pela assistente do vilão, que não gosta dos planos de destruição do mundo que Sloan tem em mente.
Basicamente pensem num jogo de mundo aberto como o Far Cry 3 e com mecânicas similares mas numa escala consideravelmente menor, com visuais cyberpunk, armas futuristas, dragões que disparam raios laser, humor, sarcasmo e diálogos cheesy dignos de um filme dos anos 80. A ilha está também repleta de vida selvagem, todos eles versões mutantes ou cibernéticas de animais que enfrentamos no Far Cry 3. A grande excepção vai para os blood dragons, criaturas gigantes capazes de disparar raios laser poderosos. Estes são bastante resistentes e que nos vão dar luta se precisarmos de os derrotar, mas o jogo também nos oferece ferramentas para os distrair e conseguirmos passar despercebidos. Por outro lado, estes dragões são também úteis para serem atraídos para bases inimigas que queiramos conquistar. Tal como no Far Cry 3, depois de conquistar bases inimigas ganhamos acesso a algumas missões opcionais, que se resumem a três tipos: assassinar algum alvo inimigo de maior valor, resgatar cientistas reféns e missões para caçar algum animal especial, como é o caso da missão onde temos de destruir 4 tartarugas que vivem num sistema de esgotos, que por sua vez está repleto de caixas de pizza. A quantidade de armas que teremos disponíveis é bem mais reduzida e os seus upgrades vão sendo desbloqueados à medida em que completamos as missões opcionais.
Existe também um sistema de skills, mas este é bem mais contido e não temos qualquer hipótese de customização, pois estas vão-nos sendo atribuídas automaticamente sempre que subirmos de nível. De resto, tal como nos outros Far Cry, temos também toda uma série de coleccionáveis para apanhar caso estejamos interessados em fazê-lo, como é o caso de cassetes de VHS ou televisões CRT, tudo isto acompanhado por diálogos sarcásticos do tipo “espero que a seguir não me peçam para apanhar penas ou bandeiras”. Este humor sarcástico é algo que nos acompanha ao longo de todo o jogo: Rex irrita-se com todo o tutorial, que começa de forma brilhante como “carrega em enter para mostrar que sabes ler”, um headshot é frequentemente acompanhado por frases como “now that’s how you play head games” ou “he was… open minded“, enquanto que se matamos alguém com o arco e flecha podemos ouvir “I really stuck it to him” ou “I think he got the point“. Em suma, todo este sarcasmo é algo que eu adoro e foi das melhores coisas que este Far Cry 3 Blood Dragon nos trouxe.
A nível audiovisual o jogo tem os seus méritos pois retrata perfeitamente visuais futuristas imaginados na década de 80, com todas as luzes neon que nos acompanham ao longo do jogo. No entanto está também limitado por reutilizar muitos dos recursos do Far Cry 3. Por exemplo, o jogo decorre todo à noite e num mundo que aparentemente estaria completamente desolado após um inverno nuclear, a ilha está repleta de vegetação, o que não me parece fazer muito sentido. Assim como todas aquelas ruínas de templos orientais que me parecem um pouco fora de contexto neste jogo. De resto nada de especial a apontar visto que utiliza o mesmo motor gráfico do Far Cry 3. As cutscenes que narram a história utilizam uma série de imagens quase estáticas como se um jogo retro se tratasse, mas essas não escalam muito bem para resoluções maiores. A banda sonora é toda composta por música que usa e abusa de sintetizadores (mais um sinal óbvio dos anos 80) o que resulta muito bem e o voice acting é óptimo, particularmente por todo o humor e sarcasmo que já referi anteriormente.

Portanto este Far Cry 3: Blood Dragon foi uma óptima experiência. Sendo um mundo open world mais reduzido contribui também para ser uma experiência mais curta, mesmo para quem o quiser completar a 100%. Coleccionei todos os coleccionáveis e fiz todas as missões secundárias e mesmo que quisesse platinar o jogo só me faltaria mesmo o achievement de matar 25 Blood Dragons, o que sinceramente não me apeteceu fazer. Gostava no entanto que o jogo não tivesse tido tanta dependência dos recursos utilizados no Far Cry 3, pois toda aquela vegetação não faz muito sentido no contexto. Foi um jogo que deixou algum legado, estando disponível para ser jogado em várias plataformas mais recentes e apesar de não ter uma sequela directa, possui um jogo no mesmo universo onde jogamos com os descendentes do Rex (Trials of the Blood Dragon) e fortemente inspirado numa uma adaptação para Netflix (Captain Laserhawk: A Blood Dragon Remix).


























