Street Fighter Alpha Anthology (Sony Playstation 2)

No seguimento das análises aos SFA2 e SFA3 que publiquei recentemente, faz todo o sentido aproveitar o momento para uma rapidinha a esta muito interessante compilação para a PS2, que traz a trilogia e não só! Será portanto um artigo mais rápido, onde acabarei por me focar mais nos extras e também um pouco no Gem Fighter, um dos “extras” aqui incluído. O meu exemplar foi comprado em Junho de 2016, numa das minhas idas à Cash Converters de Alfragide, tendo-me custado 2.50€.

Jogo com caixa e manual

Ora esta compilação incide principalmente na trilogia Street Fighter Alpha, com uma versão practicamente arcade perfect do primeiro jogo, contendo o habitual modo arcade e versus, mas também um dramatic battle expandido (onde podemos escolher qualquer par de personagens) e um modo survival que creio que não vinha incluído tanto na versão original, como nas conversões para as consolas de 32bit que lhe seguiram. Segue-se mais uma excelente adaptação do Street Fighter Alpha 2, com os mesmos modos de jogo. Mas, desbloqueado logo de início, temos também a revisão Street Fighter Alpha 2 Gold, que é essencialmente uma conversão do Street Fighter Zero 2 Alpha (nomenclatura confusa como manda a lei) que havia saído originalmente nas arcades nipónicas. Estra revisão, para além de possuir os mesmos modos de jogo, inclui também uma série de personagens adicionais (nas suas versões EX, ou seja, inspiradas pelo Super Street Fighter II, mais a Cammy). É uma versão que inclui também alguns esperados rebalanceamentos e pequenas mudanças na jogabilidade, como a forma como os custom combos são agora despoletados.

O ecrã de selecção de jogo!

O Street Fighter Alpha 3 também não podia faltar, possuindo os mesmos modos de jogo que os restantes ou seja, perde-se o World Tour introduzido nas conversões para as consolas de 32bit. Mas temos também uma versão adicional, desbloqueável após terminarmos o modo arcade do SFA3. É uma revisão da versão SFA 3 Upper que, originalmente nas arcades, para além de alguns balanceamentos introduzia todas as personagens adicionais que foram incluídas nas versões Saturn e PS1. E antes de avançar para o Gem Fighter, convém também referir que há um outro jogo desbloqueável, o Hyper Street Fighter Alpha. Este é uma espécie de remix e mais voltado para os combates em versus para 2 jogadores, onde poderemos optar por escolher personagens e jogabilidade dos diferentes jogos desta saga. É um extra bastante interessante, de facto!

O Gem Fighters é um jogo divertido, bem humorado, e repleto de referências à Capcom nos seus cenários

Por fim, esta compilação traz logo desbloqueado de início, como já referi acima, o Gem Fighters, também conhecido como Pocket Fighters na sua versão PS1 que também foi lançada por cá na Europa. Estão a ver o Virtua Fighter Kids, onde jogamos com representações super deformed das personagens Virtua Fighter? É mais ou menos o mesmo conceito, mas num jogo de luta em 2D. Aliás, até diria que é uma espécie de sucessor espiritual do Super Puzzle Fighter II pois utiliza as mesmas sprites e há uma vez mais um certo foco em pedras preciosas coloridas, embora este seja um jogo de luta. E aqui temos uma série de personagens que podemos seleccionar, tanto do universo Street Fighter, como do Darkstalkers. A jogabilidade em si é bastante simplificada, com um botão para socos, outro para pontapés e um outro para os specials, embora naturalmente possamos (e devemos!) usar algumas combinações. À medida que os combates vão decorrendo vamos poder apanhar diversas pedras preciosas coloridas, que vão aumentando a barra do special respectiva à cor. Existem 3 níveis de specials e para além disso também vamos poder apanhar outros itens como comida que nos regenera a barra de vida, ou esferas elementais que podem ser atiradas aos nossos oponentes. É um joguinho muito cute e divertido, que gostaria um dia de vir a arranjar em formato standalone.

Portanto estamos aqui perante uma óptima compilação, com versões bastante sólidas dos 3 Street Fighter Alpha, mais uns quantos extras a ter em conta. É por lançamentos como este que gosto bastante do catálogo “retro” da Playstation 2!

Borderlands: Game of the Year (PC)

Borderlands é uma série de first person shooters produzida pela Gearbox, com um mundo aberto e um grande foco na jogabilidade cooperativa, bem como em todo o loot que podemos encontrar. Visto que possui também diversos elementos de RPG (nomeadamente as diferentes classes, esquema de skills e claro, pontos de experiência) até dá para traçar alguns paralelismos com outros jogos como o Diablo, mas na primeira pessoa e com um ambiente completamente diferente, claro. Sinceramente não me recordo onde e quando comprei o meu exemplar, muito menos quanto me terá custado, mas foi seguramente barato, abaixo dos 10€. Na verdade estou a jogar a versão enhanced que me apareceu na minha conta do steam sem eu me ter apercebido. Pelo que li posteriormente, esse remaster já incorporou algumas novidades trazidas pelas sequelas, pelo que é perfeitamente possível que eu não vá identificar essas diferenças.

Jogo com caixa, papelada e mapa

A série Borderlands, ou pelo menos este primeiro jogo, é passada no planeta de Pandora, um planeta algo deserto, repleto de bairros de lata, lixeiras, mas também alguns locais mais high-tech. Parece mesmo algo retirado de um filme do Mad Max e no início do jogo pensei mesmo que o jogo decorresse na terra num futuro pós apocalíptico, mas depois lá percebi que não era esse o caso. Nós encarnamos no papel de um vault hunter, que terá de explorar o planeta em busca do tal vault, um local abandonado por uma antiga civilização alienígena e que aparentemente continha poderosíssimas armas deixadas por essa civilização. Naturalmente que não estaremos sozinhos nessa busca e, para além de enfrentar imensas criaturas, bandidos à lá mad max, teremos também de enfrentar forças militares high tech e não só.

Como seria de esperar, vamos ter alguns bosses para defrontar!

Começamos por escolher a classe que queremos representar, e apesar de todas as classes poderem equipar todos os tipos de armas (pistolas, revólveres, shotguns, metralhadoras e por aí fora), cada classe possui diferentes competências, que priveligiam alguns tipos de armas, bem como terão diferentes skill trees e um “ultimate“. Eu escolhi representar um soldado normal e a sua habilidade especial era a de invocar uma metralhadora automática que foi incrivelmente útil em certas circunstâncias. Outras classes terão, naturalmente, diferentes habildades especiais, mas confesso que não as cheguei a explorar sequer. Depois este é um jogo open world, onde vamos conhecer alguns NPCs que nos vão dando quests, umas obrigatórias, outras meramente opcionais, e assim vamos explorando o mundo de pandora, os seus desertos, as suas dungeons, bases militares (ou bairros de lata repletos de bandidos) e pouco mais. Eventualmente lá desbloqueamos o uso de veículos e também de teletransporte entre certas localizações chave, o que certamente irá ajudar em todo o backtracking.

Os veículos são uma grande ajuda, não só no combate, mas também para viajar mais rapidamente

Até aqui tudo bem, mas este primeiro Borderlands podia perfeitamente ser chamado de Boringlands. Não só há muito pouca variedade de cenários, a maioria das quests são também algo repetitivas e aborrecidas: mata x criaturas, invade aquela base e mata o boss, encontra x partes desta arma, explora o mapa em busca de vários audiologs e por aí fora. A própria narrativa também me desiludiu bastante. O pouco que conhecia do Borderlands (para além do seu estilo gráfico que detalharei mais à frente) resumia-se aos diálogos sarcásticos e bem humorados de algumas das suas personagens, principalmente os dos robôs ClapTrap. E apesar de o jogo possuir de facto algum bom humor, a narrativa é muito fraca e não achei a história nada de especial.

Há aqui um grande foco no loot que encontramos, com imensas armas e acessórios com diferentes níveis de raridade

A nível gráfico é um jogo que primou por apresentar um estilo em cel-shading que lhe dava um aspecto mais de desenho animado e sinceramente até gostei do estilo que usaram. Alguns inimigos possuem designs bem criativos e absurdos, como os anões equipados com caçadeiras e que caem para trás com o coice da arma, ou matulões mas com braços deficientes. Mas o problema é mesmo, como já referi acima, a pouca variedade dos cenários que iremos explorar. Já no que diz respeito ao som, nada de especial a acrescentar aos efeitos sonoros e o pouco voice-acting que, apesar da história como um todo ser desinteressante, ao menos os diálogos vão tendo sempre algum sarcasmo e bom humor. Já as músicas vão alternando entre temas mais atmosféricos enquanto exploramos os cenários, e outras músicas mais tensas quando a acção aperta.

Gosto do estilo gráfico deste borderlands e os seus laivos de humor e sarcasmo. Espero que as sequelas sejam melhores como um todo

Mas para além do jogo base, esta edição Game of the Year traz também as quatro expansões que foram sendo lançadas entre 2009 e 2010. A primeira expansão é a The Zombie Island of Dr. Ned, onde exploramos novos cenários à volta de uma cidade que foi invadida por zombies. Aqui temos de facto cenários e inimigos completamente diferentes para explorar e combater, embora os combates acabem por se tornar em confrontos de múltiplas ondas de zombies que nos vão perseguindo. A segunda expansão (Mad Moxxi’s Underdome Riot) já é bastante diferente no seu conceito. Basicamente teremos uma série de arenas para combater, onde inicialmente enfrentamos 5 rondas de 5 ondas de inimigos cada, mas posteriormente poderemos, opcionalmente, entrar em arenas de 20 rondas. O objectivo é claro o de sobreviver, o que no caso de jogarmos sozinhos não é nada fácil. A terceira expansão, The Secret Armory of General Knoxx, é mais focada em combates de veículos, embora tenha muitos locais para explorar e missões para fazer. Por fim, a última expansão, Claptrap’s New Robot Revolution, leva-nos também a novos territórios, onde os ClapTraps se revoltaram contra os humanos e a maior parte dos inimigos que iremos encontrar são ClapTraps e versões robóticas de outros inimigos como os bandidos, ou criaturas como os skags. Mas ainda assim, e tirando a segunda expansão, as outras expansões acabaram por se tornar ainda mais enfadonhas ou por não permitirem o uso de veículos (excepto a do Knoxx), mas acima de tudo por não possuirem nenhum ponto de fast travel, tornando o backtracking mais moroso.

Portanto este Borderlands, apesar de não ser um mau jogo de todo, até que me deixou um pouco desiludido pelos pontos que referi acima, nomeadamente a sua história fraca, pouca variedade de cenários e missões. Mas, visto que é um jogo com um grande foco no multiplayer cooperativo, até acredito que seja bem mais divertido quando jogado com amigos. Ainda assim foi um jogo que teve bastante sucesso, tanto que sequelas não faltam. Estou curioso a ver como a série evoluiu, mas confesso que tão cedo não devo ter vontade de lhes pegar.

Street Fighter Alpha 3 (Sony Playstation)

Vamos continuar com os Street Fighter Alpha, desta vez com a conversão para a PS1 desse clássico das arcades. E foi justamente esta versão da PS1 que cheguei a jogar bastante, algures nos verões de 2000 e 2001, quando me juntava em casa de um amigo que o tinha na sua Playstation. É uma sequela que acaba por introduzir muitas coisas novas na sua jogabilidade e, nas suas versões para as consolas, inclui também muitos novos modos de jogo que lhe aumentam bastante a longevidade. O meu exemplar actual foi-me oferecido por um colega de trabalho, algures em 2016.

Jogo com caixa e manual (bastante grosso por sinal)

Não vamos falar de história pois esta acaba por ser mais uma revisão da história que já tinha sido contada tanto no SF Alpha, como no Alpha 2, que são jogos que supostamente decorrem entre os eventos do primeiro e segundo Street Fighters. Mas digamos que neste Alpha 3, durante o modo arcade, teremos muitas mais cutscenes que vão mostrando as ambições de cada personagem, já para não dizer que temos muitas mais personagens neste jogo. Desde alguns “retornados dos SFII como Cammy, Balrog ou Vega, personagens inteiramente novas como Mika ou Karin, mas também o Cody de Final Fight, que surge aqui como um prisioneiro que escapou da prisão.

A quantidade de lutadores é bastante generosa, com algumas caras novas e o regresso de outras bem conhecidas

Antes de abordar os modos de jogo com mais detalhe, convém primeiro referir que este SFA3 fez algumas mudanças de fundo nas suas mecânicas de jogo básicas. Nos SFA anteriores poderíamos optar por usar um estilo “auto” ou “manual”, onde o primeiro nos permitia bloquear automaticamente os golpes inimigos, bem como simplificar alguns dos combos, embora com a desvantagem dos golpes mais poderosos não poderem ser desencadeados. Aqui isso foi substituído por 3 “ismos”, que poderemos escolher antes de cada partida. O “A-ism” é baseado no modo manual dos SFA anteriores, onde temos direito a uma barra de special com 3 níveis e diferentes super combos possíveis. Já o X-ism remete para uma jogabilidade mais simplificada dos tempos do Super Street Fighter II, com a barra de special a atingir um só nível e cada personagem teria assim acesso apenas a um super combo, para além do que outras mecânicas introduzidas nos SFA anteriores, como os alpha counters ou a possibilidade de bloquear ataques em pleno ar, deixam de ser possíveis. Por fim temos o V-Ism, onde a barra de special possui 2 níveis e no lugar dos super combos temos apenas disponíveis os custom combos introduzidos no SFA2. Para além disso, cada estilo possui também diferentes multiplicadores na defesa e ataque das personagens, bem como poderão até haver algumas pequenas mudanças gráficas. Por exemplo, a Chun-Li usará as roupas do SFII caso seleccionemos o estilo X-ism. Ora tudo isto aumenta consideravelmente a longevidade do jogo, principalmente para quem quiser explorar todas estas alternativas.

No modo world tour podemos customizar que tipos de habilidades queremos usar ou não, para além do ismo pretendido. Podemos ver também os pontos de experiência amealhados!

E a versão PS1 traz de facto muito conteúdo adicional, para além dos típicos arcade e versus para 2 jogadores. Para além de um modo treino que dispensa apresentações, o principal destaque vai mesmo para o modo “world tour“, onde como o nome indica, viajaremos pelo globo e teremos de ultrapassar uma série de desafios. É um modo de jogo que nos obriga mesmo a dominar bem as técnicas do jogo, pois alguns dos combates podem ter condições muito específicas, como apenas os combos ou super combos servirem para ferir o inimigo. Ou lutar em batalhas de 1 contra 2, ou outras com um tempo muito reduzido. No final de cada desafio, a personagem que escolhemos representar vai ganhando pontos de experiência, assim como o “ismo” escolhido, podendo então vir a desbloquear novas habilidades com o tempo. É também jogando este modo world tour onde desbloqueamos algumas personagens e modos de jogo adicionais. De personagens a desbloquear o Guile, bem como o Evil Ryu ou Shin Akuma. Já de modos de jogo adicionais podemos desbloquear o Team Battle, Survival, Dramatic e Final Battle. O Team Battle faz lembrar a série King of Fighters, pois podemos escolher uma equipa de lutadores e teremos de defrontar os membros das equipas adversárias de forma sequencial. O Survival, que por sua vez possui vários sub modos de jogo, coloca-nos a enfrentar imensos inimigos de forma sequencial, com a nossa barra de vida a ser gradualmente restabelecida entre combates. O modo Dramatic Battle já tem vindo a ser introduzido nos SFA anteriores, onde um par de lutadores (Ryu e Ken, por exemplo) juntam forças para defrontar uma série de vilões. O modo Final Battle é um atalho para o confronto contra o boss final do modo arcade.

Graficamente não há nada a apontar. As animações estão óptimas e temos imensos cenários cheios de pequenos detalhes deliciosos!

A nível audiovisual este é, uma vez mais, um jogo fantástico. Existe uma grande variedade de cenários e inúmeros lutadores, todos eles bem detalhados e animados. Naturalmente que a versão PS1 possui vários cortes nas animações tendo em conta a versão arcade, mas sinceramente são coisas relativamente pequenas e que em nada afectam a jogabilidade. Os cenários são bastante diversificados, contendo uma vez mais bonitas paisagens naturais, rurais ou mesmo urbanas, bem como outros ambientes mais sinistros ou delapidados, dependendo da personagem. Apesar de não gostar tanto do traço que deram às personagens na série SFA, confesso que neste terceiro jogo já apreciei mais a direcção artística. Também o facto de todos os menus e transições estarem com visuais mais modernos e ousados certamente ajudou. Já na banda sonora, devo dizer que prefiro a do SFA2. Esta possui demasiado foco na electrónica para o meu gosto e mesmo as poucas músicas rock que existem não as achei nada de especial. Gosto da banda sonora mais eclética dos títulos anteriores!

O modo arcade possui várias cutscenes que vão contando a história do protagonista que escolhemos!

Portanto estamos aqui perante um excelente jogo de luta em 2D da Capcom, que estava no seu pico de criatividade, a meu ver. É que para além dos Street Fighter (não esquecer que o Street Fighter III saiu antes deste SFA3), a Capcom estava ainda a fazer um bom trabalho nos seus versus e a série Darkstalkers também. Mas talvez por causa disso o mercado tenha ficado algo saturado e os jogos de luta em 2D tenham entrado em declínio com a viragem para o novo milénio. Mas voltando ao SFA3, existem muitas outras conversões, caso esta versão PS1 não vos agrade. É impossível não fazer uma menção honrosa para a versão Sega Saturn que, apesar de exclusiva no Japão (e caríssima), acaba por ser uma conversão tecnicamente muito próxima do original e inclui todos os modos de jogo e personagens adicionais da versão PS1, embora muitos estejam já desbloqueados de início. O mesmo para a versão Dreamcast. O jogo está também na compilação Street Fighter Alpha Anthology para a PS2 (embora sem algumas das personagens e modos de jogo adicionais) e no que diz respeito às consolas portáteis, a GBA teve uma versão modesta mas muito interessante, já a PSP recebeu uma conversão muito boa também, incluindo todas as personagens (e mais algumas) e modos de jogo desta versão. Portanto opções não faltam!

Monster World IV (Sega Mega Drive)

Vamos voltar à Mega Drive para um jogo muito especial. A série Wonder Boy, que já referi por várias vezes ser uma propriedade intelectual nada simples de analisar devido a todas as variantes e mudanças de nome que os seus jogos receberam ao longo dos anos, pode ser dividida em duas ramificações distintas: O Wonder Boy original, um jogo de plataformas simples e linear (que originou por exemplo a série Adventure Island e a sequela Wonder Boy III: Monster Lair) e os Monster Land / Monster World, que são na mesma jogos de plataforma, mas com progresso tipicamente não linear (metroidvania) e algumas mecânicas típicas dos RPG. E, durante os anos 80 e 90, todos os Wonder Boy que foram publicados pela Sega nas suas consolas acabaram por sair cá no ocidente. Todos… excepto o último, este Monster World IV, que inexplicavelmente nunca teve um lançamento fora do Japão (não contando naturalmente com os lançamentos recentes em formato digital, na Mega Drive Mini ou mesmo o remake deste ano). É que é um excelente jogo, mas já lá vamos. O meu exemplar chegou-me às mãos algures em Junho deste ano, mas foi um grande filme e que me deixou com um prejuízo considerável, pois a loja onde o comprei fez asneira e para além disso os custos alfandegários não foram nada simpáticos.

Jogo com caixa e manual, na sua versão japonesa

A história deste Monster World decorre muitos anos após os acontecimentos dos jogos anteriores. Tanto que o mundo está bastante diferente, agora em vez de termos uma cidade central com influências medievais europeias, todo aquele mundo tem influências árabes. Aliás, as influências egípcias não são uma novidade na série Monster World e aqui teremos uma vez mais pirâmides para explorar e uma esfinge para interagir. Mas voltando ao que interessa, como o jogo decorre muitos anos depois, o protagonista (Wonder Boy ou Shion) já não é o mesmo. Na verdade até é uma rapariga, a jovem Asha que vive numa aldeia remota e anseia em tornar-se uma guerreira aventureira. E quando chega à idade de provar o seu valor como guerreira, é aqui que se inicia a aventura. Começamos por explorar uma dungeon simples, onde acabamos por descobrir um génio da lâmpada que nos irá servir ao longo da restante aventura, começando por nos transportar para a cidade de Rapadagna, que servirá de hub central para aceder às restantes áreas de jogo. É aí que conhecemos a rainha Puraprill XIII, que nos incumbe de uma importante missão: a de resgatar os espíritos elementais que foram misteriosamente aprisionados. É que estes eram responsáveis de manter um grande ser maligno longe da civilização, portanto maus dias avizinham-se. É também nessa cidade onde Asha adopta uma interessante criatura, um “pepelogoo” azul e que será figura muito importante não só na história mas também na jogabilidade.

Este génio tem um sentido de humor muito peculiar. Mas teremos de lhe recorrer quando quisermos abandonar temporariamente uma dungeon e voltar à cidade.

E a jogabilidade foi também bastante modificada perante os Wonder Boy anteriores, a começar pela liberdade de exploração. Este é agora um jogo mais linear e as dungeons que temos de explorar, depois de completadas, ou seja, depois de derrotar o boss final lá do sítio, deixam de poder ser acedidas. E tendo em conta que continuamos a ter muitos tesouros opcionais por encontrar, é uma pena não poder revisitar essas mesmas áreas mais tarde. No entanto, antes de derrotar o tal boss, podemos a qualquer momento chamar o génio que nos transporta de novo para a cidade, o que convém fazer algumas vezes para ajudar no grind. O grind é necessário pois vamos ter várias lojas onde poderemos comprar espadas, escudos e armaduras. Mas infelizmente também aqui as coisas foram simplificadas, pois podemos ter no inventário apenas um destes itens de cada vez. Por exemplo, sempre que compramos uma nova espada, esta substitui a que tínhamos comprado anteriormente. A barra de vida está agora dividida em corações de duas cores. Os corações vermelhos são a barra de vida principal de Asha e esta pode apenas ser extendida mediante a armadura que tenhamos equipado no momento. Ao longo do jogo poderemos coleccionar uma série de cristais azuis e, sempre que juntemos 10 cristais, é adicionado um coração azul à nossa barra de vida. Mas estas foram as únicas mudanças perante a jogabilidade dos títulos anteriores que não apreciei muito, todas as outras foram muito benvindas.

Ao longo das dungeons podemos encontrar vending machines onde, a troco de dinheiro, podemos restabelecer parcialmente a nossa barra de vida

A começar pelo facto de Asha ser uma personagem bem mais ágil que Shion/Wonder Boy. Não só pode correr, como possui mais tipos de ataque (pode atacar com a espada para cima, ou saltar e atacar para baixo, por exemplo), pode usar o seu escudo ao pressionar o d-pad para baixo, mas também é muito importante toda a cooperação com o seu pepelogoo, a tal criatura azul que nos irá acompanhar ao longo do jogo. A qualquer momento podemos chamá-lo (e agarrá-lo) ao pressionar o botão A. Depois podemos usá-lo como uma espécie de pára-quedas quando saltamos, deslizando suavemente pelo ar, ou mesmo usá-lo como uma espécie de plataforma para efectuar um segundo salto. Tanto uma habilidade como outra serão necessárias para alcançar locais que de outra forma não conseguiríamos alcançar, ou para atravessar alguns segmentos mais desafiantes de platforming. Para além do platforming, todas as dungeons exigem bastante exploração e frequentemente temos de pressionar alguns interruptores ou fazer outras acções específicas. Para os interruptores que estão fora do nosso alcance, podemos usar a criatura para os activar, bastando para isso atirá-la para a respectiva direcção. Para alguns obstáculos, como atravessar colunas de fogo ou zonas subaquáticas, teremos mesmo de usar a pobre criatura, que parece ser invulnerável a esse tipo de dano. Numa dungeon com gelo, por vezes até temos de o congelar propositadamente para que este sirva de plataforma! Portanto todas estas novas mecânicas de jogo acabaram por, enriquecer a jogabilidade e, de certa forma, branquear um pouco algumas das mudanças que menos gostei.

Cada dungeon tem tipicamente 2 bosses para enfrentar

A nível audiovisual é um jogo excelente. Já o Wonder Boy in Monster World era um jogo bastante charmoso visualmente, mas neste a WestOne esmerou-se. O mundo de Monster World tem agora influências árabes, com cidades e dungeons muito bem detalhadas e também bastante distintas entre si. A própria Asha está também bem detalhada e animada, fruto também das suas habilidades mais atléticas quando comparando com o protagonista anterior. O génio que nos acompanha é super preguiçoso mas também muito engraçado (experimentem dizer-lhe não várias vezes) e o jogo está repleto de alguns efeitos gráficos interessantes também. As músicas são também bastante agradáveis, sendo que muitas delas possuem naturalmente influências árabes nas suas melodias.

Graficamente é um jogo bem colorido, bastante detalhado, e todos os NPCs têm coisas minimamente interessantes para dizer

Portanto este é um excelente jogo para a Mega Drive. É verdade que a perda de alguns elementos metroidvania desiludiu-me um pouco, mas como um todo, estamos perante um jogo de plataformas com elementos de RPG muito sólido mesmo. Este Monster World IV saiu originalmente no Japão em 1994 pelo que dificilmente sairia no ocidente antes de 1995. E tendo em conta que haveria muito texto para traduzir, compreendo alguma reticência da Sega of America em fazer esse investimento de tradução para lançar o jogo naquele território, quando nesse ano o seu foco estava principalmente concentrado no lançamento (desastroso) da Sega Saturn. Ainda assim, na Europa a Mega Drive continuava a ser uma plataforma de grande sucesso comercial, pelo que este jogo tivesse lá saído (garantidamente com outro nome) teria tudo para ser um lançamento bem sucedido. É uma pena. Em 2002 um grupo de fãs traduziu o jogo ao lançar um patch e foi dessa forma que o joguei, tanto há imensos anos atrás, como agora. Mas 10 anos depois, a M2 (que tem vindo a trabalhar em inúmeros ports de clássicos da Sega para sistemas modernos) acabou por traduzir oficialmente o jogo para inglês, tendo sido lançado (de forma digital) para o PC, Wii, e PS360. Essa versão veio incluída na Mega Drive Mini e este ano foi lançado um remake chamado Wonder Boy: Asha in Monster World. Esse remake traz também, nas suas versões físicas, a versão da Mega Drive traduzida para inglês, pelo que poderá ser mais uma alternativa a quem quiser experimentar este fantástico jogo.

Street Fighter Alpha 2 (Sega Saturn)

Vamos a mais uma rapidinha a um jogo de luta em 2D para Sega Saturn, desta vez voltando as agulhas novamente para a Capcom para o segundo jogo da sub-série Street Fighter Alpha (ou Zero, como é conhecida no Japão). Já cá trouxe no passado um artigo ao primeiro Street Fighter Alpha, que por sua vez partilha muitas das mecânicas de jogo desta sequela. Já o meu exemplar do Alpha 2 veio cá parar à colecção algures no passado mês de Julho, após ter vindo de uma troca com um amigo.

Ora a série Alpha/Zero é uma prequela do Street Fighter II (embora aparentemente decorra depois do Street Fighter 1, o que é uma confusão), pelo que vemos muitas caras conhecidas como Ryu, Ken, Dhalsim (que marca aqui o seu regresso), M. Bison, entre outros, mas com uma aparência mais jovem do que no SFII. Temos também personagens do SF1 (lá conseguiram tornar algumas minimamente interessantes) e do Final Fight, que a nível de canon, é uma série dentro do mesmo universo.

Sendo este um jogo CPS2, podem contar com cenários e personagens muito bem detalhados, repletas de excelentes animações também

A nível de mecânicas de jogo, este é um jogo de luta 2D de confrontos de um contra um e que mantém muitas das mecânicas introduzidas no seu antecessor, como os counters, a barra de energia que pode crescer até 3 níveis e assim desbloquear golpes poderosíssimos, ou a possibilidade de bloquear golpes adversários em pleno ar. Mantém a possibilidade de, depois de seleccionar o nosso lutador, optar por um sistema de controlo manual ou automático, sendo que este último bloqueia automaticamente os golpes inimigos, mas tem a desvantagem de não nos permitir tirar maior proveito da barra de energia e, consecutivamente, os melhores golpes. Introduz no entanto um novo sistema de custom combos que sinceramente já não explorei e o facto de a minha cópia não ter um manual também não ajudou. A nível de modos de jogo temos os tradicionais arcade e versus para dois jogadores, bem como um modo de treino e um outro de survival.

Sakura e Rolento (Final Fight) são algumas das novas personagens neste jogo

No que diz respeito aos gráficos, estamos perante um jogo que teve as suas origens no sistema arcade CPS2, pelo que temos personagens e cenários bem detalhados. As personagens mantém o aspecto mais “jovem” e anime do primeiro jogo e que, apesar de não serem maus visuais, sinceramente prefiro o design das personagens do Street Fighter II. Mas é claro que isto é meramente uma questão de gosto pessoal. Os cenários são igualmente bem detalhados e bastante variados, desde belíssimas paisagens naturais, passando por zonas urbanas delapidadas ou mesmo o interior de uma casa de banho, porque não? Alguns cenários possuem também cameos interessantes, como o Mike Haggar, Cody e Poison no cenário do Guy, o que são sempre detalhes interessantes. Ou o Captain Commando, Strider Hyriu e as meninas do Darkstalkers no cenário do Ken! Nada de especial a apontar aos efeitos sonoros e as músicas são igualmente bastante diversificadas entre si. Gosto do facto de não haverem interrupções entre rounds!

A versão Saturn possui também uma galeria de arte para ser consultada!

De resto, esta é uma conversão que a Sega Saturn acaba por reproduzir de uma forma bastante robusta, quando comparando com a versão original nas arcades. Ainda assim, o Street Fighter 2 chegou a receber um update, Street Fighter Alpha 2 Gold, que está também presente nalgumas compilações, incluindo a do Street Fighter Collection que também saiu para a Sega Saturn, pelo que essa também poderá ser uma versão a ter em conta.