The Dig (PC)

Vamos agora a um clássico das aventuras gráficas point and click, desta vez para um título muito interessante produzido pela Lucas Arts. Até à data, a empresa já era bem conhecida pelas suas aventuras gráficas repletas de um bom sentido de humor como a série Monkey Island ou Day of the Tentacle (que curiosamente ainda não tive a oportunidade de trazer cá), mas este The Dig é um títul diferente, um pouco mais sério e sombrio. O meu exemplar foi comprado numa feira de velharias qualquer, já não me recordo quando nem onde, mas creio que me custou 5€.

Jogo com caixa, papelada e um manual a cores que serve também de capa da jewel case

The Dig começou por ser idealizado como um filme de Steven Spielberg, mas aparentemente os seus custos de produção seriam proibitivos, pelo que decidiram antes transformá-lo num videojogo de aventura gráfica. A cutscene inicial leva-nos algures ao presente, onde um telescópio detecta um grande asteróide em rota de colisão certa com a Terra, que, pela sua dimensão, iria certamente causar uma catástrofe. A humanidade então organiza-se e envia para o espaço uma equipa de pessoas de diferentes backgrounds para explorar o asteróide e explodi-lo com cargas explosivas. Nós começamos a aventura já em pleno espaço, onde teremos sair do space shuttle, preparar o equipamento e começar a explorar o asteróide. Assim que o fazemos, descobrimos que o asteróide é oco e possui estranhos artefactos alienígenas. Claro que a curiosidade leva o melhor de nós e acabamos por ser transportados para um estranho e abandonado mundo alienígena, onde teremos de o explorar, resolver os seus mistérios e eventualmente arranjar maneira de voltar para a Terra.

A fase inicial achei-a super relaxante

No que diz respeito às mecânicas de jogo, estas são as típicas de um jogo de aventura point and click, onde com o cursor fazemos todas as acções que o jogo nos permite, como deslocarmo-nos pelos cenários, interagir com pessoas, objectos e claro, resolver muitos puzzles que nos irão surgir. Estes frequentemente não são muito claros ou intuitivos, até porque estamos a explorar tecnologia extra terrestre, e se calhar é mesmo suposto que realmente não façam muito sentido. Mas o que quero dizer é que não se sintam envergonhados se tiverem de acabar por usar um guia.

O mundo que vimos a explorar é misterioso e repleto de perigos

Já na parte audiovisual, este é sem dúvida um dos pontos fortes do jogo, principalmente pela sua apresentação. Os minutos iniciais enquanto estamos em pleno espaço a explorar o asteróide, ao som de uma banda sonora épica e orquestral é realmente qualquer coisa de fantástico e o jogo vai tendo muitos destes momentos onde a banda sonora orquestral realmenente brilha. As personagens possuem um óptimo voice acting e no que diz respeito aos gráficos, a minha opinião já é um pouco mais dividida. Por um lado o pixel art é excelente, tanto nos cenários como nas próprias personagens e suas animações. Por outro lado o jogo está repleto de várias cutscenes e aqui a minha opinião já se divide. Algumas cutscenes são em CGI, e embora tenham envelhecido algo mal, eram muito impressionantes para a época e acho que resultam muito bem. Outras cutscenes já incluem animação mais tradicional e estas confesso que já não gostei assim tanto dos traços das personagens.

As cutscenes de animação mais tradicional já não as achei tão boas assim

Por fim, devo dizer que fiquei bastante surpreendido com este The Dig, apesar de já ter ouvido falar muito bem do jogo. Acho que a história ficou muito bem conseguida, em particular a atmosfera cinematográfica que lhe conseguiram incutir. Um ou outro detalhe que já não gostei tanto, como referi acima, mas no geral fiquei bastante satisfeito. É também um jogo que se pode encontrar facilmente em plataformas como o GOG, onde poderemos jogar versões emuladas que corram bem em sistemas operativos modernos.

Ronin Blade (Sony Playstation)

Ronin Blade é um título muito interessante produzido pela Konami para a Playstation. Com gráficos pré-renderizados, ângulos de câmara fixa e claro, com a temática dos samurais, ninjas e afins, misturado com samurais zombie e outras estranhas criaturas que teremos de enfrentar, traçar um paralelismo com a série Onimusha que acabou por ser lançada anos mais tarde pela Capcom é uma ligação algo lógica. O meu exemplar foi comprado algures em Março de 2019 numa loja no norte do país. Creio que me custou cerca de 20€, estando completo e em óptimo estado.

Jogo com caixa e manuais

Ao começar a aventura podemos optar por jogar com Kotaro, um ronin, ou seja, um samurai solitário, ou a jovem ninja Lin. Ambos viajam para uma qualquer cidade Japonesa por razões diferentes, mas ambos são rapidamente atacados pela polícia local, que parecem comportar-se de maneira estranha. À medida que vamos avançando na história, vamos começar a enfrentar criaturas cada vez mais bizarras e descobrir uma conspiração que planeia conquistar todo o Japão, com recurso a forças demoníacas.

Podemos encontrar itens pelo caminho e assigná-los a um botão de uso rápido

No que diz respeito à jogabilidade, esta mistura conceitos dos survival horrors da época como Resident Evil, mas a acção de um hack ‘n slash. Vamos ter então cenários pré-renderizados com ângulos de câmar fixos como em muitos survival horrors, mas um sistema de combate mais dinâmico. Certamente este foi um jogo que veio a influenciar mais tarde a série Onimusha, apesar desta ter sido desenvolvida pela Capcom. Até porque vamos tendo também algumas mecânicas de RPG, nomeadamente pontos de experiência que, à medida que vamos subindo de nível, vamos também aprendendo novos combos para usar nos combates. Também temos uma barra de magia que se vai enchendo à medida que vamos derrotando inimigos e esta magia pode ser usada para despoletar alguns golpes mais poderosos.  Kotaru é um samurai que apenas usa espadas, e ao longo do jogo iremos mesmo encontrar muitas espadas que poderemos trocar livremente. Já Lin terá ao seu dispor menos espadas ao longo do jogo (e todas de lâmina curta), mas terá acesso a um arsenal de kunais, shurikens ou até explosivos que também poderá usar. Tanto Kotaru como Lin podem também seleccionar um item do seu inventário para ficar disponível durante o jogo, sendo facilmente usado com um simples pressionar de um botão.

Ocasionalmente temos alguns bosses para enfrentar

É um jogo interessante, que peca principalmente por dois motivos: a jogabilidade não é tão intuitiva quanto isso e o facto dos ângulos de câmara serem fixos e nem sempre os melhores, vai-nos dar algum trabalho a ambientar aos controlos e defender/evadir dos golpes inimigos que também é bem importante. A segunda desilusão passa mesmo pelo jogo ser muito curto. Quando nos habituarmos aos controlos vamos ver que em poucas horas passamos o jogo se bem que, para alcançar o verdadeiro final, teremos de jogar a aventura com ambas as personagens, que vão tendo percursos algo diferentes e explorar algumas àreas comuns, mas também exclusivas a cada personagem. O mesmo para os bosses. Isto aumenta a longevidade do jogo, mas ainda assim pareceu-me bem mais curto do que estaria à espera.

As cutscenes são simples, sem voice acting, infelizmente

No que diz respeito aos gráficos, bom, os cenários pré-renderizados confesso que poderiam estar um pouco mais detalhados. Por vezes é confuso orientarmo-nos, principalmente em salas fechadas. Já as personagens principais e inimigos, parecem-me estar bem detalhadas quanto baste, tendo em conta que estamos a falar da primeira Playstation. Já no que diz respeito ao som, bom, os efeitos sonoros são convincentes, mas o jogo peca também por não ter qualquer voice acting, nem sequer nas cutscenes. As músicas são agradáveis, mas também podem soar um pouco bizarras tendo em conta que estamos a jogar algo que se passa num Japão feudal. Isto porque apesar das músicas terem notórias influências folclóricas nipónicas, misturam essas melodias com ritmos techno ou mesmo rock, o que poderá soar um pouco desajustado.

Portanto este Ronin Blade é um jogo de acção muito interessante da Konami e, tal como já referi acima, parece mesmo um protótipo da série Onimusha que viria a ser lançada pouco tempo depois, pela Capcom. Se gostam de jogos com samurais e com um ligeiro toque de horror, recomendo vivamente que espreitem este Ronin Blade.

Nuclear Strike (Sony Playstation)

Produzido pela mesma equipa que desenvolveu o Soviet Strike, cuja versão Sega Saturn eu já cá trouxe no passado, este Nuclear Strike foi a sua sequela, desenvolvida com o mesmo motoer gráfico, mas desta vez a consola da Sega acabou por ficar de fora da sua janela de lançamento, o que terá sido certamente uma decisão comercial, pois do ponto de vista técnico não haveria nenhuma razão para não haver uma conversão para a máquina da Sega. O meu exemplar foi comprado em Junho numa loja online por 9€.

Jogo com caixa e manual

O jogo coloca-nos uma vez mais no papel de um operativo da equipa Strike, uma unidade militar de elite especializada em operações especiais. Uma vez mais teremos o general Earle, o hacker mais bizarro de todos os tempos e a agente Andrea, que é também reporter televisiva. Basicamente a mesma equipa que nos acompanhou no jogo anterior, embora neste Nuclear Strike, à medida que vamos progredindo no jogo, iremos também ter a cooperação de outros agentes ou mercenários. Mas o objectivo deste jogo é, claro está, o de derrotar um poderoso terrorista e o seu exército, que tem em sua posse uma bomba nuclear. A acção irá decorrer sempre no continente Asiático, começando na indochina, passando por um arquipélago qualquer no sul da China, passando por um grande conflito nas Coreias, até que iremos finalmente enfrentar o arquitecto de toda a destruição numa base secreta da antiga União Soviética, algures na Sibéria.

Tal como nos clássicos, teremos de procurar por mantimrntos espalhados pelos mapas

No que diz respeito à jogabilidade, bom, na sua essência esta mantém-se semelhante à dos clássicos e, particularmente, à do Soviet Strike. No entanto introduziu também algumas novidades que irei referir mais à frente. Em cada campanha teremos então uma série de objectivos para cumprir, tal como destruir radares inimigos ou outras infrastruturas de interesse, resgatar prisioneiros de guerra, aprisionar líderes inimigos ou missões de escolta. Tal como nos clássicos, poderemos cumprir cada um destes objectivos pela ordem que quisermos (embora nem todos possam estar desbloqueados de início), mas é recomendado seguir a ordem que o jogo nos sugere. Tal como nos restantes Strikes, teremos também de ter em atenção a quantidade de recursos disponíveis nos mapas, como combustível, munições, kits de armadura ou mesmo vidas extra, sendo que muitos destes poderão estar escondidos dentro de edifícios que poderemos destruir. As armas do Apache resumem-se a metralhadora, rockets e misseis mais poderosos, porém disponíveis em menores números. Também como noutros jogos da série, poderemos vir a conduzir outros veículos, sendo a maioria outros helicópteros, mas também alguns veículos terrestres ou mesmo um avião VTOL.

Podemos consultar o mapa para verificar a posição dos objectvos ou forças inimigas

Para além do regresso de outros veículos, a principal novidade introduzida neste Nuclear Strike está mesmo nalgumas mecânicas de estratégia em tempo real. Em certas missões teremos algumas unidades militares como tropas de infantaria ligeira, artilharia, entre outras, que poderemos direccionar para atacar áreas específicas controladas pelas forças inimigas, bem como ocasionalmente poderemos/teremos de cooperar mais estreitamente com alguns NPCs que nos acompanham nalgumas missões. De resto, tal como no Soviet Strike, o jogo mantém a mesma perspectiva dos clássicos, mas não temos um ângulo de câmara fixo, bem como a altitude do helicóptero vai mudando a sua altitude automaticamente para não embater em edifícios mais altos.

Tal como no Soviet Strike, teremos várias cutscenes algo bizarras

No que diz respeito aos audiovisuais, não esperem por um jogo muito diferente do Soviet Strike, pois possui o mesmo motor gráfico. As estruturas são modelos poligonais simples e as tropas continuam a ser pequenos bonecos que quase parecem retirados de um Sensible Soccer ou um Cannon Fodder. Daí ter referido que uma conversão para a Saturn seria perfeitamente possível, a EA só não o fez pela Saturn já não ser uma plataforma viável comercialmente na segunda metade de 1997. De resto, a nível de apresentação, esperem também por várias cutscenes em full motion video, tanto no briefing de cada campanha, bem como na descrição de objectivos e de outros locais/pessoas de interesse. Mesmo durante o jogo em si, por vezes a acção é interrompida com algum FMV onde nos revelam alguma coisa importante. Passando para o som, nada de especial a apontar, os efeitos sonoros são competentes assim como o voice acting, apesar dos diálogos e os próprios clipes de vídeo serem um bocado bizarros.

Portanto este Nuclear Strike, apesar de ser mais um jogo sólido na série, nota-se que já estavam a ficar sem grandes ideias, daí terem ter tentado introduzir alguns novos conceitos como os elementos de estratégia em tempo real, que sinceramente já não apreciei muito. A Electronic Arts tinha planeado um outro jogo desta saga chamado Future Strike, cujo teaser podemos até desbloquear neste jogo, mas tal acabou por não suceder. Future Strike foi renomeado para Future Cop LAPD e assim a série Strike, que sinceramente gosto bastante pelos seus primeiros 2 jogos, acabou por ficar engavetada até ver.

Hellblade: Senua’s Sacrifice (Sony Playstation 4)

Ultimamente, com o calor que se tem feito sentir, a minha vontade de jogar alguma coisa em plataformas mais modernas tem esvanecido, pois o calor gerado pelas consolas ou PC em jogar algo mais exigente também não ajuda nada. Entretanto, como houve aqui uma janela em que as temperaturas baixaram um pouco, aproveitei para pegar neste Hellblade da Ninja Theory, um jogo que sempre ouvi falar muito bem e, não sendo muito longo, foi a escolha perfeita. O meu exemplar foi comprado no passado mês de Junho na Worten do Maia Shopping, depois de muito tempo esgotado, fiquei contente ao ver que voltou a exisitir em stock por 20€.

Jogo com sleeve e caixa

Nem sei bem por onde começar ao falar na história pois não quero mesmo estragar a experiência de quem o vier a jogar, mas basicamente controlamos Senua, uma guerreira de uma civilização Celta algures de uma ilha Escocesa que havia sido invadida por vikings e claro, muita gente morreu, incluindo o seu namorado, o que a deixou especialmente transtornada. Então acompanhamos Senua numa viagem por mundos vikings, onde procura entrar no domínio de Helheim, o reino dos mortos da mitologia viking, e tentar salvar a alma do seu companheiro. Mas o grande selling point do Hellblade era o facto de Senua sofrer graves problemas mentais, nomeadamente psicose, que a levava a ouvir várias vozes na sua cabeça, bem como ter alucinações ou outras deturpações visuais que, naturalmente irão ter um grande foco ao longo de todo o jogo.

Sim, este é um jogo bastante macabro!

No que diz respeito à jogabilidade, podemos dividi-la em duas frentes distintas: a exploração e o combate. Ao longo de toda a aventura iremos explorar diversos locais, como florestas, cavernas, fortalezas e aldeias, tipicamente devastadas pela guerra e repletas de cadáveres em todo lado, representando a violência dos vikings quando invadiam outros povos. Enquanto vamos explorando ocasionalmente teremos uma série de puzzles ou outros desafios para resolver de forma a podermos avançar na história. Muitos destes puzzles giram em torno da maneira “diferente” que Senua (e pessoas que sofrem de psicose) percepciona o mundo. Brincar com ilusões ópticas para mudar o ambiente à nossa volta ou procurar certos padrões visuais nos cenários (como as runas que teremos de encontrar para abrir certas portas) são bastante recorrentes. Mas ocasionalmente lá teremos de enfrentar alguns inimigos, tipicamente representações algo sinistras de guerreiros vikings.

Muitos dos puzzles que teremos de resolver andam à volta de ilusões de óptica e portais que distorcem a realidade

Tanto na exploração como no combate não temos qualquer tutorial que nos explique as mecânicas de jogo, indicação visual do caminho a seguir ou dicas de combate, a não serem as vozes que Senua ouve na sua cabeça, que são muitas vezes conflituosas, mas também nos vão dando bons conselhos, especialmente em combate. Estes decorrem com uma câmara muito próxima de Senua, o que não nos deixa ver se teremos algum inimigo nas nossas costas prestes a atacar, pelo que quando ouvirmos uma voz a avisar Senua que alguém nos está prestes a atacar pelas costas, só temos tempo de fazer dodge. Os botões faciais do comando da PS4 representam então os ataques fracos, fortes, pontapés (muito úteis para desarmar inimigos com escudos) e o tal botão para evadir. Os botões de cabeceira permitem-nos correr, defender ou a tal habilidade de focar, que é sempre necessária para resolver os puzzles de ilusões ópticas e no combate ganha outra importância acrescida. À medida que vamos conseguindo desferir golpes com sucesso nos inimigos, bem como evadir ou bloquear os seus golpes, um counter invisível vai-se acumulando e a certa altura podemos usar a habilidade de focar a nosso favor, ao abrandar toda a acção à nossa volta e deixar os inimigos mais vulneráveis aos nossos ataques. Alguns inimigos podem também ficar envolvidos em sombras deixando-os invulneráveis até que consigamos activar a habilidade de foco em combate, pelo que defender ou evadir são sem dúvida cruciais em todos os combates.

Durante o combate, quando vemos este objecto a brilhar na cintura de Senua, está na altura de activar o focus

No que diz respeito aos audiovisuais, este é um jogo desenvolvido com recurso ao motor gráfico Unreal Engine 4, pelo que poderão encontrar bons gráficos no geral. Mas eu confesso que gosto da mitologia, folclore e toda a cultura viking, pelo que fiquei agradavelmente surpreendido pela forma como a Ninja Theory conseguiu representá-la. Não só pelos seus cenários tipicamente devastados por conflitos, como as tais aldeias, fortalezas ou mesmo o que resta de uma grande batalha marítima, com navios vikings encalhados numa praia. Mas também por toda a narrativa, puzzles onde temos de procurar por runas ou mesmo aquelas pequenas histórias retiradas da sua mitologia que vamos ouvindo sempre que encontrarmos e interagirmos com alguns pedestais espalhados pelo jogo.

As animações faciais bem como o papel que a actriz aqui representou ficou qualquer coisa fora de série

Mas é mesmo na narrativa bizarra e esquizofrénica induzida pela doença mental de Senua que o jogo brilha ainda mais. Logo no início é-nos aconselhado jogar com um headset, pois o jogo inclui som 3D. Infelizmente não o fiz meramente por uma questão de logística pois não tenho nenhum headset wireless, mas percebo perfeitamente como poderia ter feito a diferença. A percepção de onde vêm os sons terá muita importância nos combates, visto que a câmara está muito próxima de Senua, e, como não nos permite ver todos os inimigos à nossa volta, ter a noção através do som 3D da sua localização daria muito jeito. Aliás, o confronto contra o Fenrir tornou-se bem mais difícil por eu apenas usar o som normal da TV. E depois claro, as diferentes vozes que Senua ouve a ecoarem pela nossa cabeça enriqueceria certamente uma experiência já por si muito bem conseguida.

O único coleccionável são estas runas, espalhadas ao longo do jogo e onde vamos aprendendo algumas lendas da mitologia nórdica

No fim de contas devo dizer que fiquei muito agradavelmente surpreendido por este Hellblade. Tal como a Ninja Theory lhe apelidou, é um jogo com os valores de produção AAA, mas com a liberdade criativa de um jogo indie. Não é um jogo que irá agradar a toda a gente, pois há quem se calhar preferisse um foco maior nos combates, já que estes apenas ocorrem em certos momentos da história e não há como voltar a repeti-los. É certo que no início tive alguma dificuldade a familiarizar-me com as mecânicas dos combates, mas na segunda metade do jogo já andava a distribuir pancada mais à vontade. E tanto a  direcção artística, como a narrativa e mesmo o próprio papel da Senua ficaram mesmo muito bem conseguidos. A ver como irão desenvolver a sua sequela, que terá certamente um maior orçamento.

Skitchin (Sega Mega Drive)

Depois do sucesso de Road Rash na Mega Drive, a Electronic Arts aproveitou o mesmo motor gráfico para produzir um outro videojogo com conceitos similares, ou seja, corridas ilegais em várias localizações dos Estados Unidos (e Canadá) onde poderemos atacar os oponentes, mas desta vez corremos com patins em linha em vez de motos. O meu exemplar foi comprado numa loja da CeX algures no mês passado, tendo custado 15€.

Jogo com caixa, manual e papelada

As corridas, tal como descrito acima, vão decorrendo em várias cidades da América do Norte e o objectivo, de forma a ficarmos qualificados para a corrida seguinte, é o de chegar ao final da mesma nos lugares cimeiros. Naturalmente, tal como na série Road Rash, à medida que vamos avançando no jogo, as corridas vão ficando mais longas, com mais trânsito e com oponentes mais agressivos. Mas como conseguimos sequer competir em estradas com trânsito? Bom, o nome Skitchin, é uma mistura de duas palavras: skating e hitching, ou seja, o acto de alguém se agarrar à traseira de um carro e aproveitar a sua velocidade. Essa é a chave para o sucesso neste jogo, é uma habilidade que teremos de ter em conta se quisermos chegar ao fim em primeiro lugar.

Tal como no Road Rash, as estradas não são planas e estão repletas de obstáculos e outros veículos no trânsito

Mas agarrar à traseira de um veículo só por si não chega, convém abaixarmo-nos enquanto o fazemos para não sermos vistos pelo condutor, caso contrário eles podem abrandar ou mesmo parar o carro completamente. Para além disso, muitas vezes o nosso lugar é cobiçado por outros skaters que teremos de combater. O sistema de combate é algo parecido com o de Road Rash, onde teremos à nossa disposição várias armas brancas (ou apenas os punhos) para atacar os nossos oponentes. A diferença é que podemos apanhar armas que estejam espalhadas no chão ao longo das corridas, ou roubá-las a quem nos tentar atacar. Para além disso, poderemos armazenar 3 armas diferentes. Outro detalhe interessante estão nas rampas que vamos poder encontrar ao longo das corridas. Se saltarmos nas mesmas, poderemos fazer algumas acrobacias pelo ar, que serão posteriormente avaliadas por um juri. No final de cada corrida, a nossa performance é avaliada em vários parâmetros, como o tempo levado, dano infligido, acrobacias, skitchin em outros veículos (especialmente os da polícia são altamente valorizados e sim, aqui também podemos ser presos tal como no Road Rash), tudo isto nos dará algum dinheiro extra no final de cada corrida. Depois, tal como no Road Rash, poderemos gastar esse dinheiro para comprar melhores patins, melhores rodas e melhores kits de protecção, como joelheiras e afins.

O dinheiro que vamos amealhando deve ser gasto em upgrades para o nosso equipamento, que vai tendo desgaste

A nível audiovisual, contem com gráficos algo semelhantes à série Road Rash. As pistas são algo dinâmicas, cheias de colinas, obstáculos e trânsito (embora não tenhamos trânsito em sentido contrário) e os cenários de fundo ilustram de certa forma a cidade ou zona que estamos a atravessar, como a majestosa ponte suspensa em São Francisco, ou a paisagem mais arenosa em Miami. Em relação aos efeitos sonoros, nada de especial a apontar. Já as músicas surpreenderam-me pelo quão pesadas são. Supostamente influenciaram-se na cultura grunge, muito em voga naquela época, mas eu diria que muitos dos riffs que aqui ouvimos são mesmo mais metal. E apesar das guitarras bem agressivas e que soam surpreendentemente bem na Mega Drive, devo dizer que nem todos os riffs são bons. É uma banda sonora pesada, eu aprecio sons pesados, mas a qualidade da banda sonora como um todo é algo inconsistente.

Por outro lado, se formos apanhados pela polícia ou parar ao hospital, teremos despesas extra a ter em conta

Por fim devo dizer que até nem desgostei deste Skitchin. É um jogo nitidamente feito para os fãs dos Road Rash clássicos, mas devo dizer que acabo por preferir de longe a série original. Não só conduzir motos é mais interessante, mas é naqueles pequenos detalhes, como as pequenas e cómicas cutscenes entre cada corrida que Road Rash me parece um jogo bem mais polido. E talvez a maioria das pessoas que jogou este Skitchin na sua altura parece concordar comigo, pois a série Road Rash ainda se manteve activa por mais uns tempos, enquando o Skitchin teve apenas este único lançamento.