Super Probotector: Alien Rebels (Super Nintendo)

Super Probotector Alien RebelsTinha de acabar o ano de 2013, ou começar o ano de 2014 – depende da hora em que lerem isto – com um jogo excelente. Super Probotector: Alien Rebels, mais conhecido lá fora como Contra III: The Alien Wars, é uma das coqueluches da Super Nintendo que felizmente tive a sorte de arranjar a um preço muito bom a um colega de trabalho. E porque raio isto não se chama Contra por cá? Bom, temos de agradecer aos nossos amigos alemães que, por alturas em que o primeiro Contra saiu, as suas políticas de censura fizeram com que a Konami alterasse um pouco o jogo, de forma a substituir os humanos por Robots. Essa mudança trouxe também o nome “Probotector”, que se foi mantendo por cá até ter saído o Contra: Legacy of War para a Playstation. A minha versão do jogo está completa, embora a caixa não esteja no melhor estado.

Super Probotector Alien Rebels - Super Nintendo
Jogo com caixa, manuais e papelada.

As únicas diferenças entre este jogo e a versão Americana estão mesmo na substituição do título e dos heróis humanos (Jimbo e Sully) por 2 robots: RD008 e RC011. Essa substituição é feita no jogo e nos vários ecrãs com artwork. Como a maioria dos inimigos na versão normal já eram robots, essa mudança não foi necessária na versão europeia. De resto, pareceu-me idêntico, mas como sempre me habituei à versão americana por emulação, confesso que algumas outras diferenças me poderão passar ao lado. E no restante artigo irei chamar a este jogo Contra III, porque sim.

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O ecrã-título desta versão

A história é a de uns Aliens que já tinham invadido a Terra em alguns jogos anteriores, voltaram à carga algures no século XXVII e desta vez a coisa parece ser ainda mais catastrófica, a avaliar pelos cenários que vamos atravessando. O resto da história não é difícil de imaginar, na Terra só há 2 heróis capazes de derrotar toda esta ameaça, Jimbo e Sully na versão Americana, e os robots manhosos nesta nossa versão.

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Os bosses são enormes, como sempre o devem ser.

A jogabilidade é, na sua maioria, a de um sidescroller. Com o lançamento das consolas de 16bit, os jogos deste género ganharam bastante com essa evolução tecnológica e Contra III não é uma excepção. O jogo para além de ser visualmente bem mais colorido e detalhado, a jogabilidade é bem mais frenética, embora não esteja ao nível de um Contra Hardcorps (falta o blast processing!). A versão japonesa deste jogo é mais fácil, existindo cheat codes que permitem obter 30 vidas e tem também um número ilimitado de continues. As versões ocidentais têm um número fixo de vidas e continues, mediante o grau de dificuldade escolhido. Tendo em conta que para se obter o melhor final é necessário terminar o jogo em hard, estejam à espera de um bom desafio na mesma. Como é habitual na série, o jogo possui vários power-ups e diferentes armas que podemos utilizar, para além de que neste jogo podemos guardar 2 tipos de armas ao mesmo tempo e alternar entre eles sempre que desejarmos. Também podemos recolher uns mísseis especiais e utilizá-los em momentos oportunos, matando todos os inimigos presentes no ecrã. Existem também algumas habilidades novas, como carregar no botão L ou R para “pregar” os heróis ao chão, permitindo disparar com maior precisão, ou carrregar em ambos simultâneamente para que dêm um salto mortal, disparando projécteis em todas as direcções.

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Um nível repleto de adrenalina!

Infelizmente o jogo apesar de ser intenso, é um pouco curto, tendo só 6 níveis. Dois desses níveis jogam-se com uma perspectiva aérea, onde temos de destruir uns quantos “monster generators“. Os controlos são diferentes, aqui a personagem está estática no ecrã, onde utilizamos os botões L e R para rodar o cenário, fazendo uso das capacidade Mode 7 da SNES. E dos sidescrollers, há um nível particularmente intenso em que conduzimos a alta velocidade numa moto por uma auto estrada, disparando em tudo o que mexa, culminando numa batalha aérea contra um boss gigante, saltando de míssil em míssil. Um momento Contra bastante memorável. Também não podia deixar de referir o modo para 2 jogadores, que nestes níveis em top-down view se joga com um split-screen horizontal.

Graficamente era um jogo muito bom para a altura e plataforma em que foi lançado. Os gráficos são bastante detalhados e coloridos, bons efeitos como explosões e bosses gigantes e ameaçadores. As músicas são também boas, embora eu preferisse uma banda sonora mais rockeira, mas penso que a SNES não é a plataforma indicada para essas sonoridades. As músicas têm todas uma toada electrónica e acompanham bem a acção de todo o jogo, mas sinceramente não acho que seja uma banda sonora tão boa como alguns fãs possam dizer o contrário.

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Os níveis em top-down-view no modo 2 jogadores são jogados em splitscreen, com duas variantes distintas.

Este jogo ainda teve algumas conversões, nomeadamente uma versão naturalmente capada para a Gameboy original, e uma nova versão Contra Advance: The Alien Wars EX para a Gameboy Advance. Pelo que me recordo, há diferenças notórias entre esta versão e a conversão GBA são a substituição dos 2 níveis com câmara aérea por 2 níveis do Contra Hard Corps da Mega Drive, mais algumas alterações à jogabilidade, como sacrificar o poder carregar com 2 armas e as super bombas por um esquema de lock on nos inimigos. Eu diria que alteraram demasiado o clássico, no entanto, esse jogo foi lançado na Europa com o nome Contra e os heróis humanos, pelo que poderá ser uma mais valia para alguns. As versões existentes na Virtual Console em território Europeu continuam com o nome Probotector, infelizmente. Por essas razões, as versões SNES, apesar de geralmente serem caras, continuam a ser uma opção de respeito. E claro, o jogo é excelente. Bom ano de 2014 a todos os leitores!

Still Life 2 (PC)

De volta às aventuras gráficas do PC com este Still Life 2, onde mais uma vez encarnamos na agente Victoria McPherson do FBI de forma a tentar parar mais um serial killer que está a assolar os norte-americanos. Mais um jogo produzido pela Microids, os mesmos de Dracula e Syberia, e tal como os seus predecessores Post Mortem e Still Life, este jogo tem uma temática mais matura e entrou na minha conta do steam por intermédio de algum bundle a um preço muito bom.

Still_Life_2_cover

O anterior Still-Life terminou num cliffhanger, sem se saber a identidade o assassino em série da altura, e este jogo inicialmente descarta completamente essa história, sendo passado 3 anos mais tarde, em 2008,  com um novo assassino em série à mistura. Ainda assim, através de flashbacks de Victoria vamos poder finalmente saber o desfecho do caso anterior. Mas passando de vez para este jogo, este tem mais uma vez duas personagens jogáveis. Este novo assassino em série, apelidado de East Coast Killer é um assassino mais mediático. Por um lado, tal como o anterior, apenas vitima mulheres, já por outro, envia cassetes das suas torturas e assassinatos quer para as autoridades quer para os meios de comunicação. E também tal como o jogo anterior, vamos alternando entre 2 personagens jogáveis, por um lado a “veterana” Victoria McPherson, por outro a jornalista Paloma Hernandez, que se encontrava a investigar o assassino, acabando por ser raptada por ele mesmo.

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O jogo começa com Victoria a analisar os ficheiros das primeiras vítimas

Grande parte do jogo é passada numa mansão abandonada utilizada pelo assassino de forma a torturar e matar as suas vítimas. Por um lado, enquanto Victoria, passamos a maior parte do tempo em trabalho de investigação forense – recolher impressões digitais, analisar manchas de sangue, tecidos, equipamentos electrónicos, entre outros – por outro lado quando jogamos com Paloma, como ela está aprisionada na mesma casa, o objectivo é consiste em sobreviver às armadilhas plantadas pelo assassino e tentar escapar com vida da mesma casa. Se a ideia de ter um assassino, uma vítima, e várias autoridades na mesma casa, ao mesmo tempo, a brincarem ao gato e rato ao longo das cerca de 10-12h de jogo possa parecer rebuscada, a verdade é que a casa é realmente grande, com várias divisões, um gigante abrigo subterrâneo e muitas dessas divisões estão grande parte do tempo trancadas. A história vai tendo imensos plot twists que vão dando fulgor ao jogo, bem como uma série de puzzles lógicos como já o existiram no primeiro jogo.

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Conseguiram capturar bem a atmosfera de medo provocada pelo assassino neste jogo

A jogabilidade é então a de um jogo de aventura clássico point-and-click, na medida em que temos de falar com várias personagens e interagir com diversos objectos de forma a progredir na história. No entanto o jogo apresenta alguns conceitos fora do comum. Tinha-me queixado que não gostei muito do inventário e interface geral no primeiro jogo, as coisas aqui mudaram um pouco, embora continuem a não ser perfeitas na minha opinião. O inventário em si é composto por 16 quadradinhos. Cada item que podemos coleccionar ocupa entre 1 a 16 quadrados, pelo que devemos gerir o inventário com algum cuidado. Ao longo da casa existem diversos locais onde podemos armazenar os itens excedentes, mas como isto não é o Resident Evil onde os baús são mágicos, aqui temos mesmo de memorizar onde deixamos os outros items anteriormente. E isto espalhado por uma casa gigante, repleta de salinhas e passagens sinuosas acaba por ser um pouco aborrecido por vezes ter de percorrer imenso só para ir buscar um item a um armário. Isto porque a movimentação infelizmente não é a melhor também. Faz-me lembrar um Resident Evil clássico com os tank controls substituidos pela movimentação point-and-click, que, com a transição de ângulos de câmara é por vezes confusa.

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O kit de análise forense do FBI que Victoria carrega, com todas as ferramentas que podemos utilizar

Victoria e Paloma têm algumas peculiariadades na sua jogabilidade também. Victoria possui um kit de análise forense do FBI repleto de diversas ferramentas que serão úteis no decorrer do jogo: pó para identificar impressões digitais, um leitor 3D das mesmas, pinças e “cotonetes” para recolha de objectos, sangue, ou otros fluídos para análise, um microscópio portátil, entre outros. E durante o jogo teremos de fazer mesmo muitas destas análises e o que era interessante nas primeiras vezes, acaba por se tornar mecânico com o decorrer da aventura. Victoria possui ainda um telemóvel que lhe permite fazer chamadas, ou registar ficheiros que vamos recolhendo. Paloma tem algo semelhante, um gravador de repórter, onde também regista alguns dados. Neste jogo também é possível as personagens morrerem. Num certo ponto da história teremos armadilhas para desarmar, armadilhas essas que nos poderão matar. Felizmente existem alguns medkits que poderão ser utilizados nessas situações. As outras consistem em tanto Victoria como Paloma escaparem das armadilhas preparadas pelo assassino. Existe um contador no canto superior direito do ecrã que nos indica o tempo disponível para nos safarmos dessa situação, geralmente resolvendo alguns puzzles sob pressão. É aqui que entra a influência dos filmes Saw neste jogo.

Para um jogo de 2009, os seus gráficos deixam um pouco a desejar, não sendo muito melhores que os do primeiro jogo. Ainda assim, não deixou de ser minimamente competente nesse campo. As cutscenes em CG têm uma boa qualidade e conseguem transparecer muito melhor as emoções transmitidas pelas personagens do que os diálogos normais propriamente ditos. O voice acting, tal como os outros 2 jogos da série têm os seus altos e baixos, por vezes os diálogos são mesmo bons e o acting também, outras vezes é só o acting que falha um pouco e ainda outras vezes ouvimos algumas one-liners muito fatelas. Já a música tende a ser muito tensa, embora por vezes entre em momentos que não deveria. Por exemplo, quando entramos pela primeira vez numa determinada sala muito macabra, entra uma música algo tenebrosa a acompanhar, o que até faz todo o sentido. No entanto, depois de já estar essa sala toda explorada e mais que explorada, o factor medo ou surpresa já não entra na equação, mas a mesma musiquinha lá volta a tocar sempre que lá entremos.

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O assassino antes de matar as vítimas tortura-as com jogos macabros, tal como Saw

No fim de contas acho Still Life 2 um bom jogo de aventura, para quem gostar de uma história matura, com crimes violentos para resolver, e uma história repleta de plot-twists. A jogabilidade ainda poderia ser um pouco melhorada, o jogo continua com alguns defeitos (para mim o pior continua a ser a má optimização do jogo nos PCs), mas esses defeitos não retiram a diversão que o jogo acaba por proporcionar.

Revolution X (Sega Mega Drive)

Revolution X

Às vezes fazemos questão de comprar um mau jogo só mesmo para poder falar mal dele à vontade. Pelo menos foi o que eu fiz com este Revolution X. O jogo nas arcades, jogado com uma lightgun a simular uma metralhadora pesada fixa, até me parece muito interessante, mas esta conversão para a Mega Drive é mesmo algo para esquecer. E esta minha cópia foi comprada há umas semanas atrás numa cash em Lisboa, mais precisamente na de S. Sebastião. Custou-me sensivelmente 4€, está em bom estado, embora lhe falte o manual. Tem também a particularidade de ser uma das versões Sega Genesis (NTSC-U) que acabaram por ser lançadas em Portugal. Edit: arranjei recentemente um PAL por cerca de 12€.

Jogo com caixa, versão americana, mas distribuida em Portugal pela Ecofilmes.

O conceito do jogo é logo a primeira coisa bizarra que salta à vista. Videojogos sobre bandas não eram propriamente uma coisa comum, e mesmo nos dias que correm só se fosse mesmo um jogo musical do género Guitar Hero ou Rockband. Mas não, Revolution X é um shooter arcade que usa lightguns. E em que os Aerosmith são chamados para a coisa? Bom, o jogo decorre num “futuro” distópico em 1996, onde uma enorme organização fascista, os New Order Nation (NON), passa a controlar todo o mundo. Uma das políticas que os NON tentam implementar é banir tudo o que a “juventude” gosta, nomeadamente filmes, videojogos e música, entre outros. Ainda assim a rebeldia existia, pois os Aerosmith iriam dar um mega-concerto brevemente, onde acabaram por ser raptados por tropas dos NON. O resto do jogo não será muito difícil de adivinhar, temos de resgatar os Aerosmith e pelo meio destruir os NON, liderados por uma tal de Helga.

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Possivelmente a primeira ditadora sexy da História

Passando para a jogabilidade, vemos logo outra coisa bizarra nesta versão de Mega Drive. O jogo não suporta qualquer lightgun! E o mesmo é válido para as outras conversões domésticas (SNES, PS1, Saturn), embora todas essas plataformas também possuam as suas lightguns. Usamos então o gamepad para derrotar enormes legiões de inimigos e veículos que nos vão aparecendo à frente, causar o maior dano possível nos níveis para obter alguns power-ups e libertar todas as reféns que conseguirmos. Mediante o grau de dificuldade escolhido, temos direito a um determinado número de continues para gastar – ainda vão sendo bastantes, pois sem uma lightgun é normal que soframos dano mais regularmente. Para além da metralhadora normal podemos também disparar CDs que vamos coleccionando ao longo dos níveis, CDs esses que funcionam como uma arma especial, causando mais dano. Existem outros power-ups, como um escudo que nos protege de um certo número de “hits“, outros que nos regeneram a saúde ou mesmo uma bomba muito poderosa. Um aspecto que eu até gostei neste jogo é o controlo que por vezes temos em explorar os níveis, podendo inclusivamente entrar em salas secretas com alguns goodies.

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Vídeo em altíssima resolução de Steven Tyler

Mas para além da jogabilidade mal aproveitada por não usarem a Menacer, os outros grandes defeitos desta conversão são a censura e o audiovisual. Tal como Mortal Kombat, também da Midway, o jogo utiliza sprites digitalizadas de actores reais, mas na Mega Drive as coisas não ficaram tão bonitas assim, até porque perderam imensos frames de animação. No entanto, existem alguns clips de vídeo com alguns segundos de duração que até achei bem conseguidos, tanto no vídeo, como nas falas dos Aerosmith que os acompanham (excepto o primeiro com o Steven Tyler). Infelizmente as músicas é que ficaram uma miséria. Apenas existem 3 músicas dos Aerosmith incluidas nesta conversão, mas ficaram irreconhecíveis. O que é pena, pois o chip de som da Mega Drive tende a portar-se bem em chiptunes mais rockeiras.

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Os gráficos ficaram realmente muito abaixo do esperado – Lethal Enforcers é tão melhor!

A questão da censura é outra que assolou practicamente todas as conversões caseiras deste jogo. Para além da versão Mega Drive (e SNES) não ter o sangue que podemos ver na versão original, os atributos da modelo Kerri Hoskins também ficaram mais escondidos. Kerri é uma actriz/modelo que teve várias participações no mundo dos videojogos, sendo possivelmente melhor conhecida pelo seu papel como Sonya nos primeiros Mortal Kombat. Ora neste jogo, Kerri representa tanto a vilã Helga, como as reféns que podemos resgatar. Essas reféns estão sempre em trajes menores. Na versão arcade ainda mostrava um pouco do seu “fio dental”, aqui isso foi censurado, apesar de continuar com pouca roupa. Não que isso me cause assim tanta comichão, mas seria uma censura que esperaria ver talvez na SNES, já na Mega Drive nem tanto.

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Os bosses são sempre grandinhos e levam algum tempo a ir abaixo

No fim de contas este Revolution X, para além de ser um jogo com um conceito completamente bizarro, teve as suas conversões para consolas muito infelizes. Numa arcade, com uma lightgun a simular uma metralhadora, e os gráficos e som no seu esplendor, até me parece ser um jogo que ofereça algum divertimento. Esta versão Mega Drive, muito inferior no audiovisual e sem qualquer suporte a lightgun, deixou muito a desejar, e o mesmo pode ser dito das outras versões existentes.

Tomb Raider: The Last Revelation (Sony Playstation)

Tomb Raider The Last Revelation

Tomb Raider: The Last Revelation, ao contrário do que o nome indica, está longe de ser o último jogo da longa saga que conta as aventuras de Lara Croft e, spoiler alert para os que estão quase 15 anos atrasados no tempo, era suposto Lara morrer no final deste jogo. A série Tomb Raider era na altuma uma espécie de Call of Duty dos dias de hoje, com um jogo novo a cada ano, sempre utilizando as mesmas mecânicas de jogo, mas que no entanto tinha sempre bastante sucesso. A minha cópia do jogo foi comprada há uns meses atrás na feira da Ladra em Lisboa, tendo-me custado 4€, e estando completa e em bom estado.

Tomb Raider The Last Revelation - Sony Playstation
Jogo completo com caixa e manual

Ao contrário dos outros Tomb Raiders até à data, desta vez não temos um nível tutorial que decorre na mansão de Lara Croft ou nos seus exteriores. Existe um tutorial sim, mas serve de prelúdio à aventura principal. Este coloca Lara, na sua adolescência, a aventurar-se com o seu mentor Werner Von Croy, na busca de um artefacto misterioso. É aí que vamos aprendendo a movimentar Lara e executar os seus diferentes saltos e habilidades. Mais tarde somos então largados na aventura principal, colocando Lara nos túmulos de Set, onde adquire um talismã misterioso e inadvertidamente liberta o espírito maligno de Set pelo Egipto. Depois de ter feito essa borrada, temos então de remediar essa situação, viajando por outros monumentos e localidades egípcias em busca de uma maneira de selar novamente Set. Para além de criaturas sobrenaturais e as armadilhas do costume, Lara tem ainda de evitar um grupo de mercenários liderados por Von Croy que pretende ficar com o amuleto de Set para si mesmo.

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O bonito ecrã título

Infelizmente, jogando um dos primeiros 5 Tomb Raiders para a PS1, é como se os tivessemos jogado todos. A jogabilidade travada com os tank controls, os saltos precisos, os puzzles de mexer uma alavanca num sítio que abre uma porta no outro lado do nível infestado de armadilhas estão todos aqui presentes. Lara herda as mesmas habilidades dos jogos anteriores, tal como o sprint temporário ou a possibilidade de se agachar, mas também ganha algumas novas habilidades, como a capacidade de se balancear em cordas, ou disparar algumas armas na primeira pessoa (as que usam mira telescópica). O inventário também foi alterado, deixando de ser o sistema em anel, para um em linha, onde agora podemos combinar alguns items ou mesmo armas. Lara pode também conduzir veículos mais uma vez, e neste jogo existem alguns segmentos em que vamos precisar e bem deles, nem que seja para dar uma de “Carmageddon” em alguns inimigos, ou alcançar outras zonas que de outra forma não seria possível.

Os níveis vão sendo apresentados de uma forma mais encadeada, onde podemos por várias vezes revisitar alguns níveis anteriores. Podemos não, devemos. Neste jogo o backtracking que a série já era conhecida foi expandido de forma a que ao mover uma alavanca num nível, uma porta poderá se abrir num outro nível anterior. Isto para mim é um bocado chato pois por muitas vezes os níveis são labirínticos e nem sempre é fácil memorizar tudo direitinho. Mas isso já é normal nestes primeiros jogos da série.

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O primeiro nível serve de tutorial, e jogamos com uma Lara adolescente

Graficamente o jogo recebeu um facelift, obviamente bem mais perceptível para quem jogar a versão PC com uma resolução maior. Mas mesmo no hardware da Playstation nota-se que Lara está mais curvilînea, os inimigos também estão mais detalhados e as próprias animações foram melhoradas, assim como alguns efeitos especiais, como a àgua e iluminação. Infelizmente, com o jogo a decorrer apenas no Egipto (embora em localidades diferentes como o Vale dos Reis, as grandes pirâmides ou Alexandria), há uma pouca variedade de cenários, comparando com os jogos anteriores onde tanto estavamos na neve, como em selvas ou desertos. Na segunda metade do jogo, quando as coisas na história começam a ficar mesmo más, os cenários vão sendo cada vez mais escuros, coisa que sinceramente não me agradou muito. Infelizmente ainda assim esta engine já começava mesmo a mostrar a sua idade. Embora não esteja a ver a PS1 a fazer níveis 3D não “quadrados”, para mim a série teria tido mais a ganhar se passasse a utilizar uma engine menos restritiva, mesmo na questão dos controlos como já referi atrás. As cutscenes em CG já são outra história, estas aqui têm uma óptima qualidade para a altura.

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Existe uma grande variedade de inimigos, muitos deles sobrenaturais.

Em relação ao som, tal como os jogos anteriores, Tomb Raider é um jogo contido. Na maior parte do tempo vamos ouvindo música mais atmosférica, e nos momentos de maior espanto quando entramos numa área nova, ou resolvemos um puzzle, as habituais bonitas melodias vão surgindo. Nos momentos de maior tensão também vão ter músicas mais aceleradas, como seria de esperar. Os efeitos sonoros apesar de manterem a mesma matriz que caracteriza os primeiros jogos da série foram alterados na sua maioria e o voice acting está completamente OK, na minha opinião.

No fim de contas este é um jogo que para mim é uma espécie de divisor de águas. Enquanto uns o acharam muito bom, para mim é aqui que a curva começa a ficar descendente. Por um lado possui umas cenas de acção bem conseguidas, mas por outro, mantém a mesma jogabilidade que já estava a ficar moribunda, e aumentando ainda mais o backtracking de forma a visitar níveis anteriores. Mas a saga não se ficou por aqui e Tomb Raider Chronicles acabaria por sair ainda com este motor gráfico no ano seguinte, antes de a série se ter finalmente revolucionado. Mas isso será tema para um artigo futuro.

Ultima II: Revenge of the Enchantress (PC)

Bora lá para mais um artigo de mais um jogo pertencente ao período Triássico dos RPGs. A série Ultima em conjunto com a Wizardry e alguns jogos muito obscuros de Dungeons and Dragons foram das que impulsionaram os RPGs e invariavelmente acabaram por influenciar o surgimento de jogos como Dragon Quest ou mesmo Final Fantasy. Ultima II é visto como uma espécie de ovelha negra na série, pois é uma mixórdia de diferentes conceitos e as coisas como um todo acabam por não funcionar muito bem. Este jogo está na minha colecção por intermédio do GOG, onde comprei há coisa de um ano ou 2 a colecção de todos os jogos principais da série por um bom preço. Claro que é apenas em formato digital, mas não está mau.

Ultima IIO jogo coloca-nos mais uma vez em aventuras no mundo de Sosaria, onde após termos voltado a derrotar o feiticeiro Mondain no primeiro jogo (e em Akalabeth também), é a vez da sua companheira Minax aterrorizar o local. Infelizmente a partir daqui a história não vai ficando muito clara. Temos de ir explorando o mundo de Sosaria (curiosamente com um mapa igual ao do planeta Terra), onde podemos mais uma vez voar pelo espaço e visitar outros planetas, bem como atravessar diversos portais que nos levam a diferentes períodos temporais. Tudo isto só para arranjar uma forma de entrar no lar de Minax e a derrotar.

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O fantásico ecrã título

Em primeiro lugar temos mais uma vez de criar uma personagem ao nosso estilo. Inicialmente podemos distribuir pontos em diversos atributos, depois teremos de escolher a raça, profissão (classe) e sexo, onde cada escolha também se reflete em diferentes atribuitos a serem beneficiados. Depois a jogabilidade resume-se em explorar os diferentes continentes, cidades e dungeons de Sosaria e não só. O grinding é sempre necessário, mas mais para ganhar gold que outra coisa. Ganhar experiência não parece ter benefício nenhum, pois os atributos apenas podem ser melhorados ao pagar a Lord British que nos aumente o HP e a um gajo qualquer no Hotel California da cidade de New San Antonio para que nos aumente os restantes stats. Assim sendo os combates são mesmo necessários para ganhar ouro de forma a que depois possamos comprar melhores armas, comida, ou feitiços se a nossa classe o permitir. Também nos combates podemos obter alguns items aleatórios, alguns inúteis, mas outros absolutamente vitais para prosseguir com a história, como items que nos permitam conduzir aviões ou fragatas para navegar nos oceanos.

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Estas coisas azuis deveriam ser verdes e representar florestas.

Infelizmente o jogo parece estar repleto de “lixo”. De todos os planetas que podemos visitar, apenas um é necessário para se prosseguir com a história. Todos os outros são meramente opcionais. As dungeons são também bastante complexas como já eram no primeiro jogo, porém acabam também por ser opcionais. Apesar de algumas terem items necessários à conclusão do jogo, na versão original deste jogo, esses itens poderiam ser também encontrados aleatoriamente após as batalhas no overworld. E como as dungeons são completamente primitivas desenhadas com gráficos vectoriais, a nossa orientação nas mesmas torna-se bastante confusa. Depois o jogo também continua com a sua jogabilidade complexa, onde para cada acção temos uma tecla própria, ou combinação de teclas. Por exemplo, para atacar temos de carregar em A + a direcção para onde queremos atacar. Entrar numa cidade, castelo ou dungeon temos de carregar em E, entrar num avião, barco ou afins carregar em B, e por aí fora. Mais tarde estes jogos viriam a simplificar um pouco os controlos mas ainda estavamos numa era muito primitiva para isso.

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Mediante a classe escolhida, podemos comprar alguns feitiços em cidades

Este jogo saiu originalmente para o computador Apple II no ano de 1982. Tal como o seu antecessor, acabou por ser convertido para imensas outras plataformas, especialmente computadores norte-americanos e também alguns japoneses como o MSX2 ou o FM-TOWNS, versões essas visualmente já muito superiores à original. A versão PC infelizmente é uma conversão muito pobre. Esta versão foi desenvolvida para PCs com displays em CGA de 4 cores, o que resulta em gráficos muito estranhos. Quase que recomendo mesmo que se jogue no emulador de Apple II mesmo. E tal como a versão Apple II, não existe qualquer música neste jogo, apenas alguns efeitos sonoros muito primitivos.

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Às portas do reino de Minax

Tal como o primeiro, este Ultima não é um RPG que tenha envelhecido muito bem. No entanto, acho que está uns furitos atrás do primeiro jogo, especialmente se considerarmos a mixórdia que inventaram na história, com misturas de viagens no tempo e no espaço também, com várias referências a pop-culture (o restaurante Mc Donalls por exemplo) e outras coisinhas um pouco parvas. O facto de terem tornado o grinding algo tão tedioso que apenas nos serve para amealhar ouro e tentar ter a sorte de encontrar alguns items importantes em encontros fortuitos também não foi a meu ver uma decisão feliz. O próximo jogo da série será o Ultima III: Exodus, o último passado em Sosaria antes de dar lugar a Britannia. Veremos como se safou num futuro artigo.