Aleste Collection (Nintendo Switch)

Tempo de regressar à Nintendo Switch para falar de um lançamento particularmente interessante e que, aquando da sua chegada ao mercado em 2020, me apanhou completamente de surpresa. Aleste Collection é, como o nome indica, uma compilação de vários jogos da série, conhecida por cá também como Power Strike em alguns dos seus lançamentos ocidentais. Esta colectânea reúne todos os títulos originalmente lançados nos sistemas 8-bit da Sega, incluindo ainda um jogo inteiramente novo (GG Aleste 3), desenvolvido pela M2 propositadamente para este pacote. O meu exemplar foi comprado na Amazon japonesa, algures em Dezembro de 2022, por cerca de 25€ (mais outro tanto em portes e despesas alfandegárias, infelizmente).

Jogo com caixa e folheto de instruções

Tendo em conta que já trouxe aqui no passado o Power Strike e sua sequela exclusiva do mercado europeu (e brasileiro ) para a Master System, este artigo irá focar-se nos jogos da Game Gear, assim como em todas as restantes características desta compilação, e há mesmo muito a dizer!

Começando pelo GG Aleste, este título foi lançado no Japão no final de 1991, permanecendo exclusivo dessa região. Ao contrário do Aleste da Master System, este adopta um cenário mais assumidamente futurista, levando-nos a atravessar vários níveis em pleno espaço. As mecânicas de jogo não diferem muito do habitual na série, sendo mais um shmup vertical onde disparamos com o botão 1. Ao longo dos níveis encontramos uma variedade de power ups coleccionáveis. Os do tipo P servem para aumentar o poder de fogo da arma principal, enquanto os restantes, identificados por letras diferentes, correspondem a armas especiais que funcionam em conjunto com a arma base e apresentam diversos padrões de disparo. Tal como os nossos canhões primários, também estas armas secundárias evoluem à medida que recolhemos ícones iguais.

Confesso que já não me lembrava o quão difícil era o Power Strike original

O jogo não é particularmente castigador, pois ao perder uma vida não ficamos desprovidos de todos os power ups acumulados, sofrendo apenas um decréscimo de um nível na potência total, o que nos deixa ainda com boa margem de sobrevivência. O facto de existirem continues infinitos e de a acção sofrer diversos abrandamentos também contribui para tornar a experiência menos frustrante. Visualmente, GG Aleste não impressiona: os cenários não apresentam o mesmo nível de detalhe visto em Power Strike II na Master System, e os inimigos seguem a mesma tendência. A banda sonora, por outro lado, é bastante agradável.

É verdade que no calor do momento não podemos perder tempo com distracções, mas algumas das informações que temos nos painéis laterais acabam por ser bastante úteis

GG Aleste II saiu no Japão em 1993, vendo depois um lançamento europeu no ano seguinte sob o nome Power Strike II. Importa notar, contudo, que este Power Strike II da Game Gear nada tem a ver com o da Master System, algo de que só me apercebi alguns anos mais tarde. As mecânicas de base mantêm-se, embora aqui iniciemos a acção já com uma arma especial equipada, escolhida logo antes de começar o jogo. Upgrades de dano e novas armas secundárias continuam dependentes dos respectivos power ups. A outra novidade prende-se com as bombas, de uso limitado, capazes de causar dano a todos os inimigos (e projécteis) no ecrã, disparadas com o botão 2.

GG Aleste é sem dúvida o jogo mais modesto de toda esta compilação.

Visualmente o jogo está muito mais cuidado, com cenários mais variados e detalhados, inimigos mais interessantes e bosses bem concebidos. É também um título bastante mais difícil, com padrões de movimento e disparo mais agressivos. Felizmente, os já habituais abrandamentos acabam por nos dar uma margem extra que ajuda a dançar por entre as balas. No geral, Power Strike II na Game Gear é um jogo mais exigente e frenético do que o seu antecessor.

O Power Strike II de Game Gear nada tem a ver com o da Master System! E o primeiro também não!

Chegamos finalmente a GG Aleste 3, um título desenvolvido propositadamente para esta compilação. O facto de a M2 ter recrutado talento oriundo da Compile precisamente da altura em que fizeram vários shmups de renome nos anos 90, só podia significar coisas boas. A nível de mecânicas, não há grandes mudanças face aos jogos anteriores, com o mesmo sistema de power ups e armas secundárias. A diferença mais notória encontra-se na inclusão de um escudo, recebido ocasionalmente, capaz de absorver um ponto de dano. Somos, aliás, recompensados com um novo escudo a cada vinte power ups do tipo P recolhidos.

Audiovisualmente e no plano técnico, GG Aleste 3 é algo de extraordinário. Segundo a própria M2, o jogo foi desenvolvido como se de um verdadeiro título de Game Gear se tratasse, ao ponto de se ter especulado sobre um eventual lançamento em cartucho. O mais próximo de tal cenário foi a sua inclusão numa edição especial da consola Game Gear Mini. Tecnicamente, é um feito impressionante, com níveis altamente detalhados para um sistema 8-bit tão limitado como a Game Gear. Os inimigos apresentam uma grande variedade e detalhe, os bosses são gigantes e o jogo está repleto de efeitos visuais surpreendentes. Naturalmente existem abrandamentos ocasionais, muitos deles bem-vindos, e a banda sonora é francamente boa, mesmo tendo em conta as limitações do chip PSG da Game Gear.

GG Aleste 3 é de facto um jogo tecnicamente impressionante para uma Game Gear!

No que diz respeito à compilação propriamente dita, o que encontramos? A verdade é que muito mais do que seria expectável. A versão Master System do Power Strike original e GG Aleste II podem ser jogados nas suas diferentes regiões. Há ainda vários extras, como scans de caixas, manuais ou outras ilustrações da série, disponíveis a qualquer momento, bem como save states e uma boa selecção de filtros gráficos. No entanto, sendo a M2 os grandes tech wizards que são, decidiram ir muito mais longe: cada jogo inclui um conjunto de opções especiais que permite, por exemplo, desactivar o slowdown nativo das versões originais, resultando em experiências potencialmente masoquistas em certos títulos. Podemos também ajustar o número de vidas iniciais, definir se as armas fazem downgrade após perdermos uma vida, activar dificuldades dinâmicas, entre outras opções que pecam apenas por serem inconsistentes, já que muitas delas estão disponíveis apenas em certos jogos.

O Aleste Challenge permite-nos jogar pequenas secções de cada jogo em busca da melhor pontuação possível. Com o seu rewind automático, acaba também por ser a melhor forma de treinar certos segmentos.

Nas extremidades do ecrã encontramos ainda uma série de widgets bastante úteis, activáveis ou desactiváveis a qualquer momento. Desde informações sobre tempos, pontuação necessária para ganhar uma vida extra, explicação do sistema de power ups, música actualmente a tocar, botões pressionados, entre vários outros dados. É certo que, no meio do caos, nem sempre conseguimos prestar-lhes atenção, mas constituem uma adição interessante. Para além disto, existe também um challenge mode, uma espécie de caravan mode semelhante ao visto noutros shmups dos anos 90, que oferece uma série de desafios curtos para cada jogo, com o objectivo de alcançar a melhor pontuação possível. Curiosamente, este modo inclui uma função de rewind sempre que perdemos uma vida, algo que gostaria de ver também nos modos principais.

É uma pena que todos os materiais de bónus estejam apenas em japonês!

Em suma, Aleste Collection é um lançamento muito sólido por parte da M2, que mais uma vez demonstra ser extremamente competente na forma como recupera jogos clássicos e lhes acrescenta funcionalidades modernas que melhoram substancialmente a experiência. GG Aleste 3, sendo um jogo inteiramente novo e de grande qualidade, já seria por si só um excelente motivo para adquirir esta colectânea. É pena que nunca tenha saído oficialmente fora do Japão, já que menus em inglês ajudariam a perceber melhor as opções oferecidas. Fica também o desejo de um eventual segundo volume. Uma compilação que reunisse os Aleste de MSX e, sobretudo, os jogos 16-bit da série, seria um verdadeiro sonho.

Castlevania Dominus Collection (Nintendo Switch)

Tempo agora para uma rapidinha a mais uma compilação retro para a Nintendo Switch, sendo que desta vez se trata da Castlevania Dominus Collection, uma compilação que traz os Castlevania lançados originalmente para a Nintendo DS (nomeadamente os Dawn of Sorrow, Portrait of Ruin e Order of Ecclesia). A acrescentar à compilação está não só a versão original arcade do Haunted Castle, bem como um remake (bem ao estilo retro) exclusivo desta compilação. Visto que já havia terminado (e trazido cá também) os jogos originalmente lançados para a Nintendo DS, este artigo vai-se focar exclusivamente nos Haunted Castle e ouros extras aqui incluídos na compilação.

Jogo com caixa e pequeno livrinho com breves descrições e imagens de cada jogo aqui presente

Ora e o Haunted Castle é um título original de 1988, onde encarnamos uma vez mais no Simon Belmont que vê a sua noiva ser raptada pelas forças do Drácula em pleno dia de casamento. Antes que Selena seja sacrificada, cabe-nos a nós salvá-la, sendo que para isso teremos de ultrapassar inúmeros obstáculos e inimigos. E como é habitual nos jogos arcade de acção 2D da época, este é um título bastante exigente, até porque mantém os saltos rígidos do Belmont e inimigos posicionados em locais estratégicos. Felizmente, tal como tem sido habitual nas outras compilações Castlevania que tenho trazido cá, as mesmas vêm trazem melhorias de qualidade de vida como save states e mecanismos de rewind. É por causa de jogos como este Haunted Castle que inventaram tal coisa!

O Haunted Castle original é uma das razões pelas quais se inventaram save states e rewind!

A nível de mecânicas tem também algumas ligeiras diferenças perante os Castlevania clássicos, começando por termos algumas armas secundárias distintas, como é o caso das bolas de fogo que têm um efeito similar ao da água benta. Para além disso, podemos ter alguns upgrades ao chicote, bem como novas armas principais que o substituem, como é o caso de um morning star (aprendi hoje que o seu devido nome em português é um chicote d’armas) ou uma espada. De resto, a nível audiovisual sinceramente até o acho um jogo bastante competente e bem detalhado para os padrões de 1988, com 6 cenários distintos entre si, bem detalhados visualmente e com toda aquela temática de filmes de terror clássicos, pela qual a série é bem conhecida. As músicas são também bastante agradáveis, sendo que reconheci ali uma versão da conhecida Bloody Tears.

O Haunted Castle Revisited mantêm a essência do original, mas com um grafismo mais detalhado e uma dificuldade mais balanceada

Para além da versão original do Haunted Castle, tivemos também direito a um outro miminho desenvolvido pelos feiticeiros da M2. Haunted Castle Revisited foi desenvolvido propositadamente para esta compilação e é uma espécie de remake do original, mantendo no entanto os seus visuais em 2D, simplesmente muito melhor detalhados e com outros bonitos efeitos gráficos aqui e ali. A nível de mecânicas os controlos são mais refinados, o sistema de armas secundárias foi revisto para incluir mais das armas conhecidas da série, como é o caso das facas ou machado. O sistema de power ups do chicote ou as outras armas principais que o substituem estão também aqui implementados.

Tal como noutras compilações da série, podemos escolher qual a versão regional que queremos jogar

Save states e rewind são no entanto coisas do passado, isso não existe aqui. No entanto, a dificuldade está mais balanceada. A nossa barra de vida é restabelecida na sua totalidade entre os níveis (isso não acontece na versão original) e aqui temos continues ilimitados e um sistema de checkpoints mais justo. Portanto é daqueles jogos em que se tivermos alguma dificuldade em passar um certo nível ou boss, é mesmo só uma questão de ganhar alguma práctica que eventualmente ultrapassamos o desafio. Não existem quaisquer níveis adicionais no entanto, pelo que continua a ser também uma aventura curtinha, mas muito agradável de se jogar.

Os jogos de DS, com os seus dois ecrãs, foram adaptados de forma curiosa nesta compilação. Em destaque a acção, com ecrãs secundários com o mapa e informações do estado da personagem que controlamos à direita.

A restante compilação possui bastante qualidade como tem sido o caso das anteriores, também trabalhadas pela M2. Para além de certos filtros gráficos que podemos definir por jogo, temos também acesso a diferentes versões regionais, como as originais japonesas, americana, europeias ou ocasionalmente até teremos versões coreanas em certos jogos. Todos eles possuem mecânicas de save state e rewind (excepto o Haunted Castle Revisited como mencionado acima). No caso dos metroidvanias da Nintendo DS, também temos acesso a uma espécie de enciclopédia com todos os inimigos e habilidades lá detalhadas. Para além disso, contem também com galerias de arte, que também incluem digitalizações dos manuais e arte das capas de cada um dos jogos aqui presentes, assim como as suas bandas sonoras na íntegra.

Portanto estamos aqui perante mais uma sólida compilação por parte da M2. Com os preços das versões físicas originais a subirem em flecha nos últimos anos, estas compilações apresentam-se sempre como uma maneira alternativa em jogarmos estes clássicos da Konami. Pena que os lançamentos físicos se tenham limitado à Limited Run Games no Ocidente, pois enquanto a prometida loja europeia não abrir, as despesas de transporte e aduaneiras representam sempre um custo considerável e acrescido a nós europeus. Para quem não gostar da LRG no entanto, estas mesmas compilações têm vindo a ser editadas novamente no mercado japonês, mantendo todo o seu conteúdo, pelo que poderão também ser alternativas viáveis.

Famicom Detective Club: The Missing Heir & Famicom Detective Club: The Girl Who Stands Behind (Nintendo Switch)

O artigo de hoje vai ser uma dose dupla pois na verdade para além destes jogos serem vendidos em conjunto eu também os joguei de forma seguida. A série Famicom Detective Club sempre me despertou algum interesse, desde que experimentei um dia, há muitos anos atrás, o remake da Super Famicom do segundo jogo da série, o The Girl Who Stands Behind. A apresentação do jogo era incrível, mas sendo um jogo muito pesado em texto e estando apenas em Japonês acabei por não o jogar. Entretanto foram saíndo patches de tradução feitos por fãs mas passaram-me completamente ao lado. Eis que em 2021, num Nintendo Direct, a Nintendo anuncia um remake de ambos os jogos desta série para a Switch, um anúncio que me apanhou completamente despercebido! E mais, o ocidente também os iria receber, embora apenas de forma digital. Já os japoneses receberam uma edição de coleccionador lindíssima, que eu acabei por importar do Japão, por cerca de 60€, algures no verão de 2023. Infelizmente a versão física japonesa está inteiramente em japonês pelo que adicionei a versão digital em inglês aos favoritos, na esperança que algum dia estivesse em promoção na eshop. Mas tal nunca chegou a acontecer e quando os gold points que fui amealhando começaram a expirar, lá o comprei por cerca de 45€.

Edição de coleccionador, exclusiva do mercado Japonês. Traz um grande livro de arte, dois folhetos com arte/publicidade dos lançamentos originais de Famicom Disk System, caixa exterior de cartão, caixa, sleeve de cartão com dois CDs de banda sonora (não fotografados) e cartucho.

A série Famicom Detective Club, pelo menos até ao anúncio deste remake, consistia nestes dois títulos, o The Missing Heir e o The Girl that Stands Behind, ambos lançados originalmente para o sistema Famicom Disk System em 1988 e 1989, com ambos os lançamentos a serem divididos em duas partes. Em 1997 a Nintendo lança um novo jogo através do sistema Satellaview, que permitia aos subscritores desse serviço descarregarem certos jogos por satélite, jogos esses que eram posteriormente enriquecidos com conteúdo como vídeo, voice acting e música com instrumentos reais, tudo transmitido em directo através do serviço em certos dias e horas. Infelizmente, tendo em conta o tipo de serviço que era, muito se perdeu desde então e emular nunca seria a mesma experiência. No ano seguinte, em 1998, a Nintendo lança um remake do segundo jogo ainda para a Super Famicom. No entanto, essa versão nunca chegou a ter um lançamento físico em retalho, tendo apenas estado disponível no serviço Nintendo Power. Basicamente poderíamos ir a um certo quiosque da Nintendo e com cartuchos regraváveis comprar certos jogos e descarregá-los para o cartucho. Muitos dos lançamentos tardios da Super Famicom apenas ficaram disponíveis dessa forma! Mais tarde ainda, as versões originais Famicom Disk System foram relançadas na Game Boy Advance e posteriormente em serviços digitais como as virtual console.

O primeiro jogo começa com um cliché: a nossa personagem ficou com amnésia após um acidente. Por azar a investigação já estava bem avançada pelo que teremos de recomeçar do zero.

Uma vez feitas as introduções, mas então em que consistem estes jogos afinal? São aventuras gráficas ao estilo nipónico (ou seja muito influenciadas por clássicos como o Portopia) onde tanto num caso como no outro encarnamos num jovem detective que precisa de resolver um caso de homicídio (e que eventualmente poderá escalar com mais crimes). Tal como no clássico da Enix, temos acesso a um menu com toda uma série de acções básicas como falar, observar, interagir ou viajar. As opções observar ou interagir/pegar podem ter já algumas sub-opções já pré-seleccionadas, ou temos também a liberdade de controlar um cursor e escolher ao certo o objecto, pessoa com os quais queremos interagir. E tal como no Portopia, a história vai avançando assim que conseguirmos desbloquear uma série de diálogos ou interagir com alguma parte importante do cenário, o que nos pode levar algumas a repetir todos os comandos em todos os locais até desbloquear a narrativa. Para além disso, em ambos os jogos vamos ter acesso a um bloco de notas com notas sobre todas as personagens envolvidas em cada mistério e cuja informação vai sendo adicionada automaticamente à medida que vamos avançando na história. Gostei da parte em como o jogo sublinha as restantes personagens que estejam relacionada sempre que lemos alguma nota específica.

Apesar dos visuais bem mais detalhados, a interface é a mesma de sempre e ainda bem, pois já tinha saudades de jogar algo assim

O The Missing Heir coloca-nos a investigar a misteriosa morte de uma senhora idosa que vivia numa remota aldeia, pouco tempo depois da mesma ter escrito o seu testamento. Acontece que essa senhora para além de ter uma bruta mansão liderava também uma poderosa empresa e o que não faltam são herdeiros com interesse em todo esse poder e riqueza. Para além de toda a componente de aventura, a recta final deste jogo inclui um pequeno segmento de dungeon crawling, onde temos de explorar um labirinto na primeira pessoa, também algo que o Portopia havia feito anos antes. O segundo jogo, o The Girl That Stands Behind, acaba por ser uma prequela, contando como o protagonista se tornou detective e a história do primeiro caso que ajudou a resolver: o da morte de uma jovem estudante de uma escola secundária. Iremos portanto falar com muitos outros alunos e professores e rapidamente chegar à conclusão que esse caso poderá estar relacionado com um outro homicídio que aconteceu há 15 anos atrás, assim como o mito urbano da escola estar assombrada desde essa altura.

Os jogos surpreenderam-me pela narrativa madura. O The Girl that Stands Behind é capaz de ser o único jogo da Nintendo que nos leva a um distrito red light.

A nível audiovisual, ambos os jogos foram todos refeitos. Longe estão os gráficos estáticos e primitivos, com toda a estética a ter agora um look bem mais anime, mas tudo bem mais detalhado. O facto de os cenários e personagens com as quais vamos interagindo serem constantemente animadas também é um factor muito positivo. Todos os diálogos, incluindo os pensamentos e falas do protagonista que controlamos, são narrados em japonês e o acting parece-me bastante bom. As músicas vão sendo bastante agradáveis e correspondem perfeitamente ao que ouviríamos se estivéssemos a ver algum filme policial nos anos 80. As cenas do crime são algo violentas e teremos de investigar todos os cadáveres que iremos eventualmente encontrar e por vezes o jogo tem momentos de bastante tensão que estão muito bem conseguidos. São de longe os jogos mais maduros/adultos que alguma vez joguei vindo da própria Nintendo, o que foi também um factor muito positivo e que me surpreendeu bastante. Os feiticeiros da M2 estiveram também envolvidos na criação destes remakes, ao disponibilizarem as bandas sonoras originais de ambos os jogos, podendo as mesmas serem alteradas dentro do jogo, num menu de opções. O The Girl that Stands Behind oferece ainda a banda sonora da versão Super Famicom. Infelizmente no entanto essa alteração da música não é em real time e uma vez terminada a história, temos a opção no menu inicial de ouvir a banda sonora, mas essa opção está apenas trancada à banda sonora criada especificamente para os remakes. Seria também fantástico se pudéssemos alternar entre os visuais das versões originais e os remakes.

Gostei da forma como a informação ficou organizada no bloco de notas assim como as relações entre as personagens são salientadas

Portanto devo dizer que fiquei muito surpreendido pela positiva com estes remakes dos dois primeiros Famicom Detective Club. Apesar da sua jogabilidade algo datada e que nos levará muitas vezes a escolher as mesmas opções vezes sem conta para conseguirmos avançar com a narrativa, a verdade é que as histórias são excelentes e com um nível de maturidade que não estava de todo à espera de encontrar num jogo que é propriedade intelectual da própria Nintendo. É uma pena o lançamento físico disto se ter ficado apenas pelo Japão. A edição de coleccionador é fantástica, mas eu contentava-me com um lançamento normal. No entanto, sendo este um jogo de nicho, compreendo perfeitamente a Nintendo não o ter lançado fisicamente cá. No entanto não compreendo é o facto de a sua versão digital nunca ter entrado em promoção na eShop, pelo menos desde 2023. Ainda assim presumo que o jogo tenha vendido suficientemente bem, pois a Nintendo voltou a fazer das dela e, no meio do nada uma vez mais, anunciam num Nintendo Direct no ano passado uma sequela inteiramente nova: Emio – The Smiling Man. Para além disso, o jogo teve um lançamento físico no ocidente, pelo que eu fiz questão de votar com a carteira e comprá-lo no lançamento. Irei seguramente jogá-lo em breve!

Castlevania Advance Collection (Nintendo Switch)

Vamos a mais uma das compilações que a Konami tem vindo a fazer nos últimos anos a séries como Castlevania ou Contra. E se por um lado fico muito contente pela Konami finalmente se lembrar que está sentada sob uma mina de ouro de imensos videojogos clássicos que lançaram ao longo dos anos, por outro lado fico algo triste por precisarem de recorrer a empresas como a Limited Run Games para ter estes lançamentos em forma física. O meu exemplar foi comprado na Xtralife apenas há umas semanas atrás, já que inicialmente não planeava comprar esta compilação visto já ter todos os jogos da Game Boy Advance mas depois lá mudei de ideias.

Compilação com caixa e um pequeno manual. Capa inspirada no Castlevania Dracula X, nome norte americano para o Vampire’s Kiss e a principal razão pela qual acabei por comprar esta compilação.

E as duas razões que me levaram então a comprar esta compilação foram o facto de eu adorar coleccionar (e jogar) para a Nintendo Switch, mas acima de tudo o facto desta compilação possuir um jogo adicional, o Castlevania Vampire’s Kiss, lançado originalmente para a Super Nintendo. Esse é infelizmente um jogo bastante caro nos dias de hoje, pelo que esta compilação acaba por ser uma alternativa bem mais em conta nesse aspecto. Em relação aos títulos da Game Boy Advance (Circle of the Moon, Harmony of Dissonance e Aria of Sorrow), todos eles são excelentes jogos e metroidvanias no mesmo estilo do Symphony of the Night. Poderão ler mais sobre esses jogos nos artigos sobre as suas versões originais nos links deixados acima e aproveitarei os parágrafos seguintes precisamente para escrever um pouco sobre este Vampire’s Kiss.

Finalmente as versões europeias a terem algum destaque!

E o Vampire’s Kiss é uma conversão do mítico Rondo of Blood, lançado originalmente na PC Engine CD, se bem que até ao dia de hoje eu apenas joguei a versão PSP que é um remake 2.5D do original de PC Engine. No entanto o Vampire’s Kiss tem vindo a ser um jogo muito mal amado visto que é uma versão bastante diferente do Rondo of Blood e que perde muitas das características que tornaram esse jogo muito apreciado pelos fãs. Mas para nós ocidentais, nos anos 90 dificilmente teríamos acesso à versão de PC Engine, portanto vou fazer de conta temporariamente que essa versão não existe.

Infelizmente apenas o primeiro nível é que tira grande vantagem das capacidades da Super Nintendo. Os restantes são bem mais contidos.

O Vampire’s Kiss coloca-nos então no papel de Richter Belmont que procura derrotar Drácula e também salvar Annet, sua namorada e Maria, irmã de Annet. O jogo assume-se então como um Castlevania clássico, onde Richter ataca os inimigos com um chicote e toda uma série de armas secundárias que poderemos vir a encontrar como facas, machados, crucifixos tipo bumerangue, água benta, entre outros, todos com diferentes padrões de ataque. No entanto, para utilizar essas armas especiais precisamos de pressionar o direccional para cima em simultâneo com o botão de ataque, o que nos impossibilita de usar essas armas enquanto estamos agachados ou nas escadas, algo que já não acontecia no Super Castlevania IV da Super Nintendo visto haver um botão dedicado para isso. Uma das novidades perante os seus antecessores é a introdução de ataques especiais, directamente associados à arma secundária que temos actualmente equipada e que causam dano em todos os inimigos presentes no ecrã. Outra das novidades é o facto de existirem dois finais distintos, um mau e um bom onde precisamos de salvar tanto a Maria como a Annet, assim como alguns caminhos alternativos que poderemos tomar.

Tal como o original de PC Engine, temos alguns caminhos alternativos a tomar.

Como um todo, este não é um mau jogo de acção e não é um mau Castlevania, no entanto, e comparando com o Super Castlevania IV, é muito mais curto e possui níveis bem mais simples. A nível de apresentação o primeiro nível, onde atravessamos uma cidade em chamas, é o único que realmente tira algum partido das capacidades nativas da Super Nintendo, com bonitas transparências e efeitos gráficos. Os restantes apesar de serem na mesma níveis coloridos, o nível de detalhe é muito inferior. A banda sonora é no entanto bastante boa como tem sido habitual na série.

O posicionamento de alguns inimigos é muito chato neste jogo. Abençoados save states!

Portanto este Castlevania Vampire’s Kiss não é um mau jogo, embora a nível de apresentação e conteúdo esteja uns furos abaixo do Super Castlevania IV e diria que mesmo do The New Generation, que são ambas as referências de Castlevanias 16-bit que nós ocidentais teríamos nos anos 90. No entanto, quando comparado com o Rondo of Blood original da PC Engine CD, então sim, perde-se muita coisa e nem me estou a contar com as cut-scenes anime, vozes e música em CD audio. Muita da estrutura do jogo foi alterada, assim como certas mecânicas e vários níveis que ficaram de fora. Aí sim, esta conversão é uma desilusão maior.

De resto, voltando à compilação em si, o que tem esta para nos oferecer para além dos 4 jogos? Tendo sido desenvolvida pela M2, temos várias funcionalidades de melhoria de qualidade de vida como save states ou rewind. Várias opções de customização de imagem ou de gravar a nossa playthrough estão também aqui presentes. Infelizmente não temos acesso a tantos extras de documentação e entrevistas tal como na Castlevania Anniversary Collection, mas temos acesso a uma galeria com scans de caixas e manuais de todos os jogos aqui presentes, incluindo as suas versões europeias, finalmente! As versões dessas 3 regiões estão também disponíveis para serem jogadas, assim como a possibilidade de ouvirmos as músicas da banda sonora. No caso dos metroidvania temos ainda acesso a uma enciclopédia que lista todos os seus inimigos, itens e poderes. Uma óptima compilação portanto!

Castlevania Anniversary Collection (Nintendo Switch)

Vamos voltar a mais uma compilação, desta vez esta Castlevania Anniversary Collection cujo lançamento físico esteve a cargo da Limited Run Games. É uma compilação cuja emulação esteve a cargo da M2, que já está mais que habituada a fazer trabalhos como este (foram eles que trataram da emulação de várias consolas mini como é o caso da PC Engine ou ambas as Mega Drive e muitas outras compilações similares), e o número de jogos aqui incluído até que é algo satisfatório. O meu exemplar veio da Limited Run Games algures em Janeiro do ano passado, tendo custado os habituais 35 dólares mais portes e taxas.

Jogo com caixa e livrete com algumas palavras e imagens de cada jogo presente nesta compilação

Neste artigo vou focar-me no conteúdo desta compilação, particularmente os seus extras e uma análise um pouco mais detalhada apenas aos jogos que, até ao momento de escrita deste artigo, ainda não possuo na colecção, o que é o caso do Castlevania III e Kid Dracula. Um detalhe interessante a referir é que todos os jogos possuem também as suas versões japonesas disponíveis para serem jogadas, excepto no entanto para o Castlevania II da NES imaginando que seja do nosso progresso depender bastante do texto que vamos lendo aqui e ali.

Uma das melhores características desta compilação é a inclusão das versões japonesas dos jogos aqui presentes, visto que muitas das versões ocidentais possuem alguma censura. E o Castlevania III com aquela banda sonora faz uma grande diferença!

Indo para os jogos propriamente ditos e começando pela trilogia original da NES, temos aqui portanto o primeiro Castlevania, um jogo icónico e que para sempre mudou o paradigma dos jogos 2D sidescroller, o Castlevania II Simon’s Quest, um jogo um pouco mal amado mas considero-o importantíssimo para influenciar os metroidvanias que viriam a ser lançados no futuro e por fim este Castlevania III: Dracula’s Curse onde me vou focar um pouco mais.

Antes de iniciarmos cada jogo temos direito a um ecrã com algumas infomações adicionais. Pena que os manuais aqui incluidos sejam demasiado simplificados!

Neste terceiro título controlamos Trevor Belmont onde a sua família, depois de ter sido exilada para uma terra longínqua devido à população temer os seus poderes, acaba por ser chamado novamente, pois Dracula renasceu e voltou a lançar o terror pela Europa fora, algures no século XV. Os controlos são os mesmos de sempre, com um botão para saltar e outro para atacar com o vampire killer, o tal chicote dos Belmont passado de geração em geração. Poderemos também apanhar armas especiais cujas munições vão sendo os corações que podemos apanhar ao destruir candelabros e ocasionalmente poderemos encontrar pedaços de comida em locais escondidos que nos regeneram parcialmente a barra de vida. É um jogo bem mais próximo do original nas suas mecânicas portanto, sendo também mais linear que o seu predecessor.

Uma das novidades do Castlevania III é o facto de podermos recrutar uma de 3 personagens para nos ajudar, cada qual com distintas habilidades entre si

Existem no entanto algumas novidades que o tornam bastante único. Para além do Trevor Belmont, à medida em que avançamos no jogo poderemos recrutar um de três personagens que nos irão acompanhar ao longo do resto da aventura e das quais poderemos controlar sempre que o desejarmos ao pressionar o botão Select. As personagens são: Grant Danasty, um acrobata bastante ágil (o mais rápido de todas as personagens disponíveis) e o único capaz de mudar a direcção a meio de um salto, para além de poder escalar paredes. Os contras é que os seus ataques e alcance são bastante fracos. A Sypha Belenades é uma feiticeira disfarçada de monge e apesar dos seus ataques básicos serem também bastante fracos, pode ter acesso a poderosos feitiços elementais que nos podem ajudar bastante. Poderemos lançar feitiços de fogo, gelo ou ar, todos com diferentes utilidades. Por fim temos o Alucard, o filho de Drácula que é semi-vampiro e revoltou-se contra o seu pai. Infelizmente o Alucard não é muito ágil e os seus saltos não são grande coisa, mas tem a vantagem de se transformar em morcego e assim atravessarmos os níveis a voar, a custo dos tais corações que poderemos ir coleccionando. Para além disso, o jogo terá alguns caminhos alternativos com níveis distintos entre si e com quatro finais distintos, o que aumenta bastante a sua longevidade.

Outra das novidades aqui introduzidas são as bifurcações nos caminhos, que nos levam a níveis completamente distintos

A nível gráfico este Castlevania III é excelente. Mantém a mesma lógica do primeiro Castlevania a nível de inimigos e bosses, tendo no entanto níveis bem mais variados nos seus cenários. Aliás, cenários esses que estão muito bem detalhados para um jogo de NES e ocasionalmente com bonitos efeitos gráficos como é o caso do efeito de nevoeiro num dos níveis. As músicas são igualmente boas, embora nós ocidentais temos ficado bastante a perder nesse departamento. Tal como no Castlevania II, a Konami lançou este jogo no Japão num cartucho com hardware adicional que expandia as capacidades de som da NES. As músicas nessa versão possuem então alguns canais de som a mais e que fazem bastante a diferença!

Pode não parecer mas este é um bonito efeito gráfico na NES

Ainda na NES, embora esteja no final da lista dos jogos disponíveis, temos também o Kid Dracula. Lançado originalmente no Japão em 1990, este foi um jogo que se manteve exclusivo naquele território precisamente até ao lançamento desta compilação, onde todo o seu texto foi traduzido para inglês. Aqui controlamos um pequeno Drácula e o jogo possui uma temática bem mais alegre e claro, apesar de ter alguns picos de dificuldade (principalmente nos últimos níveis), é bem mais fácil que os Castlevania normais, até porque temos bem mais controlo nos saltos, embora quando sofremos dano também vamos um pouco para trás, o que pode arruinar algum salto que tenhamos planeado.

Kid Dracula é um jogo bem mais simples mas não deixa de ser um platformer divertido

A nível de mecânicas, um botão salta e o outro ataca, o que no caso deste Kid Dracula refere-se a lançar projécteis de fogo. Mantendo o botão pressionado durante alguns segundos carregamos um charge attack, lançado assim que largarmos o botão. À medida que vamos avançando no jogo iremos também desbloquear outros ataques como bombas, projécteis teleguiados ou outros poderes especiais como nos transformar temporariamente num morcego ou inverter (também de forma temporária) a gravidade. Todos estes power ups podem ser seleccionados através do botão Select.

Matando os inimigos com um charged shot podemos coleccionar moedas que podem ser usadas em mini jogos de bónus entre os níveis para ganhar mais vidas.

A nível audiovisual o jogo é bastante mais infantilizado nos seus cenários, que por sua vez até que são bastante diversificados. Começamos o jogo pelo próprio castelo do Dracula, passando pelos céus, subterrâneos, o Egipto ou até a cidade de Nova Iorque, onde o boss desse nível é nada mais nada menos que a própria estátua da Liberdade e que, em vez de combater, prefere lançar uma espécie de concurso televisivo de perguntas e respostas. As músicas são agradáveis, embora muito abaixo daquilo que a série principal nos trouxe. Este Kid Dracula é portanto um interessante jogo de plataformas e um bonito spinoff da série.

Como é habitual neste tipo de compilações recentes, podemos optar por várias formas de apresentar a imagem no ecrã.

Continuando pela compilação, esta inclui também os Castlevania Adventure e Castlevania II: Belmont’s Revenge da Game Boy clássica que são bastante simples nas suas mecânicas e a nível audiovisual também. Notavelmente a compilação não traz o Castlevania Legend também para o Game Boy, supostamente pelo facto de a Konami eventualmente o ter considerado não canónico, mas o que dizer da inclusão do Kid Dracula nesse caso? E falando no Kid Dracula, a versão Game Boy poderia perfeitamente ter sido incluída também. É uma pena que tanto uma como a outra não esteja incluída, particularmente o Castlevania Legends pois actualmente é um jogo caríssimo. De resto, das consolas de 16bit temos também o Super Castlevania IV da Super Nintendo e o Castlevania Bloodlines / The New Generation da Mega Drive, ambos excelentes jogos. Infelizmente o Rondo of Blood da PC Engine ficou de fora (posteriormente lançado numa outra compilação Castlevania Requiem com o Symphony of the Night também), assim como a sua adaptação mais simplificada da Super Nintendo (Dracula X / Vampire Kiss) que também acabou por sair numa outra compilação mais dedicada aos títulos portáteis.

O melhor bónus aqui presente é mesmo um livro electrónico cheio de informações, entrevistas e documentos utilizados para criar os jogos!

De resto, para além da possibilidade de criar save states (um funcionalidade de rewind seria óptima também), o jogo oferece-nos a possibilidade de gravar a nossa playthrough, para além de incluir toda uma série de diferentes filtros gráficos como costuma ser habitual nestas compilações. Para além disso, o jogo traz também um ebook com informações de todos os jogos presentes na compilação, entrevistas a pessoas envolvidas na série e vários documentos usados durante a criação dos jogos, o que para os fãs é um extra muito interessante. Em suma é uma sólida compilação, mas a meu ver poderia perfeitamente ter incluído alguns títulos adicionais como o já referido Castlevania Legend, a versão GB do Kid Dracula (que é um jogo inteiramente novo), a versão MSX do primeiro Castlevania que é também muito diferente da versão NES, o Haunted Castle de arcade ou o Castlevania Chronicles do Sharp X68000 ou PS1.