Target Earth (Sega Mega Drive)

Tempo de voltar à Sega Mega Drive com um jogo bastante interessante que, infelizmente, nunca chegou a ser lançado na Europa, pelo menos não na sua versão original para este sistema. Já cá trouxe, no entanto, o seu remake, Assault Suit Leynos, para a Playstation 4, que acaba por ser a melhor forma que temos de o jogar actualmente. , que acaba por ser hoje a forma mais acessível de o jogar. Ainda assim, sempre nutri curiosidade pela versão Mega Drive e, por várias vezes, considerei importar o original japonês. Acabei, contudo, por encontrar recentemente na Vinted a versão norte-americana (intitulada Target Earth) e não resisti.

Jogo com caixa e manual

Este é o início de uma pequena mas marcante série da Masaya, onde controlamos um mech de combate bastante poderoso, com acesso a uma panóplia de armas e equipamento. Apesar de Target Earth nunca ter saído na Europa, a sua prequela acabou por nos chegar como Cybernator na Super Nintendo e, mais tarde, numa edição budget, como Assault Suits Valken para a PlayStation 2. Neste primeiro jogo, tomamos o controlo de uma força de defesa terrestre que tenta travar uma invasão liderada por um exército de cyborgs e humanos revoltados (por razões que o jogo vai revelando) contra o próprio planeta Terra.

Antes de cada missão deveremos equipar o nosso mech com as armas e equipamento que bem entendermos até um máximo de 6. À medida que progredimos, desbloqueamos novas possibilidades.

Uma das primeiras coisas que salta à vista ao começar a jogar, e infelizmente não de forma positiva, são os controlos pouco intuitivos. Isto porque Target Earth foi concebido com uma lógica semelhante à de um twin stick shooter, em que o movimento do mech é independente da direcção do disparo. O problema? O comando da Mega Drive não foi desenhado para tal controlo dual, pelo que exige uma curva de aprendizagem considerável. Os botões frontais servem para disparar (A), saltar (B) e alternar entre as armas equipadas (C). A movimentação e pontaria podem operar em dois modos distintos: por defeito, o mech dispara automaticamente na direcção para onde se move (tudo controlado pelo direccional); a alternativa permite mover com os botões esquerda/direita e apontar com cima/baixo. Ambos os esquemas requerem habituação, até porque o mech demora consideravelmente a rodar a direcção de disparo, o que em plena acção complica bastante as coisas.

Os inimigos tipicamente são bastante numerosos e agressivos, pelo que temos também de ser o mais ágeis possível para evitar sofrer demasiado dano.

A dificuldade é elevada, e isso deve-se em grande parte à quantidade de inimigos no ecrã, muitos dos quais não hesitam em abrir fogo constante. Felizmente, existe um sistema de regeneração automática de escudos sempre que conseguimos evitar dano por alguns segundos. Aproveitar os poucos momentos de respiro para recuperar energia torna-se, por isso, parte essencial da estratégia. Nem sempre, no entanto, teremos esse luxo: algumas missões impõem limites de tempo ou têm inimigos que reaparecem indefinidamente, forçando-nos a manter o ritmo. Antes de cada missão, podemos (e devemos) personalizar o nosso loadout com armas e equipamento. No início, contamos apenas com uma metralhadora de munição ilimitada e duas armas secundárias com munição limitada. Com o progresso, desbloqueamos armamento mais poderoso e equipamento adicional: armaduras que aumentam a nossa barra de vida, escudos reforçados, ou um booster que nos permite levitar brevemente após um salto. Podemos levar até seis itens equipados, o que torna a preparação pré-missão uma decisão estratégica tão importante como a execução em campo.

Os diálogos durante as missões é uma das coisas que caracteriza esta série.

Passando para os audiovisuais, devo dizer que sou fã da direcção artística adoptada neste jogo. Apesar de não haver uma grande variedade de cenários — passando-se maioritariamente no espaço, à superfície de luas do sistema solar ou no interior de gigantescas estações espaciais, todos apresentam um bom nível de detalhe, dentro dos padrões da época. O design dos níveis é tipicamente aberto, particularmente naqueles que decorrem em ambientes de gravidade zero, o que também nos dá a flexibilidade necessária para contornar todo o fogo inimigo. O design dos níveis tende a ser relativamente aberto, sobretudo nas missões em gravidade zero, o que nos dá a flexibilidade necessária para contornar o fogo inimigo de forma mais estratégica. O design dos mechs e das restantes naves espaciais remete-nos imediatamente para animes futuristas dos anos 80, como Macross ou mesmo a série Gundam. O facto de a acção ser constantemente interrompida por comunicações rádio que vão fazendo avançar a narrativa foi, na minha opinião, uma mais-valia, já que contribui para enriquecer o enredo, algo pouco habitual em jogos de acção da época. Nada de especial a apontar aos efeitos sonoros, que cumprem bem o seu papel; quanto à banda sonora, apesar de não ser particularmente variada, as músicas são bastante agradáveis. Tendo jogado o remake da PS4 há alguns anos, foi bom reencontrar estes temas, que me soaram imediatamente familiares logo nos primeiros segundos de cada faixa.

Portanto, Target Earth revelou-se um jogo interessante, tanto pelo seu conceito como pela apresentação audiovisual. No entanto, a sua jogabilidade exigente não envelheceu da melhor forma, devido à complexidade dos controlos aliada à agressividade dos inimigos o que, em certa medida, também se aplica ao seu sucessor, Cybernator/Assault Suits Valken. Ainda assim, o remake para a PlayStation 4 acaba por ser, sem dúvida, a melhor forma de o jogar. Para além dos visuais modernizados (sem descurar as suas raízes), oferece armas e habilidades adicionais, mas é sobretudo graças ao novo esquema de controlo, que tira verdadeiro partido dos dois analógicos, que esta versão se destaca como a definitiva a experimentar.

Indiana Jones and His Desktop Adventures (PC)

Ao longo dos últimos meses, um dos meus focos tem sido o de jogar as restantes aventuras gráficas desenvolvidas pela Lucasarts que ainda não havia experimentado. Em Julho, resolvi abrir uma pequena excepção, pois apesar do título que cá vos trago hoje ser da autoria do mesmo estúdio, está longe de ser uma aventura gráfica tradicional. Confesso, no entanto, que era um jogo que há muito me despertava curiosidade. O exemplar que tenho na colecção está incluído numa compilação intitulada Tien Adventures, aparentemente exclusiva do mercado neerlandês, que reúne dez clássicos do estúdio norte-americano. Comprei-a na Vinted a um preço interessante.

Compilação da Lucasarts exclusiva do mercado holandês contendo a jewel case e dois CDs com jogos.

Em que difere este Desktop Adventures do restante catálogo de aventuras a que a empresa nos habituou? Bom, pensem num jogo de acção-aventura consideravelmente simples no seu conceito, que corre numa janela do Windows, com níveis gerados aleatoriamente e uma duração média de cerca de 60 minutos, embora este tempo possa ser encurtado (ou prolongado) consoante as nossas preferências relativas ao tamanho do “mundo” a explorar. Com a inclusão de botões de pânico que escondem a janela, é fácil imaginar que este tenha sido um jogo presente em muitos escritórios durante a segunda metade dos anos 90.

É ao falar com Marcus que vamos conhecer o objectivo desta sessão de jogo. Não esquecer o medkit no armário da divisão da esquerda.

O conceito do jogo é simples e decorre na fictícia aldeia de Lucasio, algures no México dos anos 30. Existem aqui 15 “histórias” possíveis, em que Marcus, amigo de Indy, nos pede para encontrar um artefacto valioso, geralmente ligado à civilização asteca. Para além de Marcus e da sua casa, existem outras habitações a explorar e NPCs na aldeia que nos podem fornecer dicas sobre como progredir na aventura, ou até itens que regenerem parcialmente a nossa barra de vida. Depois, cabe-nos explorar os territórios em redor de Lucasio, repletos de inimigos, sejam animais selvagens, tribos indígenas hostis ou, como não poderia deixar de ser, nazis. Outras zonas podem conter pequenos puzzles que exigem algum raciocínio ou a utilização de itens específicos (como, por exemplo, a chave certa para destrancar uma passagem). Na prática, o jogo funciona como uma fetch quest contínua, em que precisamos de recolher uma sequência de itens, resolver alguns desafios e enfrentar inimigos até obtermos o artefacto que Marcus nos pediu. Apesar de existirem apenas 15 modelos narrativos base, o mundo é gerado de forma procedural, o que faz com que cada sessão siga uma estrutura semelhante mas apresente sempre diferenças entre si.

Os mundos são gerados proceduralmente, o que resulta em muitas possibilidades distintas de jogo!

A jogabilidade, no entanto, deixa a desejar. O movimento de Indiana é bastante travado e pobre em animações. Podemos controlá-lo com o rato, clicando na direcção pretendida, ou através das teclas de direcção. Ao lado da área de jogo, temos um inventário com os itens recolhidos, que funcionam como num point and click: clicamos neles com o rato e depois no local onde os queremos utilizar. Certos itens, como armas, podem ser equipados, e atacamos pressionando a tecla espaço. No entanto, o combate revelou-se especialmente frustrante, pois muitas vezes o Indy não respondia como desejado quando eu tentava reposicioná-lo para enfrentar inimigos que atacavam pelos flancos ou por trás. Felizmente, é possível ajustar a dificuldade dos combates, o que minimiza este problema, visto que o dano sofrido se torna bastante reduzido. Alguns puzzles requerem ainda a movimentação de objectos no cenário, o que se faz com a tecla Shift combinada com as setas de movimento.

O mapa é dos primeiros objectos que podemos (e devemos encontrar). Para além de nos dizer as áreas visitadas, se passarmos o rato por cima de algum dos seus ícones temos uma dica do tipo de objecto precisamos pra resolver certo puzzle ou outras informações importantes. O círculo é sempre a cidade central de Lucasio.

Graficamente, é um jogo muito simples. Imaginem um RPG ou action-adventure da era 16-bit com perspectiva aérea, mas com animações e fluidez significativamente inferiores às das consolas dessa época. A nível sonoro, o jogo é maioritariamente silencioso. Existem alguns efeitos básicos, como sons de armas, grunhidos de dor e, ocasionalmente, excertos do icónico tema musical dos filmes.

O que mais me surpreendeu em Desktop Adventures foi o facto de, apesar da sua simplicidade, repetitividade, controlos rígidos e péssimas animações e scrolling, o jogo conseguir entreter. E para sessões curtas, exactamente o que o título propõe, acaba por ser um óptimo passatempo. O seu preço reduzido aquando do seu lançamento terá sido certamente outro atractivo. Tanto assim foi que a Lucasarts repetiu a experiência no ano seguinte com Star Wars: Yoda Stories, que adoptou uma abordagem semelhante e chegou a ter uma versão simplificada para o Nintendo Game Boy. Infelizmente, no entanto, esse título não veio incluído nesta compilação… caso contrário, a mesma teria de se chamar Elf Adventures, o que seria ainda mais confuso para o público internacional.

Metroid Prime: Federation Force (Nintendo 3DS)

Depois do óptimo trabalho que fizeram com Luigi’s Mansion 2, chegou a vez do estúdio canadiano Next Level Games pegar noutra propriedade intelectual da Nintendo: a série Metroid. Também com a Nintendo 3DS como plataforma-alvo, este é um first-person shooter com um forte ênfase na vertente cooperativa, embora seja igualmente possível jogá-lo a solo. No entanto, o jogo não foi bem recebido nem pela crítica, nem pelos fãs, o que explica a sua vertiginosa queda de preço pouco tempo após o lançamento. Recordo-me de o ter comprado novo, numa Worten, por cerca de 10€, algo raro em títulos publicados pela Nintendo.

Jogo com caixa e papelada

A história coloca-nos na pele de um space marine anónimo incumbido de testar uma nova tecnologia militar ao serviço da Federação: a utilização de mechs em missões de combate. Inicialmente, exploramos em missões arqueológicas os três planetas de Excelcion, Bion e Talvania, aparentemente abandonados. No entanto, rapidamente nos apercebemos de actividade dos Space Pirates, que claramente estão a tramar algo. O resto do jogo é então passado a investigar os seus intentos e a eliminar a ameaça que representam para a galáxia. O nome de Samus Aran é mencionado com frequência e, por vezes, teremos até contacto directo com a mais famosa mercenária da galáxia, embora nem sempre da forma que se esperaria.

O ecrã táctil dá-nos informações como o mapa, objectivos a cumprir e indicações visuais do equipamento secundário que dispomos e sua quantidade.

No que toca às mecânicas, estamos perante um first-person shooter sem qualquer elemento de metroidvania, dado que cada missão decorre num mapa reduzido e independente. A exploração continua a ter algum destaque, com coleccionáveis escondidos e a ocasional presença de puzzles que precisamos de resolver para avançar, mas o foco principal é, sem dúvida, o combate. Em termos de jogabilidade, os marines dispõem de um canhão que dispara projécteis de energia (com possibilidade de carregar o disparo para maior dano), mas não têm acesso aos power-ups tradicionais da série Metroid. As excepções são os mísseis e super-mísseis. Os restantes power-ups consistem em kits de reparação (para regenerar a vida do jogador ou de veículos a proteger), projécteis elementais (fogo, gelo, electricidade), escudos ou engodos para distrair inimigos, entre outros.

Este foi nitidamente um jogo pensado no multiplayer cooperativo visto que alguns bosses são autênticas esponjas.

Antes de cada missão, podemos escolher os itens que levamos connosco, sendo que alguns adicionais podem ser encontrados durante a missão. É necessário ter em atenção a carga máxima permitida, que vai aumentando à medida que progredimos ou através de mods. Estes mods são uma das componentes centrais do jogo: existem dezenas espalhados pelos níveis e, quando equipados, conferem melhorias como aumento de dano, maior resistência, maior capacidade de carga, entre outras. Para quem joga a solo, o jogo disponibiliza de imediato o mod Lone Wolf, exclusivo para esse modo. Este dobra o dano infligido e reduz para metade o dano sofrido, um reforço essencial para compensar a ausência de aliados. Além disso, é dos poucos (ou mesmo o único) mod indestrutível, uma vez que os restantes se podem perder após falhas nas missões. Por omissão só podemos equipar um mod, mas à medida que progredimos desbloqueamos mais dois espaços adicionais. Também jogando sozinho podemos equipar 3 drones que nos acompanham e disparam automaticamente sobre inimigos nas nossas proximidades. São uma ajuda, mas não tanto visto que causam pouco dano.

Ocasionalmente temos também alguns puzzles para resolver, como o de guiar estas esferas para certos buracos no cenário

E quanto aos controlos? Nas 3DS “normais”, o jogo recorre a uma combinação dos botões tradicionais com o sensor de movimento para mover a câmara, sendo necessário pressionar o botão R para o activar. As acções principais, como saltar, disparar, alternar entre armas secundárias e utilizá-las, são feitas com os botões faciais. O lock-on está atribuído ao botão L. Já nas New 3DS, existe um esquema de controlo alternativo mais confortável: os dois analógicos (Circle Pad e nub) servem para movimentar a personagem e a câmara, L para saltar e ZL para lock-on. O botão R serve para disparar, enquanto o ZR activa o equipamento secundário. As restantes funções mantêm-se nos botões faciais, mas a troca entre armas secundárias pode ser feita com o botão X, situado próximo do nub, tornando este esquema o mais ergonómico disponível.

Por fim, convém também mencionar que o jogo inclui diversas recompensas adicionais, como skins meramente cosméticas que podemos aplicar ao mech da nossa personagem. A maioria destas é desbloqueada com o progresso normal no jogo, embora algumas apenas fiquem disponíveis mediante o uso de figuras amiibo, as quais podem também conceder certos mods exclusivos. Para além disso, Federation Force inclui um modo de jogo totalmente distinto: Metroid Prime: Blast Ball. Não cheguei a experimentá-lo, por isso não me vou alongar, mas trata-se, em essência, de uma espécie de futebol futurista, com equipas de três mechs contra três. Em vez de chutar a bola com os pés, temos de lhe disparar, sendo que aparentemente existem também power-ups específicos a considerar durante os jogos.

Mods são chips que melhoram as nossas habilidades e podem ser equipados antes de cada missão. O Lone Wolf é dos melhores, mas apenas pode ser equipado se jogarmos sozinhos.

No que diz respeito aos gráficos, estes são tecnicamente bastante competentes, com um bom nível de detalhe na geometria dos cenários e dos inimigos. No entanto, há dois aspectos que merecem destaque negativo. O primeiro prende-se com a falta de variedade ambiental: praticamente todas as missões decorrem nos mesmos três planetas: Excelcion, um mundo gelado; Bion, o seu completo oposto, repleto de actividade vulcânica e rios de lava; e Talvania, um gigante gasoso onde apenas exploramos instalações militares e industriais. A repetição de ambientes acaba por tornar a progressão menos estimulante do que poderia ser. O segundo problema está ligado à direcção artística: todas as personagens possuem cabeças desproporcionadamente grandes, num estilo super deformed típico de certas séries de animação japonesa. Esta decisão, segundo consta, foi tomada para facilitar a identificação visual das personagens durante o jogo, tendo em conta o ecrã reduzido da Nintendo 3DS. Ainda assim, o resultado final é, para mim, bastante decepcionante, já que se afasta radicalmente da estética habitual da série Metroid, marcada por um estilo mais sóbrio e realista. A banda sonora, por sua vez, é competente e agradável, embora composta maioritariamente por faixas orquestrais, uma mudança clara face aos tons mais ambientais, opressivos e solitários que caracterizam tradicionalmente a série. Tendo em conta o foco de Federation Force na acção e na cooperação, compreende-se esta escolha, ainda que, mais uma vez, contribua para reforçar a sensação de afastamento face à identidade clássica da série.

Metroid Prime Blast Ball é um outro modo de jogo que até teve direito a uma demo própria. Sinceramente nem o experimentei.

Em suma, embora não considere Metroid Prime: Federation Force tão mau quanto a opinião pública generalizada o pinta, é inegável que carrega um peso difícil de justificar: o de ter Metroid Prime no título. As mecânicas diferem substancialmente das que a série nos habituou e basta recordar o competente Metroid Prime Hunters, na Nintendo DS, como exemplo de uma abordagem portátil que, ainda assim, respeitava mais de perto a identidade da série. Aqui, a aposta num multiplayer cooperativo como pilar central da experiência não é algo que me agrade particularmente. É verdade que o jogo pode ser completado integralmente a solo, mas mesmo com o auxílio de drones e mods que potenciam as nossas capacidades, a experiência torna-se por vezes frustrante. Há secções com picos de dificuldade algo desequilibrados, seja pela intensidade do fogo inimigo, seja pela resistência desmesurada de alguns bosses, visivelmente pensados para confrontos com quatro jogadores em simultâneo. Para além disso, existem algumas escolhas na direcção artística que não me agradaram, como já mencionei acima. Portanto, como uma experiência portátil, até seria um jogo interessante para partidas rápidas caso a dificuldade fosse melhor balanceada para quem jogue sozinho.

Yakuza 6 (Sony Playstation 4)

A ideia era ter jogado este Yakuza 6 no mês de Junho. Mas, como a vida tem sempre tendência a trocar-nos os planos, apenas o comecei no mês seguinte. E, 50 horas bem passadas depois, cá estou eu para vos dar a minha opinião sobre mais uma entrada desta já longa série. O meu exemplar foi comprado há uns bons anos, na Worten do Gaia Shopping por 20€, uma edição especial que inclui uma sleeve de cartão e um livro de arte elaborada por fãs.

Jogo com caixa em sleeve de cartão e livro de arte criada por fãs

Ora, este novo capítulo decorre no ano de 2016, quando, após os eventos narrados em Yakuza 5, Kiryu é obrigado a cumprir uma pena de 3 anos de prisão. A sua “protegida”, Haruka, decide também colocar um fim à sua carreira artística e regressar ao orfanato para acompanhar o crescimento das crianças que lá vivem. No entanto, durante o encarceramento de Kiryu, e uma vez que os media continuam a assediá-la, Haruka teme que o seu passado ligado à yakuza prejudique as oportunidades de vida daqueles jovens. Decide então fugir para parte incerta, sem que Kiryu alguma vez o soubesse. Em 2016, quando é libertado, Kiryu é surpreendido pelo desaparecimento de Haruka e regressa a Kamurocho para investigar o seu paradeiro. Lá descobre que o clã Tojo atravessa dificuldades: o seu líder fora preso e os que restaram entraram em guerra com as tríades chinesas. No meio desse caos, Kiryu recebe uma notícia dramática: Haruka foi atropelada, ficando em estado crítico e em coma. Para sua surpresa, Haruka deixa para trás um pequeno bebé chamado Haruto, aparentemente seu filho. Kiryu assume os cuidados da criança enquanto segue pistas que o levam à região de Hiroshima, acabando, inevitavelmente, por se ver envolvido em conflitos com a yakuza local. Ao longo do restante jogo iremos alternar entre ambas as regiões, não só para investigar o passado de Haruka nos últimos três anos e procurar o pai da criança, como também para desvendar o mistério por detrás dos conflitos actuais.

Uma das principais novidades introduzidas no sistema de combate são as armas não poderem ser permanentemente equipadas. Apenas podemos usar o que estiver à mão durante os combates.

No que diz respeito às mecânicas de jogo, na sua essência estas mantêm-se idênticas. Yakuza 6 é um jogo de acção com um mundo aberto, onde podemos explorar uma pequena parte de Tóquio e, agora, também de Hiroshima. É igualmente um título que herda várias mecânicas de RPG, na medida em que, apesar de os combates decorrerem em tempo real (e com pancada a sério), vamos ganhando experiência que pode ser utilizada para evoluir a personagem, seja fisicamente, ao melhorar os seus atributos, seja através do desbloqueio de inúmeras novas habilidades. O sistema de progressão é, aliás, uma das novidades aqui introduzidas, pois agora ganhamos experiência em cinco categorias distintas, todas elas necessárias para desbloquear diferentes tipos de habilidades. Tal como nos outros títulos da série, andar à porrada, cumprir sidequests (ou simplesmente progredir na história principal), ir comer a restaurantes, ou até participar em mini-jogos, tudo isto contribui para o ganho de experiência.

Usar um telemóvel para tirar selfies? Bem-vindo a 2016, Kiryu!

Foram feitas mais algumas mudanças importantes. O combate em si apresenta diferenças, agora com combos distintos. A utilização de armas deve ser feita exclusivamente com os objectos disponíveis nos cenários ou com as armas empunhadas pelos inimigos. No final do combate, Kiryu descarta qualquer arma ou objecto que tenha em mãos, pelo que o equipamento permanente se limita a acessórios e armaduras. Tal como nos restantes jogos da série, há mil e uma fontes de distracção, com inúmeros mini-jogos e também alguns coleccionáveis. No que toca aos mini-jogos propriamente ditos, muitos dos clássicos, como os jogos de casino, bowling ou bilhar, desapareceram por completo. Os dardos contam agora com uma nova interface, enquanto baseball, mahjong e karaoke mantêm-se inalterados. Nas arcades da SEGA, os UFO catchers desapareceram, mas em seu lugar temos clássicos absolutos da SEGA como Space Harrier, OutRun, Super Hang-On, Fantasy Zone e uma conversão de Virtua Fighter 5 Final Showdown. Não me posso queixar, de todo! Ainda nas arcades, temos também uma versão moderna de Puyo Puyo. Outras “distracções” notáveis fora das arcades incluem as conversas nos bares de acompanhantes, diálogos com habitantes perfeitamente banais num bar em Hiroshima, e até pesca subaquática, também em Hiroshima. Existem ainda duas sidequests de maior pujança: também em Hiroshima, podemos liderar uma equipa de baseball, num simulador que nos permite gerir os jogadores (e, ocasionalmente, dar umas tacadas), e o Clan Creator. Este último fez-me lembrar o Majima Construction, introduzido mais tarde em Yakuza Kiwami 2. Aqui, construímos um gangue que participa em batalhas de rua, cabendo-nos o papel de dirigir os combates, movimentando as personagens para onde quisermos e utilizando as suas habilidades quando for mais conveniente.

Clan Creator, um dos mini-jogos mais “musculados” desta iteração. Construir o nosso próprio gangue e comandá-lo em batalhas campais

Portanto, no seu todo, este Yakuza 6 apresenta uma história principal mais curta do que a dos restantes jogos da série, até porque é um título inteiramente focado em Kiryu Kazuma como protagonista, ao passo que os seus predecessores directos introduziram sempre várias novas personagens jogáveis. Por outro lado, conta com bastante conteúdo opcional, o que aumenta consideravelmente a sua longevidade caso decidamos enveredar por esse caminho — sendo que a experiência adicional é sempre vantajosa. No entanto, a sua escala é consideravelmente mais reduzida: a área que exploramos em Kamurocho é menor, com o Champion District encerrado, tal como toda a parte norte que faz fronteira com o centro comercial Kamurocho Hills. Muitos dos restaurantes e lojas que conhecíamos anteriormente foram encerrados e substituídos por outros. A zona de Hiroshima que exploramos é também um espaço pequeno, mais rural, quase como uma pequena cidade piscatória, mas que acaba por representar uma adição refrescante à série. Ainda no que toca às mecânicas de jogo, convém mencionar que o sistema de save foi alterado. Já não precisamos de nos deslocar a cabines telefónicas para guardar o progresso. Este é agora feito de forma automática em certos momentos da história ou após determinadas acções que nos façam ganhar experiência, como combates, participação em mini-jogos ou refeições em restaurantes. Podemos, no entanto, gravar manualmente o progresso através dos menus, em diferentes slots. Importa referir que, a partir do momento em que o fazemos, esse novo slot passará também a ser utilizado para todos os saves automáticos seguintes.

Outra das possibilidades é a de gerir uma equipa de baseball completa. Estou quase a entender o desporto!

Yakuza 6 marca também a estreia de um novo motor gráfico na série: o Dragon Engine, com o qual já tinha tido contacto anteriormente, após ter jogado Yakuza Kiwami 2. As melhorias introduzidas por este novo motor são bastante evidentes, especialmente nos efeitos de luz (Kamurocho está lindíssima à noite) e no maior nível de detalhe das personagens. É certo que as personagens principais continuam a apresentar muito mais detalhe do que as figuras genéricas que encontramos nas ruas, mas desta vez a diferença não é tão gritante. A exploração tornou-se também mais imersiva, não só podemos utilizar o modo de primeira pessoa livremente, como, sempre que entramos em lojas ou restaurantes, a câmara já não muda para uma posição fixa: tudo permanece contínuo e sem loadings visíveis para o jogador. Isto permite-nos explorar por completo uma série de edifícios, devidamente sinalizados no mapa. Um dos pontos menos conseguidos deste novo motor gráfico está nas físicas, que por vezes ainda se comportam de forma bizarra. É frequente vermos objectos (ou mesmo personagens) projectados a alta velocidade ao mínimo toque, ou animados com aquele típico efeito de “boneco de trapos” — algo que continua a ser comum. Já a banda sonora mantém o excelente nível habitual, com destaque para as faixas com uma forte toada rock, repletas de guitarradas enérgicas. O voice acting, inteiramente em japonês, continua a ser um dos pontos altos da série.

Engatar miúdas em chats para adultos. Nunca chega a haver nudez, mas confesso que não estava à espera desta.

Portanto, este Yakuza 6, apesar de todas as diferenças que introduz, foi um jogo que me agradou bastante. É verdade que reduziram a escala da área explorável em Kamurocho e que não sou o maior fã do novo sistema de combate. Ainda assim, ao fim de algumas horas, isso deixou de ser um problema para mim. Apesar da menor escala e de uma história principal mais curta, continuam a existir inúmeras distracções e conteúdo opcional bastante variado, que acaba por prolongar consideravelmente a longevidade do jogo. O novo motor gráfico, apesar de alguns problemas ao nível das físicas, foi para mim um passo na direcção certa, especialmente tendo em conta que tanto Yakuza 0 (lançado originalmente ainda como um jogo de PS3 no Japão) como o primeiro Kiwami estavam claramente subaproveitados na PlayStation 4. E a narrativa mantém-se bastante interessante, misturando com mestria momentos de bom humor com outros mais dramáticos. A forma como o jogo encerra a história de Kiryu como protagonista principal da série está, na minha opinião, muito bem conseguida.

Witchaven (PC)

É tempo de regressar ao PC com um jogo de acção na primeira pessoa (in your face, como lhes chamávamos nos anos 90) que há já bastante tempo me despertava curiosidade. Witchaven foi um dos primeiros títulos a utilizar o motor gráfico Build, desenvolvido por Ken Silverman e mais tarde imortalizado em clássicos como Duke Nukem 3D, Shadow Warrior ou Blood. O meu exemplar veio de uma feira de velharias, comprado ao desbarato há já uns bons anos. Faz parte de uma colecção lançada pelo Diário de Notícias algures nos anos 90, que inclui também outro jogo da Capstone, o TekWar (baseado no universo de William Shatner), igualmente desenvolvido com o Build Engine. A razão pela qual decidi finalmente mergulhar neste Witchaven foi um desafio recente lançado pelos meus colegas do podcast TheGamesTome. Como é habitual, podem também ver as nossas impressões no vídeo partilhado abaixo.

Curiosamente, tanto TekWar como Witchaven foram desenvolvidos com o mesmo motor e lançados supostamente no mesmo dia, mas não podiam ser mais distintos em termos conceptuais. O primeiro é um FPS de ficção científica com um mundo semi-aberto, ao passo que o segundo aposta numa fantasia medieval de progresso linear, com níveis bem definidos e alguns toques ligeiros de RPG.

Jogo com caixa, edição salvo erro distribuída pelo Diário de Notícias há uns valentes anos atrás.

No que diz respeito à jogabilidade, o combate é maioritariamente corpo-a-corpo, recorrendo aos punhos ou a armas brancas como espadas, machados ou morning stars, que vamos encontrando ao longo da aventura. Existe, no entanto, uma limitação importante: as armas degradam-se com o uso, sendo as mais fracas particularmente frágeis, o que leva a que se partam com frequência e nos obriguem a procurar substitutos. Para além do arsenal de combate directo, temos também acesso a armamento de longo alcance, como arcos com flechas ou machados de arremesso, embora com munições bastante limitadas. A exploração permite ainda recolher uma série de poções mágicas que podemos armazenar e utilizar conforme necessário, seja para recuperar vida, curar veneno, resistir ao fogo ou aumentar temporariamente a força. Juntam-se a estes consumíveis outros power-ups de activação imediata, como invencibilidade ou invisibilidade temporária. Por fim, podemos ainda encontrar pergaminhos com feitiços de efeitos variados, que também podem ser guardados e usados quando for mais conveniente. Projécteis mágicos, levitação, congelamento ou a capacidade de paralisar inimigos com medo são alguns dos poderes místicos que se vão acumulando ao longo do percurso.

O facto de as armas terem desgaste não é o mais chato. Pensem como se fossem munições para armas de fogo. O mais chato é mesmo certas armas serem demasiado frágeis e não sabermos quanto tempo mais vão-se aguentar.

A estas mecânicas junta-se um ligeiro sistema de progressão ao estilo RPG, em que os inimigos derrotados concedem pontos de experiência e nos permitem subir de nível. Existe igualmente um grau de aleatoriedade quer na disposição dos inimigos e na barra de vida com que surgem, quer nos tesouros e no seu conteúdo, o que pode alterar ligeiramente o desenrolar de cada tentativa.

Witchaven é também um jogo repleto de armadilhas. Fazer saves recorrentes e em ficheiros separados é altamente recomendável!

Apesar destas ideias promissoras, a experiência de jogo está longe de ser agradável. Há uma sensação constante de estarmos perante um produto inacabado. A detecção de colisões é deixa bastante a desejar, o que torna especialmente frustrante a fase inicial, onde as armas disponíveis são não só fracas, como também se degradam rapidamente. O jogo está ainda pejado de armadilhas letais e salas que se podem fechar de forma irreversível, deixando-nos encurralados, recomendando-se, por isso, saves manuais frequentes e em ficheiros distintos. Por outro lado, certos feitiços acabam por quebrar completamente o equilíbrio do jogo: para quê procurar chaves quando um feitiço permite abrir portas? O mesmo se aplica à capacidade de voar, que se revela extremamente útil para atravessar lagos de lava ou escapar a alçapões fatais, contornando assim alguns dos desafios que o jogo nos apresenta.

Tal como noutros jogos Build, presionar a tecla TAB para termos um mapa visível no ecrã é obrigatório para os níveis mais labirínticos.

Convém referir que joguei a versão actualmente disponível no GOG, que moderniza ligeiramente a experiência para o utilizador final. Esta edição vem distribuída com o emulador DOSBox e, por defeito, arranca numa versão “Enhanced”, que por sua vez suporta um esquema de controlo moderno e, aparentemente, alguns patches aplicados que melhoram certos aspectos técnicos. Ainda assim, nota-se que o jogo está longe de ser tão personalizável ou polido como outros seus contemporâneos. Acções simples, como seleccionar feitiços, aparentam ter um delay, ou simplesmente os controlos não responde, obrigando-nos a pressionar repetidamente a mesma tecla. Ajustar o volume da música ou do som requer combinações obscuras de teclas, que nem sequer estão documentadas no menu de instruções. Durante grande parte do tempo, pensei que o jogo não tinha música, até perceber que tinha desactivado o volume por acidente sem dar conta.

Atravessar rios de lava? Mais vale utilizarmos uma poção de resistência ao fogo, caso contrário é morte rápida.

A nível audiovisual, o jogo começa por nos apresentar uma cutscene em CGI bastante rudimentar (como era habitual na época), com alguns créditos a rolarem enquanto a câmara acompanha um percurso sinistro. No entanto, assim que a aventura propriamente dita se inicia, torna-se evidente que Witchaven fica claramente atrás dos shooters mais icónicos que partilham o mesmo motor gráfico. O foco está em ambientes de castelos e edifícios medievais, como seria de esperar pelo contexto, mas a variedade de cenários é bastante limitada. Os inimigos são representados por sprites algo rudimentares, e muitas das animações não têm grande detalhe ou fluidez. Para além da cena inicial em CGI, não há qualquer outra sequência animada: o final do jogo resume-se a uma imagem estática do protagonista, acompanhada por texto que narra os acontecimentos finais. A música, por seu lado, é funcional mas pouco memorável: não incomoda, mas também não marca pela positiva.

Portanto este Witchaven é um jogo que apesar de possuir boas ideias nas suas mecânicas, merecia mesmo que tivesse tido maior atenção no seu ciclo de desenvolvimento, pois deixa-nos constantemente com a sensação de estarmos a jogar um produto inacabado. Apesar disso, Witchaven deve ter tido algum sucesso pois a Capstone lança uma sequela no ano seguinte, que também utiliza o Build como motor gráfico. Estou curioso em ver como evoluiram a fórmula do jogo!