ClayFighter (Sega Mega Drive)

Continuando pelas rapidinhas vamos ficar agora com um jogo de luta que, apesar de possuir um conceito bastante original, deixa muito a desejar na sua jogabilidade. Produzido pela Visual Concepts originalmente para a Super Nintendo algures em 1993, é lançada no ano seguinte uma conversão para a consola de 16bit da Sega, versão essa que cá trago hoje. O meu exemplar foi comprado numa Cash Converters algures em Março deste ano, tendo-me custado algo em volta dos 11€.

Jogo com caixa e manuais

O conceito do jogo é simples: temos toda uma série de criaturas bizarras que pretendem serem “os reis do circo” pelo que vão andar à porrada uns com os outros em busca de tal honorável título. O grande selling point do jogo era que todas as suas personagens eram baseadas em claymation, ou seja, bonecos de plasticina animados por técnicas de stop motion. Mais lá para a frente houveram outros títulos bem melhor sucedidos ao transpor essa técnica de animação para os videojogos, como é o caso de The Neverhood ou Skullmonkeys.

Sim, a história é um pouco ridícula, mas este também não é um jogo para se levar a sério

A jogabilidade é simples na sua essência, sendo este um jogo que tira partido do comando de 6 botões da Mega Drive, com cada conjunto de 3 botões a servirem para socos ou pontapés fracos, médio e fortes. O d-pad serve para movimentar a nossa personagem sendo que carregando para trás (ou na diagonal baixo-trás) serve também para nos defendermos. Para quem tiver apenas um comando de 3 botões teria de utilizar o start para alternar entre socos e pontapés, o que não é de todo a solução mais elegante. No entanto, apesar de os controlos serem simples, a jogabilidade não é tão fluída como a dos videojogos que este ClayFighter tenta parodiar! Não há assim um número tão considerável de golpes especiais e as animações não são nada de especial também.

O facto de as personagens serem todas pré-renderizadas de modelos de plasticina também deu azo à originalidade e imaginação dos seus designs

Visualmente é um jogo interessante precisamente pelo facto de todas as personagens serem sprites grandes e pré-renderizadas de bonecos de plasticina e o facto de se ter utilizado claymation talvez ajude a explicar um pouco o porquê das animações não serem tão fluídas como se esperaria num jogo de luta. As personagens em si até vão tendo designs algo originais e cómicos como é o caso do Blob, que é literalmente uma bola de plasticina que vai adquirindo diferentes formas consoante os ataques (ou defesa) que vamos desferindo. As arenas por outro lado não têm o mesmo nível de charme e muitas vezes até são algo genéricas. Já no que diz respeito ao som, o jogo possui também algumas vozes digitalizadas e uma banda sonora algo ecléctica, que nos vai trazendo músicas com um feeling mais circense, ou outras que já não têm nada a ver, como é o caso da personagem com uma abóbora como cabeça e o seu nível mais temático do Halloween.

Alguns dos golpes especiais exigem timings muito próprios e nem sempre são fáceis de executar

Sinceramente esperava que a versão SNES fosse largamente superior à da Mega Drive no quesito técnico, não só por ter sido a principal versão em desenvolvimento, mas também pelo facto do sistema da Nintendo ter a capacidade de apresentar um número de cores em simultâneo bem superior à da Mega Drive. E de facto a versão SNES é superior nos seus gráficos, mas a diferença não é tão gritante como a que esperava. Mesmo na versão SNES, tanto as personagens como os níveis também possuem cores algo deslavadas. Por outro lado esta versão MD traz também menos vozes digitalizadas por algum motivo. Ainda assim o jogo deve ter tido algum sucesso de vendas nos sistemas da Nintendo pois no mesmo ano em que sai esta versão MD, a SNES recebe um update (Tournament Edition) e no ano seguinte uma sequela, que também se manteve exclusiva nessa consola. Dizem que o ClayFighters 63⅓ da Nintendo 64 é horrível, mas mesmo esse recebe também um update exclusivo!

The Adventures of Rad Gravity (Nintendo Entertainment System)

Vamos voltar à velhinha NES para um jogo que me surpreendeu bastante pela positiva (embora nem tudo sejam rosas). Desenvolvido pela Interplay, este é um jogo de plataformas 2D mas com mecânicas de jogo muito próprias e alguns conceitos bastante originais. Pena é que os controlos nem sempre sejam os melhores! O meu exemplar foi comprado no passado mês de Fevereiro a um particular, tendo-me custado uns 10€.

Cartucho solto

O jogo leva-nos ao futuro e encarnamos num herói que parece mesmo saído de uma banda desenhada, o tal Rad Gravity e o seu queixo gigante! A sua missão é a de explorar vários planetas e reactivar uma série de computadores super poderosos que por algum motivo haviam sido inactivados por algum vilão. Começamos a aventura ao visitar o planeta de Cyberia e aí, ao interagir com outros computadores, iremos obter as coordenadas de outros planetas a explorar. Assim que completarmos os dois primeiros níveis, temos completa liberdade para escolher que planetas visitar, sendo que cada planeta / nível está repleto de passagens secretas e power ups para descobrir também!

Por vezes os NPCs dão-nos missões bem caricatas

Na sua essência, este é um jogo de plataformas em 2D, mas possui muitas mais particularidades para além da progressão não-linear que referi acima. Com um botão para saltar, o outro serve para usar o item/arma que tenhamos seleccionado. Começamos com um light saber que causa dano mínimo, mas à medida que vamos explorando vamos ganhando também acesso a outras armas como pistolas ou bombas que podemos atirar em arco. O intercomunicador permite-nos teletransportar para a nossa nave, e à medida que vamos explorando iremos também encontrar alguns outros itens que serão bastante úteis nalguns segmentos mais exigentes de platforming. Um é um objecto que podemos atirar para um certo ponto do cenário e depois podemo-nos teletransportar imediatamente para esse ponto. Outro é uma pequena plataforma que podemos usar temporariamente para nos deslocar pelo nível, se bem que a sua utilização vai-nos retirando vida. Outros dos power ups mais valiosos que podemos encontrar (e muitos estão bem escondidos) são itens que nos extendem a barra de vida. Mas ao contrário de jogos como o The Legend of Zelda, onde a cada vez que apanhamos um heart container a nossa vida é completamente regenerada e extendida, aqui é apenas extendida. A única forma que temos de regenerar vida é a de regressarmos à nossa nave através do uso do tal intercomunicador, sendo que quando voltamos ao planeta em questão, voltamos ao início do nível.

Quando estamos na nave, a personagem aparece representada numa sprite gigante e bem detalhada!

Para além de tudo isto o jogo está repleto de outras peculiaridades muito caricatas. No primeiro nível, há uma altura onde teremos de entrar dentro de um computador para desactivar os protocolos de segurança e essa parte tem um aspecto muito peculiar, com a sprite do Rad a ser uma espécie de negativo. O segundo nível leva-nos ao planeta de Effluvia, onde temos de salvar o nosso robot de bordo que foi raptado por uns bandidos que conduzem uma carrinha de gelados! Há um nível com gravidade invertida onde vemos tubarões nos céus, outro onde exploramos um cinturão de asteróides com gravidade zero e a única maneira de nos movermos é a de disparar a nossa pistola na direcção contrária do movimento! E isto leva-me a criticar os controlos que infelizmente não são tão bons ou precisos quanto isso. E num jogo com um grande foco no platforming (há zonas mesmo muito exigentes!) acaba por borrar um pouco a pintura.

No segundo nível temos de perseguir estes bandidos que se metem numa carrinha de gelados!

De resto a nível audiovisual é um título interessante. Quando estamos na nave a escolher o nosso próximo destino, Rad é apresentado como uma sprite gigante e bem detalhada, já quando passamos para a acção em si, tanto os níveis como os inimigos e o próprio Rad já ganham as proporções habituais para um jogo de plataformas 8bit. Alguns níveis até achei que tinham gráficos competentes, com alguns pequenos detalhes muito interessantes como os que já referi acima. Já no que diz respeito ao som, nada de especial a apontar. Não há uma grande variedade de músicas, mas algumas delas até me soaram bem!

A partir de um certo ponto a nossa progressão é completamente não linear, podendo explorar livremente os diferentes planetas que tenhamos desbloqueado

Portanto este The Adventures of Rad Gravity é um jogo estranho no início pois não sabemos muito bem o que temos ali a fazer. Mas tem de facto muito boas ideias, como a não linearidade de planetas / níveis a explorar, os diferentes power ups que podemos encontrar e usar, bem como algumas mecânicas de jogo interessantes consoante o planeta a explorar. Acaba por pecar no entanto nos seus controlos, que infelizmente não são tão precisos quanto deveriam. Mais na recta final, vamos ter alguns desafios bem consideráveis de platforming, como plataformas que desaparecem, espinhos nas paredes, chão, projécteis a voar por todos os lados e não só teremos de usar os diferentes power ups de forma inteligente, os segmentos de platforming em si são também bastante exigentes e com os controlos imprecisos acabam per ser segmentos bem mais frustrantes.

Rock ‘n Roll Racing (Sega Mega Drive)

Antes de haver Blizzard, havia a Silicon & Synapse, que acabou por ser responsável por lançamentos como The Lost Vikings ou BlackHawk, por exemplo. Outro dos seus clássicos da era 16bit é precisamente este Rock ‘n Roll Racing, um jogo de corridas futuristas com elementos de combate e claro, uma banda sonora excelente, repletas de hinos do rock e hard rock. O lançamento original é o da Super Nintendo, embora a Mega Drive tenha recebido uma conversão no ano seguinte. Apesar desta versão ter mais conteúdo, sinceramente acho que no geral é a versão da Super Nintendo que acaba por levar a melhor. O meu exemplar foi comprado algures em Maio a um particular, custou-me cerca de 10€.

Jogo com caixa e manual

Inspirado por títulos como o R.C. Pro-AM, este jogo também possui uma perspectiva isométrica e foco no combate entre carros. Inicialmente poderemos escolher uma de diferentes personagens para representar e, com base no grau de dificuldade escolhido, teremos diferentes orçamentos para escolher o nosso carro inicial. Depois lá somos largados nas corridas, cujas decorrem ao longo de 4 voltas e com mais três oponentes, que não nos irão facilitar a vida. Mas nós também possuímos armas para ripostar, tanto frontais (como mísseis) e traseiras (como minas). Estas não possuem munições limitadas, pelo que as devemos usar de forma algo inteligente, sendo que as mesmas vão sendo restabelecidas entre cada volta. Ao longo da pista poderemos encontrar também alguns itens úteis como dinheiro ou medkits que nos regeneram a barra de vida, bem como alguns obstáculos como minas ou poças de óleo que nos fazem perder o controlo do carro. Para além disso os nossos oponentes também podem apanhar os mesmos power ups que nós, o que pode ser um bocado chato.

As corridas são sempre frenéticas pois os nossos oponentes não têm problemas em usar as suas armas. Vá lá que também se atacam entre si!

As corridas estão divididas em vários planetas com paisagens distintas entre si e dois campeonatos por planeta. A primeira, e talvez única, vantagem da versão Mega Drive face à original de SNES é que a segunda volta de corridas decorre em pistas diferentes, enquanto na versão SNES repetíamos as corridas da primeira volta, mas com uma oposição mais feroz. O objectivo é então o de tentar chegar ao fim de cada corrida nos lugares cimeiros, pois vamos recebendo mais pontos e dinheiro consoante a nossa posição no final de cada corrida. E para ir avançando no jogo teremos sempre de atingir um número mínimo de pontos antes de avançar para a segunda volta ou mesmo para o planeta seguinte. Para além disso, o dinheiro dá mesmo jeito para comprar upgrades para os carros, mais armas, turbos ou carros novos. De resto a jogabilidade é relativamente simples, com um botão para acelerar e os outros 2 faciais para usar as armas frontais ou traseiras. Para gastar um nitro teremos de pressionar o botão para acelerar por 2 vezes. Para travar infelizmente temos de pressionar o direccional para baixo, o que pode não ser muito intuitivo. O jogo até suporta comandos de 6 botões, mas os controlos poderiam ser melhor aproveitados nesse caso.

O dinheiro que vamos ganhando deve ser usado para comprar novos carros ou melhorar o carro actual

A nível audiovisual, vamos começar pelo óbvio, as músicas rock. Este jogo possui uma série de músicas licenciadas contendo hinos como a Highway Star dos Deep Purple, Paranoid dos Black Sabbath ou outras igualmente conhecidas como a Born to be Wild ou Bad to the Bone, dos Steppenwolf e George Thorogood, respectivamente. A outra vantagem da versão Mega Drive em relação ao lançamento original é que esta versão traz uma outra música adicional, nomeadamente a Radar Love dos Golden Earring que, apesar de não ser uma má música, preferia que tivessem colocado algo melhor… sei lá, talvez AC/DC? Mas adiante. Naturalmente que as músicas na Mega Drive são completamente chiptune e, apesar de serem agradáveis, é impossível não admitir que as versões da SNES sejam superiores. Para além disso, as corridas vão tendo a narração de um comentador muito efusivo e, apesar das samples de voz possuirem boa qualidade, inexplicavelmente quando o comentador fala, as músicas param, o que é um grande turn off. E isto também não acontece na versão SNES. De resto, os efeitos sonoros não são nada de especial e os gráficos sinceramente também não achei nada demais, mas também não dá para fazer muito melhor num motor gráfico isométrico. A versão SNES possui cores mais vibrantes e gráficos mais detalhados, embora numa resolução inferior.

As armas são importantes, mas investir em nitros também o é

Portanto este Rock ‘n Roll Racing é um jogo divertido, desafiante e com uma excelente banda sonora para quem gostar de rock. No entanto não consigo recomendar esta versão da Mega Drive, cujas únicas vantagens resumem-se a pistas novas e uma música adicional. O original possui gráficos e interpretações das mesmas músicas com uma qualidade muito superior e a própria jogabildade também é mais agradável pois tiram melhor proveito do comando da SNES.

Gex: Enter the Gecko (Nintendo Gameboy Color)

Gex começou por ser um jogo de plataformas 2D, lançado ainda numa altura de transição entre a geração dos 16bit e as novas consolas de 32bit. Mas em 1998, quando a sua sequela acabou por sair, já tinhamos outras referências de jogos de plataforma em 3D, com o brilhante Super Mario 64 e Crash Bandicoot, por exemplo. Então o segundo e terceiro jogos já acabaram por ser inteiramente em 3D, excepto a versão para a Gameboy Color, claro. O meu exemplar foi comprado algures no início de Março numa das minhas visitas à Feira da Vandoma, tendo-me custado uns 2€.

Apenas o cartucho. Jogo compatível com Gameboy clássica.

A história parece ser similar à da versão PS1/N64, onde Gex irá uma vez mais enfrentar o vilão Rez e seus bandidos, que aparentemente invadiram todos os canais de televisão disponíveis. O jogo vai buscar bastantes influências a Super Mario 64, na medida em que teríamos um considerável hub a explorar, com várias televisões espalhadas. A ideia é entrar em cada televisão, que terá um de vários canais a dar, e depois podemos cumprir várias missões no mesmo nível, para ganhar controlos remotos de TV coloridos e ir desbloqueando níveis novos. Para além dos controlos remotos vermelhos que poderemos ir ganhando à medida em que completamos os objectivos em cada nível, outros controlso remotos cinzentos podem também ser obtidos, seja na exploração do nível, ou ao coleccionar um certo número de itens coleccionáveis espalhados pelos níveis. Poderemos também desbloquear alguns níveis de bónus cujo objectivo é o de coleccionar todos os itens coleccionáveis dentro de um tempo limite.

Tal como no Super Mario 64 temos um HUB que podemos explorar e entrar em novos níveis à medida que os vamos desbloqueando

De resto, a nível de controlos não há muito a dizer, esta versão para a Gameboy Color é um simples jogo de plataformas 2D onde um botão serve para saltar, outro para atacar os inimigos com a cauda. Por vezes vemos uns ecrãs tipo aqueles que guardam itens nos jogos do Sonic que, ao destruí-los libertamos umas moscas coloridas que nos acompanham durante algum tempo. Ao pressionar no Select, Gex pode comer essas moscas que, dependendo da sua cor, nos dão diferentes efeitos, como regenerar a barra de vida, ou mesmo atribuir vidas extra. Os níveis em si são grandinhos, com vários obstáculos como plataformas móveis, portais que nos transportam para diferentes partes do nível, entre outros. Gex pode também escalar algumas superfícies, que geralmente se encontram devidamente demarcadas nos níveis, ao pressionar o d-pad para cima quando nos aproximamos de uma dessas superfícies.

Em cada nível poderemos cumprir diferentes missões

Ok, de mecânicas de jogo estamos falados. Mas e como isto tudo resultou? Infelizmente o resultado é bastante genérico, não achei os níveis propriamente empolgantes, tanto no seu design, como nos gráficos propriamente ditos. Existe alguma variedade de diferentes mundos, temos o Toon World que é uma paródia aos Looney Tunes, até porque um dos itens coleccionáveis são cenouras, um dos inimigos é um clone do Elmer J. Fudd e vemos imensos sinais a sinalizar a Wabbit Season. Os outros mundos baseiam-se em filmes de terror, outros de artes marciais chinesas, temos alguns níveis na pré-história e outros que decorrem dentro de circuitos electrónicos. Mas sinceramente, tirando um ou outro detalhe ocasional, achei-os todos algo desinspirados. Mas o maior ofensor aqui é sem sombra de dúvida a música. Algumas músicas são apenas más, outras são absolutamente horríveis, até parece que quem as compôs nem sequer se deu ao trabalho de as ouvir.

Graficamente o jogo não é nada de extraordinário mas poderia ser pior.

Portanto este Gex para a Gameboy Color é um jogo de plataformas 2D absolutamente mediano, com uma banda sonora atroz. As versões PS1 e Nintendo 64 sempre me pareceram bem mais competentes, até porque foram produzidas pela própria Crystal Dynamics, pelo que um dia que me apareçam à frente a um preço apetecível irei certamente dar-lhes uma oportunidade.

MDK (PC / Sony Playstation)

Das memórias que tenho ao ver o saudoso Templo dos Jogos durante a minha infância, um dos jogos que mais me marcou ao ver o seu gameplay era justamente este MDK, principalmente pela bizarrice das suas personagens e inimigos. Tendo sido produzido pela Shiny Entertainment, os mesmos que nos trouxeram Earthworm Jim, o facto de ser um jogo bizarro (e como vim mais tarde a descobrir, também tem um sentido de humor peculiar), não é propriamente de estranhar. Mas sendo um jogo tão negro, não era habitual tendo em conta o que eles tinham produzido até à altura. Bom, de qualquer das formas, apesar de ter sido um jogo que ficou bem guardado na minha memória devido ao tal programa televisivo, a verdade é que nunca me tinha passado pelas mãos ao longo de todos estes anos. Eventualmente, perto do final de 2016, lá me apareceu uma versão da PS1, sinceramente já não me lembro onde ou quanto custou, mas certamente não terá sido cara.

Jogo com caixa, manual e papelada

Então mas qual é o conceito deste jogo? A história anda à volta do inventor/cientista Fluke Hawkings, que observa um fenómeno estranho no espaço e decide construir uma estação espacial que orbita a Terra para o investigar. Para não estar sozinho no espaço, convence o seu empregado, o “faz tudo” Kurt Hectic a acompanhá-lo, e, já no espaço, cria também um cão cyborg de seis patas chamado Max/Bones. Eventualmente lá descobre que o tal fenómeno estranho que tinha observado é na verdade uma invasão alienígena que está prestes a decorrer na Terra, onde os aliens enviam naves gigantes para atacar as grandes cidades e consumir os recursos naturais do planeta. O doutor decide então enviar Kurt para ajudar a combater a ameaça e é aí que entramos em jogo.

Este paára-quedas todo estiloso pode ser usado a qualquer altura, o que nos deixa no ar mais tempo e é muito útil nos segmentos de platforming.

Comecei precisamente por jogar a versão da Playstation que, apesar de ser uma conversão sólida tendo em conta as limitações da consola, mais tarde apercebi-me que tinha na minha conta GOG uma cópia digital da versão PC, provavelmente oferecida algures no tempo e troquei logo de versão. Ainda bem que o fiz, até porque podemos customizar os controlos para um esquema WASD + rato, muito próximo dos jogos modernos, o que faz toda a diferença aqui. Em cada nível temos uma nave gigante para atacar, onde começamos por cair em queda livre desde a estação espacial atè à base em questão. Aqui apenas temos de nos preocupar em desviar dos radares e mísseis inimigos bem como, se possível, ir apanhando os itens que o doutor nos vai largando. A certa altura Kurt abre o seu páraquedas estiloso e entramos na base. Aqui o jogo assume-se mais como um shooter na terceira pessoa, embora a um ritmo frenético e com imensas armas e habilidades a ter em conta. Ocasionalmente teremos até alguns momentos de platforming, pelo que temos de saltar de plataforma em plataforma, podendo abrir o pára-quedas no momento do salto, que nos permite planar suavemente pelo ar e conseguir saltar distâncias maiores.

Conseguimos saber quanto nos falta para destruir certos inimigos pela sua barra de vida.

Mas no que diz respeito ao combate, a arma principal de Kurt, que está embutida no seu braço, possui munições básicas ilimitadas, embora possamos apanhar outras munições mais potentes ou diferentes tipos de bombas e granadas que podemos atirar livremente. Aqui começamos logo a ver o sentido de humor do jogo, pois umas das bombas chama-se “The World’s Smallest Nuke“, servindo principalmente para explodir com algumas portas, já outra é chamada “The World’s Most Interesting Bomb“, atraindo todos os inimigos para a sua proximidade, onde a poderemos depois detonar. Mas Kurt também pode desligar a sua arma do braço e ligá-la ao seu capacete, onde activamos o muito interessante sniper mode. Aqui podemos fazer zoom até 100x, bem como equipar a arma com diferentes tipos de munições (todas em número limitado), desde as balas normais de uma arma sniper, passando por outras mais chiques, como mísseis teleguiados ou morteiros que seguem trajectórias parabólicas. A visão do modo sniper possui também em cima 3 câmaras que seguem os projécteis que disparamos, o que é um toque interessante. Um dos itens que podemos apanhar permite-nos chamar o Max, que conduz a sua própria nave, para um ataque aéreo a uma zona que designamos previamente, precisamente com recurso ao modo sniper. Isto muitos anos antes dos Call of Duty e Battlefields! Para além de tudo isso há outras pequenas coisas que o jogo nos vai atirando ocasionalmente, como subir a bordo de um pequeno avião e bombardear os inimigos que estão no chão, ou atravessar certas zonas de um certo nível a fazer snowboard, por exemplo.

O modo sniper, muito original não só a nível de jogabilidade mas também artisticamente.

Já do ponto de vista técnico este é um jogo igualmente interessante, pois foi lançado numa altura de pioneirismo de jogos de acção completamente em 3D. E ora acima de tudo a Shiny queria um jogo bastante fluído, e com o facto de ser possível ampliar o cenário em 100x com recurso ao modo sniper, isto significa que o jogo tem de estar constantemente a renderizar uma grande percentagem do cenário, principalmente em zonas mais abertas, enquanto muitos outros jogos contemporâneos usavam o pop-in dos polígonos a uma certa distância ou então tentavam mascarar o mesmo com recurso a efeitos de nevoeiro. Aqui não temos nada disso, pelo que para manter sempre uma boa performance (e inicialmente o jogo saiu sem qualquer suporte a placas aceleradoras 3D!) o detalhe das texturas e número de polígonos teve de ser de certa forma sacrificado. Por isso as texturas são muito simples e de baixa resolução e detalhe, mesmo quando comparado com outros jogos de acção da época e muitas vezes o jogo utiliza o seu próprio estilo artístico em vantagem, com muitos polígonos a não possuirem texturas sequer, sendo inteiramente negros (o que resulta bem em zonas mais escuras), ou de outras cores. O próprio protagonista é uma sprite em 2D,  se bem que muito bem detalhada e animada, algo que a Shiny, especialmente alguns dos seus funcionários mais séniores já bem nos habituaram em clássicos como Aladdin ou Earthworm Jim. Exepto na fase inicial de cada nível onde caímos em queda livre até chegar à base alienígena e na fase final onde acontece o reverso, aí Kurt já possui um modelo em 3D poligonal. Os inimigos são no entanto completamente em 3D, se bem que com pouco detalhe.

Artisticamente este é mesmo um jogo muito original e bizarro. Adoro!

Mas tirando a conversa mais técnica, sinceramente este é daqueles jogos onde é mesmo uma pena que os seus direitos já tenham dado muitas voltas. Adoraria ver a equipa original a pegar novamente neste jogo e fazer um remake a sério. Isto porque a nível artístico, é um jogo tão bizarro, no entanto tão bem conseguido, que ver este mundo com a qualidade gráfica que merece seria mesmo muito interessante. Já NO QUE DIZ RESPEITO ÀS MUSICAS

Falando um pouco da versão Playstation (que foi convertida pela Neversoft, os mesmos do Tony Hawk), apenas joguei as 2 primeiras missões e, naturalmente que prefiro a versão PC. Não só por os controlos serem melhores (dá para configurar um setup WASD + rato parecido aos shooters actuais), mas a nível gráfico esta versão é mais pobre. Não que seja muito mais pobre pois ainda podemos fazer zoom a altas distâncias, mas as texturas e modelos poligonais são ainda mais primitivos em contrapartida. Mas não deixa de ser um jogo divertido, atenção! Se bem que os controlos também não são os mais adequados…

Tenho pena que estes ecrãs da base dos heróis não sejam cutscenes. Certamente seriam bastante cómicas!

De qualquer das formas volto a reiterar que fiquei agradavelmente surpreendido por este MDK. A impressão que sempre tive do jogo desde novo é que era algo sombrio e bizarro, talvez influenciado pela arte de H.R. Giger, em certos pontos. E de certa forma se calhar até é, mas a partir do momento em que leio o manual e vejo toda aquela paródia entre as personagens, e mesmo alguns bons momentos de humor ao longo do jogo propriamente dito, já deu para entender que não é tão sombrio assim, pelo que um remake em condições seria mesmo uma óptima notícia.