Neste passado Halloween quis jogar pelo menos um de dois jogos: o Silent Hill 2 (o original de PS2, não o remake recente) ou este The Last of Us: Part II. Como a minha namorada adorou a história do primeiro The Last of Us acabei por optar então por esta sequela, embora apenas o tenha jogado em curtas e espaçadas sessões, pelo que apenas muito recentemente o terminei. Entretanto também combinei com o meu amigo e colega do podcast TheGamesTome para fazermos um deep dive, uma análise super detalhada a este jogo. Poderão ver essa discussão no vídeo partilhado abaixo. Entretanto o meu exemplar foi comprado numas promoções de black friday da Worten algures em 2021, tendo-me custado uns 20€.
O jogo começa alguns anos após os acontecimentos do final do primeiro título, onde Joel e Ellie acabam por assentar na povoação de Jackson, estando plenamente integrados na sua sociedade. Entretanto coisas acontecem e digamos que o resto do jogo será uma história de vingança. Antes de prosseguir, devo dizer que irão haver alguns spoilers no parágrafo seguinte, pois não consigo exprimir o que achei deste jogo sem tocar nalguns pontos chave da narrativa. Ainda assim farei o possível para não revelar coisas em demasia. Se preferirem não lerem quaisquer spoilers, então ignorem o próximo parágrafo.
O primeiro The Last of Us foi um excelente jogo em vários aspectos, mas para mim o destaque esteve principalmente na sua narrativa mais madura, pesada e emocional. A forma como os laços entre Joel e Ellie se vão construindo e fortalecendo é de longe a mais bem conseguida. E aqui a narrativa mantém-se pesada, complexa e muito emocional, com todo o tema do jogo andar à volta da vingança. Um detalhe interessante é o facto de cerca de metade do jogo ser jogado com a Ellie e a outra metade com Abby, uma nova personagem e também o principal alvo da vingança que Ellie quer impor. Inicialmente achei um pouco estranha esta opção, mas à medida que ia avançando no jogo o seu objectivo se foi tornando claro: para além de mostrar quais as motivações de Abbie para fazer o que fez, mostrar também o seu lado humano, fazendo-nos lembrar que as coisas nunca são completamente a preto e branco, mas sim uma escala de cinzentos. Particularmente num mundo pós apocalíptico e sem lei como é o de The Last of Us. Portanto ponto muito positivo para toda a narrativa e a maneira como ela nos vai sendo apresentada, incluíndo todos os flashbacks passados por ambas as personagens e que são igualmente importantes. Os pequenos spoilers acabam aqui.
Já no que diz respeito à jogabilidade, na sua essência essa não difere muito das mecânicas de jogo introduzidas pelo primeiro jogo. The Last of Us decorre num mundo pós apocalíptico infestado por criaturas parecidas com zombies e os recursos são imensamente escassos. A civilização como a conhecemos colapsou e o jogo, para além dos seus habituais segmentos de exploração, nos colocará a combater (ou evadir) muitas dessas criaturas, mas também diferentes facções humanas. Com recursos escassos, a necessidade de uma abordagem mais furtiva para esses encontros é fortemente encorajada, assim como a necessidade de improvisar. Quero com isto dizer que o sistema de crafting para melhorar as armas que vamos coleccionando, criar munições como granadas improvisadas ou cocktails molotov, medkits ou outros itens úteis estão novamente aqui presentes. Isto é possível ao coleccionar toda uma série de recursos, bem como peças metálicas para posteriormente melhorar as armas. Para além de recursos e munições escassas poderemos também encontrar comprimidos que uma vez tomados servem para melhorar as habilidades de Ellie ou Abby, como a capacidade de ouvir melhor (o sistema de audição serve para localizar inimigos no ecrã), construir mais e melhores medkits, entre muitas outras habilidades. Considerem esses comprimidos como skill points portanto!

Existem no entanto algumas diferenças na jogabilidade entre Ellie e Abby, assim como as diferentes armas/equipamento que ambas terão acesso. Ellie é mais ágil e fisicamente menos forte, no entanto esta tem uma faca inquebrável, pelo que acaba por ser uma opção bem melhor para os avanços furtivos. Já Abbie é fisicamente bem mais possante, pelo que é mais forte no combate corpo-a-corpo, no entanto precisa de usar as shivs (facas artesanais) que por sua vez são frágeis e partem-se com uma única utilização. O arsenal que ambas as personagens terão acesso é considerávelmente diferente embora tenha algumas coisas equiparáveis. Ellie e Abby terão acesso a diferentes pistolas/revólveres (uma de cada com a possbilidade de equipar silenciadores artesanais) e shotguns. Ellie tem acesso a uma espingarda de longo alcance enquanto Abbie possui uma arma semi automática para um efeito algo semelhante. Ellie possui cocktails molotov, um arco e flecha com a possibilidade de usar setas explosivas, granadas de fumo e minas de proximidade, extremamente úteis, por sinal. No fim do jogo também desbloqueamos uma metralhadora com silenciador mas já pouco a vamos utilizar. A Abbie possui granadas (pipe bombs), uma besta, caçadeira de duplo cano (com a possibilidade de utilizar munições incendiárias) e um lança chamas, também bastante útil para limpar mobs de zombies. Mas no fim de contas o arsenal de Ellie pareceu-me o melhor.
No que diz respeito aos inimigos, estes também nos começam a caçar mal sejamos descobertos ou, no caso de inimigos humanos, caso algum cadáver de um dos seus colegas seja descoberto, visto que infelizmente, uma vez mortos os inimigos, não podemos arrastar os seus corpos para locais mais reservados. A nível de inimigos novos temos alguns zombies novos, incluindo uns bastante silenciosos e que nos montam emboscadas. Já nos inimigos humanos, não me recordo de haverem “heavies“, inimigos bastante corpulentos e capazes de sofrer bastante dano antes de morrerem. Existem no entanto patrulhas com cães que nos conseguem farejar e usar granadas de proximidade nesses encontros foi uma óptima maneira de me ver livre deles e dos seus donos.
A nível audiovisual estamos perante um jogo excelente. Os cenários, particularmente aqueles no meio da natureza, estão deslumbrantes e foi um prazer atravessá-los. As personagens estão também muito bem detalhadas, particularmente as expressões faciais, que são muito boas. Por exemplo, enquanto a Ellie esfaqueia os inimigos que apanha de surpresa, Abby sendo uma mulher corpulenta, sufoca-os com a sua própria força de braços. E as expressões de sofrimento e desespero dos inimigos enquanto sufocam estão de facto impressionantes! De resto, sendo este um jogo com uma componente narrativa muito forte, naturalmente que o voice acting é também excelente. A banda sonora está repleta de temas acústicos (aliás, a Ellie e Joel tocarem guitarra acústica é algo central na narrativa), com muitas outras músicas mais ambientais e tensas, particularmente durante os encontros com inimigos. Aliás, quando essas músicas deixam de tocar é o primeiro sinal de que estamos novamente em segurança.

De resto é também um jogo repleto de coleccionáveis e conteúdo desbloqueável, desde galerias de arte, modelos 3D das personagens do jogo e também uma série de batotas que poderão ser desbloqueadas. O jogo está disponível em diferentes níveis de dificuldade e com muitas opções de customização e acessibilidade, o que é também um ponto positivo. Não existem no entanto quaisquer DLCs que expandem a narrativa como no primeiro jogo (não me estou a queixar) e um modo multiplayer chegou a estar nos planos mas acabou por não se concretizar.

Portanto estamos aqui perante um excelente jogo de acção e a Naughty Dog está uma vez mais de parabéns, pois não só nos apresentaram um jogo de acção/aventura bastante polido nas suas mecânicas de jogo e visuais, mas também com uma narrativa muitop cativante, pesada, emocional e envolvente. A Sony lançou recentemente um remaster/remake para a PS5 que sinceramente não senti qualquer necessidade. Eu joguei a versão PS4 numa PS5 e sinceramente achei o jogo excelente a nível audiovisual tal como está. No entanto, para quem tiver apenas uma PS5, admito que essa seja talvez a melhor forma de experienciar esta aventura actualmente. Mas só se encontrarem o jogo a um excelente preço, pois a versão PS4 é baratíssima actualmente em mercados de segunda-mão e reforço, é um excelente jogo numa PS5 também.















