Vamos finalmente voltar aos Final Fantasy, depois de ter jogado o FF X-2 já há quase uns 5 anos (embora tenha revisitado brevemente alguns títulos anteriores em diferentes relançamentos). Porque é que nunca joguei este Final Fantasy XII mais cedo? Bom, porque eu tenho um problema grave. Gosto de jogar séries pela ordem cronológica dos seus lançamentos (embora hajam excepções), quanto mais não seja para melhor acompanhar e entender a evolução das diferentes mecânicas de jogo que os mesmos vão introduzindo. Ora e depois do duo FF X e X-2 vinha o Final Fantasy XI, que como sabem é um MMORPG que (até à data de escrita deste artigo) ainda é um serviço pago (e bem pago). Por acaso até tenho o jogo na colecção para o PC e até já decidi experimentá-lo com uns amigos recorrendo a servidores privados, mas enquanto isso não acontece lá decidi finalmente jogar este Final Fantasy XII. O que até é curioso tendo em conta que terá sido ainda um dos primeiros jogos de PS2 que comprei, algures numa Fnac no final de 2010 ou inícios de 2011, por 10€.
Pouco sabia deste Final Fantasy, a não ser que tinha uma jogabilidade bem distante da dos seus antecessores e que tinha também uma trama repleta de intriga política e reviravoltas, algo que também aprecio. E depois de ter investido quase 100 horas de jogo (fiz quase tudo o que havia para fazer) o saldo final é bem positivo, embora exista uma ou outra questão que já não tenha gostado tanto, mas na verdade são meros apontamentos que não beliscam a qualidade do jogo. E a história leva-nos ao reino de Dalmasca, situado entre dois grande impérios, o de Rozaria a Oeste e Archadia a Leste. Apesar de pressões entre ambos os impérios, a vida era estável no reino de Dalmasca e outros pequenos reinos similares, ensanduichados entre ambas as superpotências. Mas como vamos poder ver no prólogo deste jogo, a certa altura tudo muda de figura, com o império de Archadia a atacar os pequenos reinos vizinhos, ocupando-os em seguida. No caso de Dalmasca a coisa fica ainda mais séria, com toda a família real a ser dizimada. Depois deste prólogo, o jogo leva-nos 2 anos no futuro a encarnar no jovem Vaan, um de muitos orfãos do ataque imperial e que para além de desejar ser um pirata do céu, quer também vingar-se do poderoso império pelas perdas que sofreu. E lá teremos a oportunidade de nos vingarmos quando um novo embaixador do império chega à cidade de Rabanastre (capital de Dalmasca) para a governar. Digamos que as coisas não correm lá muito bem e Vaan fica em apuros mas rapidamente vamos fazendo novos amigos e alianças que irão evoluir a narrativa para um grupo de resistência que luta contra o império. O jogo decorre no mundo de Ivalice (o mesmo da série Final Fantasy Tactics ou Vagrant Story), numa altura em que a magia era abundante e alimentava toda a sua tecnologia, pelo que para além da trama política, vamos também ter de enveredar por esse mundo de misticismo e fantasia. Aliás, diria até que a partir de um certo ponto a história abandona um pouco a vertente política pela pura fantasia, o que até me desiludiu um pouco.

No que diz respeito à jogabilidade, há aqui muita coisa de diferente, a começar pelo facto de o jogo não possuir encontros aleatórios, pois todos os inimigos estão visíveis no ecrã. E as batalhas iniciam-se sempre que inimigos e a nossa party estiverem suficientemente perto, iniciando linhas de contacto. Por exemplo, nós e um amigo contra 2 inimigos. Quando nos aproximamos de um inimigo e decidimos atacá-lo, é estabelecida uma linha de contacto azul entre a nossa personagem e o inimigo, sinalizando que aquela será a nossa personagem alvo. O inimigo por sua vez sinaliza com uma linha vermelha entre ele e uma das nossas personagens que será essa o alvo. Uma vez iniciado o combate podemos a qualquer momento parar a acção com recurso ao botão X e escolher que acção queremos tomar, seja atacar, usar magias ou skills, habilidades especiais mist ou itens. Os nossos companheiros por defeito são controlados automaticamente, mas também poderemos escolher que acções é que eles podem tomar. Estes automatismos são aqui chamados de gambits e embora inicialmente apenas possamos definir acções básicas como curar parceiro que tenha menos que certa percentagem de vida, atacar alvo mais próximo, atacar o mesmo alvo que o líder da party, entre mais alguns curtos exemplos, na verdade à medida que vamos avançando na história poderemos encontrar e comprar toda uma série de novas condições que poderemos posteriormente programar.

Acções como ressuscitar parceiro KO, curar parceiro que esteja envenenado, atacar inimigo voador com uma certa técnica/magia, atacar apenas inimigos vulneráveis a um certo elemento, as possibilidades começam a ser cada vez maiores. Este é portanto um sistema bastante poderoso, embora tenha algumas particularidades, nomeadamente a ordem pela qual as acções são executadas. Por exemplo, iniciativas de ressuscitar/curar companheiros devem sempre ser colocadas antes das iniciativas de ataque, caso contrário nunca serão executadas automaticamente enquanto houverem alvos válidos no ecrã. Tendo em conta que apesar de o líder da party ter os automatismos desabilidados por defeito, estes podem também ser habilitados e principalmente na segunda metade do jogo, quando já temos acesso a um grande número de condições, devo dizer que usei e abusei deste sistema como se não houvesse amanhã. Basicamente apenas ia movendo o líder de um lado para o outro e deixava os combates se desenrolarem sozinhos, com uma ou outra acção manual ou afinação ocasional. E foi tremendamente divertido fazê-lo e modificar os gambits de cada personagem de acordo com as circunstâncias!

Outro dos aspectos diferentes deste jogo é precisamente o sistema de crescimento das personagens. Cada combate é-nos recompensado com pontos de experiência, licence points e ocasionalmente loot. Apenas personagens humanóides é que nos recompensam também com dinheiro, pelo que teremos de revender esse loot para amealhar maiores quantias de gil. Vendendo certos componentes em certas quantidades (infelizmente o jogo não nos diz nem quais nem quantas) poderemos também desbloquear alguns itens novos no bazaar, uma espécie de mercado paralelo. Este é portanto um sistema de crafting algo mascarado. Mas voltando acima, o que raio são esses licence points? Bom, lembram-se do sistema Sphere Grid do Final Fantasy X onde desbloqueavamos algumas habilidades, magias e perks? É basicamente a mesma coisa, mas em vez de esferas temos uma espécie de tabuleiros de xadrês onde poderemos apenas desbloquear licenças adjacentes a outras que já tivermos desbloqueado anteriormente e cada licença possui um custo distinto de licence points. Basicamente nós podemos comprar magias ou skills nos mercados, mas para as usarmos cada personagem terá de comprar as suas licenças também. O que eu não gostei é que precisamos também de comprar licenças para usar armas, armaduras e acessórios, o que é uma chatice! Por exemplo: imaginem que vão a uma loja e ao escolher uma nova arma o jogo faz um óptimo trabalho de mostrar o quão os seus stats se diferenciam com as armas equipadas por todo o nosso grupo. E mais, depois de a comprar o jogo até nos pergunta se a queremos equipar, o que apenas é possível caso tenhamos desbloqueado a licença para tal. Mas tudo mudou de figura assim que arranjei uns quantos acessórios chamados Golden Amulet. Estes duplicam os LPs recebidos no final de cada combate e o melhor é que o mesmo se aplica para as personagens da nossa party que estejam em standby, pelo que ao fim de umas valentes horas toda a gente já estava a nadar em LPs pelo que isso já não foi um problema.

Um outro detalhe no sistema de combate que vale a pena ser mencionado são as habilidades mist. Nessas se incluem os summons e quickenings. Os primeiros são auto explanatórios, ao longo do jogo poderemos encontrar uma série de espers (muitos deles completamente opcionais) e caso os derrotemos ganhamos a possibilidade de os invocar em batalha. Bom, na verdade teremos de comprar a licença para os usar, ficando trancados apenas a uma personagem. Quando os invocamos em batalha os espers substituem o resto da nossa party, ficando no ecrã apenas a personagem que os invocou e podemos também controlá-los, escolhendo quais as suas habilidades queremos que utilizem. Os espers ficam no ecrã enquanto não usarem a sua habilidade especial ou forem derrotados, assim como quem os invocou. Os quickenings são os limit breaks, habilidades especiais que podem até ser encadeadas umas nas outras enquanto for possível, podendo resultar num ataque final e super devastador. E claro, também temos de comprar licenças para os quickenings, sendo que cada personagem poderá ter até 3.

De resto no que diz respeito aos audiovisuais este é um dos jogos mais bonitos que joguei numa PS2. Numa Sony Trinitron e com um cabo RGB fica então um mimo! Infelizmente depois tive um contratempo (ao fim de 40h de jogo) com a minha PS2, pelo que precisei de transportar o save para o PC e continuar a aventura através do emulador PCSX2. Foi a primeira vez que utilizei este emulador durante longos períodos de tempo e fiquei bastante impressionado com a fiabilidade com que o jogo corre, os seus upscalings e filtros de imagem. Mas voltando ao jogo em si, temos aqui personagens muito bem detalhadas, assim como os cenários que são bastante distintos entre si e igualmente bem detalhados. Numa CRT com cabo RGB a imagem fica bastante limpa, mas ao mesmo tempo com aquele ligeiro “esbotado” típico destas televisões que bem mascaram as imperfeições da imagem produzida por uma PS2. E claro, como é típico de jogos da Square Enix desta geração, ainda vamos tendo toda uma série de belíssimas cut-scenes em CGI. Por outro lado, a banda sonora é épica e repleta de músicas agradáveis e que ficam na memória e o jogo possui também um voice acting competente, com diálogos falados nos momentos mais importantes da história, embora tenha pena que não tenhamos acesso ao voice acting original japonês. Achei também a narrativa muito boa, particularmente na primeira metade / dois terços do jogo, onde a trama política tinha um maior destaque, com a narrativa a simplificar-se um pouco mais mais lá para a frente, infelizmente.
Portanto devo dizer que este Final Fantasy XII foi uma excelente surpresa. Adorei o sistema de combate, particularmente os gambits e as possibilidades de customização que tal nos permite. A narrativa mais madura e repleta de intriga política foi também algo que me agradou imenso. De pontos menos positivos para mim foi mesmo o facto de o jogo nos obrigar a usar licence points para tudo e o sistema de crafting poderia ser mais transparente. Para além desta versão PS2, o Japão recebeu também para o mesmo sistema uma segunda versão intitulada International Zodiac Job System que, entre outras pequenas mudanças, reformula todo o sistema de licenças, obrigando-nos agora a escolher um Job para cada personagem, que por sua vez terá uma série única de skills, perks e afins para desbloquear. Essa versão foi utilizada de base para um remaster lançado algures a partir de 2017 (The Zodiac Age) para uma série de plataformas modernas. Sinceramente gosto mais da ideia da liberdade que me dá customizar as personagens da maneira que me apetecer, mas também ouvi dizer boas coisas acerca do remaster, pelo que não me vou alongar na minha opinião. Ainda no universo deste FF XII (para além dos já referidos FF Tactics e Vagrant Story) temos também o Revenant Wings para a Nintendo DS, uma sequela que tenho alguma curiosidade em experimentar.






















