Anetto Futatabi é o jogo que encerra a trilogia protagonizada por Annet Myer e Earnest Evans, lançado exclusivamente no Japão durante o ano de 1993. Os seus predecessores, El Viento e Earnest Evans, haviam sido originalmente localizados pela Renovation para o mercado norte-americano, mas este último manteve-se exclusivo em solo nipónico. Curiosamente, esta pequena série acabou por renascer nos últimos anos. A Retro-Bit anunciou um relançamento de El Viento no final de 2023, enquanto a Limited Run Games, já em 2025, apresentou relançamentos das sequelas, com este Anetto Futatabi a receber uma localização parcial para Inglês, pela primeira vez de forma “oficial”. O meu exemplar foi adquirido através da Limited Run Games e, lamentavelmente, veio nas volumosas caixas grandes de Mega CD que, sinceramente, são péssimas de manter.

A história transporta-nos novamente para a primeira metade do século XX e coloca-nos, mais uma vez, no controlo da jovem Annet Myer. Durante uma visita a um reino algures na Europa Central, Annet é subitamente atacada pelas mesmas forças responsáveis pelo rapto da monarca local. Da protagonista é-lhe retirado um colar mágico que os novos líderes desse estado pretendem utilizar em obscuros experimentos de manipulação genética, criando criaturas monstruosas com o objectivo de dominar o mundo. Naturalmente, cabe-nos impedir que tal plano se concretize!

As mecânicas seguem o molde de um beat ’em up clássico, com o direccional a permitir percorrer os cenários, o botão B para atacar, C para saltar e A para utilizar magias. Infelizmente, o sistema de combate carece de profundidade. Não existe qualquer sistema de combos digno desse nome e os ataques básicos resumem-se a uma sequência de três golpes com a espada, sendo o último mais poderoso e capaz de projectar o inimigo ao chão. Existem ataques em corrida e ataques aéreos, bem como a possibilidade de agarrar adversários ao contactar fisicamente com eles, podendo depois atingi-los ou arremessá-los.
A utilização de magias está associada a uma barra de energia que cresce automaticamente através de cinco níveis, cada um correspondente a uma magia distinta e de potência crescente, afectando todos os inimigos no ecrã. A primeira invoca uma caveira gigante que suga parte da vida dos inimigos, a segunda convoca um vento forte que inverte temporariamente o cenário, derrubando os adversários, a terceira chama um ciclone que os arrasta, a quarta abre um poço de gravidade que os esmaga e, finalmente, a quinta invoca um dragão que cospe fogo, lembrando bastante um ataque típico de Golden Axe. No entanto, estas magias não podem ser utilizadas durante os confrontos contra bosses, o que significa que qualquer energia acumulada até esse momento se perde de imediato, o que é algo frustrante.

Visualmente, este jogo deixou-me algo desiludido, sobretudo nos níveis em si. Os cenários são pobres tanto em cor como em detalhe, tirando pouco proveito das capacidades de parallax scrolling que os sistemas de 16 bits da Sega tão bem oferecem. As sprites são, por vezes, desinspiradas e com animações fracas, o que é difícil de ignorar sabendo que, em 1993, já existiam beat ’em ups bem mais apelativos graficamente nas consolas Sega, e que este título, sendo exclusivo de Mega CD, não sofria das limitações de armazenamento de um cartucho. A Mega CD fornece ainda algumas funcionalidades adicionais de manipulação de sprites, que acabam aqui por ser utilizadas nas magias, mas mesmo aí os resultados são irregulares. O ciclone é um bom exemplo: enquanto a distorção das sprites arrastadas pelo vento está interessante e convincente, a sprite estática do ciclone em si contrasta muito e deixa a desejar.

Por outro lado, tal como acontecia na versão Mega CD do Earnest Evans, existem aqui várias sequências animadas entre níveis e essas estão bastante sólidas, apresentando uma estética de anime dos anos 90 com boa expressividade. O lançamento japonês incluía narração em japonês e esta edição da Limited Run Games traz novas dobragens para inglês. A qualidade do voice acting, não sendo brilhante, cumpre com o que se esperaria de um jogo de 1993 e, no geral, está competente. A verdadeira falha está noutros elementos que ficaram intactos. O ecrã título, algumas legendas de cut-scenes, a música de abertura e até os créditos permanecem exclusivamente em japonês. Quanto à banda sonora, esta mantém a energia que já caracterizava os restantes títulos da série e é bastante agradável.

No final, Annet Returns deixa-me com sentimentos mistos. Por um lado, é óptimo ver a Limited Run Games apostar na recuperação e preservação deste tipo de catálogo, sobretudo com um relançamento em formato original para a Mega CD tantos anos depois. Por outro lado, a localização poderia ter ido mais longe, já que parte do conteúdo continua inacessível para quem não entende japonês. Quanto ao jogo em si, saí algo desiludido. Sabia que era um beat ’em up e pelas imagens esperava algo mais elaborado. Contudo, a jogabilidade é pobre e o grafismo dos níveis fica abaixo do que seria expectável num jogo deste sistema. Fica a ideia de que a Wolfteam dedicou a fatia maior do orçamento às sequências animadas, deixando o jogo propriamente dito com pouco refinamento.
Para quem tiver curiosidade em experimentar a série e não dispuser de uma Mega Drive ou Mega CD, ou simplesmente preferir uma alternativa mais económica aos relançamentos e aos originais, a Edia, actual detentora dos direitos, anunciou uma colectânea para a Nintendo Switch contendo os três jogos, prevista para o final deste ano. Para já terá lançamento físico apenas no Japão, mas atendendo ao que aconteceu com as colectâneas de Valis ou Cosmic Fantasy, é bastante provável que a Limited Run Games assegure também uma edição física em inglês.






















