Annet Returns (Sega Mega CD)

Anetto Futatabi é o jogo que encerra a trilogia protagonizada por Annet Myer e Earnest Evans, lançado exclusivamente no Japão durante o ano de 1993. Os seus predecessores, El Viento e Earnest Evans, haviam sido originalmente localizados pela Renovation para o mercado norte-americano, mas este último manteve-se exclusivo em solo nipónico. Curiosamente, esta pequena série acabou por renascer nos últimos anos. A Retro-Bit anunciou um relançamento de El Viento no final de 2023, enquanto a Limited Run Games, já em 2025, apresentou relançamentos das sequelas, com este Anetto Futatabi a receber uma localização parcial para Inglês, pela primeira vez de forma “oficial”. O meu exemplar foi adquirido através da Limited Run Games e, lamentavelmente, veio nas volumosas caixas grandes de Mega CD que, sinceramente, são péssimas de manter.

Jogo com caixa e manual embutido com a capa. Não sou o maior fã destas big box de Mega CD, mas é o que os nossos amigos norte americanos tinham.

A história transporta-nos novamente para a primeira metade do século XX e coloca-nos, mais uma vez, no controlo da jovem Annet Myer. Durante uma visita a um reino algures na Europa Central, Annet é subitamente atacada pelas mesmas forças responsáveis pelo rapto da monarca local. Da protagonista é-lhe retirado um colar mágico que os novos líderes desse estado pretendem utilizar em obscuros experimentos de manipulação genética, criando criaturas monstruosas com o objectivo de dominar o mundo. Naturalmente, cabe-nos impedir que tal plano se concretize!

Tal como em Streets of Rage e outros beat ‘em ups da época, destruir certos objectos dos cenários pode-nos recompensar com itens. Se bem que aqui apenas temos comida que nos regenera a barra de vida.

As mecânicas seguem o molde de um beat ’em up clássico, com o direccional a permitir percorrer os cenários, o botão B para atacar, C para saltar e A para utilizar magias. Infelizmente, o sistema de combate carece de profundidade. Não existe qualquer sistema de combos digno desse nome e os ataques básicos resumem-se a uma sequência de três golpes com a espada, sendo o último mais poderoso e capaz de projectar o inimigo ao chão. Existem ataques em corrida e ataques aéreos, bem como a possibilidade de agarrar adversários ao contactar fisicamente com eles, podendo depois atingi-los ou arremessá-los.

Quaisquer semelhanças com Golden Axe são uma mera coincidência!

A utilização de magias está associada a uma barra de energia que cresce automaticamente através de cinco níveis, cada um correspondente a uma magia distinta e de potência crescente, afectando todos os inimigos no ecrã. A primeira invoca uma caveira gigante que suga parte da vida dos inimigos, a segunda convoca um vento forte que inverte temporariamente o cenário, derrubando os adversários, a terceira chama um ciclone que os arrasta, a quarta abre um poço de gravidade que os esmaga e, finalmente, a quinta invoca um dragão que cospe fogo, lembrando bastante um ataque típico de Golden Axe. No entanto, estas magias não podem ser utilizadas durante os confrontos contra bosses, o que significa que qualquer energia acumulada até esse momento se perde de imediato, o que é algo frustrante.

A história é narrada por uma série de sequências animadas ao estilo anime dos anos 90 e narradas, pela primeira vez nesta versão, em inglês. É de longe o ponto alto do jogo.

Visualmente, este jogo deixou-me algo desiludido, sobretudo nos níveis em si. Os cenários são pobres tanto em cor como em detalhe, tirando pouco proveito das capacidades de parallax scrolling que os sistemas de 16 bits da Sega tão bem oferecem. As sprites são, por vezes, desinspiradas e com animações fracas, o que é difícil de ignorar sabendo que, em 1993, já existiam beat ’em ups bem mais apelativos graficamente nas consolas Sega, e que este título, sendo exclusivo de Mega CD, não sofria das limitações de armazenamento de um cartucho. A Mega CD fornece ainda algumas funcionalidades adicionais de manipulação de sprites, que acabam aqui por ser utilizadas nas magias, mas mesmo aí os resultados são irregulares. O ciclone é um bom exemplo: enquanto a distorção das sprites arrastadas pelo vento está interessante e convincente, a sprite estática do ciclone em si contrasta muito e deixa a desejar.

Se por um lado capricharam bem nas cenas animadas, infelizmente os gráficos do jogo em si não são grande coisa, pecando pelos cenários algo estáticos e fracas animações das personagens

Por outro lado, tal como acontecia na versão Mega CD do Earnest Evans, existem aqui várias sequências animadas entre níveis e essas estão bastante sólidas, apresentando uma estética de anime dos anos 90 com boa expressividade. O lançamento japonês incluía narração em japonês e esta edição da Limited Run Games traz novas dobragens para inglês. A qualidade do voice acting, não sendo brilhante, cumpre com o que se esperaria de um jogo de 1993 e, no geral, está competente. A verdadeira falha está noutros elementos que ficaram intactos. O ecrã título, algumas legendas de cut-scenes, a música de abertura e até os créditos permanecem exclusivamente em japonês. Quanto à banda sonora, esta mantém a energia que já caracterizava os restantes títulos da série e é bastante agradável.

As magias tiram proveito das capacidades de manipulação de sprites que o hardware da Mega CD introduz, mas infelizmente nem sempre aproveitadas da melhor forma. A sprite estática desta espiral contrasta bastante com os restantes efeitos gráficos.

No final, Annet Returns deixa-me com sentimentos mistos. Por um lado, é óptimo ver a Limited Run Games apostar na recuperação e preservação deste tipo de catálogo, sobretudo com um relançamento em formato original para a Mega CD tantos anos depois. Por outro lado, a localização poderia ter ido mais longe, já que parte do conteúdo continua inacessível para quem não entende japonês. Quanto ao jogo em si, saí algo desiludido. Sabia que era um beat ’em up e pelas imagens esperava algo mais elaborado. Contudo, a jogabilidade é pobre e o grafismo dos níveis fica abaixo do que seria expectável num jogo deste sistema. Fica a ideia de que a Wolfteam dedicou a fatia maior do orçamento às sequências animadas, deixando o jogo propriamente dito com pouco refinamento.

Para quem tiver curiosidade em experimentar a série e não dispuser de uma Mega Drive ou Mega CD, ou simplesmente preferir uma alternativa mais económica aos relançamentos e aos originais, a Edia, actual detentora dos direitos, anunciou uma colectânea para a Nintendo Switch contendo os três jogos, prevista para o final deste ano. Para já terá lançamento físico apenas no Japão, mas atendendo ao que aconteceu com as colectâneas de Valis ou Cosmic Fantasy, é bastante provável que a Limited Run Games assegure também uma edição física em inglês.

Earnest Evans (Sega Mega Drive)

Finalmente de volta ao blogue, que o tempo livre para jogar tem sido escasso nos últimos tempos. Hoje trago-vos mais um título da Wolfteam, cujo lançamento original sempre nos escapou a nós, meros europeus. Earnest Evans é, na verdade, o segundo capítulo de uma trilogia iniciada com El Viento, jogo que já analisei por aqui no passado. Tal como o seu predecessor, Earnest Evans prepara-se agora para receber um relançamento na Mega Drive, desta vez pelas mãos da Limited Run Games. Enquanto a conhecida publisher norte-americana não der início a operações oficiais na Europa, tenho-me contido bastante nas compras, pois mesmo que um jogo base custe apenas 35 dólares, os portes de envio e as respectivas taxas aduaneiras fazem disparar o custo final para qualquer comprador europeu. No caso dos lançamentos físicos para a Mega Drive, o preço tende ainda a ser mais elevado, o que agrava ainda mais a situação. Dado que a versão japonesa de Earnest Evans para a Mega CD é bastante acessível, comecei por procurar alternativas na Vinted, até que me deparei com esta versão para a Mega Drive a um preço bastante convidativo. Infelizmente, trata-se de um exemplar proveniente de um vídeoclube, pois a capa e manuais estão cobertas de alguns autocolantes algo incómodos. A capa não parecia original, mas depois de ver alguns outros exemplares com os mesmos defeitos no corte da mesma, devo estar perante algum misprint. Ainda assim, pelo valor que paguei, não me posso queixar muito.

Jogo com caixa e manual

A história do jogo é confusa, pois houve claramente algo que se perdeu aquando da localização para inglês. O manual da versão Genesis indica que a acção decorre algures nos anos 80, mas Earnest Evans é, na realidade, uma prequela de El Viento, situando-se algures nos anos 20 ou 30. Não só por certos elementos visuais sugerirem que tudo se passa na primeira metade do século XX, mas também porque Annet Futabi, protagonista de El Viento, é aqui uma personagem que acabamos por resgatar. Independentemente destas incongruências causadas pela localização para o Ocidente, o que importa reter é que controlamos um wannabe de Indiana Jones, já que Earnest Evans é igualmente um aventureiro armado com um chicote, elemento central da jogabilidade. O objectivo? Travar os esforços de uma organização misteriosa que planeia ressuscitar uma entidade maligna inspirada nas obras de H.P. Lovecraft.

Desde miúdo que a introdução deste jogo me impressionava pelas suas cenas anime. Pena que quando o jogo começava o encanto ia embora.

O que salta logo à vista mal começamos a jogar é a forma estranha como controlamos o protagonista. Ao contrário do habitual, Earnest Evans não é representado por uma única sprite, mas sim por um conjunto de sprites articuladas. Trata-se de um efeito gráfico que empresas como a Treasure conseguiram implementar de forma impressionante nos bosses de Gunstar Heroes, mas que aqui acaba por não ter o mesmo resultado prático. Na verdade, Earnest Evans assemelha-se mais a uma marioneta, tal é a forma contra-natura como se movimenta. E o facto de nos podermos deslocar de pé, de cócoras ou a rastejar (utilizando os botões direccionais para cima e para baixo para alternar entre posturas) complica ainda mais as coisas. É bastante comum carregarmos inadvertidamente no direccional para baixo e vermos o protagonista cair e dar uma cambalhota sobre si próprio! O botão B serve para saltar, o A para atacar e o C para alternar entre as diferentes armas que vamos descobrindo. No entanto, a forma como usamos o chicote (também ele composto por várias sprites pequenas) é bastante obtusa, e a mecânica de detecção de colisões deixa muito a desejar. É um jogo com controlos francamente maus, ao ponto de se tornar hilariante. Algo de que nos apercebemos desde cedo é que o protagonista não tem quaisquer frames de invencibilidade após sofrer dano. Ou seja, enquanto tivermos um inimigo em contacto directo connosco, iremos sofrer dano de forma contínua, o que facilmente nos pode fazer perder vidas. Por isso, itens como comida, que regeneram a barra de vida, tornam-se particularmente preciosos!

Pena mesmo que as animações e controlos sejam maus que o jogo até tem alguns momentos bonitos

Earnest Evans foi também um dos primeiros jogos que experimentei através de emulação, algures em 1999. A cena inicial, com animações ao estilo anime, deixava-me de água na boca, mas esse entusiasmo inicial era rapidamente deitado por terra assim que o jogo começava, precisamente por causa das animações bizarras do protagonista e do seu chicote. Muitos dos inimigos surgem igualmente no ecrã como uma amálgama de sprites interligadas entre si, com resultados algo mistos, já que os inimigos humanos partilham as mesmas animações de marioneta ou boneco de trapos. Os níveis até apresentam alguns efeitos gráficos interessantes, como múltiplas camadas de parallax scrolling (particularmente nos cenários exteriores) ou bonitos efeitos de zoom em sprites. No entanto, o mau design dos inimigos e personagens, aliado a uma paleta de cores demasiado escura (algo bastante comum na Mega Drive), acaba por deitar tudo isso a perder. Além disso, quando existem demasiados inimigos no ecrã, a acção abranda notoriamente, revelando problemas de performance que ocasionalmente afectam a experiência de jogo. Por outro lado, a banda sonora é excelente, repleta de faixas enérgicas que tiram bom proveito do chip FM incluído na máquina de 16 bits da Sega.

Ocasionalmente poderemos encontrar outras armas mas as suas animações não são propriamente melhores

Este Earnest Evans é, portanto, um jogo interessante, mas não necessariamente pelas melhores razões. Até aprecio o conceito por detrás da aventura, mas a verdade é que apresenta problemas de jogabilidade bastante graves. Para além desta versão para a Mega Drive, o jogo foi lançado no Japão unicamente para a Mega CD. Pelo que apurei, a versão Mega CD é idêntica em termos de conteúdo, com excepção da banda sonora, que passa a estar em formato CD audio, e da inclusão de inúmeras cutscenes entre níveis, que ajudam a narrar melhor a história que o jogo tenta apresentar. Curioso também pelo jogo que encerra a trilogia: Anetto Futatabi, que me parece ser muito difernete dos anteriores. O meu exemplar da Limited Run Games já está encomendado!

El Viento (Sega Mega Drive)

Adoro o que a retro-bit tem vindo a fazer ultimamente com jogos de Mega Drive. De alguma forma eles conseguiram obter os direitos de certos jogos que a norte-americana Renovation lançou nos Estados Unidos, sendo que a esmagadora maioria desses títulos lá lançados por eles são jogos que nunca chegaram cá à Europa e, pelo menos até agora, têm escolhido bem o que relançar. Foi assim com os Valis, Gaiares e mais recentemente este El Viento. Desenvolvido pela Wolfteam, este El Viento é o primeiro de uma trilogia de jogos que também se incluem o Earnest Evans e Anetto Futatabi, este último exclusivo de Mega CD em solo japonês. O meu exemplar foi comprado na loja Xtralife, tendo-me chegado às mãos algures no passado mês de Janeiro.

Jogo com sleeve exterior de cartão, manual a cores e certificado. Relançamento da retro-bit.

A história coloca-nos no papel de Annet Myer, uma feiticeira que está no encalço de um misterioso culto que procura reviver uma divindade qualquer diabólica, Hastur. Aparentemente sim, é o mesmo Hastur do universo de Cthullu de H.P. Lovecraft. Annet e Restiana são descendentes de Hastur, mas Restianna é uma das vilãs, enquanto que Annet está do lado da raça humana e o jogo vai-nos providenciar toda uma série de cutscenes que ilustram o progresso da história, que decorre algures nos anos 20 (1920) nos Estados Unidos, onde iremos percorrer toda uma série de locais conhecidos.

O culto está a ser ajudado por uma organização mafiosa. Na versão original nipónica, este Vincente é nada mais nada menos que o Al Capone

No que diz respeito à jogabilidade, este é um jogo de acção 2D sidescroller com alguns elementos de plataformas também. O direccional serve para Annet se mover enquanto que o botão B salta (pressionando baixo e B fazemos um slide que também nos permite atravessar precipícios pequenos). O botão A serve para despoletar o nosso ataque principal, que são uma série de bumerangues atirados por Annet. Felizmente podemos atirar bastantes destes bumerangues em simultâneo e por vezes poderemos até encontrar alguns power ups que lhes dão algum movimento teleguiado para inimigos perto da sua trajectória. O botão C serve então para despoletar ataques mágicos, cujos vão consumindo uma barra de magia sempre que são executados e que se vai regenerando rapidamente quando não os utilizamos. O primeiro ataque mágico que desbloqueamos são bolas de fogo, seguindo-se uma serpente de água que atravessa o ecrã à superfície de onde a lançamos, passando por uma onda de ar capaz de causar dano com uma amplitude vertical considerável, ou bolas de fogo que explodem quando entram em contacto com algum inimigo. Por fim, o último ataque mágico que desbloqueamos são projécteis teleguiados que vão sendo disparados automaticamente ao longo de vários segundos. Para usar todos estes feitiços teremos no entanto de manter o botão C pressionado o suficiente para a selecção ir “rodando”. No entanto essa selecção não volta ao início enquanto não largarmos o botão (e assim despoletar o ataque seleccionado no momento), o que às vezes irrita um pouco.

Alguns bosses possuem um design bastante interessante, como é o caso desta criatura gelatinosa. Os seus pontos vulneráveis estão, naturalmente, dentro da gelatina.

Este não é apenas um jogo puramente de acção, pois à medida em que vamos atravessando os seus variados níveis vamos também encontrar vários desafios de platforming algo exigentes ou até algumas alturas onde teremos de utilizar alguns destes poderes para conseguir avançar no jogo e abrir caminho. No final de cada nível temos também um boss para enfrentar e estes tipicamente até que têm uma barra de vida consideravelmente larga. O último nível é um salto de dificuldade bastante grande, pois iremos constantemente ser atacados por pequenos morcegos que surgem constantemente em grande número e são bastante agressivos.

Não sei o que é que andar nas costas de um golfinho tem a ver com evitar a invocação de uma divindade demoníaca, mas a Wolfteam saberá certamente.

A nível audiovisual sinceramente acho o jogo um bocado fraco. É verdade que há uma grande variedade de níveis pois tanto atravessamos cidades norte-americanas dos anos 20, como passamos pelo famoso monte Rushmore, outros níveis passados em montanhas, cavernas ou desfiladeiros (como o Grand Canyon), culminando no Empire State Building que aparentemente estava ainda em construção. Um dos níveis é passado em Detroit, outrora o motor da construção automóvel Norte-Americana, pelo que o nível é passado… numa fábrica de carros! Mas tirando algum efeito gráfico interessante que vai surgindo aqui e ali, considero os gráficos deste jogo no geral como algo fracos. Há qualquer coisa no design dos níveis que não me agrada, mas isto é algo bastante comum nos jogos da Wolfteam nas consolas da Sega. Por outro lado alguns dos bosses estão muito interessantes. Entre cada nível teremos também toda uma série de cut-scenes (na verdade uma colecção de imagens algo estáticas) todas no estilo anime e que vão contando a história. A imagem que nos apresentam no final do último boss é um pouco desconcertante, no bom sentido, pelo menos para mim! De resto a banda sonora acho que até é bastante agradável, já os efeitos sonoros nem por isso.

Portanto este El Viento até que se revelou uma surpresa interessante. Não é um jogo muito bom, longe disso, mas é suficientemente original e interessante para me ter despertado o interesse. Fico ainda mais curioso para voltar jogar no o Earnest Evans, que já havia jogado em emulação há cerca de 25 anos atrás e ficou-me na memória como uma experiência bastante desagradável. Pode ser que a retro-bit o relance em breve!

Jinmu Denshou (PC Engine)

Space Harrier. Uma obra prima da Sega e de Yu Suzuki, lançada originalmente nas arcades em 1985. Em virtude de utilizar a tecnologia super scaler, que permitia redimensionar de forma fluída, o tamanho de sprites em frame rates elevados, tornou-se uma tecnologia muito utilizada para simular um efeito tri-dimensional em jogos de corrida (como Hang-On ou Out-Run) ou de acção, como foi o caso do Space Harrier ou After Burner. O sucesso de Space Harrier nas arcades fez com que vários clones começassem a surgir, inclusivamente em sistemas domésticos, como é o caso deste Jinmu Denshou, desenvolvido pela Wolfteam exclusivamente para a PC-Engine. O meu exemplar veio de uma loja francesa e custou-me cerca de 12€ no passado mês de Abril.

Jogo com caixa e manual embutido com a capa

Neste jogo, em vez de viajarmos pela Fantasy Zone e munidos de um jetpack e um canhão, vamos explorar um outro mundo fantasioso com várias inspirações retiradas do Japão tradicional, até porque controlamos um Samurai apenas munido de uma espada. Os controlos são simples, com o d-pad a controlar a nossa personagem pelo ecrã (e ao contrário de Space Harrier é possível abrandar e até voltar para trás, ao manter o botão baixo pressionado) e os botões faciais a serem usados para saltar ou atacar. Infelizmente, visto que a PC-Engine não possui nenhum hardware que facilite o sprite scaling, a acção não é tão fluída como na versão arcade do Space Harrier. E isto traz-nos diversos problemas. O primeiro é o facto de ser difícil avaliar qual a real distância entre os inimigos/projécteis/obstáculos e a nossa personagem. Visto que apenas usamos uma espada para atacar, significa que apenas causamos dano nos inimigos quando já estamos demasiado próximos dos mesmos, o que é bastante perigoso. O segundo é que ocasionalmente temos também alguns segmentos de plataformas que acabam por se revelar bastante frustrantes pelas mesmas razões.

Como clone de Space Harrier, visualmente o jogo não é nada mau, embora o movimento dos inimigos não seja tão fluído quanto isso o que também não ajuda

Felizmente temos uma barra de vida que até é consideravelmente extensa, embora este seja um jogo em que seja muito fácil sofrer bastante dano em pouco tempo. Felizmente também, vamos poder encontrar alguns power ups espalhados pelos níveis. Uns podem regenerar parte da nossa barra de vida, outros podem ser power ups para a espada, que já nos permitem disparar alguns projécteis e assim atacar os inimigos com mais segurança. No entanto, se sofrermos muito dano, perdemos o power up, voltando novamente a ter apenas a espada simples para atacar. Infelizmente, no entanto, também temos power ups maus, que nos retiram vida, poder de fogo ou até nos podem mandar para trás no nível, o que é sempre frustrante. Uma outra mecânica de jogo é a de, ao manter o botão de ataque pressionado, vamos carregando um ataque mais poderoso, mas o problema é que a barra de energia com que carregamos esse ataque, é a mesma barra de vida. Ou seja, quanto menos vida tivermos, mais fraco será esse ataque, o que é outra das razões para tornar um jogo difícil ainda mais difícil. Já para não dizer que os bosses são autênticas esponjas de dano!

O primeiro boss faz lembrar bastante o primeiro do Space Harrier por ser um dragão/serpente composto por múltiplas sprites

Graficamente é um jogo OK tendo em conta o hardware em que corre, sem qualquer suporte nativo a parallax scrolling e sprite scaling. A sua fluidez é sem dúvida melhor que o Space Harrier da Master System e o jogo possui uns visuais muito inspirados no Japão tradicional como já referi. Para além de controlarmos um samurai, os inimigos que temos de enfrentar são tipicamente outros ninjas ou criaturas mitológicas nipónicas. O detalhe dos níveis também vão sendo algo variado. Por vezes temos o solo e/ou céu/tecto às riscas, mesmo à moda do Space Harrier, mas também podemos ter outros cenários de fundo como montanhas ou florestas. As músicas por outro lado são bastante agradáveis, já os efeitos sonoros sinceramente não os achei nada de especial.

Como temos apenas uma vida para passar cada nível, esta vai ser uma mensagem que vamos ver vezes sem conta. Ao menos o jogo possui um sistema de passwords.

Portanto este Jinmu Denshou, para um clone de Space Harrier até tem algumas boas ideias. A possibilidade de abrandar, parar e andar para trás é benvinda e nalgumas situações até dá bastante jeito, quanto mais não seja para tentar apanhar algum power up perdido. No entanto é um jogo incrivelmente difícil pelo facto de muito rapidamente sofremos dano por não ser muito fácil calcular a distância a que os inimigos estão de nós. E munidos de uma espada, sem qualquer power up, obriga-nos mesmo a combater próximo dos inimigos, o que é um grande risco. Os segmentos de platforming são também bastante frustrantes, assim como os bosses que demoram uma eternidade a morrer. É uma pena!

Tales of Phantasia (Nintendo Gameboy Advance)

Tales of Phantasia, produzido pela Wolfteam que até à data tinha lançado muitos jogos (se bem que de qualidade algo questionável) para as consolas da Sega, foi um dos RPGs tecnicamente mais impressionantes lançado para a Super Nintendo. É o primeiro jogo da já longa saga Tales of da Namco e, apesar de ter recebido uma conversão para a Playstation em 1998, tivemos de esperar por esta segunda conversão para a Gameboy Advance para finalmente o receber de forma oficial no ocidente. O meu exemplar veio da Cash Converters algures em Outubro de 2018, creio que me custou uns 18€.

Jogo com caixa, manual e papelada

Após uma cutscene inicial que nos mostra alguns eventos que inicialmente não entendemos bem o que se tratam, o jogo leva-nos à pequena vila de Toltus, onde conhecemos as primeiras personagens que controlamos, o espadachim Cress e o arqueiro Chester. Após terem saído da sua aldeia para caçar qualquer coisa, quando voltam deparam-se com um cenário atroz: a aldeia foi completamente dizimada e todos os seus habitantes, incluindo as suas famílias, foram assassinados. Eventualmente ambos acabam também por serem feitos prisioneiros e é na prisão que conhecem Mint, uma rapariga com poderes mágicos de cura. Eventualmente escapam, defrontam os seus captores e é aí que nos apercebemos do verdadeiro vilão de todo o restante jogo: o poderoso feiticeiro Dhaos, que havia sido selado anteriormente na tal cutscene inicial. Uma vez libertado, Cress, Chester e Mint são transportados numa viagem pelo tempo para o passado, para que possam defrontar Dhaos nessa altura. É aqui que vamos poder explorar a maior parte do mapa, repleto de cidades e pequenas outras localizações e eventualmente também iremos conhecer as restantes personagens que nos irão acompanhar: o summoner Claus e a bruxa Arche. A versão Gameboy Advance inclui uma outra personagem jogável, a jovem ninja Suzu, que poderá ser desbloqueável já relativamente perto do final do jogo.

A fase inicial da história até que é bem dramática

A jogabilidade é bastante distinta dos outros RPGs que haviam sido lançados até então (estou naturalmente a referir-me à versão original), principalmente pelo seu sistema de batalha. Os confrontos são aleatórios, mas as batalhas são bastante dinâmicas. Em real time controlamos apenas o Cress, que o podemos mover livremente pelo campo de batalha e assignar uma série de botões para alguns golpes específicos, quase como se um jogo de luta se tratasse. As restantes personagens da nossa party podem ser controladas automaticamente (cujo comportamento da IA é ajustável para optarem por posturas mais defensivas, ofensivas, suporte, etc) ou, ao entrar no menu de pausa, já poderemos dar ordens mais específicas a cada uma das personagens, nomeadamente escolher ao certo a skill a usar, ou algum dos itens do inventário. De resto, apesar das personagens ganharem experiência no final de cada combate, nem todas vão ganhando skills novas com experiência. Para a Arche e Suzu aprenderem novas skills teremos de encontrar livros que lhes ensinem esses golpes novos, já o Cress aprende alguns com experiência, outros também têm de ser aprendidos através de skill books. No caso do Claus temos de formar pactos com diferentes espíritos, que precisam de uma série de anéis coloridos para o efeito.

Ao longo da aventura teremos inúmeras localidades para explorar e muitos NPCs com quem interagir. Até completos estranhos.

Para além deste inovador sistema de batalha, o jogo inclui também uma série de outras funcionalidades como um sistema de crafting que nos permite cozinhar comida a partir de ingredientes e regenerar parcialmente a nossa barra de vida, mana e/ou curar certos estados. À medida que vamos progredindo no jogo e completar alguns eventos vamos também ganhando títulos novos para cada personagem. Poderemos optar que títulos usar a qualquer momento no menu, mas sinceramente não percebi quais as implicações que isso tem na jogabilidade, se é que tem algumas. De resto, apenas sinto a falta de habilidades que nos permitem teletransportar entre localidades ou sair das dungeons. As dungeons tipicamente possuem alguns puzzles que teremos de ultrapassar e há algumas bastante complexas, que no final do confronto com o boss teremos de as percorrer novamente no seu sentido inverso.

Até que gostei mais do visual anime super deformed que vemos nas batalhas!

No que diz respeito aos audiovisuais, esta conversão da Gameboy Advance vai buscar algumas coisas do original de SNES e outras da versão PS1, mas infelizmente o resultado não é o melhor. A versão SNES foi a que joguei originalmente através de emulação e de um patch de tradução para inglês, já há largos anos atrás. Essa versão era tecnicamente impressionante, pela quantidade de vozes disponíveis, bem como uma música de abertura com instrumentos e vozes reais, que acabou por ser substituída por uma cutscene anime na versão PS1. Aqui não tivemos nem uma coisa nem outra. Os gráficos são muito semelhantes à versão SNES, desde o mapa mundo em mode 7, passando pelas cidades e localidades com gráficos 2D com um bom nível de detalhe. As sprites 2D do ecrã das batalhas foram alterados em função da versão PS1, que inclui as personagens e inimigos com um look bem mais anime. Sinceramente até gostei desta mudança, mas os gráficos no geral parecem-me ter cores um pouco mais deslavadas quando comparados com as versões SNES e PS1, mas pode ser apenas impressão minha. No que diz respeito ao som e apesar de termos aqui algumas vozes, elas soam todas muito abafadas. As músicas apesar de agradáveis também não soam tão bem quanto a versão original da SNES, mas isso também é culpa da SNES ter um chip de som bem avançado para a época.

O ecrã de batalha por vezes fica bastante ocupado e isso nota-se um pouco na performance

Portanto cá está o primeiro Tales. Foi um jogo inovador pelo seu sistema de batalha e a sua história até que é consideravelmente longa e usa o conceito de viagens no tempo que aparentemente até era algo que estava em voga na altura (olá Chrono Trigger). O seu sistema de batalha é uma fórmula de sucesso, pois foram sendo lançados inúmeros outros Tales ao longo dos anos, que foram aprimorando a sua fórmula. Infelizmente nem todos saíram no ocidente, muito menos na Europa, a começar pela sua primeira sequela, o Tales of Destiny da Playstation que se ficou pelos Estados Unidos e atinge preços proibitivos no mercado actual. Eu tenho andado a evitar jogar os Tales porque queria jogar o Tales of Destiny antes de avançar para os restantes, mas neste caso acho que vou mesmo dispensá-lo e avançar para o Legendia. Veremos.