Valis: The Fantasm Soldier Collection II (Nintendo Switch)

Depois da Edia ter lançado a primeira colectânea da série Valis, não perdeu muito tempo a anunciar um segundo volume. Afinal, o primeiro incluía apenas os três primeiros jogos da saga, nas suas versões para PC Engine CD, quando ainda havia uma outra sequela a considerar, bem como variantes para outros sistemas. Este segundo volume inclui o tão aguardado Valis IV, também na sua versão PC Engine CD, Syd of Valis para a Mega Drive, e duas versões distintas do primeiro Valis: a da Mega Drive e a original de MSX, datada de 1986. Tal como acontecera com o volume anterior, a Limited Run Games publicou uma versão física desta colectânea, localizada para inglês, e o meu exemplar deu entrada na colecção algures em Junho do passado ano de 2023.

Jogo com caixa e um pequeno livrete com informações genéricas da série. No primeiro volume vinha com uma interessante entrevista!

Tendo em conta que já cá deixei no passado a minha opinião acerca do Valis de Mega Drive e Syd of Valis, este artigo irá focar-se então nos restantes dois títulos presentes nesta compilação. E, para fechar a saga na PC Engine CD, vamos começar pelo Valis IV, lançado originalmente no ano de 1991. E as coisas começam logo com outras protagonistas, visto que Yuko desapareceu após os eventos do jogo antecessor. A personagem principal é mais uma jovem rapariga, agora chamada Lena, que se prepara para lutar, uma vez mais, contra forças demoníacas que anseiam conquistar o mundo. Tal como no Valis III, no entanto, iremos ter outras personagens que se juntam a nós na aventura, a começar por Amu (irmã de Lena) e Asfal (um demónio, e pai do vilão), que também pretende colocar um fim nos planos apocalípticos lançados pelo seu filho.

Os jogos presentes neste volume

No que diz respeito à jogabilidade, este continua a ser um jogo de acção 2D sidescroller, herdando os controlos básicos dos lançamentos anteriores, com Lena a manter o mesmo tipo de habilidades de Yuko, nomeadamente o seu slide. Já Amu é a única personagem capaz de executar saltos duplos, enquanto Asfal consegue atravessar certos obstáculos, como espinhos ou barreiras de energia, sem sofrer dano. Para além disso, Asfal, sendo grande e pesado, consegue andar sobre superfícies escorregadias sem qualquer problema. Cada personagem possui uma arma distinta: Lena, tal como Yuko, empunha uma espada capaz de disparar projécteis; Amu ataca com uma espécie de bumerangue; e Asfal utiliza um bastão mágico que dispara cabeças de lobo gigantes, lançadas em arco e que percorrem depois a superfície. São ataques poderosos, embora infelizmente algo inúteis contra alvos aéreos. O facto de as três personagens se jogarem agora de forma bastante distinta obriga-nos a trocar frequentemente entre elas, já que haverá várias secções onde o slide de Lena, o duplo salto de Amu ou a invulnerabilidade de Asfal contra certos obstáculos serão mesmo necessários para progredir. O jogo herda, no entanto, uma mecânica algo aborrecida do seu antecessor directo: sempre que entramos num confronto contra um boss, ficamos presos à personagem que havíamos escolhido imediatamente antes do combate, o que pode ser algo chato.

O sistema de magia do Valis IV é algo diferente. A barra de magia é agora a de WP (weapon-power), sendo esvaziada de cada vez que executamos uma magia ou sofremos dano

O sistema de magias foi agora algo simplificado, com cada personagem ter ao seu dispor uma única magia, distinta entre as personagens. A barra de magia é partilhada entre todas as personagens e funciona da seguinte forma: começamos com essa barra parcialmente preenchida e sempre que a utilizamos, ou sofremos dano, a mesma volta a zero. Eventualmente poderemos apanhar power-ups que nos extendam a barra de magia até um nível máximo e quando essa está no máximo, podemos desencadear um poderoso ataque capaz de causar dano em todos os inimigos no ecrã, no entanto, a barra de magia regride e o seu nível máximo volta a ser menor, pelo que deveremos procurar outro desses power-ups para a voltar a expandir. De resto, ao longo da aventura podemos também encontrar outros itens que nos melhorem o poder de ataque das armas, regenerem a nossa barra de vida, vidas extra ou até invencibilidade temporária.

Tal como nos outros títulos cá trazidos, as cenas animadas são narradas com vozes em japonês, porém com legendas em inglês.

No que diz respeito aos audiovisuais, nota-se que a Telenet Japan e a Laser Soft fizeram um grande esforço em trazer uma apresentação de alta qualidade. Os níveis são longos e variados, levando-nos a diversos tipos de paisagens, como as cidades em ruínas do planeta Terra, cavernas e templos do mundo de Vecanti, entre outros locais mais singulares. As personagens e inimigos sãosprites consideravelmente grandes, bem detalhadas e animadas, e há um esforço notório na apresentação dos níveis, com alguns efeitos de parallax scrolling aqui e ali, relembrando que a PC Engine não suporta nativamente tal efeito, pelo que é sempre um pequeno motivo de celebração quando os vemos. Tal como os restantes títulos da série, este também inclui frequentes cenas animadas num estilo anime, todas todas muito bem detalhadas e com uma narrativa um pouco mais complexa do que nos seus antecessores: a parada nunca esteve tão alta! A acompanhar essas cenas, estão também diálogos com vozes em japonês (traduzidas para legendas nesta versão), e a banda sonora é igualmente bastante agradável, como tem sido habitual. Sendo este um lançamento de PC Engine CD, as músicas estão em formato áudio CD.

Os controlos podem ser adaptados e certas acções, que no comando original da PC-Engine, requerem 2 botões em simultâneo, podem ser mapeados para um único botão. Ter um botão dedicado ao slide ou magias é muito melhor!

Portanto, Valis IV é uma excelente forma de fechar a série Valis, que nunca mais recebeu nenhum outro jogo da sua linha principal. A PC Engine CD ainda recebe, no ano seguinte, uma adaptação do primeiro Valis, já mencionada na colectânea anterior. Existe também uma versão para Super Nintendo deste jogo, que a Edia decidiu incluir numa outra compilação, e que tenciono jogar futuramente.

As adaptações dos manuais originais para inglês, se bem que de forma algo simplificada, são um detalhe delicioso nesta compilação!

Falta-me então abordar o Valis de MSX, aquele que supostamente foi o lançamento original de toda a série, lançado algures no final de Novembro de 1986. No mês seguinte, seguiram-se versões para outros computadores nipónicos, como o NEC PC-88, o Sharp X1 e, posteriormente, adaptações para o Fujitsu FM-7 e NEC PC-98. A minha curiosidade em jogar esta versão era bastante elevada, pois sempre me habituei aos Valis de Mega Drive (e mais tarde os de PC Engine), que por sua vez já se apresentavam como experiências mais modernas, tendo em conta o contexto dos anos 90. E de facto, este primeiro Valis é um jogo duro de pegar nos dias de hoje. A nível de mecânicas há diferenças notáveis. Apesar de se tratar igualmente de um sidescroller 2D de acção, foram introduzidos alguns conceitos de RPG. Ao derrotar os inúmeros inimigos, estes largam ocasionalmente esferas coloridas que podem ser recolhidas. Estas servem tanto para restabelecer como para aumentar a nossa barra de vida, que, a cada 100 unidades, recomeça do zero, fazendo-nos subir um nível. Por outro lado, ao sofrermos dano, podemos regredir nos níveis acumulados — e sofrer dano é, infelizmente, demasiado fácil. Os inimigos surgem continuamente no ecrã, e como as suas sprites são bastante simples, é comum que os mesmos (ou os seus projécteis) acabem por passar despercebidos no meio da acção. E depois, este é um daqueles jogos em que a Yuko não tem frames de invencibilidade, recebendo dano de forma contínua enquanto não sair da zona de perigo. Portanto, o primeiro conselho que posso dar é mesmo o de procurar alguns locais mais sossegados do mapa, com menos inimigos, e perder uns valentes minutos a combater para subir de nível, de forma a obtermos uma barra de vida mais robusta. No que toca à jogabilidade, os saltos continuam algo rígidos, e embora a Yuko possua a habilidade de duplo salto, a sua execução deixa bastante a desejar.

Bastante jeito deu a adaptação do manual do Valis de MSX!

No que diz respeito aos restantes itens coleccionáveis, Yuko pode equipar itens ofensivos e defensivos. Os primeiros são upgrades para as suas armas, permitindo-nos começar a disparar projécteis com a sua espada, ou até lançar múltiplos projécteis em simultâneo, por vezes em direcções distintas, consoante o item que coleccionamos. No entanto, equipar estes itens tem um custo, algo que acabamos por descobrir de forma algo acidental. Cada um dos itens ofensivos consome um certo número de níveis, ou pontos de vida, ao ser activado. Ainda assim, a sua utilização é fortemente recomendada, mesmo que depois tenhamos de investir mais algum tempo a voltar a evoluir a personagem. Os itens defensivos, como diferentes armaduras, reduzem a quantidade de dano sofrido por Yuko. Para além disso, existem também outros itens espalhados pelos níveis que nos podem trazer certos benefícios, como objectos que destroem todos os inimigos presentes no ecrã, conferem invencibilidade temporária ou, pelo contrário, funcionam como armadilhas. Há, por exemplo, um item que torna todos os inimigos super poderosos durante algum tempo, sendo por isso algo que devemos evitar a todo o custo.

Visualmente o jogo está bastante interessante, tendo em conta que é um título de MSX1, no entanto os inimigos são bastante numerosos, agressivos e monocromáticos, podendo-se camuflar bastante com os cenários, particularmente nos níveis seguintes

Passando agora à parte gráfica, devemos primeiro assentar a ideia de que o jogo corre num sistema MSX, cuja tecnologia do início dos anos 80 não suporta, de forma nativa, scrolling, algo amplamente utilizado por jogos de acção que começaram a ganhar popularidade a partir da segunda metade da década. Apesar de se notarem algumas quebras no framerate, esta versão de Valis consegue apresentar um scrolling relativamente convincente, o que é sempre digno de louvor do ponto de vista técnico nesta plataforma. O primeiro nível, com cenários urbanos, está especialmente bem detalhado e colorido, e o mesmo pode ser dito da sprite de Yuko. No entanto, todos os inimigos e respectivos projécteis são renderizados com sprites monocromáticas, que facilmente se confundem com os cenários, sobretudo nos níveis seguintes, cujos visuais já não são tão interessantes como os do primeiro. Para além disso, os níveis são bastante grandes e com um design algo labiríntico, o que se tornou característico em muitos jogos de acção oriundos do mundo dos computadores dos anos 80 e início dos 90, embora essa confusão seja atenuada com uma seta no canto inferior direito do ecrã que indica a direcção da saída. Tudo isto, aliado ao facto de os inimigos serem bastante agressivos e numerosos, torna esta uma experiência particularmente frustrante, onde volto a salientar a necessidade constante de se fazer algum grinding para manter uma barra de vida suficientemente robusta, até porque os bosses também não são fáceis. Já no que diz respeito ao audio, os jogos de MSX apresentam um som muito semelhante ao da Master System, visto que ambos partilham um chip de som parecido. Algumas faixas estão até bastante bem conseguidas tendo em conta o hardware, outras já não tanto. De notar também que esta versão não possui quaisquer cinemáticas, que tornaram a série consideravelmente popular nos lançamentos seguintes.

De resto, em relação à compilação em si, esta traz as mesmas melhorias de qualidade de vida do volume predecessor. Em cada jogo podemos usar save states e um mecanismo de rewind que só peca por nos perguntar constantemente se queremos realmente recuar. Adaptações dos manuais para inglês, seguidas de scans dos originais japoneses e das caixas dos jogos, assim como a banda sonora e todas as cinemáticas presentes nos jogos, podem também ser consultadas. A Edia lançou ainda um terceiro volume desta colectânea, contendo a adaptação de Super Famicom do Valis IV, a versão para Famicom do primeiro Valis e mais algumas edições para computadores nipónicos. Cá estarei para os jogar, algures nas próximas semanas.

Valis: The Fantasm Soldier Collection (Nintendo Switch)

Tempo de voltar agora à Nintendo Switch para o primeiro volume de uma colectânea que atravessa os mais importantes lançamentos da saga Valis, da qual já cá trouxe no passado alguns dos seus (re)lançamentos. Anunciada pela Edia (que havia adquirido os direitos de várias das propriedades intelectuais da extinta Telenet Japan) algures em 2021 para celebrar os 35 anos da série, consistindo nas versões PC Engine dos primeiros 3 jogos da saga. No Japão houve um lançamento físico, enquanto que no resto do mundo se ficou por versões digitais. Pelo menos até 2022, onde a Limited Run Games anunciou um lançamento físico em inglês, que eu acabei por comprar.

Jogo com caixa e um livreto com uma interessante entrevista a um dos criadores dos jogos presentes nesta compilação

Escrever sobre a série Valis é, para mim, uma tarefa algo ingrata, dada a sua longa história de relançamentos em diversas plataformas e o facto de, até há pouco tempo, nenhum dos seus jogos ter sido lançado oficialmente por cá. Apesar de já ter jogado as versões Mega Drive há muitos anos através de emulação, a primeira vez que cá trago algo da série no blogue deu-se através do Syd of Valis, após ter encontrado um cartucho ao acaso numa Cash Converters. Este título, um remake com um estilo artístico super deformed, chegou à Mega Drive após Valis III e após Valis, sendo que este último já era, por si só, um remake. Assim, a ordem de lançamento na Mega Drive foi: Valis III (conversão), Valis (remake) e Valis II (remake). Já na PC Engine CD, a série seguiu outra lógica, com Valis II, Valis III, Valis IV e Valis, mais um remake, distinto da versão Mega Drive. Esta colectânea inclui as versões PC Engine CD dos três primeiros jogos. Confusos? É natural, eu também fico.

Cada jogo nesta compilação inclui uma versão simplificada do manual em inglês, seguindo-se pela versão integral do manual e capas da versão PC Engine CD

Começando pelo primeiro Valis, este foi originalmente lançado em 1986 para uma série de computadores nipónicos, com as versões MSX e PC-88 a serem incluídas em volumes subsequentes desta compilação. No ano seguinte, surgiu uma versão completamente diferente para a Famicom e um remake para a Mega Drive em 1991, ambas também disponíveis noutros volumes desta colectânea. Em 1992 sai uma nova versão para a PC Engine CD, consideravelmente próxima da versão Mega Drive, mas substancialmente diferente também. Em 1992, foi lançada uma nova versão para a PC Engine CD, consideravelmente próxima da versão Mega Drive, mas também substancialmente diferente. Comparando com a versão Mega Drive, a versão PC Engine CD partilha os mesmos cenários de nível, embora a sua construção seja inteiramente distinta. Em termos de mecânicas e controlos, ambas as versões partilham o mesmo sistema de power-ups, embora com algumas ligeiras diferenças nos itens e habilidades que podem ser coleccionados. A versão PC Engine CD, no entanto, apresenta controlos muito mais refinados, começando pelo facto de não ser necessário pressionar cima e o botão de salto para alcançar saltos mais altos. A mecânica de slide também está presente, mas ao contrário da versão Mega Drive, aqui os slides podem ser usados não só para evasão, mas também como ataque.

A versão PC-Engine do primeiro Valis é um remake com notórias melhorias gráficas e a nível de controlo também, embora os níveis sejam supostamente mais lineares que os lançamentos originais de 1986

A nível audiovisual, há também diferenças notórias, principalmente devido ao facto de a versão PC Engine CD ter sido lançada num CD. A banda sonora continua bastante agradável e, apesar de eu apreciar bastante o chiptune da versão Mega Drive, as músicas aqui, gravadas com instrumentos reais, são igualmente apelativas. Esta versão inclui também várias cenas animadas ao estilo anime, mas agora todas acompanhadas de narração em japonês. Por ser um lançamento Super CD-ROM², beneficia da memória RAM extra, resultando em níveis mais detalhados e coloridos, embora perca os efeitos de parallax scrolling da versão Mega Drive.

As cenas animadas, coloridas e cheias de detalhe, sempre foram um dos pontos mais chamativos desta série.

Segue-se Valis II e… que grande recuo senti! Esta versão é nitidamente mais datada, até porque foi originalmente lançada em 1989, ao contrário do remake do primeiro jogo, que saiu em 1992. Os controlos são mais simples, com um botão para saltar e outro para atacar. Temos vários power-ups para a espada de Yuko e magias também, embora estas agora tenham um número limitado de utilizações, ao contrário de estarem agarradas a uma barra de MP. Infelizmente, para as activar, basta pressionar o direccional para cima, o que é muito fácil de fazer acidentalmente, fazendo-nos desperdiçar uma utilização preciosa! É também um jogo bastante linear na construção dos níveis, o que não é necessariamente um problema.

Valis II, sendo um jogo mais antigo, não é tão interessante a nível visual. A jogabilidade é também muito mais simples.

A nível audiovisual, este é o primeiro jogo da Telenet lançado num formato CD e, por ter saído com a tecnologia CD-ROM², não beneficia da memória RAM adicional. As cenas entre níveis possuem, portanto, menor detalhe visual, embora sejam novamente narradas em japonês. O detalhe gráfico dos níveis é também consideravelmente mais simples, o que é comum em lançamentos CD-ROM², pois, com a mesma memória RAM disponível, a PC Engine CD precisa de usar a memória base para renderizar os gráficos e tocar as músicas em formato Redbook Audio do CD. Não é incomum, em jogos de PC Engine com versões HuCard e CD-ROM², a versão CD ter níveis com menos detalhe ou até mais curtos devido a essa limitação. Mas voltando à banda sonora, que está aqui presente em formato CD Audio, é uma mistura entre temas mais rock (que me agradam bastante) e outros mais leves, com melodias sintetizadas, algo que já não me agrada tanto. No entanto, era algo bastante comum na música dos anos 80, pelo que se compreende perfeitamente a sua inclusão.

As cenas são também visualmente menos apelativas, até porque este jogo não requer a expansão de memória introduzida pela tecnologia Super CD-ROM²

Passando finalmente para o Valis III, este já é um jogo bem mais robusto do que os seus antecessores, tanto a nível de design dos níveis, como de controlos e mecânicas de jogo. Foi a primeira vez na série que se implementou um sistema de slide, que serve tanto para nos desviarmos de ataques inimigos e atravessar certas secções dos níveis, como também como ataque adicional. No entanto, regressa também a mecânica de salto alto recorrendo à combinação do botão de salto com o direccional para cima, algo que já não me agrada tanto. A grande novidade está, no entanto, na introdução de diferentes personagens jogáveis. Para além de Yuko, desde cedo desbloqueamos Cham, uma espécie de tributo aos Belmont de Castlevania, pois também usa um chicote como arma. Mais a meio do jogo desbloqueamos ainda Valna, que dispara projécteis mágicos — mais fracos do que os de Yuko, mas com maior alcance e disparados em múltiplas direcções. Tirando alguns momentos específicos em que somos obrigados a usar uma determinada personagem, podemos alternar entre as três usando o botão Run (o botão + no comando da Switch). De regresso estão também as magias, agora apresentadas em diferentes “sabores” elementares, como electricidade, fogo ou gelo. Cada personagem executa essas magias de forma distinta, com padrões de ataque próprios. No caso do gelo, este pode inclusivamente ser usado para congelar inimigos, que por sua vez servem de plataforma, algo que teremos mesmo de fazer num nível em particular.

Ora cá está algo que a Edia alterou deliberadamente no Valis III: no original de PC Engine CD temos um painel publicitário da NEC, fabricante da consola

A nível audiovisual, este é também um título que tira partido da tecnologia Super CD-ROM² e da sua expansão de memória RAM. Isto traduz-se em cenas animadas e níveis com um nível de detalhe bastante superior ao habitual. Esses bons visuais, aliados a um design de níveis bem mais interessante (e uma boa jogabilidade também), tornaram a experiência muito mais cativante! Como nos outros Valis lançados neste sistema, contam-se várias cenas com vozes em japonês e uma banda sonora em formato CD Audio, com temas vibrantes e energéticos, numa toada rock. Algumas até me fizeram lembrar Castlevania!

Agora que já partilhei a minha opinião sobre os jogos presentes nesta compilação, vamos abordar todos os extras que a colectânea inclui. Ao escolher o jogo que queremos experimentar, somos levados a um menu que nos permite começar ou continuar o jogo, consultar um manual digital (que inclui uma versão simplificada e traduzida do original de PC Engine, seguida por scans da versão japonesa na íntegra), ajustar alguns aspectos gráficos e de controlo, assistir aos créditos e aceder a duas galerias distintas. Uma permite-nos ouvir toda a banda sonora, enquanto a outra nos dá acesso a todas as cenas animadas, independentemente do progresso feito em cada jogo. De resto, a novidade mais notória nestas versões é o facto de a narração japonesa estar agora traduzida para inglês, através de legendas. Curiosamente, Valis II e Valis III tiveram lançamentos norte-americanos com dobragem em inglês, mas essas versões não se encontram incluídas, o que é uma pena, pois seria um extra valioso do ponto de vista histórico.

As três protagonistas femininas que podemos controlar no Valis III

Todos os jogos são emulados, e para além das caixas de texto com legendas, foram também introduzidas várias melhorias de qualidade de vida, como um sistema de rewind. No entanto, a sua execução deixa a desejar: o rewind está atribuído ao botão L, e ao pressioná-lo o jogo recua apenas um ou dois segundos. Podemos pressioná-lo repetidamente para recuar mais, mas cada utilização abre uma janela a perguntar se queremos mesmo voltar atrás. Se por um lado isso evita enganos, por outro torna-se inconveniente quando se quer recuar mais tempo de forma deliberada. Ao pressionar o gatilho ZL, o jogo pausa e surge um menu que permite gravar ou carregar o progresso através de save states, consultar o manual, os controlos ou alterar algumas opções gráficas simples. Os controlos originais da PC Engine (dois botões faciais, Select e Run) foram fielmente adaptados, mas em certos jogos, acções que exigiam múltiplos botões simultâneos estão também mapeadas para botões adicionais da Switch. Por exemplo, o slide pode ser também activado através do botão R. O mapeamento dos botões é totalmente personalizável, o que é sempre bem-vindo. De forma geral, o emulador parece competente, embora eu não tenha os originais em PC Engine CD para comparação directa.

Antes de iniciar ou retomar cada jogo, temos acesso a uma série de opções e extras

No geral, considero esta uma colectânea interessante, apesar das limitações do sistema de rewind. A ausência das versões norte-americanas de Valis II e Valis III é uma oportunidade perdida, mas acima de tudo, a falta de Valis IV (também lançado na PC Engine) é uma omissão imperdoável. A menos que o emulador esteja a correr ISOs em plano de fundo, duvido que a sua inclusão fosse tecnicamente inviável ou economicamente impeditiva. Contudo, com o tempo, os planos da Edia tornaram-se claros: acabaram por anunciar dois volumes adicionais com esse mesmo Valis IV e variantes restantes para Mega Drive, Famicom, Super Famicom, MSX e PC-88. Esses volumes foram também localizados para inglês e lançados fisicamente para a Nintendo Switch no Ocidente através da Limited Run Games. Naturalmente que os comprei a todos, e tenciono escrever sobre eles assim que os jogar. Embora não considere a série Valis digna de figurar no panteão dos grandes jogos de acção das gerações 8 e 16-bit, sempre os achei bastante interessantes, sobretudo pelas cenas em estilo anime, que desde cedo me fascinaram, quando joguei os originais da Mega Drive pela primeira vez, em emulação, algures em 1999.

Columns (PC Engine)

Continuando como tem sido habitual pelas rapidinhas, vamo-nos manter nos sistemas da NEC para mais um jogo da Sega na PC Engine! Durante a década de 80 e inícios dos anos 90, vários foram os jogos que a Sega acabou por licenciar para serem lançados noutros sistemas, fossem eles computadores ou consolas que competiam directamente com as suas Master System e Mega Drive. O Columns, que por sua vez não era uma criação original da Sega mas sim algo que a empresa comprou a terceiros para competir com o Tetris, foi também um dos visados em aparecer na PC Engine. Esta conversão ficou a cargo da Telenet Japan e o meu exemplar foi comprado num lote no Japão por cerca de 12€ algures.

Jogo com caixa e manual embutido com a capa

Em relação ao Columns em si, este é então um derivado do Tetris, mas em vez de tetraminós temos colunas verticais de 3 blocos coloridos a cairem do ecrã. Não podemos rodar as colunas mas sim a ordem das cores dos seus blocos individuais e o objectivo é o de formar conjuntos de 3 ou mais blocos da mesma cor, podendo estes serem horizontais, verticais ou diagonais. Sempre que o fizermos estes desaparecem e é inclusivamente possível conseguir fazer alguns combos para mais pontos. Tal como os restantes jogos deste género, a dificuldade vai aumentando à medida que vamos pontuando (os blocos começam a cair cada vez mais rápido) e o jogo termina quando a área de jogo se encher, ou seja, sempre que um bloco fique fora da área de jogo. Muito simples e como habitualmente bastante divertido. E aqui dispomos também de vários modos de jogo como o Arcade (o modo de jogo principal), o Practice que serve como uma introdução às mecânicas de jogo mas também nos dá alguma liberdade de customização de cada partida. Temos também dois modos versus para dois jogadores que sinceramente não cheguei a experimentar.

Tal como nas versões originais, há aqui toda uma certa referência a temas da Grécia antiga.

A nível audiovisual este é um jogo simples tal como é esperado. As imagens de fundo são bastante simples, ocasionalmente invocando o estilo arquitectónico da Grécia antiga e a banda sonora é também muito similar à da versão Mega Drive deste jogo. No entanto devo deixar a ressalva que acho o som da versão Mega Drive mais pujante que o que a Telenet Japan conseguiu reproduzir no sistema da NEC.

O objectivo é o de juntar 3 ou mais blocos da mesma cor numa linha, para os fazer desaparecer e ganhar pontos.

De resto esta é uma versão bastante sólida do primeiro Columns, embora se já tiverem este jogo na Mega Drive ou nalguma das inúmeras compilações que a Sega lançou ao longo dos anos não há muitas razões para irem atrás desta versão. Só se for mesmo pela curiosidade de ser um jogo da Sega lançado num sistema concorrente!

Valis III (Sega Mega Drive)

Vamos agora voltar à série Valis para o seu terceiro jogo, que no caso da Mega Drive acaba por ser o primeiro título a sair nessa plataforma, pois tanto o Valis como o Syd of Valis acabam por ser remakes dos primeiros jogos que saem mais tarde nesta plataforma (o Syd of Valis é ainda bastante diferente do Valis II original). Portanto, sinceramente esperava que este jogo estivesse uns furos abaixo do Valis (algo semelhante acontece na PC Engine mas isso fica para depois), mas na verdade acabo por o achar superior! De resto, tal como os outros jogos desta série na Mega Drive, este nunca acabou por sair oficialmente em solo europeu, pelo que aproveitei para comprar algures em Junho deste ano a edição de coleccionador que traz os três jogos, relançados recentemente pela retro-bit.

A colecção como um todo

A história coloca-nos uma vez mais no papel de Yuko, uma jovem adolescente que terá uma vez mais de travar as forças do mal recorrendo aos poderes que a sua espada Valis lhe confere. Desta vez no entanto iremos ter a companhia de mais algumas personagens (Cham e Valna) que poderemos inclusivamente alternar o controlo entre as mesmas durante o jogo. De qualquer das formas, mesmo sendo o terceiro jogo da série (e o primeiro na Mega Drive), a cutscene inicial resume o que aconteceu nos primeiros dois jogos, pelo que os norte-americanos que jogaram isto em 1991 não perderam muito.

Valis III com sleeve de cartão, caixa, manual a cores bilingue e papelada

O remake do primeiro Valis na Mega Drive usa os mesmos controlos deste Valis III, pelo que nesse departamento não há muito a acrescentar: o botão C serve para saltar, sendo que se pressionado em conjunto com o direccional para cima nos permite saltar mais alto (o que nunca achei muita piada, confesso) e para baixo permite-nos descer de plataformas. O botão B ataca e se pressionarmos o direccional para cima em simultâneo poderemos activar várias magias elementais, cuja barra de MP poderá ser regenerada ao coleccionar cristais azuis, e as próprias magias que equipamos são também power ups que coleccionamos. O botão A serve para irmos alternando entre as personagens disponíveis ou se pressionado em conjunto com o direccional para baixo faz com que Yuko (ou as restantes) faça um slide e assim conseguir-se esgueirar entre passagens estreitas ou desviar do fogo inimigo.

Os diálogos que vamos assistindo mesmo durante a acção dão outro charme ao jogo!

No entanto, apesar da espada de Yuko disparar projécteis, ao contrário dos Valis anteriores não podemos evoluir/trocar o tipo de projécteis lançados. Abaixo das barras de vida e magia vemos uma outra barra de energia na forma de uma espada que se vai enchendo com o tempo e esvaziando sempre que atacamos. Tal como em jogos como o The Legendary Axe, os nossos ataques dão mais dano quando essa barra de energia está no máximo e menos quando a mesma estiver ainda a ser preenchida. Existem no entanto alguns power ups que podemos apanhar e podem expandir essa barra de energia (com os ataques causando mais dano quando a energia estiver no máximo) e outros que façam com que essa barra se encha mais rápido. Mas existem sim algumas variedades nos ataques que poderemos desencadear, bastanto para isso trocar de personagens. Cham ataca com um chicote à lá Simon Belmont e Valna usa uma arma mágica que dispara projécteis em várias direcções. Todos eles partilham a mesma barra de vida e magia no entanto e sempre que alguém morre lá se vão todos os power ups amealhados. Num jogo sem continues como é o caso, obriga-nos a jogar então de forma mais cautelosa. De resto só mesmo mencionar que nem sempre podemos alternar entre personagens escolhidas. No canto superior direito vemos uma série de caras, que correspondem às personagens que podemos controlar. A cara que está voltada para nós é a personagem que controlamos no momento, enquanto as caras de perfil significam que podermos alternar para essas personagens. Existem no entanto níveis ou outras alturas onde teremos de jogar com alguma personagem específica, com os retratos das personagens restantes a ficarem de costas para nós.

A nível de controlos o jogo é muito similar ao remake do primeiro Valis da Mega Drive, com a novidade de podermos controlar outros protagonistas e um diferente sistema de power ups

A nível audiovisual confesso então que fiquei impressionado por este jogo, que sai us valentes meses antes do remake do primeiro Valis, possuir gráficos melhores! Os cenários são mais interessantes e variados a meu ver, mas para além disso também me pareceram mais bem detalhados que os do remake do primeiro Valis. As sprites, particularmente as dos inimigos e bosses, são também mais bem detalhadas que as do remake do primeiro jogo! As cut-scenes anime que vão ocorrendo ocasionalmente estão muito boas para um cartucho de Mega Drive com 1MB de ROM. Para além de estarem tão bem detalhadas quanto as do remake, ainda vão tendo algumas pequenas animações aqui e ali que lhes dão um aspecto ainda melhor! Para além disso, mesmo durante o jogo ocasionalmente vamos tendo alguns diálogos com NPCs que também ajudam bastante à boa apresentação do jogo. A banda sonora é no entanto bastante agradável, tirando bom partido das capacidades do chip de som da Mega Drive para produzir melodias chiptune agradáveis e que ficam bem no ouvido.No entanto, o lançamento original deste Valis III foi para a PC Engine CD, que por sua vez trazia cut-scenes bem mais animadas e em maior número, voice acting, uma banda sonora em CD audio e vários níveis que foram cortados nesta versão. A Mega Drive possui no entanto alguns efeitos de parallax scrolling em vários níveis bem como um nível extra não presente na versão original.

As cutscenes anime continuam bastante boas e sempre foi o que me chamou à atenção desta série, quando a descobri através da emulação há mais de 20 anos atrás.

Portanto devo dizer que fiquei bastante surpreendido pela positiva com este Valis III na Mega Drive porque mesmo tendo saído antes do remake do primeiro Valis, parece-me ter mais qualidade no geral, o que me leva a assumir que o remake foi feito um pouco à pressa. Ainda assim o lançamento original é o da PC Engine em formato CD, que inclui bem mais níveis, cutscenes e voice acting que foram cortados nesta transição para cartucho. Mas isso será tema para um outro artigo futuro!

Valis (Sega Mega Drive)

Bom, vai ser um pouco difícil abordar a série Valis da forma correcta. Isto porque a mesma teve a sua origem no MSX e posteriormente noutros computadores nipónicos e consolas. Mas muitas dessas versões são consideravelmente diferentes entre si e o caso desta versão Mega Drive é curioso pois é na verdade um remake do primeiro jogo, tendo inclusivamente sido lançado depois de algumas das suas sequelas na própria Mega Drive. Este lançamento da Mega Drive foi originalmente publicado nos Estados Unidos pela Renovation algures em 1991 e, como a esmagadora maioria dos títulos que essa empresa publicou em solo norte-americano, não houve qualquer outro lançamento europeu. Isto pelo menos até à Retro-Bit ter anunciado no ano passado um relançamento físico dos 3 Valis que sairam para a Mega Drive, algo que eu acabei por comprar de presente de aniversário para mim próprio algures em Junho deste ano.

Edição de coleccionador da Retro-Bit com os 3 lançamentos da Mega Drive, sleeve exterior de cartão e um extra com uma gravura em acrílico

A história leva-nos a controlar Yuko, uma jovem aluna de uma escola secundária japonesa e que de repente, num dia chuvoso, se vê atacada por monstros. Nos últimos instantes, Yuko é salva por uma espada que lhe confere poderes mágicos, espada essa que lhe foi atribuída por Valia, líder de um povo pacífico de uma outra dimensão e que lhe pede ajuda para derrotar as forças do mal, lideradas pelo vilão Rogles, até porque este já havia corrompido uma das suas amigas de infância para lutar do lado das forças do mal.

Jogo com sleeve exterior, manual a cores e multilíngua inglês/japonês, postais e papelada diversa

E este é então um 2D sidescroller de acção/plataformas como muitos outros jogos da sua época. A jogabilidade é, em teoria, simples com um botão para saltar (C), outro para que Yuko ataque com a sua espada (B) e um outro para activar uma habilidade de slide (A) que nos permite esquivar rapidamente de alguns perigos. Se quisermos no entanto saltar mais alto teremos de pressionar o botão B e cima em simultâneo, o que pode ser algo chato em certas alturas. À medida que vamos explorando poderemos também encontrar toda uma série de itens e power ups, desde itens que nos regenerem a nossa barra de vida ou magia, vidas extra ou outros que mudam/melhoram o poder de ataque da nossa espada. Isto porque a espada começa também a disparar projécteis, mas sempre que apanharmos um power up que melhore o seu poder de fogo, passaremos a disparar projécteis em mais direcções, ou então usar outros ataques completamente distintos, como raios laser penetrantes ou flechas teleguiadas. A barra de magia serve precisamente para isso, para usar magias. Estas são adquiridas após derrotar certos bosses e podem ser desencadeadas através da combinação de botões de ataque (B) e cima. Diferentes magias poderão ser seleccionadas no menu de pausa e podem causar dano em vários inimigos no ecrã em simultâneo de maneiras diferentes.

Um exemplo das bonitas cut-scenes que poderemos ver

O que me chamou imediatamente à atenção da primeira vez que joguei este jogo há muitos anos atrás em emulação foram mesmo as suas cut-scenes anime que decorrem em certos pontos chave do jogo. Apesar de possuírem ecrãs algo estáticos, são cenas muito bem detalhadas. Já o jogo em si possui cenários algo genéricos infelizmente. Começamos por explorar uma zona urbana e com Yuko ainda vestida com o seu uniforme escolar, já os níveis seguintes são passados nesse tal mundo fantasioso e onde iremos atravessar montanhas, cavernas, florestas ou edifícios decadentes. Apesar de não achar um jogo propriamente mau a nível gráfico, confesso que poderia ser um pouco melhor. A banda sonora por outro lado considero-a bem agradável de se ouvir!

Apesar do cliché, os cenários urbanos do primeiro nível foram os que achei mais piada

Portanto estamos aqui perante um interessante jogo de acção que apesar de estar longe do nível de outros clássicos desta geração como os Castlevania ou Rocket Knight Adventures não deixa de ser um jogo interessante, quanto mais não seja pelas suas óptimas sequências animadas. O que vai ser mais curioso daqui para a frente é que irei abordar os restantes jogos desta série pela sua ordem. Na Mega Drive temos mais dois, o Syd of Valis que é também um remake com personagens cabeçudas do Valis II e posteriormente o Valis 3, que sai nesta consola antes de ambos esses lançamentos. E então quando chegar aos de PC Engine ainda mais confuso se vai tornar.