Quando cá trouxe no passado o Final Fantasy: The 4 Heroes of Light, mencionei que haviam toda uma série de RPGs que já tinha terminado, ou através de emulação, ou através de outros métodos no caso de portáteis como a Nintendo DS ou Playstation Portable. E sempre que os consigo arranjar para a colecção faço questão de os jogar novamente. No entanto esse Final Fantasy foi a primeira de várias excepções a essa regra, porque simplesmente o tempo hoje em dia é o meu bem mais precioso e esse tinha sido um jogo que não me tinha deixado muito boa impressão quando o joguei inicialmente, pelo que me limitei a ver algumas horas de gameplay para reavivar a minha memória. Há mais alguns RPGs no meu backlog que vou aplicar esse princípio (foram todos jogos que já terminei no passado) e este FF Crystal Chronicles: Echoes of Time é outro desses casos. No entanto ainda joguei umas 2 horas novamente, visto que a versão que havia jogado era a de Nintendo DS. Neste caso, mesmo sendo a versão Wii, o jogo é o mesmo, tirando pequenas diferenças, mas já lá vamos. O meu exemplar sinceramente não me recordo onde e terá sido comprado, mas foi seguramente barato.
A série Final Fantasy Crystal Chronicles teve as suas origens como um jogo de GameCube, que marcou a reaproximação da Square Enix à Nintendo, após vários anos de ausência desde que o Final Fantasy VII foi movido para a concorrente Playstation. Esse primeiro jogo tinha um certo foco no multiplayer cooperativo, pois um dos seus selling points foi mesmo a integração com a Game Boy Advance, que teria de ser utilizada como um comando para quem quisesse jogar com mais alguém. O jogo poderia ser todo jogado sozinho, embora com alguns inconvenientes, mas acredito que fosse bem mais agradável e divertido se jogado com alguém. O Final Fantasy Crystal Chronicles: Ring of Fates foi o jogo que se seguiu, com uma componente single player mais forte (mas na mesma com multiplayer cooperativo à parte) e foi um jogo que no geral me agradou bastante. Depois de um título digital para a Wii que muito provavelmente nunca mais poderemos obter de forma legítima, segue-se este Echoes of Time, onde a Square Enix decidiu uma vez mais tornar o jogo com um foco mais multiplayer com um twist adicional: o jogo foi lançado em simultâneo para a Nintendo DS e Wii e ambas as versões são compatíveis entre si, ou seja, poderíamos jogar com amigos que tivessem uma consola ou outra. Confesso que uma vez mais não explorei de todo a vertente multiplayer deste jogo, pelo que não irei elaborar nesse ponto.

De resto, sendo este um jogo onde é possível jogar cooperativamente do início ao fim, a história acaba por ser um pouco mais básica, visto que as personagens que criamos não têm grande impacto na narrativa, o que é pena. Uma vez mais podemos criar personagens de 4 raças distintas, os Clavats, Lilty, Yuke e Selkies, cada qual com diferentes características como mais poder de ataque, magia, defesa ou agilidade (os duplos saltos dos Selkie dão muito jeito no platforming). A nível de mecânicas de jogo muito se mantém igual desde o Ring of Fates, este é um RPG de acção onde teremos várias dungeons para atravessar e side quests opcionais para cumprir de forma a obter mais experiência. No entanto há agora um maior foco na resolução de puzzles para avançar com as dungeons, o que pode uma vez mais ser um problema se jogarmos sozinhos. O jogo recomenda que contratemos mercenários ou criemos os nossos próprios bots que nos acompanham ao longo da aventura e de facto isso é algo que convém nós fazermos pois alguns dos puzzles obrigam mesmo a que existam mais personagens em jogo, como para interagir com múltiplas alavancas ou interruptores. No entanto, como apenas conseguimos controlar uma personagem de cada vez (é possível alternar o controlo entre personagens) e as restantes acompanham-nos sempre, por vezes resulta em situações um pouco frustrantes.
Na Nintendo DS, pelo que me lembro, o jogo controla-se de forma muito semelhante ao Rings of Fate. Mas jogando isto numa Wii, como é que as coisas funcionam? Infelizmente não muito bem. A começar pelo ecrã, visto que a Nintendo DS possui dois ecrãs, no caso da Wii vemos sempre duas janelas, uma correspondente a cada ecrã da Nintendo DS, sendo possível utilizar os botões + e – para as redimensionar. De resto, infelizmente este é um jogo que se controla apenas pelo Wiimote e Nunchuck, com o analógico do Nunchuck a servir para controlar a personagem. O botão A ataca ou interage com outras personagens nas aldeias/cidades. O botão B serve para saltar e o Z para apanhar itens ou carregar tanto objectos como outras personagens/inimigos, com o mesmo botão a servir para os largar ou atirar. O botão C serve para usar magias que, tal como noutros jogos da série, activa uma mira que tem ser direccionada para o seu alvo e pode ser cancelada ao pressionar no B ou Z. Sinceramente não me recordo se isto era possível noutros jogos da série, mas aqui podemos também fazer stacking de vários feitiços, como lançar dois feitiços de cura para um resultado maior, ou simplesmente misturar feitiços diferentes para outros resultados. Isto é feito ao lançar o primeiro feitiço com o botão C, pressionar o botão A para trancar a mira no alvo e lançar outro feitiço novamente com o C e deixar a nova mira em cima da original. À medida que vamos evoluindo as nossas personagens vamos ganhar a habilidade de fazer stacking até 4 feitiços em simultâneo, mas o processo de fazer isto tudo manualmente é aborrecido. Com outros amigos é bem mais simples pois basta que eles activem um feitiço em cima do nosso e caso joguemos com bots poderemos customizar a sua inteligência artificial para fazerem o mesmo feitiço que nós, por exemplo. De resto, o direccional do Wiimote pode ser utilizado para alternar entre feitiços equipados e personagens que controlamos, assim como o apontador do wiimote serve para fazer, replicando o touch screen da Nintendo DS nesse caso.
A nível audiovisual, para um jogo de Nintendo DS não está nada mau, visto que utiliza o mesmo motor gráfico do Rings of Fate e que por sua vez permitia gráficos em 3D poligonal algo simples, mas com uma boa qualidade tendo em conta as limitações do sistema. A versão Wii utiliza exactamente os mesmos gráficos, talvez para garantir compatibilidade no modo multiplayer entre ambos os sistemas. Estão no entanto ligeiramente mais polidos na Wii, mas é importante não nos esquecermos que estamos a jogar um título de Nintendo DS. Imaginem a Wii como se fosse um Super Gameboy ou Game Boy Player, que nos permitia jogar cartuchos de GB na SNES e Game Cube respectivamente. Sinceramente e independentemente das versões, continuo a achar que estes Crystal Chronicles estão muito abaixo no charme e detalhe gráfico introduzido pelo primeiro jogo, mas lá está, para jogos de Nintendo DS não ficaram nada mal. Ocasionalmente temos algumas cut scenes com mais qualidade mas uma vez mais não esperem por algo que fosse muito diferente do que uma Nintendo DS nos consegue apresentar. Acho que a Square Enix não perdia nada em incluir cutscenes CGI de melhor qualidade nesta versão, mas é o que é. Algumas destas cenas têm voice acting em inglês que me parece estar bem conseguido e a banda sonora é no geral bastante agradável, contendo muitas músicas mais acústicas e relaxantes, mas outras um pouco mais orquestrais e épicas.

Portanto, apesar de ter achado uma boa ideia, a de um RPG de acção com multiplayer cooperativo mais robusto e com a capacidade de unir jogadores que joguem numa Nintendo DS ou numa Wii, sinceramente acho que ficam melhor servidos com a versão Nintendo DS. Felizmente não há grandes motion controls a ter em conta nesta versão, mas o wiimote é simplesmente um comando desconfortável de usar em períodos longos, pelo que o suporte ao classic controller ou ao comando de GameCube seria perfeitamente exequível. Na Nintendo DS as coisas funcionam melhor! E mesmo sendo possível jogar todo o jogo sozinho, a narrativa não é a melhor e os bots que nos podem acompanhar, apesar de úteis no combate, não deixam de nos introduzir alguns momentos mais frustrantes quando tentamos resolver os puzzles das dungeons. Depois deste jogo a Square Enix lançou ainda um outro título 100% digital e que muito dificilmente será relançado, bem como uma sequela inteiramente desenvolvida para a Wii. E essa já abusa nos motion controls, pelo que a minha vontade de o jogar não é muita. Mas há-de acontecer.































