Chrono Trigger (Nintendo DS)

Foi no final de 1998 que descobri o mundo da emulação e desde essa altura o meu mundo mudou: nunca tive muitos videojogos e consolas desde a minha infância, pelo que a emulação serviu para eu finalmente conseguir jogar à vontade muitos dos títulos para sistemas como a Mega Drive ou Super Nintendo sem ter de os ir jogar a casa de amigos. Poucos anos depois, com a massificação de internet de banda larga, rapidamente comecei a ter acesso a CDs (e mais tarde DVDs) com centenas de ROMs para os mais variadíssimos sistemas. Na altura não gostava de RPGs pelo que quando via um jogo desse género, avançava para a ROM seguinte. Com a febre do Pokémon também na mesma época decidi experimentar o Pokémon Yellow por emulação (saudoso No$GB) e adorei! Quando me apercebi que os RPGs por turnos tinham mecânicas de jogo similares, lá me decidi a experimentar algum RPG mais a sério. Uma pesquisa rápida na internet por melhores RPGs da era 16-bit, 3 nomes vinham constantemente à baila: Chrono Trigger, Final Fantasy VI e Phantasy Star IV. Comecei o CT e PS4 em simultâneo e fiquei agarrado a ambos, mas rapidamente decidi encostar o PS4 para começar a série pelo início, pelo que o Chrono Trigger teve a honra de ser o primeiro jRPG (que não um Pokémon) que alguma vez joguei! O lançamento original da SNES nunca chegou a sair na Europa, sendo também um jogo muito procurado por coleccionadores. Anos mais tarde a Square relança o jogo na PS1, onde uma vez mais os europeus ficaram de fora até que, em 2008/2009 sai também uma versão para a Nintendo DS que já saiu, finalmente, em território europeu. O meu exemplar foi comprado a um particular que se desfez de toda a sua colecção da Nintendo DS, algures em 2017. Ficou-me a um preço bem agradável na altura, creio que algo em torno dos 20€.

Jogo com caixa, manual e papelada

E o que torna este jogo tão especial? Tal começa logo pelas suas origens! Posso estar enganado, mas creio ter sido esta a primeira colaboração entre a Squaresoft e a Enix, pois todo o jogo foi idealizado por 3 nomes importantíssimos na indústria: Hironobu Sakaguchi, um dos criadores de Final Fantasy, Yuji Horii, o mentor por detrás de Dragon Quest e Akira Toriyama, criador de Dragon Ball e que por sua vez sempre foi também o artista por detrás da arte dos Dragon Quest. E o resultado final foi de facto brilhante: Chrono Trigger é um excelente jRPG com uma narrativa muito bem conseguida, personagens carismáticas e um sistema de combate bem apelativo, conforme irei detalhar de seguida.

Logo no início somos questionados se queremos usar o touch screen para os inputs e auto-map, ou uma experiência mais old school. O active time battle pode também ser desactivado.

A história leva-nos a encarnar na personagem de Crono, um jovem habitante da vila de Truce, reino de Guardia. É o ano 1000 e o reino organizou a Millennial Fair, uma festa pomposa, para celebral tal ocasião. Somos acordados pela nossa mãe que nos informa que Lucca, nossa amiga de infância, está prestes a desvendar a sua mais recente invenção na feira (qualquer paralelismo com a Bulma é mera coincidência ou não) e somos convidados a assistir. Assim que lá chegamos acabamos por nos cruzar com Marle, uma jovem rapariga que também por lá se procurava divertir e acaba por nos acompanhar no resto das festividades. Poderemos inclusivamente participar nalguns mini jogos nessa altura, mas eventualmente lá vamos assistir à invenção de Lucca: uma máquina capaz de teletransportar qualquer pessoa do ponto A ao ponto B. Claro que seremos a cobaia para experimentar tal geringonça mas tudo corre bem. Marle entusiasma-se e quer também experimentar, mas no seu caso já não teve tanta sorte. Por algum motivo quando Marle usa a máquina abre-se um portal que a leva para destino desconhecido. Não tendo outra alternativa, vamos atrás dela e vemos que somos no entanto transportados no tempo, mais precisamente para 400 anos no passado, por altura em que o reino de Guardia travava uma feroz guerra contra um exército de monstros liderados por um poderoso feiticeiro. Sem querer revelar muito mais, digamos só que por motivos de força maior iremos ter também de viajar para outros períodos temporais, onde conheceremos mais personagens carismáticas que se juntam a nós e a trama vai-se desenrolando de tal forma que teremos mesmo de salvar o mundo de uma poderosíssima ameaça que vai surgindo.

A história está muito bem contada e faz-nos sempre querer jogar um pouco mais! A nostalgia que esta cena me deu!

Mas não é só a narrativa que é cativante neste jogo: o seu sistema de batalhas também o é. Estas não são aleatórias, os inimigos estão presentes no ecrã e apenas alguns dos confrontos serão forçados, a maioria poderão ser evitados se assim o quisermos. Já dentro das batalhas em si, o jogo utiliza por base o active time battle introduzido pela primeira vez no Final Fantasy IV. Ou seja, apesar de serem batalhas por turnos, estes são bem mais dinâmicos pois a ordem pela qual os intervenientes atacam está directamente relacionada com os seus stats. E para além disso, mesmo quando é o nosso turno e temos de escolher que acções tomar, o “contador” não pára e os inimigos podem-nos atacar! As acções que podemos tomar são as habituais, podemos atacar directamente, usar técnicas especiais onde se incluem magias, usar itens ou tentar fugir do conflito. No final de cada batalha somos recompensados com dinheiro e experiência, mas também tech points, que servem para as personagens que estão na party aprender novas habilidades. A parte interessante destas habilidades é que nem todas são habilidades de uso individual por cada personagem, mas também poderemos aprender combos que requeiram duas ou três personagens em simultâneo! O facto de os inimigos se movimentarem pelo ecrã durante as batalhas também é importante pois muitas destas habilidades podem atingir mais que um inimigo em simultâneo, particularmente as que têm uma área circular de impacto, ou aquelas onde atacamos numa linha.

Os ataques especiais que precisam de mais que uma personagem foi outra das novidades a meu ver bastante originais!

Visualmente é um jogo muito interessante tendo em conta que temos de nos lembrar que o seu lançamento original era de Super Nintendo. E para um jogo de Super Nintendo temos na mesma algumas sprites bem detalhadas e animadas, para não falar da grande diversidade de cenários que iremos explorar, também todos eles muito bem detalhados. Muitos dos golpes especiais que vamos aprendendo têm também bonitos efeitos gráficos que eram impressionantes na época da SNES e não ficaram nada mal no pequeno ecrã da Nintendo DS. Por outro lado, as músicas são também excelentes e teremos também direito a várias cutscenes anime em certos pontos fulcrais da história que haviam sido introduzidas no relançamento da Playstation e felizmente foram mantidas nesta versão da DS.

Tal como na versão PS1, esta versão DS traz também as cutscenes anime do senhor Akira Toriyama

Portanto este é um excelente RPG com personagens carismáticas, uma narrativa fantástica que nos vai querer deixar sempre a jogar um pouco mais para ver o que irá acontecer em seguida e um sistema de combate empolgante e original. Já a versão original de SNES se apresentava como um jogo com uma boa longevidade, quanto mais não fosse pela introdução do New Game Plus e dos diferentes finais distintos que poderíamos alcançar. Esta versão DS inclui ainda mais conteúdo adicional: novas dungeons e sidequests para explorar, um novo final para descobrir e até uma vertente multiplayer com o modo Arena of the Ages. Não cheguei a explorar este modo de jogo, mas aparentemente teríamos a possibilidade de treinar monstros e colocá-los à pancada uns com os outros – quaisquer semelhanças com Pokémon não são mera coincidência.

Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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