Klonoa: Empire of Dreams (Nintendo Game Boy Advance)

Tempo de voltar ao mundo fantasioso de Klonoa para a primeira aventura numa portátil da Nintendo, lançada meros meses após a ansiada sequela na Playstation 2. No entanto, este Empire of Dreams revela-se fortemente influenciado pelo lançamento portátil que o antecedeu no Wonderswan, já que se trata de um jogo muito mais orientado para puzzles, embora desta vez apresente também alguns níveis mais tradicionais de plataformas. O meu exemplar foi comprado há muitos anos numa cash converters ao desbarato, já não sei precisar quando.

Cartucho solto

O jogo está dividido em vários mundos com sete níveis e um boss cada. A maioria dos níveis segue a mesma estrutura apresentada em Kaze no Klonoa no WonderSwan: o objectivo é explorar o nível de forma a coleccionar três estrelas, desbloqueando assim a saída. As mecânicas base de Klonoa, de agarrar inimigos e utilizá-los tanto para atacar como para ganhar impulso com um salto adicional, mantêm-se intactas e continuam a ser essenciais para resolvermos os desafios propostos. Tal como no título do WonderSwan, novas mecânicas vão sendo introduzidas à medida que avançamos, como manipular interruptores, ventiladores, blocos pesados ou inimigos explosivos, criando puzzles progressivamente mais complexos. Além das três estrelas obrigatórias, cada nível inclui ainda outros coleccionáveis como cristais coloridos, cuja recolha total permite desbloquear, no fim do jogo, alguns níveis adicionais de dificuldade acrescida.

Como tem sido habitual, a história é muito ligeira e à volta de sonhos

Existem porém algumas excepções à fórmula habitual. O quarto nível de cada mundo é um nível de plataformas frenético onde Klonoa atravessa o cenário em alta velocidade a bordo de uma prancha, sendo o objectivo simplesmente reagir a tempo aos obstáculos que surgem pelo caminho. Já o sexto nível de cada mundo apresenta um tipo de progressão mais tradicional, mas sem puzzles, com a câmara a deslocar-se de forma automática tanto na horizontal como na vertical, cabendo-nos acompanhar o movimento e evitar ficar para trás.

À medida que progredimos na história, novas mecânicas vão sendo introduzidas que tornarão os puzzles gradualmente mais complexos

No que toca aos gráficos e ao som, Empire of Dreams destaca-se pela sua paleta de cores vibrante e pelo detalhe dos cenários. As arenas dos bosses apresentam efeitos de manipulação de sprites como ampliações e rotações, que remetem directamente para os tempos áureos do Mode 7 da Super Nintendo. Os belos gráficos 2D beneficiam ainda de uma banda sonora coesa, agradável e surpreendentemente apaziguadora, algo que combina muito bem com o ritmo mais ponderado associado à resolução dos puzzles.

Os bosses, apesar de simples, estão graficamente muito bem detalhados

Estamos portanto perante mais uma entrada muito sólida no universo Klonoa, que depois deste título ainda receberia um spin off tardio para a PlayStation original (Klonoa Beach Volleyball) e mais dois jogos adicionais para o Game Boy Advance, ambos bastante interessantes. No entanto, nenhum deles chegou a ser lançado em território europeu, e o último (Klonoa Heroes) acabou por permanecer um action RPG exclusivo do mercado japonês até aos dias de hoje. É uma pena.

Klonoa 2: Lunatea’s Veil (Sony Playstation 2)

Fui recentemente desafiado pelos meus amigos do podcast TheGamesTome a jogar este Klonoa 2, onde nos propomos a atacar alguns títulos específicos das nossas colecções. E que boa recomendação se revelou, até porque tinha gostado bastante da simplicidade do primeiro título da série. Tal como nos outros artigos desta rubrica, deixo também o vídeo onde falamos um pouco sobre a experiência. Quanto à cópia que tenho, já nem me recordo bem de onde veio parar à colecção, mas muito provavelmente terá sido numa cash converters a preço de saldo.

Klonoa 2 foi lançado ainda numa fase relativamente inicial do ciclo de vida da PlayStation 2, chegando às três principais regiões logo em 2001. À semelhança do seu predecessor, mantém uma base simples na jogabilidade, mas acrescenta novas mecânicas que lhe dão uma certa frescura. O essencial continua a ser um botão para saltar e outro para usar a habilidade de agarrar inimigos e atirá-los, seja para derrotar outros inimigos, seja para, a meio de um salto, os usar como impulso e alcançar plataformas de outra forma inacessíveis. A grande novidade surge nos níveis em que Klonoa monta uma prancha, com a câmara sempre em movimento, exigindo saltos precisos no momento certo para ir progredindo.

Jogo com caixa e manual

Outra diferença em relação ao primeiro jogo é a extensão dos níveis, que aqui parecem mais longos e variados. Além disso, surgem inimigos especiais que concedem diferentes habilidades: uns explodem e servem para destruir obstáculos, outros electrificados funcionam como plataformas que permitem saltar mais alto, enquanto certos inimigos possibilitam voar temporariamente numa trajectória definida por nós. Esta variedade, combinada com o maior tamanho dos níveis, abriu espaço para a Namco introduzir pequenos puzzles, que obrigam a usar de forma criativa as habilidades disponíveis para progredir. Apesar disso, não chegam a ser tão exigentes quanto os que encontrei em Kaze no Klonoa da Wonderswan. De resto, temos também alguns coleccionáveis escondidos que nos poderão desbloquear desafios adicionais, embora sejam completamente opcionais.

Há um maior foco na narrativa nesta sequela, embora os diálogos sejam algo infantilizados como seria de esperar

Klonoa 2 é um jogo bem conseguido para os padrões de 2001. A jogabilidade mantém-se maioritariamente em 2D integrada em mundos renderizados em 3D, com uma escala bastante superior e um nível de detalhe consideravelmente mais elaborado. As personagens apresentam-se em cel-shading, um estilo gráfico popularizado por Jet Set Radio e que resulta especialmente bem em jogos de inspiração mais de desenho animado. O estilo artístico preserva a identidade muito própria da série, com ambientes variados que vão de florestas e cavernas a templos e pequenas cidades, sempre com um charme inconfundível. A banda sonora acompanha esta diversidade, revelando-se bastante eclética e ajustando-se à atmosfera de cada zona. Por exemplo, os níveis passados em Joliant têm músicas de toada mais circense e festiva, enquanto em Volk City surgem composições com uma clara influência jazz. Em conjunto, som e imagem criam uma atmosfera de fantasia bastante coesa e cativante. Há também um maior investimento na componente narrativa, com cut-scenes frequentes, embora o tom se mantenha algo infantil. Ainda assim, o uso de uma língua fictícia para as personagens acaba por se revelar um detalhe curioso e eficaz para reforçar o tom de fábula.

A jogabilidade continua a ser 2D na maior parte dos casos, embora os níveis sejam agora bem mais ricos em detalhe

Em suma, Klonoa 2 é um excelente jogo de plataformas, que preserva a essência dos clássicos 2D ao mesmo tempo que tira partido das maiores capacidades de renderização 3D dos sistemas da sua geração. Mantém a simplicidade que caracteriza a série, mas introduz mecânicas novas que expandem de forma natural as possibilidades do jogador. Os níveis, agora mais longos e elaborados, combinam bem a acção com pequenos puzzles, incentivando uma exploração mais atenta e recompensadora. No entanto, creio que Klonoa 2 não terá sido o sucesso esperado pela Namco. Apesar de ainda terem saído alguns títulos secundários para a portátil da Nintendo, até agora a série foi apenas pontualmente revisitada com alguns relançamentos dos seus primeiros 2 jogos, o que é uma pena.

Star Fox: Assault (Nintendo Gamecube)

Vamos voltar à Nintendo GameCube para um jogo que teve um ciclo de desenvolvimento bastante curioso. Anunciado ainda uns bons meses antes do lançamento de Star Fox Adventures, desde cedo que despertou interesse, pois não só era um título desenvolvido pela Namco, mas também por estar a ser trabalho pelas pessoas envolvidas na série Ace Combat. No entanto, o jogo acabou por sofrer múltiplos atrasos, com o seu lançamento a acontecer apenas na primeira metade de 2005. O meu exemplar, no entanto, foi comprado algures em Setembro de 2021 numa CeX por um preço consideravelmente mais caro do que eu gostaria de dar, mas ainda assim abaixo do valor de mercado da época.

Jogo com caixa, manuais e papelada

A história decorre algures após os eventos decorridos em Star Fox Adventures, pois não só Krystal é uma das personagens que nos acompanha, o próprio planeta de Sauria é um dos locais que iremos visitar. O jogo começa como muitos outros nesta série, com Fox McCloud e companhia a aliarem-se às forças de Corneria e combater as forças do planeta Venom, agora lideradas pelo macaco Oikonny, sobrinho de Andross. No entanto, no final desse confronto surge uma enorme criatura insectóide que nos ataca e a trama adensa-se. Estes são os aparoid, que já haviam causado muito dano na galáxia vários anos antes e aparentemente estão novamente de regresso, pelo que o resto do jogo será passado a investigar, conter e combater essa ameaça.

Façam um favor a vocês mesmos, consultem as opções e escolham o esquema de controlo do meio

Uma das coisas que sempre chamou à atenção são os diferentes estilos de jogabilidade aqui presentes. Se já no Lylat Wars havia uma distinção entre o combate aéreo e on-rails característico dos Star Fox da Super Nintendo com combate mais livre no movimento e controlo de câmara, assim como a possibilidade de em certas ocasiões controlar veículos terrestres, este Assault foi ainda mais longe ao incluir tudo isso, mas também secções de combate pedestre, onde muitas vezes até poderemos entrar e sair dos nossos veículos livremente. Começando pelo básico, e apesar de o jogo oferecer algumas opções de customização dos controlos, a Arwing (nossa nave) tem um esquema de controlo único: o analógico controla o movimento, o botão A dispara o canhão principal, o B dispara bombas (que necessitam de munições próprias) o botão L activa os barrel rolls, o R trava, o Y activa o turbo, enquanto o X nos permite aterrar na superfície, ou seja, fora das missões on-rails. Já o Z é um botão comum a todos os veículos e esquema de controlo: permite-nos sair do veículo onde estamos.

Os segmentos de combate aéreo são de facto os mais divertidos!

Já quando usamos um Landmaster, ou simplesmente combatemos a pé, o jogo permite-nos escolher um de três esquemas de controlo. O escolhido por defeito obriga-nos a usar o analógico esquerdo para controlar o movimento e câmara (recorrendo ao botão R), enquanto o botão A dispara (um esquema algo semelhante ao Metroid Prime, portanto). O esquema “avançado” usa um método de controlo mais moderno, com o analógico esquerdo a mover, o direito controla a câmara e disparamos com o R e foi este o esquema que utilizei. Existe um terceiro método, onde o R movimenta personagem para a frente, enquanto o analógico controla a câmara e o botão A também dispara. Não me atrevi a experimentar. Tirando essas diferenças, os restantes botões serão mapeados de igual forma para acções como slide ou roll para evadir de ataques inimigos, saltar, activar zoom em armas que os suportem, etc. Para além disto, é também possível ajustar algumas preferências como a inversão do eixo vertical, algo que eu uso sempre que tenho essa possibilidade. Sinceramente até achei que o jogo se controlava decentemente bem, excepto o Landmaster, mas tal também é suposto, creio eu, pois estamos a controlar um tanque.

Em certos níveis vamos poder entrar e sair dos veículos à vontade, algo que teremos mesmo de acabar por fazer, quanto mais não seja para explorar o interior de certos edifícios.

As missões terrestres acabam sim por se tornar um pouco aborrecidas ao fim de algum tempo, mas acho que é mesmo mais por uma questão de design do que propriamente por má jogabilidade. Isto porque muito frequentemente teremos de destruir uma série de objectivos ( que por sua vez estão devidamente assinalados no mapa) e o simples facto de por vezes os cenários que temos de atravessar nessas secções terrestres serem corredores desinteressantes é que pode desmotivar um pouco. De resto, uma das maiores críticas é mesmo o facto desta ser uma aventura completamente linear, não existindo então nenhum caminho alternativo a tomar até ao final do jogo. Definimos que dificuldade queremos jogar no início do jogo e de resto é tudo igual. Vão existindo no entanto algumas recompensas: à medida que vamos avançando, poderemos desbloquear novos mapas ou personagens para os modos multiplayer, ou até um clássico da Namco, o Xevious. Infelizmente a versão Japonesa traz mais dois clássicos para desbloquear, o Battle City e o Star Luster, que ficaram aqui de fora. Por fim o jogo possui uma forte componente multiplayer local que sinceramente não cheguei a experimentar.

Ao contrários dos outros jogos da série, não temos quaisquer caminhos alternativos, com a história a seguir um único caminho e a dificuldade ser seleccionada no início

A nível gráfico até que considero este jogo bastante interessante. O Star Fox Adventures da Rare era de facto muito bom graficamente e este Assault acaba por ficar um pouco abaixo a nível de detalhe, mas não deixa de ser um jogo com gráficos bem detalhados numa Nintendo GameCube. Nada de especial a apontar aos efeitos sonoros, a música é por norma orquestral e algo épica e os diálogos são todos narrados em inglês, com o que me parecem ser, talvez, os mesmos actores que deram a voz às personagens no seu antecessor. Pelo meio também vamos ter várias cut-scenes em CGI que vão avançando a narrativa e estas são igualmente bem detalhadas e já agora, a narrativa até que acabou por ser consideravelmente melhor do que esperava.

Portanto este Star Fox Assault é um jogo que apesar de ter má fama, pelos seus maus controlos nos segmentos terrestres, sinceramente até nem o achei mau de todo. O facto de nos dar a possibilidade de utilizar um esquema de controlo que utiliza ambos os analógicos para controlo de movimento e câmara já o traz em linha para um sistema mais standard para o que estamos habituados actualmente. Talvez o facto dessas opções de controlo estarem algo escondidas tenha feito com que muitos jogadores nem sequer se tivessem apercebido da sua existência? Bom, já em relação ao que restou desta parceria entre a Namco e a Nintendo (que por sua vez fazia parte de uma parceria maior com a Sega também à mistura, ver Triforce), a Namco estava também a desenvolver um Star Fox para arcade, mas tal acabou por nunca ver a luz do dia.

Ace Combat: Distant Thunder (Sony Playstation 2)

Tempo de voltar à Playstation 2 para mais um jogo da série Ace Combat, o primeiro lançado nesse mesmo sistema, algures em 2002 cá pela Europa. Com uma consola de uma geração seguinte como base, estava bastante curioso em ver o que a Namco fazia com a série, depois do excelente Ace Combat 3, mesmo com todos os cortes que a sua versão ocidental infelizmente recebeu. O meu exemplar foi comprado há uns bons anos numa CeX a um preço bastante reduzido se a memória não me falha.

Jogo com caixa, manual e papelada diversa

A história leva-nos uma vez mais ao universo alternativo de strangereal (pela primeira vez apelidado dessa forma neste mesmo jogo), que é uma versão alternativa do nosso planeta, com diferentes continentes e nações. A narrativa parte da premissa de um asteróide gigante estar prestes a colidir com o planeta, pelo que a humanidade se uniu em construir uma grande arma (o sistema de canhões Stonehenge) para lutar contra essa ameaça. Uma vez passado esse perigo, uma das nações mais poderosas apoderou-se dessa mesma arma, usando-a agora como defesa antiaérea contra aviões de outras nações. Uma guerra é então despoletada, onde essa nação acaba por tomar controlo de grande parte do continente. Nós encarnamos no Mobius 1, um jovem piloto de aviões das Independent State Allied Forces que vai suportar os esforços dessas nações livres contra a potência imperialista. Na verdade o jogo até possui duas narrativas paralelas, a do tal piloto que acabei de referir, e a de uma criança que vive numa cidade ocupada e que acaba por ter bastante contacto com o mais galardoado esquadrão de pilotos inimigos.

O jogo apresenta-nos duas narrativas distintas: a nossa, dada nos briefings entre missões, e a de uma criança que vive numa cidade ocupada pelas forças invasoras

A jogabilidade permanece com um feeling algo arcade, até porque temos centenas de balas e dezenas de mísseis à disposição, assim como um tempo limite em cada missão. Os objectivos podem variar entre destruir uma série de objectivos principais dentro de um tempo limite, ou simplesmente fazer um mínimo de pontos (destruindo vários alvos inimigos, sejam aéreos, terrestres ou navais) dentro desse mesmo tempo limite. Nesse tipo de missões, uma vez passado o limite mínimo de pontos para a missão ser bem sucedida ainda poderemos continuar em voo até ao final do tempo disponível e destruir mais alvos, o que por sua vez nos irá aumentar a pontuação e por conseguinte a nossa avaliação no final da missão. Algumas das missões acabam também por terem objectivos extra a serem introduzidos, o que acaba também por extender o tempo limite para concluir a missão com sucesso.

O jogo possui diferentes câmaras que podemos usar, incluindo esta perspectiva de cockpit para quem quiser uma experiência um pouco mais realista.

A nossa performance será recompensada com dinheiro no final de cada missão, cujo poderá ser utilizado para comprar novos aviões ou diferentes armas que lá poderão ser utilizadas. Metralhadoras pesadas e mísseis básicos fazem sempre parte do load-out de cada avião, mas também poderemos equipar algumas armas especiais, que surgem sempre em números mais reduzidos, como mísseis mais rápidos, mais ágeis, bombas próprias para atacar alvos ao solo, entre outros como as cluster bombs, capazes de causar dano numa área do solo considerável. Antes de cada missão poderemos escolher que avião e equipamento especial queremos levar e uma das novidades aqui incluídas neste jogo passa pela possibilidade de, a qualquer momento nas missões, regressar à base para reabastecer e/ou reparar o avião e sempre que o fizermos o tempo limite para completar a missão congela. Infelizmente, no entanto, não existe nenhuma não-linearidade no progresso do jogo, ao contrário do que acontece com alguns outros Ace Combat. Porém, uma vez terminado a campanha principal, desbloquearemos alguns modos de jogo adicionais que lhe acabam por aumentar a longevidade, incluindo a possibilidade de revisitar as missões principais.

Antes de cada missão podemos escolher que avião queremos controlar (mediante se o tivermos adquirido) assim como as suas armas especiais.

Visualmente até que estamos perante um jogo bastante interessante, pelo menos tendo em conta que sai ainda consideravelmente cedo no ciclo de vida da Playstation 2. As diferenças de qualidade são bastante notórias quando comparado com os seus antecessores, pois a área de jogo visível é bastante convincente e o jogo vai tendo uma boa variedade de cenários, desde montanhas e desfiladeiros, zonas urbanas, ilhas e oceanos, desertos, entre outros. No entanto, sempre que nos aproximamos da superfície, reparamos que as texturas e modelos poligonais são algo simples no seu detalhe e resolução, o que é perfeitamente aceitável tal é a escala do mundo que o jogo renderiza. No que diz respeito ao som, esse é também um dos pontos mais fortes do jogo. Adoro todas as comunicações de rádio que vamos apanhando ao longo das missões, tanto das nossas tropas, como dos inimigos ou até, ocasionalmente, por parte de civis. Todos esses pequenos diálogos acabam por contribuir de forma bastante positiva para a atmosfera do jogo como um todo. Já as músicas são igualmente óptimas, atravessando vários géneros musicais, desde música mais orquestral, passando pelo rock e electrónica, resultando sempre em músicas enérgicas que bem acompanham toda a acção do jogo.

As comunicações que vamos interceptando no rádio acabam por dar uma outra vida ao jogo, tornando a experiência mais imersiva

Portanto este quarto Ace Combat é um jogo bastante bom na minha opinião. É verdade que a sua campanha não é muito longa, mas as missões vão sendo algo diversificadas entre si e a maneira como a história nos vai sendo apresentada, assim como todos aqueles diálogos que vamos acompanhando pela rádio, contribuem de forma muito positiva para a envolvência. A jogabilidade é óptima também e temos imensos aviões que poderemos eventualmente desbloquear, com a sua esmagadora maioria a tratar-se de aviões reais.

Enslaved: Odyssey to the West (Sony Playstation 3 / PC)

No seguimento da minha maratona de jogar uns quantos jogos de PS3 seguidos, ficamos agora com este Enslaved, um interessante jogo da Ninja Theory que acabou infelizmente por passar algo despercebido no meio de outros lançamentos. O meu exemplar foi comprado algures em 2016 na minha estadia em trabalho na Irlanda do Norte, tendo sido comprado numa CeX por 2,5£. Infelizmente no entanto esse meu exemplar não me levou muito longe, pois estava-me constantemente a dar problemas como crashes ou loadings que nunca mais terminavam, levando-me inclusivamente a corromper o meu save. Não sei se o problema é do blu-ray, ou do patch que o jogo nos obriga a instalar no início. Pelo que li nalguns fóruns, poderá mesmo ser esse o problema visto que o mesmo aconteceu a mais gente. O facto de o patch ter mesmo a versão UK no seu nome pode indicar que apenas essa versão regional terá este problema, ou não. Não me quis chatear muito mais com isto e depois de ver que a versão PC digital estava disponível a pouco mais de 2€ num site legítimo acabei por comprar e jogar antes essa versão, o que até calhou bem, pois a versão PC tendo sido lançada uns anos mais tarde, traz também os DLCs .

Jogo com caixa e manual

E este é um jogo que decorre num mundo pós apocalíptico e repleto de robots hostis reminiscentes de um conflito que dizimou toda a civilização. Para além disso, muitos dos humanos que sobreviveram estavam a ser capturados e escravizados. Nós encarnamos num guerreiro apelidado de Monkey que havia sido feito prisioneiro e estava a ser transportado de avião para a sua prisão. Mas eis que uma jovem mulher, de nome Trip, infiltra-se no avião e causa uma série de problemas, acabando por acidentalmente libertar Monkey. O problema é que o avião está agora prestes a despenhar-se nas ruínas de Nova Iorque e este primeiro nível serve como uma espécie de tutorial para nos ensinar os básicos de exploração e combate. Monkey e Trip acabam por conseguir escapar, com Monkey posteriormente a acordar com uma “coroa” de escravo na sua cabeça, colocada pela Trip. Ela exige que a escoltemos em segurança de volta até casa, numa perigosa viagem de mais de 300 milhas. Se Monkey não cooperar, Trip consegue ordenar a “coroa” para matar Monkey e por outro lado, se Trip morrer, Monkey morre também. E é com este ultimato que começamos a aventura a sério e teremos de atravessar toda uma série de situações de extremo perigo, com a relação entre ambos os protagonistas a acabar por se estreitar com o tempo, até porque ambos vão ter de cooperar muitas vezes para progredir. Uma nota adicional, a história do jogo é baseada no romance chinês “Jornada ao Oeste”, do qual a primeira série do Dragon Ball também se baseia. Não sendo eu um conhecedor da obra literária original, consegui retirar referências óbvias do próprio Dragon Ball. O herói é apelidado de Monkey, está equipado de um bastão que aumenta de tamanho e tem uma jovem que o acompanha para todo o lado. Mais à frente no jogo, entra uma nova personagem apelidada de Pigsy!

O primeiro nível serve como um tutorial dos controlos básicos

No que diz respeito às mecânicas de jogo, eu diria que Uncharted é talvez a influência mais óbvia, não só pela dinâmica de termos duas personagens em jogo, mas também pela vertente exploratória. Monkey sendo um tipo bastante ágil, vai mesmo ser obrigados a escalar superfícies e saltar entre plataformas como se não houvesse amanhã. O combate é naturalmente diferente do Uncharted pois este é mais focado em combates corpo-a-corpo, onde os botões faciais do comando da Playstation nos permitem atacar com os punhos ou com o bastão, com a possibilidade de fazer alguns combos. O X serve para nos desviarmos (ou saltar, fora do contexto de combate) e o círculo serve para activar os focus attacks, assim que tivermos desbloqueado essa habilidade, que são essencialmente combos poderosos e que nos deixam temporariamente invencíceis enquanto são executados. De resto, o R2 serve para activar o escudo. Fora do combate corpo a corpo, poderemos também usar o bastão para disparar projécteis e aí os controlos funcionam como um shooter normal, com os triggers para apontar e disparar.

Tal como nos Uncharted, Prince of Persia ou Assassin’s Creed, o jogo tem também uma forte componente de exploração que nos obriga a escalar paredes e efectuar uma série de saltos algo acrobáticos

Apesar de o sistema de combate não ser vasto como o de muitos jogos hack ‘n slash da época, acaba por cumprir bem o seu papel e teremos mesmo de o conhecer bem para termos sucesso. Evadir de certos golpes e/ou usar escudos para nos protegermos são essenciais, assim como certos golpes capazes de deixar os robots temporariamente atordoados e/ou baixarem as suas defesas. O jogo vai tendo também vários puzzles onde teremos de cooperar com a Trip para progredir, como atirá-la para locais de onde nós não conseguimos chegar, pedir-lhe para manipular alavancas ou interruptores, etc. De certa forma, muitas das secções de combate podem também ser entendidas como um puzzle, visto que se não tivermos os devidos cuidados rapidamente ambos poderão ficar em perigo. Por exemplo, os primeiros puzzles desse género que temos de resolver consistem em atravessar zonas protegidas por turrets, o que nos obrigará a correr de abrigo em abrigo. Trip consegue activar um holograma capaz de distrair temporariamente inimigos e aproveitamos esse momento para nos movermos para o próximo abrigo. Por outro lado, para Trip poder avançar em segurança, teremos de ser nós as cobaias, ao chamar à atenção das turrets e logo de seguida comandar a Trip para se mexer. De resto, convém também referir que o jogo tem um sistema de upgrades que podem ser “comprados” à medida que coleccionamos toda uma série de esferas coloridas que podem ser encontradas espalhadas pelos níveis, ou ao derrotar inimigos.

A nível técnico, certamente o que mais me impressionou foi a qualidade das animações faciais, algo que a Ninja Theory já tinha dominado no Heavenly Sword

Visualmente é um jogo interessante para os padrões da época, particularmente no detalhe e animações faciais das personagens principais que estão muito bons (a Ninja Theory já tinha mostrado um óptimo trabalho nesse aspecto com o Heavenly Sword). Depois do nível inicial que decorre a bordo de um grande avião prestes a despenhar-se, os níveis seguintes levam-nos a explorar as ruínas de Nova Iorque, onde a Natureza reclamou grande parte da cidade e há um grande contraste entre os cinzentos e castanhos do cimento e aço enferrujados das ruínas, com o verde da vegetação que entretanto ali foi crescendo. Os restantes níveis já nos levam para grandes montes de sucata, outras povoações mais remotas ou instalações industriais/militares antigas, sempre com o desgaste, erosão e aço oxidado bem patentes. Mas por outro lado, a nível técnico, já não achei um jogo assim tão bom (tirando o detalhe e animações faciais como já mencionei acima). Do pouco tempo que joguei a versão PS3 a sua performance estava longe do ideal, repleto de quebras de framerate bem notórias. Jogando no PC, consegui aproveitar e jogar o jogo numa resolução ultra-wide superior aos 1080p. Talvez por o ter jogado dessa forma que as texturas me pareceram algo pobres e de baixa resolução e mesmo assim tive alguns problemas de performance. Um detalhe interessante a quem for jogar este jogo no PC: não o joguem em low. Não me tinha apercebido que o jogo tinha mudado as definições gráficas para o mínimo depois de ter mudado de resolução pelo que joguei os 3 primeiros níveis dessa forma. E com os gráficos em low, há um bug que acontece perto do final do terceiro nível que nos impede de progredir: no fim do nível somos confrontados com um boss que entra na nossa sala ao derrubando uma parede. Com os gráficos no mínimo, não há cá superfícies destrutíveis, pelo que a parede se mantém intacta, não nos deixando prosseguir. De resto, o voice acting pareceu-me bastante bom até, particularmente nas personagens principais (também não há muitas mais personagens com as quais iremos interagir, na verdade). Já a banda sonora confesso que me passou completamente despercebida.

A versão PC tem a vantagem de trazer os DLCs, onde se inclui uma pequena prequela com o Pigsy como protagonista, trazendo também diferentes mecânicas de jogo.

Por fim, como referi acima, a versão PC traz já os DLCs incluídos, onde para além de algum conteúdo meramente cosmético que nem me atrevi a experimentar, o jogo inclui também o Pigsy’s Perfect 10, uma pequena prequela onde controlamos o Pigsy, a tal terceira personagem que conhecemos já na segunda metade do jogo. Aqui as mecânicas são consideravelmente diferentes, visto que Pigsy não anda à porrada, mas temos uma rifle com balas infinitas, pelo que teremos de combater à distância. Por outro lado, à medida que vamos progredindo vamos também desbloquear certas habilidades que teremos mesmo de utilizar. Gadgets que nos permitem activar hologramas para distrair robots ou turrets inimigas, granadas de impulsos electromagnéticos que deixam os robots temporariamente inoperacionais, bombas propriamente ditas, ou outros gadgets que tornam qualquer robot dentro do seu raio de acção temporariamente amigáveis e que nos defendem dos restantes inimigos. Portanto há também aqui uma certa componente estratégica nos combates e o recurso a armas de fogo deverá mesmo só ser utilizado para atacar inimigos à distância.

Portanto este Enslaved é um jogo interessante que, apesar de não ser uma obra prima, foi uma agradável experiência e merecia ter tido mais atenção aquando do seu lançamento. Tem uma história interessante e uma boa mistura entre exploração, puzzles e combate corpo-a-corpo satisfatório, sem ser demasiado complexo.