Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge (Sony Playstation 4)

Vamos voltar à Playstation 4 para um excelente jogo que já tinha em backlog há demasiado tempo. Depois da dotemu ter publicado o excelente remake Wonder Boy The Dragon’s Trap e o espectacular Streets of Rage 4, fiquei ainda mais interessado neles quando pouco tempo depois do SoR4 anunciam também um outro beat ‘em up com um aspecto bastante retro e de uma franchise muito nostálgica para quem cresceu nos anos 80 e 90, as tartarugas ninja! Este novo Shredder’s Revenge é então um beat ‘em up muito inspirado pelo óptimo trabalho que a Konami teve nos anos 90 desta série e com uma jogabilidade, gráficos e música soberbos. Foi desenvolvido pelos canadianos Tribute Games que já haviam lançado vários jogos indie, incluíndo o simpático Wizorb que já cá trouxe no passado. E o meu exemplar foi comprado algures em Fevereiro de 2023 numa promoção da Amazon por 30€. Se soubesse ter esperado um pouco mais, conseguiria tê-lo comprado mais barato e numa edição que já inclui o DLC Dimension Shellshock.

Jogo com caixa, pequeno manual, papelada e um porta chaves de brinde

A história leva-nos uma vez mais a encarnar numa das 4 tartarugas ninja (e não só, pois desde o início que poderemos jogar também com o Splinter ou a April) que se juntam para uma vez mais combater Shredder e todos os seus minions do Foot Clan, pois estes preparam-se para tomar a Estátua da Liberdade para fins desconhecidos. Iremos então uma vez mais lutar pelas ruas de Nova Iorque, dentro de estúdios de televisão, nos esgotos e até noutra dimensão para evitar que Shredder e companhia levem a cabo os seus planos.

O jogo permite até 6 jogadores em simultâneo, o que deve ser uma experiência espectacular!

A jogabilidade deste jogo é a de um beat ‘em up clássico e é também bastante fluída! Os botões faciais servem para saltar (X), atacar (quadrado), desviar (círculo) ou usar golpes especiais (triângulo) assim que tivermos preenchido uma barra de energia para o efeito. Naturalmente poderemos desencadear diferentes tipos de combos, golpes e manobras diversas, o que acaba por enriquecer bastante o combate e a experiência de jogo! O modo história, que possui um mapa de níveis como no Super Mario World, pode ser jogado sozinho ou com vários amigos cooperativamente, quer online, quer em multiplayer local até um máximo de 6 jogadores em simultâneo, o que deve ser uma experiência fantástica, mas não cheguei a experimentar. Cada uma das personagens possui características e golpes diferentes, pelo que vale a pena ir rejogando o jogo com várias personagens para uma experiência diferente! Os níveis também vão ter vários inimigos e obstáculos, uns já bem conhecidos dos clássicos arcade da Konami, outros novos. Vamos poder também apanhar várias pizzas que terão funcionalidades distintas. Umas servem para nos regenerar vida, outras para nos deixar temporariamente utilizar os ataques especiais sem quaisquer restrições, já outras até nos deixam desencadear um ataque poderoso durante vários segundos enquanto estamos também invencíveis. No meio de todos os objectos destrutíveis poderemos também encontrar alguns coleccionáveis que nos darão pontos extra. Pontos esses que servem também como uma espécie de sistema de experiência, permitindo-nos desbloquear novos golpes, habilidades ou simplesmente melhorar a personagem com que jogamos, ganhando mais saúde ou aumentar a sua barra de special.

Muitas das personagens são caras bem conhecidas para quem via a série animada!

Para além desse modo história, temos também outros modos de jogo adicionais como é o caso do arcade, que é essencialmente o mesmo jogo mas com uma maior limitação de vidas e continues e sem qualquer save, obrigando-nos a terminá-lo de uma assentada. Outro modo de jogo que eventualmente foi introduzido é o survival, mas esse está apenas disponível para quem tiver comprar o DLC Dimension Shellshock, que por sua vez vem também incluído na edição Anniversary. Esse DLC traz também outras personagens jogáveis, o que é a única coisa que me dá alguma pena de não ter arranjado antes essa versão.

Jogando no modo história, à medida que vamos amealhando pontos vamos ganhando também alguns bónus

A nível audiovisual este é um jogo excelente. Extremamente colorido e muito bem detalhado, com gráficos em pixel art de um detalhe impressionante. Adoro quando fazem jogos assim! Os níveis vão sendo variados, levando-nos a diferentes cenários desde as já típicas ruas de Nova Iorque, passando pelo interior de edifícios, esgotos a dimensão X e até as ruínas da Technodrome, tudo com excelentes gráficos e animações. A banda sonora é também bastante completa, contendo músicas bem enérgicas e com toadas electrónica, rock e rap/hip-hop. A banda sonora foi composta por um compositor português (Tiago Tee Lopes) que já havia contribuído com várias outras bandas sonoras de peso, incluindo o Streets of Rage 4 ou Sonic Mania. A banda sonora conta também com a colaboração de vários músicos conhecidos, entre os quais o Mike Patton, lendário vocalista de Faith No More e muitos outros projectos, que deu a sua voz para uma interpretação do tema título desta série. De notar também que apesar de não haver voice acting constante, ocasionalmente as várias personagens vão dizendo alguns diálogos e estes foram todos narrados pelos actores que deram as vozes na série de animação original. Mais um detalhe interessante!

Um dos detalhes que adoro neste jogo é o mesmo se passar nos anos 80/90 tal como a série animada original. O que não faltam são CRTs!

Portanto este Shredder’s Revenge é um excelente beat ‘em up que irá agradar não só aos fãs do género como aos fãs da conhecida série televisiva / banda desenhada. Este lançamento bem sucedido, em conjunto com a compilação que a Digital Eclipse trabalhou, voltaram a colocar o nome das tartarugas ninja em cima da mesa. Neste ano sai o Mutants Unleashed, aparentemente uma adaptação de um filme lançado no ano passado. É também um beat ‘em up, embora nem a dotemu nem a Tribute Games tenham tido qualquer envolvimento no desenvolvimento desse jogo. A receptividade do mesmo não tem sido a melhor, pelo que irei aguardar mais uns tempos até me decidir se o quererei jogar ou não. Um outro lançamento em que a dotemu esteve envolvida neste ano foi o Metal Slug Tactics e esse sim, será algo a ter em conta.

Streets of Rage 4 (Sony Playstation 4)

Produzido pela dotEmu, Lizardcube (as mesmas mentes responsáveis pelo óptimo remake Wonder Boy The Dragon’s Trap) e Guard Crush Games, este projecto começou por ser uma ideia de ser um remake do primeiríssimo Streets of Rage. No entanto, a ideia evoluiu para uma sequela e quando a apresentaram à Sega, a empresa nipónica, reconhecendo o talento dos estúdios envolvidos, deu luz verde ao projecto. E assim tivemos uma sequela desta série que já estava adormecida há mais de 25 anos! O meu exemplar foi comprado numa Worten, algures por alturas da Black Friday de 2021, tendo-me custado 30€ se bem me recordo.

Jogo com caixa, na sua edição Anniversary que inclui o DLC Mr. X Nightmare em disco.

A história decorre 10 anos após os acontecimentos de Streets of Rage 3, onde das cinzas do império do crime deixado pelo antagonista Mr. X, surge um novo grupo de crime organizado que aterroriza a cidade, aparentemente liderado pelos seus filhos, os gémeos Y. Os detectives Axel Stone e Blaze Fielding, juntando-se a Cherry Hunter (filha de Adam Hunter) e Floyd Iraia (discípulo de Dr. Zan, e igualmente um cyborg) decidem investigar o gangue e o resto é o que se sabe, pancadaria a torto e a direito!

O primeiro nível começa como é habitual: de noite e nas ruas sujas da cidade!

A jogabilidade é então e de um beat ‘em up urbano à antiga, mas também modernizando-o, ao introduzir um novo sistema de combos que nos irá aumentar a pontuação quanto mais dano for infligido aos inimigos, sem sofrer dano pelo meio. As mecânicas de jogo são algo similares às do Streets of Rage II, embora com algumas mudanças. Temos um botão de ataque básico, cujos ataques podem ser encadeados para desencadear alguns combos básicos, outro botão para salto. O círculo é usado para apanhar itens ou armas do chão, bem como atirá-las aos inimigos (se pressionado em conjunto com uma esquerda ou direita), ou simplesmente pode também ser usado para agarrar algum inimigo que nos esteja próximo. Mas temos também uma série de golpes especiais que podem ser usados. Todas as personagens (iniciais) possuem ataques blitz, special e stars. Os primeiros são golpes especiais que podem ser despoletados ao seguir uma certa combinação de botões e sem qualquer penalização. Os specials, que por sua vez podem ser defensivos, ofensivos ou aéreos, são despoletados com o triângulo e fazem-nos perder alguma vida, que pode agora ser recuperada se conseguirmos desferir alguns golpes bem sucedidos em seguida e sem sofrer dano. Os stars são desencadeados ao pressionar os botões círculo e triângulo em simultâneo e podem apenas ser usados se tivermos coleccionado alguma estrela.

O segundo nível desde cedo se torna numa rebaldaria. A polícia não está do nosso lado, desta vez

É portanto um beat ‘em up muito bem feito e também desafiante, com várias secções onde teremos de enfrentar grupos de inimigos numerosos e teremos muitas vezes de jogar um misto entre agressividade e estratégia, ao estudar as habilidades de cada inimigo, as suas animações e atacá-los no melhor momento possível. Aquele último nível então, teve momentos de bradar aos céus! Dependendo da dificuldade escolhida, teremos um certo número de vidas disponíveis para tentar passar cada nível, cujo progresso é posteriormente gravado ao terminá-los. Morrendo resta-nos recomeçar o nível em questão, no entanto o jogo permite-nos alterar a personagem seleccionada se assim o desejarmos, ou activar algumas ajudas, como vidas e/ou estrelas extra, que por sua vez nos penalizarão na pontuação alcançada no final do nível. Pontuação essa que é usada para desbloquear uma série de novos lutadores! O primeiro, Adam Hunter (finalmente de volta à acção!) é desbloqueado automaticamente com o decorrer da história. Os restantes são, nada mais nada menos, que todas as personagens do Streets of Rage 1, 2 e 3 (excepto o Roo, na versão vanilla). Para além de todo esse fan service, essas personagens possuem os golpes das suas versões originais, ou seja, no caso das personagens do SoR1, por exemplo, apenas possuem os especiais star, que por sua vez consistem em chamar um carro da polícia que lança um rocket, causando dano em todos os inimigos à nossa volta. Foi de facto um detalhe delicioso!

O facto de podermos desbloquear as personagens antigas, com o aspecto e jogabilidade original, é um detalhe delicioso

Para além do modo história dispomos de outros modos de jogo adicionais como um modo arcade, onde somos obrigados a terminar o jogo todo de uma só assentada ou um boss rush, que nos leva a enfrentar todos os bosses de forma consecutiva. O battle mode é um modo de jogo multiplayer competitivo, onde podemos andar à batatada uns com os outros. Eventualmente sai também um DLC chamado Mr X. Nightmare, que traz uma série de coisas novas, a começar por um novo modo de jogo, o survival, que nos leva a tentar ultrapassar uma série de desafios específicos, sobrevivendo ao máximo de inimigos possível. Sinceramente não cheguei a perder muito tempo com este modo de jogo, mas sempre que derrotamos uma onda de inimigos, somos levados a escolher um entre dois power ups, que nos darão buffs aleatórios, como causar dano elemental, melhorar a nossa defesa, recuperar vida automaticamente, etc. Ao progredir e passar certos níveis, iremos também desbloquear novos golpes, que por sua vez poderão ser seleccionados no modo história, ao customizar a personagem escolhida. As outras grandes novidades deste DLC, para além de um modo treino com tutoriais, estão mesmo nas novas personagens jogáveis, outrora bosses do modo história, como é o caso da polícia Esteel, ou as caras conhecidas do Max ou Shiva. A personagem Roo do Streets of Rage 3 foi também introduzida neste DLC como personagem jogável, mas terá de ser desbloqueada com recurso a um código, mesmo à antiga!

Entre cada nível vamos tendo cutscenes que avançam na história, mas estas poderiam ser melhores. São practicamente imagens estáticas com texto, sem qualquer voice acting também.

Graficamente é um jogo soberbo. Todas as personagens foram desenhadas e animadas à mão, o que lhe dá um aspecto fantástico e o mesmo pode ser dito dos níveis, que são bem variados e bem detalhados. O primeiro nível começa como habitual à noite e nas ruas sujas O segundo nível passa-se numa esquadra da polícia, onde temos de fugir da prisão e a certa altura a só vemos mesmo a polícia e bandidos à pancada uns com os outros e nós podemos optar por nos manter longe do conflito e esperar que eles se matem uns aos outros, ou podemos dar porrada em todos. Ou o nível do esgoto que culmina na entrada da casa de banho de um bar, onde começa a haver uma rixa entre bandidos e motoqueiras e uma vez mais nós lá no meio. E claro, o Roo a servir de barman! Obviamente que também teremos segmentos com elevadores! As referências aos clássicos são inúmeras, logo no primeiro nível que tem um look muito similar ao primeiro nível do primeiro SoR, até com alguns dos neons das lojas semelhantes, como o Pine Pot. No nível do esgoto temos um graffiti do Joe Musashi (Shinobi) e o barman é nada mais nada menos que o Roo, por exemplo! As personagens extra que desbloqueamos dos jogos antigos possuem as mesmas sprites dos clássicos e poderemos até desbloquear alguns mini-níveis escondidos, onde teremos de defrontar alguns bosses dos clássicos da Mega Drive.

Estes tipos são chatos! Especialmente quando acompanhados daquelas meninas que atiram cocktails molotov que nos paralisam temporariamente.

Já a nível de som este é também um excelente trabalho. A banda sonora é super ecléctica, oscilando entre a música electrónica, o rock, jazz ou até outros tipos de sonoridades mais folclóricas. Apesar da maioria das músicas serem da autoria do compositor francês Olivier Deriviere, o jogo conta com várias faixas de Yuzo Koshiro, Motohiro Kawashima (que colaborou com Koshiro nos Streets of Rage e em muitos títulos), mas também foram buscar compositores que trabalharam em clássicos da Capcom, Tecmo e outros. Ficou um trabalho fantástico. De salientar também a excelente banda sonora do DLC Mr. X’s Nightmare, que foi toda composta pelo “nosso” Tee Lopes e é mais uma vez uma óptima mistura entre o rock, electrónica e outros géneros musicais. De resto convém também referir que, algures nas opções, poderemos activar a banda sonora retro. E esta leva-nos não só a ouvir algumas melodias clássicas dos jogos da Mega Drive, mas também das versões Master System / Game Gear dos Streets of Rage, o que foi uma surpresa que não estava nada à espera!

Portanto eu devo dizer que fiquei muito agradavelmente surpreendido por este Streets of Rage 4. É um beat ‘em up desafiante, moderno, mas ainda assim contém toda a essência da série original. Jogabilidade excelente, um grande número de personagens jogáveis, todas com mecânicas distintas entre si, muitas personagens desbloqueáveis e muitos modos de jogo capazes de nos entreter por largas horas. A nível audiovisual está também um jogo muito apelativo e lá está, mantém todas as raízes dos trabalhos originais. A dotEmu continua de parabéns em continuar a querer publicar jogos deste calibre e as expectativas para o Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge são elevadíssimas!

Wonder Boy: The Dragon’s Trap (Sony Playstation 4 / PC)

O Wonder Boy III: The Dragon’s Trap é, para mim, um dos melhores jogos de plataforma da era 8bit. É também um metroidvania, embora seja ainda algo primitivo. E quando soube há alguns anos atrás que estava a ser preparado um remake, fiquei bastante interessado. É que a liderar o projecto estava nada mais nada menos que Omar Cornut, não só um grande entusiasta da série Wonder Boy, mas também da própria consola Master System e restante hardware Sega 8bit. Omar Cornut é o autor do emulador Meka, que usei bastante há anos atrás, bem como um dos fundadores da comunidade SMSPower, que costumo também seguir. Mas adiante! Apesar de ter o jogo no steam há algum tempo, e sinceramente não me recordo como veio cá parar, quis mesmo optar por ter antes um lançamento físico, algo que aconteceu há uns meses atrás, após ter comprado este exemplar da PS4 através de um vendedor no ebay por cerca de 25€. É bom ver um jogo de PS4 “normal” com tantos extras, a começar por um manual!

Jogo com capa reversível, manual, banda sonora, porta chaves e papelada

E escrever sobre a série Wonder Boy é sempre uma dor de cabeça, não só pelas diferenças de nome entre regiões e entre consolas, a começar pelo facto do Adventure Island ser um reskin do primeiro Wonder Boy e que deu origem à sua própria série. O Wonder Boy III da Master System (não confundir com o Wonder Boy III da Mega Drive que não tem nada a ver) é na verdade o segundo jogo da subsérie Monster World, que primam por serem jogos de plataforma não lineares (os tais metroidvania) e com alguns elementos ligeiros de RPG. O twist deste Dragon’s Trap está mesmo na forma como o jogo começa. Há um recontar da última batalha contra o Dragão (a mesma que finaliza o Wonder Boy in Monster Land), mas desta vez, o dragão ao ser derrotado lança uma maldição ao jovem herói, transformando-o num dragão! Então lá teremos uma vez mais de vaguear pela Monster Land em busca da nossa humanidade! No entanto, à medida que vamos defrontando outros bosses, vamo-nos transformando noutras criaturas, que nos darão diferentes habilidades também. E o mundo está construído de forma a que certos locais apenas sejam acessíveis a certas criaturas, bem como teremos muitas salas secretas para descobrir, com equipamento mágico ou corações que nos extendam a barra de vida.

É impossível ficar indiferente a estes gráficos lindíssimos, pintados à mão

Não é um jogo muito grande, mas gostei bastante do conceito das diferentes transformações. O dragão cospe fogo, podendo atacar à distância e é invulnerável a lava, mas não tem qualquer escudo que o defenda. A segunda transformação é um homem-rato, minúsculo, mas que lhe permite não só esgueirar-se por passagens estreitas mas também agarrar-se a superfícies com uma textura quadriculada, podendo assim subir paredes ou mesmo andar pelos tectos. Outra é um homem-piranha, capaz de nadar à vontade na água, já o lion-man é uma transformação poderosa e com uma óptima área útil de defesa e ataque. A última transformação é um homem-pássaro, que apesar de ser mais frágil, permite-nos voar livremente e explorar os cenários à vontade. É contudo, a única forma que é vulnerável à água, pelo que temos também de ter isso em atenção. É portanto um jogo onde há um grande foco na exploração, mas também teremos de fazer algum grinding, pois os melhores equipamentos também custam uma pipa de massa.

Ocasionalmente encontramos lojas onde poderemos comprar melhor equipamento, outros itens, ou mesmo hospitais onde nos regeneram a barra de vida

Mas o que traz este remake de novo? Bom, para além dos gráficos e som refeitos e que descreverei mais à frente, temos também alguns locais secretos (e novos) para explorar, bem como alguns melhorias de quality of life. Apesar de não haver nenhum sistema de fast travel, sempre que quisermos voltar à aldeia central, que serve de hub para aceder a todas as outras áreas, basta pausar e escolher a opção para voltar ao ecrã título. Quando recomeçarmos o jogo, estamos novamente na aldeia central, mas retendo toda a barra de vida, dinheiro, equipamento e magias que tenhamos amealhado. É também uma excelente maneira de evitar morrer, pois apesar do jogo ter vidas infinitas, sempre que morremos voltamos à tal aldeia central, mas perdemos todos os itens que tenhamos amealhado (no entanto o equipamento, tamanho da barra de vida e dinheiro mantêm-se).

Diferentes formas do Wonder Boy possuem também diferentes habilidades

Já a nível audiovisual, fizeram aqui um trabalho excelente. Os gráficos foram todos redesenhados com figuras e cenários desenhados à mão, mas com excelentes animações. A banda sonora foi toda regravada usando instrumentos reais, e algumas músicas ficaram mesmo muito boas na minha opinião, dando-lhe até outra vida, como o tema do deserto que agora é bem mais jazzy. Gostava de um dia ver um documentário de making of deste jogo, pois o Omar e sua equipa fizeram todo este jogo com base em engenharia reversa do lançamento original para a Master System. Para além disso, a qualquer momento podemos alternar, em tempo real, entre os gráficos originais e do remake, mas também ambas as bandas sonoras, e aí dá mesmo para sentir as diferenças!

Outra das novidades aqui introduzidas é a possibilidade de jogarmos com uma rapariga

Portanto este lançamento acaba por me agradar bastante, pois não só é um remake de um jogo clássico da Master System, como também é um remake de muita qualidade e, espero eu, que tenha de certa forma cativado a audiência para eventualmente vermos mais lançamentos deste género, o que de certa forma já aconteceu. Em 2018 tivemos o lançamento de Monster Boy and the Cursed Kingdom, um sucessor espiritual de Wonder Boy, e este ano um novo remake, o do Monster World IV, agora sob o nome de Wonder Boy: Asha in Monster World. Planeio comprar e jogar ambos em breve!

Ys Origin (Sony Playstation 4)

Actualmente, sempre que vou começar a jogar uma nova série, prefiro começar pelo primeiro jogo que foi lançado. No entanto, até uns anos atrás, preferia antes começar pelo jogo que decorria primeiro na cronologia da história da série. E quando peguei mais a sério nos Ys algures em 2011, decidi então começar pelo Origin, que joguei a sua versão PC quando ainda não tinha sido lançada oficialmente por cá, pelo que usei um patch de tradução feito por fãs. Ora em 2012 a XSeed, que já tinha localizado muitos jogos da saga noutros sistemas, localiza oficialmente este Ys Origin para PC com um lançamento em formato digital. Mais tarde em 2017 a dotEmu relança o mesmo jogo para uma série de outras plataformas, incluindo esta versão para a PS4 que vos trago cá hoje. O meu exemplar foi comprado algures em Novembro por cerca de 30€ no ebay e decidi rejogá-lo, desta vez numa playthrough mais ligeira em easy para reavivar a minha memória.

Jogo ocm caixa

Ora e como o nome indica, esta é uma prequela do primeiro jogo, decorrendo 700 anos antes do mesmo. Ys, que se lê em português literalmente como “ise”, refere-se a uma ilha que, através da magia das deusas Feena e Reah, se ergueu nos céus de forma a salvar a sua população de um ataque demoníaco que tinha acontecido na superfície anos antes. E a civilização daquela ilha foi prosperando até que, certo dia as deusas desaparecem, levando consigo a black pearl, um artefacto mágico extremamente poderoso. Então são formadas equipas de busca compostas por cavaleiros, feiticeiros e sacerdotes que partem para a superfície em busca das suas deusas, acabando por explorar uma misteriosa torre de 25 andares que entretanto se tinha erguido.

A jogabilidade é a de um action RPG com intensos combates e muitos obstáculos para ultrapassar nos cenários

Este é então um RPG de acção, onde inicialmente poderemos optar por jogar por entre duas personagens distintas. Yunica Tovah, uma aspirante a cavaleiro sem quaisquer poderes mágicos mas detentora de uma força física invejável, ou Hugo Fact, um jovem e prodigioso feiticeiro, mas que detém motivações algo misteriosas por detrás. A história vai tendo pequenas diferenças que se prendem pelos diferentes backgrounds que ambas as personagens têm, mas no fim de contas acaba por ser essencialmente a mesma. O que difere mais em ambas as personagens é as suas mecânicas de jogo, pois Yunica possui ataques físicos de curto alcance, enquanto Hugo consegue atingir inimigos de mais longe com os seus projécteis mágicos, na verdade jogando com Hugo o jogo quase que parece um shmup! Independentemente da personagem que escolhemos, à medida que vamos avançando no jogo iremos também adquirir novas habilidades que nos vão dar uma maior variedade de mecânicas de jogo no combate. Alguns inimigos são especialmente susceptíveis a alguns destes novos golpes, incluindo os bosses, pelo que a experimentação e preserverança é a chave do sucesso. Quando completamos o jogo com ambas as personagens desbloqueamos uma terceira personagem jogável, que possui uma jogabilidade com ataques ainda de menor alcance. Visto que iremos jogar com um dos supostos vilões a narrativa é-nos apresentada com um maior foco nos maus da fita e esta é considerada pela Falcom como a versão canónica dos eventos deste jogo.

Para facilitar a exploração, as estátuas que vamos desbloqueando ao longo do jogo servem também de pontos de teletransporte

Mas o que mais difere este Ys dos restantes que joguei até agora (parei no Oath in Felghana), é o facto de jogarmos apenas naquela grande torre de 25 andares, em vez de explorar o continente. É verdade que a torre vai tendo temas diferentes, desde andares submersos em água, outros cheios de lava, outros com temática do deserto e por aí fora, mas acaba por não haver uma grande variedade de cenários em relação a outros jogos da série. O progresso pode ser salvo ao interagir com estátuas das deusas Feena ou Reah que vamos desbloqueando ao longo do jogo e as estátuas vão tendo também outros papéis importantes: São a única forma de regenerar os nossos pontos de vida (o que também acontece sempre que subimos de nível) e também servem como uma espécie de loja onde poderemos melhorar os stats das armaduras e botas que vamos encontrando, bem como melhorar certas características de cada personagem, como o menor tempo de recuperação de mana ou da barra de boost, maior resistência a efeitos adversos como envenenamento, confusão e afins. Ao explorar a dungeon e todos os seus recantos, iremos não só encontrar uma série de itens necessários ao progresso no jogo como chaves ou outros acessórios, mas também outros itens que nos permitirão melhorar a nossa arma ou incrementar a barra de vida.

O que também nao faltam são bosses à velha guarda, onde teremos de memorizar os seus padrões de ataque e aproveitar as aberturas

E este é também um jogo cheio de extras, para além da tal terceira personagem que apenas é desbloqueada quando terminarmos o jogo com a Yunica e Hugo. Vamos desbloqueando também modos de jogo adicionais como o Time Attack com online leaderboards ou o Arena, que é uma espécie de survival. Mas os extras não se ficam por aqui! Os pontos que vamos amealhando no modo arena podem ser usados numa loja para comprar mais extras, incluindo versões EX de cada uma das personagens e que podem ser usadas no jogo normal, bem como o próprio Adol Christin, a personagem principal da série Ys que surgiu nos jogos seguintes, embora este possa apenas ser utilizado no modo Arena.

Explorar todos os recantos da torre pode-nos recompensar com importantes upgrades que nos darão muito jeito nos confrontos mais exigentes

Graficamente temos de considerar que este é um jogo lançado originalmente em 2006 e que usa o motor gráfico do Ys VI: The Ark of Napishtim, lançado originalmente em 2003. Portanto não esperem por gráficos bonitinhos, mas sinceramente acho que cumprem bem o seu papel. O jogo é todo renderizado em 3D poligonal, excepto as personagens e inimigos, que são sprites em 2D muito bem detalhadas. Já os bosses, que curiosamente parecem ser inspirados em bosses do Ys I e II, são também apresentados em 3D poligonal. Já no que diz respeito à banda sonora, tradicionalmente a série Ys possui músicas muito boas, sempre foi um dos seus pontos mais fortes! E as músicas aqui não são nada más, gosto particularmente daquelas com uma toada mais rock, mas devo dizer que como um todo a banda sonora ficou um pouco abaixo de outros Ys.

Portanto este Ys Origin é um óptimo RPG de acção. É relativamente curto, mas isso é compensado pela maior dificuldade comparando com outros jogos da série. A menos que o joguem em easy como fiz desta vez, claro. E todos os desbloqueáveis também lhe aumentam a jogabilidade! Desta vez fiz questão em terminar o jogo com todas as personagens e de facto entende-se o porquê da história da terceira personagem ser considerada a canónica. Para os fãs de Ys, vale a pena!