Fighting Street (PC-Engine CD)

A primeira vez que joguei o primeiro Street Fighter foi através do emulador MAME, há já uns bons anos atrás. E infelizmente não me deixou com a melhor das impressões. O elenco de personagens disponíveis eram bastante genéricas, as vozes digitalizadas eram sofríveis, mas acima de tudo era a jogabilidade que estava longe de ser tão fluída e consistente quanto na sua sequela. Recentemente comprei a versão PC-Engine CD, tendo-me custado cerca de 20€ já a contar com os portes de envio e o resultado final, para o pior ou melhor, não é muito diferente da versão original, infelizmente.

Jogo com caixa e manual (com poster) na sua versão japonesa

Este é então um jogo de luta de um contra um mas onde se jogarmos sozinhos, apenas poderíamos controlar Ryu. A ideia é a de viajar pelo mundo (Japão, China, Estados Unidos, Reino Unido e no final a Tailândia) e defrontar dois lutadores de cada região. Inicialmente poderemos escolher qual o país a visitar primeiro, excepto a Tailândia que ficará sempre com os confrontos finais, onde teremos de enfrentar Adon e Sagat. Tal como muitos jogos de luta que lhe seguiram, teremos de defrontar cada oponente em 2 rondas e dentro de um tempo limite. Se o tempo se esgotar, vence quem tiver mais energia! Já se jogarmos com 2 pessoas, o primeiro jogador controla o Ryu, já o segundo controla o Ken, que ainda não aparece em mais lado nenhum…

Infelizmente a jogabilidade não é tão fluída quanto nas suas inúmeras sequelas

A nível de jogabilidade já o original não era propriamente o jogo mais fluído de sempre, e infelizmente a versão PC-Engine não melhorou muito as coisas. Existem 2 versões distintas na arcade, uma que possui um setup de controlos mais tradicional dentro da série Street Fighter, com os seus 6 botões de acção que representam socos ou pontapés ligeiros, médios ou fortes. A outra versão usava apenas 2 botões com sensores de pressão, um para pontapés e o outro para socos. A intensidade de cada golpe estava directamente relacionada com a intensidade da pressão aplicada em cada botão! Não sei quando começaram a surgir na PC-Engine os primeiros comandos com mais 2 botões de acção, mas este Fighting Street, lançado originalmente em 1989 apenas usa os dois botões, logo temos um sistema que “emula” a jogabilidade da versão arcade com 2 botões. A diferença é que os botões do comando da PC-Engine não são analógicos, logo a forma que é usada para calcular a “intensidade” de cada golpe está relacionada com o tempo que deixamos cada botão pressionado. E infelizmente isso não resulta bem.

Ao fim de alguns combates temos também algumas sequências de bónus

Ryu tem só 3 ataques especiais nesta versão, o Hadouken, o Shoryuuken, e o “pontapé tornado” que nunca sei pronunciar. Mas se estão à espera de os executar da mesma forma que no Street Fighter II, bem que o podem esquecer. Durante muito tempo achei que os specials eram executados de forma completamente aleatória, mas nesta versão temos de deixar o botão de soco ou pontapé pressionado enquanto fazemos as direccionais e largar o botão de acção no fim. Ou seja, para executar o hadouken temos de manter o botão de soco pressionado enquanto fazemos baixo, baixo/frente, frente e largar o botão. Mas mesmo assim nem sempre o golpe é executado, o que acaba por ser um bocado frustrante. Até os simples saltos são difíceis de acertar, a movimentação dos lutadores é lenta e muito inconsistente! É um jogo que ainda teria muito que melhorar na sua jogabilidade, algo que a Capcom felizmente fez muito bem na sua sequela.

Estas vozes são absolutamente terríveis…

No que diz respeito aos visuais, já o original arcade não era propriamente o jogo mais bonito de sempre. Esta versão PC-Engine não é assim tão diferente da versão arcade a nível gráfico, as arenas possuem um pouco menos de detalhe, mas mesmo a versão original também não tinha gráficos de deixar o queixo caído. O leque de lutadores é muito genérico e apenas Ryu, Ken e Sagat foram reaproveitados para o Street Fighter II. Outros lutadores como o Adon, Birdie ou Eagle acabaram por ser repescados nos Street Fighter Alpha (que são prequelas deste jogo), ou o Gen que acabou também por ser personagem jogável nos Street Fighter IV. Já as músicas, bom esta versão PC-Engine é certamente superior à versão arcade nesse aspecto, até porque este é um lançamento em CD e com músicas de melhor qualidade! Já as vozes digitalizadas que ouvimos entre combates… bom já na arcade eram absolutamente horríveis e confesso que estava à espera que fossem melhores nesta versão, mas infelizmente não é esse o caso.

O Sagat é o boss final, mas o seu retrato parece um meme…

Portanto é verdade, o primeiro Street Fighter é um jogo que envelheceu muito mal. Mas não deixa de ser muito importante para a história dos videojogos. Street Fighter não é o primeiro jogo de luta de 1 contra 1, acaba por ser uma evolução interessante de um género que estava ainda muito em fase embrionária mas até a primeira roda ainda era um pouco quadrada. Da equipa que produziu este primeiro jogo, alguns continuaram na Capcom e fizeram o Final Fight e Street Fighter 2, ambos jogos fantásticos, já outros mudaram-se para a SNK e estiveram também a trabalhar no primeiro Fatal Fury, e ambas as empresas foram aperfeiçoando o género ao longo da década de 90, com inúmeros lançamentos de qualidade. A versão PC-Engine CD infelizmente também envelheceu mal, mas não deixa de ser um lançamento interessante no seu catálogo.

L-Dis (PC-Engine CD)

Mais uma rapidinha a um shmup da PC-Engine, este um bocado mais obscuro pois nunca saiu fora do Japão e permanece um exclusivo da PC-Engine CD ao fim de todos estes anos! E é um jogo que veio cá parar após ter importado um lote de 14 jogos de PC-Engine directamente do Japão. Ficou-me a cerca de 7€ por jogo, já contando com todos os custos adicionais.

Jogo com caixa e manual embutido na capa

A história é contada no início do jogo, numa cutscene repleta de voice acting em japonês. E embora não entenda rigorosamente nada do que estão para lá a dizer, dá para ter uma ideia do que se passa. Depois da escola terminar, dois amigos (rapaz e rapariga) vão brincar para um bairro algo shady e põem-se a desenhar monstros com giz lá num muro. Entretanto algo de errado se passa, os monstros que eles desenharam ganham vida, aparece uma criatura demoníaca e rapta a rapariga! O rapaz mete-se numa nave que mais parece um peixe e assim começa mais um shmup horizontal, bastante bizarro por sinal.

Como muitos cute’em ups, o jogo até que tem o seu charme

Antes de começarmos no entanto, temos a oportunidade de optar entre 3 configurações diferentes de armas a usar durante o jogo. Já quando partimos para a acção iremos obviamente encontrar uma série de power ups, mas o grande desafio é mesmo saber de antemão o que é que podemos apanhar. É que ao contrário de outros shmups que possuem power ups na forma de ícones facilmente reconhecíveis, estes são na verdade quadrados com palavras escritas em kanji, portanto é sempre uma incógnita a menos que saibam japonês. E esses power ups incógnitos podem ser upgrades ao nosso poder de fogo, satélites (options) adicionais, outros podem ser aquelas bombas capazes de causar dano a todos os inimigos em simultâneo ou escudos.

Este boss ainda nos proporciona uma situação caricata!

Uma curiosidade é que os satélites não orbitam à volta da nossa nave, mas sim perseguem-na, como se estivessem presos por um cabo. Ou seja, se por exemplo estivermos no fundo do ecrã e subirmos para o topo, os satélites vão ficar abaixo da nave, e aí conseguimos cobrir uma grande área do ecrã com o nosso poder de fogo! Mas não se enganem, apesar de ser um jogo que tem um aspecto muito “fofinho” é bastante desafiante! Temos apenas 6 níveis mas são todos bastante longos, com múltiplos midbosses e um boss final, os inimigos rapidamente começam a adoptar padrões de movimento (e de fogo) mais agressivos. Para além disso como se os reflexos já não são o que eram com a idade, um gajo também começa a ficar um bocado vesgo e isso também não ajuda. É que por vezes os projécteis inimigos são bastante pequenos e não contrastam bem com os cenários, portanto mesmo tendo jogado isto em emulação e com recurso a save states… deu trabalho!

Antes de começar o jogo temos de escolher que tipo de armas queremos para as options

A nível gráfico é um jogo com aspecto muito fofinho, com inimigos bastante bizarros e por vezes as nossas armas também. Só para terem uma ideia, uma das armas de um dos nossos satélites podem ser sapatos de senhora, que são largados como as bombas para a superfície tal como noutros shmups. Os inimigos também vão sendo bastante bizarros e por vezes até acontecem algumas situações bem humoradas, como um dos bosses que aparece no ecrã de costas para nós, envergonha-se pela situação embaraçosa, vai embora e depois volta já a atacar normalmente. Já os cenários apesar de não serem maus de todo, nalguns níveis deixam um pouco a desejar. As músicas são bastante festivas e alegres, o jogo possui também imenso voice acting, mesmo durante a acção, principalmente quando entram alguns bosses em cena, há sempre alguns diálogos a acontecer. Mas estando tudo em japonês fico bastante clueless sobre o que se está por ali a dizer.

Portanto este é mais um dos inúmeros shmups que existem para a consola da NEC. E é um jogo competente, embora acredito perfeitamente que a consola possua títulos bem mais interessantes. Ainda assim, não sendo dos mais caros, pode ser uma boa opção para quem quiser começar uma colecção.

Snatcher (PC-Engine CD / Sega Mega CD / Sega Saturn)

O artigo de hoje vai ser uma batota e das grandes pois a versão que joguei não é nenhuma das aqui apresentadas. Snatcher é uma aventura gráfica produzida por Hideo Kojima, antes de ele se ter tornado a “vedeta” que é actualmente (e merecidamente!) após lançar o Metal Gear Solid há uns bons anos atrás. Foi um jogo lançado originalmente em 1988 para alguns computadores japoneses, tendo recebido posteriormente em 1992 uma versão para PC-Engine CD, melhorada a nível audiovisual e também com mais conteúdo. 2 anos depois é lançada também uma versão para a Mega CD que foi desenvolvida com base na versão PC-Engine CD e esta traz ainda mais algum conteúdo extra, mas curiosamente nunca saiu no Japão. Em 1996, versões para a Sega Saturn e Playstation saem também para o mercado japonês. Joguei pela primeira vez este jogo há mais de 15 anos atrás, através de emulação na sua versão Mega CD. E infelizmente, devido aos preços proibitivos que o mesmo atinge no mercado actual, acabei antes por procurar outras versões para manter na colecção, tendo optado por estas versões PC-Engine CD e Sega Saturn, ambas compradas no eBay há uns meses por valores que não ultrapassaram os 20€ cada. E acabei hoje de rejogar esta obra-prima, na sua versão Mega CD, uma vez mais emulada, pois continua a ser a única versão “completa” que existe em inglês (naturalmente não contando com a versão MSX2 ou o SD Snatcher). Portanto este artigo irá ter o jogo da Mega CD por base, sendo que no final irei mencionar alguns detalhes sobre as diferenças entre versões. Se algum dia no futuro vier a ter um exemplar da versão Mega CD, irei certamente actualizar este artigo. Vamos a isso então!

Jogo com caixa e manual, versão Mega CD PAL.

EDIT: e sim, contra todas as minhas expectativas, isso acabou por acontecer. No passado mês de Maio acabei por comprar uma versão Mega CD. Não foi nada barata, mas depois de a ter nas mãos, não desisti.

Jogo com caixa e manual, versão PC-Engine

A influência de Blade Runner é notória nesta aventura. Afinal, este é também um jogo que decorre num futuro pós-apocalíptico e cyberpunk, com um detective como protagonista, e com uma ameaça de andróides como temática central. Encarnamos então no papel de Gillian Seed, um recém recrutado agente da Junkers, uma organização policial de elite com o papel de identificar e eliminar snatchers, robots altamente sofisticados e de origem incerta que roubam a identidade de cidadãos humanos e vivem misturados na sociedade, com objectivos ainda incertos. Gillian e a sua esposa Jamie, da qual agora vive separado, foram encontrados em sono criogénico num bunker algures na Sibéria e sem qualquer memória do seu passado. A aventura decorre algures em meados do século XXI, na cidade fictícia de Neo Kobe, no Japão, cerca de 50 após um evento cataclísmico que se originou na Rússia e que dizimou uma grande parte da população do planeta. Gillian irá então investigar a ameaça dos Snatchers, mas também procurar saber mais do seu passado e o da sua esposa.

Jogo com caixa, manual embutido na capa e alguns stickers, versão Sega Saturn

O jogo em si é uma aventura gráfica, mas com as mecânicas de jogo típicas das aventuras japonesas. Isto é, temos uma janela com os gráficos, tipicamente do cenário do que nos rodeia e ocasionalmente algumas cutscenes com os intervenientes, e em baixo vamos tendo menus onde poderemos seleccionar que acção a executar, que tipicamente são MOVE, TALK, INVESTIGATE, LOOK, entre outras. E é precisamente ao escolher este tipo de acções que vamos viajar para locais diferentes, interagindo com os NPCs e cenários, obtendo pistas que nos vão desvendando parte do mistério. Ocasionalmente teremos algumas sequências de acção, que são pequenas galerias de tiro onde devemos mover a mira numa grelha de 3×3 e disparar nos Snatchers ou outros perigos que nos podem esperar. A versão Mega CD tem a hipótese de usar a Justifier, a light gun da Konami que vinha juntamente com o Lethal Enforcers, para estas sequências de acção.

Quaisquer semelhanças com os Terminators não são mera coincidência

Mas o que torna este Snatcher tão especial? Certamente que é pela sua narrativa, que tem tanto de sério como de cómico, não fosse o ocasional gore causado pelos ataques dos Snatchers, pela narrativa algo dramática em certos eventos chave, mas também no relacionamento de Gillian e Julian. Mas também tem de cómico precisamente pela personalidade bem humorada de Gillian, especialmente quando este tenta a sua sorte com as diferentes mulheres que lhe vão aparecendo à frente. A relação com o seu ajudante robótico, o Metal Gear Mk. 2 também está muito bem conseguida. E Hideo Kojima conseguiu então apresentar uma narrativa muito boa, com um mistério que se vai adensando à medida que vamos progredindo no jogo e deixa-nos sempre presos na envolvência da história e das personagens bastante carismáticas que aqui foram introduzidas. Para um jogo cuja história é originalmente de 1988, está aqui um trabalho fantástico.

O charme de Snatcher está também nos pequenos detalhes. Reparem nos anúncios luminosos.

E o trabalho fantástico está também na atenção ao detalhe e a grande quantidade de conteúdo algo opcional que podemos desvendar, como chamadas telefónicas aos produtores do jogo, ou até mesmo a uma sex-line que nos leva a assistir a um diálogo hilariante entre Gillian e a telefonista. Referências a pop culture não faltam e claro, aos outros trabalhos de Kojima, nomeadamente o primeiro Metal Gear. E essas referências a Metal Gear não se ficam pelo assistente de Gillian, pois Outer Heaven é um local chave que iremos explorar algumas vezes. Referências à Konami e a outros dos seus videojogos como Contra, Castlevania ou Rocket Knight Adventures também podem ser encontradas! Para além disso, o Kojima deu-se ao trabalho de criar muito lore daquele mundo, que pode ser consultado de forma completamente opcional no computador da base dos Junkers. Portanto a atenção ao detalhe é outro dos pontos fortes deste Snatcher.

Gosto bastante dos visuais do jogo e mesmo sendo maioritariamente imagens algo estáticas, a excelente narrativa, banda sonora e voice acting complementam-nos muito bem

A nível audiovisual temos aqui outro ponto muito forte. Tal como é habitual noutros jogos de aventura / visual novel, os gráficos tendem a ser imagens ou estáticas, ou apenas com algum movimento residual. E apesar das imagens serem boas por si, o facto de serem algo estáticas também acontece aqui. Mas sinceramente no fim do dia nada disso importa porque a narrativa absorve toda a nossa atenção e os momentos chave são todos narrados com voice acting. E para um videojogo japonês com uma história tão única e complexa como esta, ter recebido uma localização e voice acting em inglês para uma consola em 1994, é de facto um feito extraordinário. É que o voice acting está de facto muito bom, tornando as personagens ainda mais carismáticas. E todo o som em si também está bem conseguido, desde os pequenos efeitos sonoros que vamos ouvindo, como o barulho de passos, os alertas que Metal Gear vai lançando ou mesmo a banda sonora ecléctica que vamos ouvindo, tudo contribui de forma muito positiva para enriquecer a narrativa e a acção.

O jogo vai tendo também os seus momentos de acção onde teremos de abater alguns inimigos. E a versão Mega CD suporta a light gun Justifier para estas partes!

As primeiras versões deste Snatcher foram lançadas em 1988 para os computadores nipónicos MSX2 e PC-88. Estas versões terminavam a história no final do acto 2, o que é um grande cliffhanger! Em 1992 sai a versão PC-Engine CD, que possui o acto 3 que conclui a história (mas deixando espaço para uma eventual sequela), para além de incluir algumas músicas em formato CD-Audio, voice acting em japonês nos momentos mais importantes e gráficos melhorados no geral, tirando partido da maior palete de cores que a PC-Engine poderia aproveitar. A versão Mega CD, que como referi no início curiosamente nunca chegou a sair no Japão, é baseada na versão de PC-Engine CD, incluindo algumas cenas adicionais. É a única versão que foi oficialmente localizada para o Ocidente, e apesar de ter alguns extras, também perdeu algumas (felizmente muito poucas) coisas nesse processo. Anos mais tarde em 1996 são lançadas as versões Saturn e Playstation que aparentemente são um pouco decepcionantes. Para além de adicionarem uma cutscene em CGI que envelheceu muito mal, muito do gore das versões originais é censurado, especialmente na versão Playstation. Alguns dos gráficos também foram redesenhados, perdendo algum do charme original. É uma pena!

Não há aqui quaisquer pudores em apresentar algum gore, e a versão PC-Engine ainda vai mais longe.

E sendo assim, entende-se perfeitamente o porquê de nenhum fã se ter dado ao trabalho de traduzir as versões PC-Engine, Saturn ou Playstation deste jogo. A sua localização na versão Mega CD já é excelente e a versão da consola de 16bit da Sega, acaba por ser das mais completas e com menos censura, perdendo apenas para a PC-Engine CD num ou noutro detalhe que não justifica de todo o esforço de tradução. Este é então um daqueles jogos que se tornaram caríssimos ao longo do tempo e é fácil de entender o porquê. Snatcher nunca foi um sucesso comercial no ocidente pelo que nunca houve muitas unidades em circulação e para além disso todo o sucesso que Kojima veio a ter com Metal Gear Solid veio atrair uma grande atenção por fãs e coleccionadores a esta pérola da Mega CD. É uma pena que a Konami actualmente não se interessar muito pelo mercado de videojogos, pois um relançamento deste jogo, preferencialmente desta versão, seria excelente, quanto mais não fosse em formato digital! É um excelente jogo que merece ser jogado!

Ys III: Wanderers from Ys (PC-Engine CD)

Wanderers from Ys é o terceiro jogo desta série da Falcom que foi uma vez mais desenvolvido originalmente para uma série de diferentes computadores nipónicos, mas rapidamente recebeu também conversões para consolas como a NES, SNES, Mega Drive ou Turbografx-16 / PC-Engine. E aqui a Falcom decidiu experimentar algo novo, tornando Ys num RPG de acção mas com uma perspectiva completamente em 2D sidescroller, um pouco como as dungeons do Zelda II. A versão Turbografx-16 / PC-Engine foi desenvolvida uma vez mais pela Alfa System e publicada pela Hudson. O meu exemplar é a versão PC-Engine, que foi comprada no eBay algures no passado mês de Fevereiro por cerca de 10€.

Jogo com caixa e manual embutido na capa

Este jogo decorre então poucos anos após os acontecimentos dos primeiros 2 jogos da série, onde Adol, e o seu amigo Dogi, partem uma vez mais em busca de novas aventuras em terras distantes. E acabam por visitar a cidade de Redmont, terra natal de Dogi, e rapidamente descobrem que algo estranho se passa. Adol começa por explorar a mina próxima, para resgatar alguns mineiros que ficaram lá retidos após um acidente e rapidamente descobrimos que há ali uma conspiração para ressuscitar uma entidade maléfica há muito adormecida!

As dungeons são agora bem mais simples e lineares, mas infelizmente a nível gráfico ainda deixam algo a desejar.

Para além da perspectiva ter mudado para uma perspectiva 2D sidescroller, a outra grande mudança na jogabilidade perante os seus antecessores está mesmo na inclusão de um botão de ataque. Os 2 botões principais do comando da PC-Engine servem então para atacar e saltar, com o select, para além de pausar, abre um menu onde podemos gerir os save games, consultar o inventário ou as opções de jogo. Já o botão run serve para usar o item que tenhamos seleccionado no inventário. De resto esperem pelas mecânicas de jogo habituais na série, onde vamos apanhando anéis que, depois de equipados, nos podem conferir certos poderes como a regeneração de vida, aumentar o ataque, defesa ou agilidade. Também tal como o primeiro Ys não temos aqui magias, se bem que os poderes dos anéis usam uma barra de energia que poderíamos definitavamente apelidar de mana points. A nível de dificuldade, não é um jogo muito fácil, as dungeons apesar de serem bem mais simples e lineares estão repletas de inimigos, muitos deles surgem do nada e só no exterior é que a nossa barra de vida é que se vai regenerando. Podemos usar ervas que nos regenerem a barra de vida, mas apenas podemos carregar uma de cada vez. E os bosses, bom por vezes não há muito que podemos fazer para não sofrer dano, pelo que convém também fazer algum grinding para ganhar experiência e dinheiro que nos permita comprar equipamento melhor. Mas tal como os outros Ys que joguei, o grinding nunca é muito exigente e até se faz bem.

Vamos ter imensos bosses para derrotar e estar bem equipado e num bom nível já é meio caminho andado

A nível audiovisual confesso que fiquei um pouco decepcionado com este jogo, principalmente a nível gráfico. Os visuais não são nada de especial, a começar no design das próprias dungeons. Particularmente os backgrounds, que têm alguns efeitos de parallax scrolling mas que na PC-Engine não ficaram nada fluídos. Aliás, até o scrolling normal está repleto de quebras nesta versão o que é uma pena. A versão Mega Drive, que infelizmente nunca chegou a sair na Europa, não é muito diferente desta a nível gráfico, mas é bem mais fluída. Esta versão PC-Engine ganha, no entanto, no som. A banda sonora do Ys III está repleta de músicas excelentes e sendo este um jogo em CD, a banda sonora possui uma qualidade de topo em CD-Audio. Esta versão possui também algum voice acting que não é muito mau, mas tem os seus momentos cheesy. Também temos, no início e fim do jogo, algumas cutscenes no estilo anime que ainda estão longe da qualidade do que viríamos mais tarde a ver noutros jogos PC-Engine, mas estão uns furos bem acima das outras versões que existiam na altura.

As cutscenes da versão PC-Engine são de longe as mais detalhadas dos lançamentos da época

Portanto este não é um mau jogo de todo, embora prefira de longe a perspectiva mais tradicional que os restantes Ys usam. Este jogo foi convertido por uma grande variedade de sistemas e, tendo em conta as versões que saíram nos anos 80 e 90, esta versão PC-Engine acaba por ser a superior, na minha opinião. A banda sonora em CD-Audio é excelente e só perde mesmo no seu scrolling nada fluído e efeitos de parallax scrolling algo atrozes, o que sempre foi o calcanhar de aquiles da arquitectura da PC-Engine. E depois de uma outra conversão para a PS2 feita pela Taito em 2005 e que se ficou apenas pelo Japão, foi a própria Falcom que decidiu, no mesmo ano, lançar um remake completo deste jogo, abandonando a sua perspectiva 2D sidescroller e modernizando-o de certa forma. Esse excelente remake é chamado de Ys Oath in Felghana e irei cá trazer muito em breve um artigo do mesmo, pois já o terminei há uns anos.

Ys Book I and II (PC-Engine CD)

E depois de ter escrito sobre o Ys I & II Chronicles+, um dos últimos relançamentos dos primeiros jogos desta série, vamos ficar agora com um breve artigo sobre a sua adaptação para a PC-Engine CD, que ficou a cargo da Hudson e Alfa System, tendo também recebido um lançamento em solo norte-americano. Mas naturalmente a versão Japonesa é bem mais acessível economicamente, pelo que foi essa que acabei por comprar num pequeno lote que comprei no eBay algures no passado mês de Fevereiro, por cerca de 10€ mais portes.

Jogo com caixa e manual embutido na capa. Versão japonesa.

Esta conversão dos dois primeiros títulos para PC-Engine tem a curiosidade de ser a primeira vez que o Ys II acaba por ser lançado no ocidente (Estados Unidos apenas) para o sistema Turbo CD. E a transição para o formato CD acaba por incluir uma série de músicas em formato redbook, algum voice acting em certos pontos chave da história e algumas cutscenes adicionais, embora estas sejam ainda relativamente simples, até porque este é um lançamento CD-ROM² e não um Super CD-ROM² que usa alguma RAM adicional. Mas já lá vamos.

Tal como noutras versões, alguns NPCs têm direito a janelas de diálogo especiais

A nível de jogabilidade é um jogo que mantém toda a sua base dos originais, sendo RPGs de acção onde não temos um botão de ataque, mas sim temos de ir contra os inimigos (de preferência num certo ângulo para não sofrer dano). Calculo que o design das dungeons e cidades seja mais próximo aos lançamentos originais, pois as edições mais recentes incluem algumas áreas adicionais que não estão aqui presentes (como a aldeia piscatória de Barbado logo no início do primeiro Ys). Mas o que se sente mesmo mais falta perante os lançamentos recentes é o facto de não nos podermos mover na diagonal. É que mover diagonalmente é muito útil para os combates e atacar os inimigos num ângulo onde conseguimos causar dano contínuo e muito raramente sofrer dano! Então, para quem que, como eu, jogou as conversões dos Ys I & II mais recentes, acabamos por ter mais trabalho em reaprender o combate. No artigo anterior eu disse que o Ys II é uma sequela directa do primeiro e de facto nesta versão o jogo transita rapidamente do primeiro para o segundo título, com Adol a herdar os seus stat points entre ambos os jogos, o que acho bem, mas não deixa de ser necessário algum grinding posteriormente na mesma.

O design das áreas de jogo parece ser bem mais fiel aos originais

A nível audiovisual, este é um jogo muito interessante por incluir algum voice acting e, depois de jogar um pouco a versão norte-americana emulada, até me pareceu bem competente para um jogo de 1990. As músicas são compostas por todas aquelas melodias super sonantes e confesso que a banda sonora parece-me algo dividida entre temas em formato cd audio, e outros chiptune. São músicas excelentes, mas não há como não preferir as suas versões gravadas com instrumentos reais como ouvimos mais tarde nas versões Chronicles. Graficamente é um jogo simples, com sprites pequenas, mas ocasionalmente temos direito a algumas cutscenes mais trabalhadas, embora ainda não com um nível de detalhe como iremos ver mais tarde noutros jogos desta série para o PC-Engine.

Nesta versão vamos tendo também algumas cutscenes ocasionais

Eu não joguei esta versão na sua totalidade, mas as quase 2 horas de jogo já me deixaram com uma boa ideia das suas capacidades e a ideia que me dá é que, para 1990, são adaptações muito competentes dos primeiros jogos da série. Mas com as versões Eternal/Complete/Chronicles que possuem uma jogabilidade mais fluída, a possibilidade de nos movermos na diagonal, e audiovisuais muito superiores (principalmente nas músicas), torna-se muito difícil voltar a versões mais antigas.