Cursed Mountain (Nintendo Wii)

O jogo de Wii que decidi jogar em Maio foi o Cursed Mountain. Publicado pela Deep Silver em 2009, este é um survival horror com uma interessante premissa que irei detalhar mais à frente. Começou também por ser um exclusivo da Nintendo Wii, algo que seguramente terá chamado à atenção visto este ser um survival horror, enquanto o foco da consola sempre foram os jogos para um público mais casual. Este Cursed Mountain era também mais um título que tinha em backlog há imenso tempo, seguramente há mais de 10 anos. Lembro-me perfeitamente de o ter comprado numa loja de videojogos de Santo Tirso (actualmente já extinta) por 5€.

Jogo com caixa, manual e papelada

A narrativa parte de uma interessante premissa. Nós encarnamos no alpinista Eric Simmons que parte para o Tibete, mais precisamente para as imediações da montanha de Chomolonzo em pleno Himalaias, em busca do seu irmão que havia desaparecido após o tentar escalar. O wikipedia diz-me que já várias pessoas conseguiram escalar essa montanha até ao seu topo, mas na história que o jogo nos apresenta isso nunca tinha acontecido, até porque a montanha é sagrada para as povoações locais e escalar ao topo da montanha é um tabu. Mal chegamos à cidade de Lhando, nas imediações da montanha, encontramos a cidade deserta e assombrada com fantasmas hostis. Ao longo da aventura iremos invariavelmente desvendar o mistério por detrás de tais acontecimentos e procurar Frank a caminho do topo da montanha.

O conceito do jogo é bastante original, pois não é qualquer survival horror que nos leva aos Himalaias

Pensem neste jogo como um survival horror da geração da PS2, mas infelizmente este é um dos jogos da Wii que requer wiimote e nunchuck para ser jogado, pelo que teremos também de utilizar forçosamente os seus sensores de movimento. Os controlos levam-nos a utilizar o analógico do nunchuck para mover Eric pelos cenários, com o botão A a ser o principal botão para interagir com os cenários e o B para atacar com um machado de alpinismo. O direccional para baixo serve para activar uma câmara quase de primeira pessoa, que por sua vez poderá ser controlada também com o analógico. Voltando ao nunchuck, o botão Z é utilizado para andar mais rápido, enquanto o C é utilizado para activar a visão do “terceiro olho”. Esta é parte integrante tanto nos combates como em eventuais puzzles que teremos de resolver. Basicamente é uma perspectiva diferente da realidade à nossa volta, onde tudo parece um mundo de sombras. É com essa perspectiva que melhor visualizamos os fantasmas que nos perseguem, assim como alguns símbolos importantes para resolver certos puzzles.

Para utilizar a maioria das armas que dispomos devemos activar a versão do “terceiro olho”, que deixa tudo às escuras à nossa volta, salientando os fantasmas que nos atacam

Mas então como funciona o sistema de combate mesmo? Como referi acima, o botão B do wiimote é utilizado para atacar com um machado, mas tal deve ser apenas utilizado em último recurso, para afastar algum fantasma que se aproxime demasiado de nós. Ainda consideravelmente no início do jogo, quando aprendemos a utilizar o terceiro olho, iremos também começar a desbloquear certas armas “místicas” que são bem mais eficazes para combater os fantasmas. Considerem-nas como armas que disparam projécteis de energia, mas que devem ser utilizadas em conjunto com a tal visão do terceiro olho. Apontamos para os alvos com o wiimote e utilizamos na mesma o botão B para disparar. Temos é de ter em atenção que estamos estáticos enquanto o fazemos, visto que o analógico apenas controla a câmara nessa perspectiva. Ao fim dos fantasmas sofrerem dano suficiente, surge um símbolo sobre o seu corpo etéreo e aqui temos uma escolha: ou continuamos a atacar normalmente e o fantasma eventualmente desaparece, ou podemos fazer um certo ritual para exorcizar o espírito, recompensando-nos ao recuperar alguma da barra de vida se bem sucedidos.

O maior problema deste jogo está no entanto nos seus quick time events, particularmente no combate. Estes movimentos em específico até são fáceis de executar, os piores são os movimentos de “espetar”, que se vão tornar cada vez mais frequentes.

E é aqui que os problemas começam, pois esse ritual são na verdade quick time events que nos obrigam a utilizar os sensores de movimento tanto do wiimote, como do nunchuck. Inicialmente as coisas não são más de todo, pois os movimentos que temos de fazer são diagonais (embora mesmo assim às vezes falham), mas quando são introduzidos similares a espetar uma faca, estes falham muitas vezes, particularmente quando requerem o nunchuck. À medida que avançamos no jogo, esses movimentos em particular vão sendo cada vez mais frequentes, o que aumenta bastante a frustração. Outro factor agravante para isso é a maneira como recuperamos vida. Ao contrário de outros videojogos dentro do mesmo género que nos dão itens regenerativos que podemos utilizar sempre que assim entendermos, aqui esse papel é atribuído a velas de incenso, que apenas poderemos queimar em locais próprios. Ora sempre que entramos em combate ficamos confinados numa arena fechada, a maior parte das vezes fora do alcance de algum local onde o incenso possa ser queimado, pelo que exorcizar os espíritos é fundamental para recuperar vida em confrontos mais exigentes. Os maus controlos de movimento são de longe o maior problema do jogo! Outro exemplo notável são os segmentos onde precisamos de atravessar passagens estreitas, com o wiimote a ser utilizado para balancear a personagem enquanto as atravessa. Tirando isso, os controlos de movimento podem também ser utilizados noutras situações e aí até nem funcionam mal de todo, como acelerar a escalada de paredes, ou escapar dos encontros próximos com espíritos quando estes nos agarram.

Para recuperar vida teremos de queimar incenso em locais específicos, ou exorcizar os fantasmas recorrendo aos infames quick time events com controlos de movimento

A nível audiovisual não esperem por uma obra prima. Por um lado fiquei agradavelmente surpreendido quando me apercebi que o jogo se passava no Tibete e muito da história circula à volta do misticismo e da religião budista local, o que não é uma premissa de todo habitual. Explorar aquelas aldeias inóspitas e abandonadas, assim como imponentes mosteiros budistas foi uma experiência algo refrestante. Mas tecnicamente não esperem por um jogo brilhante, os gráficos são adequados ao sistema, mas não o melhor que a Wii é capaz de fazer. Ao longo da aventura teremos também umas quantas cenas que irão avançar a narrativa, mas a maioria dessas cenas são apenas uma sequência de algumas imagens estáticas, o que é pena, pois gostaria de algo mais trabalhado. Já no que diz respeito ao som, o voice acting é competente e a banda sonora é composta principalmente por temas mais ambientais e ocasionalmente com um toque algo folclórico também, o que é perfeitamente adequado ao que o jogo nos propõe.

Sendo nós um alpinista, naturalmente que uma boa parte do jogo será passada em plena montanha e escalada será mesmo necessária

Portanto este Cursed Mountain é um survival horror decente, mas que perde muitos pontos pela sua implementação dos controlos de movimento em quick time events, particularmente durante o combate onde estamos sempre mais pressionados. É mais um daqueles exemplos que ilustra bem a resistência que muitas vezes sinto em pegar jogos da Wii: acho que a Nintendo teve de facto uma óptima ideia que serviu para trazer um público mais casual ao mundo dos videojogos e não tenho nada contra controlos com sensores de movimento, logo que sejam adequados. Mas não se perderia nada se os criadores suportassem também um esquema de controlo mais tradicional, para além dos sensores de movimento. Existe também uma versão deste jogo para o PC, cujos QTEs mantêm-se, obrigando-nos agora a desenhar alguns símbolos no ecrã com o rato. Em teoria é uma alternativa melhor, mas não coloco as minhas mãos no fogo por isso.

Carrion (Nintendo Switch)

Tempo de voltar à Nintendo Switch para mais um indie que acabei por adicionar à colecção. Publicado pela Devolver Digital, Carrion apresenta uma premissa invulgar: descrito como um ‘survival horror reverso’, trata-se, na verdade, de um metroidvania em 2D onde controlamos uma criatura monstruosa em fuga do seu cativeiro, devorando todos os humanos que se atravessam no caminho. Adquiri o meu exemplar em Junho de 2023, num pack conjunto com outro título da mesma editora (Gris) por cerca de 30€.

Jogo com caixa e pequeno livro com arte

Como referi acima, em Carrion controlamos uma criatura bizarra, repleta de dentes e tentáculos, que escapa do seu confinamento numa instalação científica onde era alvo de estudos. Para conseguir fugir, teremos de enfrentar guardas armados e diversas defesas, como drones, sendo que muitos dos humanos, especialmente os desarmados, servem também de sustento, permitindo recuperar energia e fazer com que o monstro cresça em tamanho.

Carrion é um jogo diferente, na medida em que controlamos o “vilão”, que neste caso é uma criatura monstruosa

Tal como é habitual nos metroidvanias, o mundo de Carrion encontra-se totalmente interligado, e à medida que vamos explorando adquirimos novas habilidades que nos permitem ultrapassar certos obstáculos. Zonas já visitadas podem (e devem) ser revisitadas, pois escondem segredos que só se tornam acessíveis com determinadas capacidades. Os controlos, no entanto, são bastante particulares, tendo em conta a forma amorfa da criatura que comandamos. Podemos deslizar livremente por qualquer superfície com o analógico esquerdo, enquanto o analógico direito direcciona um dos muitos tentáculos, funcionando como um cursor. Estes tentáculos permitem interagir com objectos ou agarrar inimigos, bastando depois pressionar o gatilho ZR. Por exemplo, para devorar um cientista, basta guiar um dos tentáculos na sua direcção, agarrá-lo (ZR) e levá-lo até uma das várias bocas que vamos adquirindo. Para accionar interruptores, o processo é semelhante: apontamos, agarramos e movemos o analógico na direcção pretendida. Este sistema, embora engenhoso, não está isento de problemas. Por um lado, em momentos de maior tensão, nem sempre é fácil agarrar o objecto ou inimigo desejado, sobretudo quando estamos sob fogo cerrado. Isto porque apesar de controlarmos uma criatura grotesca e poderosa, a sua barra de vida esvai-se rapidamente quando é atingida por balas ou chamas. Por outro lado, à medida que a criatura cresce, torna-se mais difícil de a controlar com precisão: nunca sabemos ao certo qual dos tentáculos irá responder ao nosso comando, o que pode tornar certas interacções frustrantes.

Em certas alturas teremos alguns combates mais desafiantes que ou exigem reflexos rápidos, ou uma abordagem mais cuidada e metódica, recorrendo às diferentes habilidades ao nosso dispor

Os restantes controlos envolvem o botão ZL, que permite à criatura soltar um rugido (útil tanto para assustar ou atrair inimigos humanos como para indicar a direcção dos pontos de save mais próximos) e os botões L, R e X, usados para activar as diversas habilidades que vamos adquirindo. A criatura possui três estágios de evolução, desbloqueados progressivamente ao longo do jogo. Cada estágio dá acesso a um conjunto específico de capacidades, mapeadas para os botões L (habilidades defensivas) e R (habilidades ofensivas). As defensivas incluem, por exemplo, invisibilidade temporária, o crescimento de espinhos ou o endurecimento da pele para resistir a dano. Já as ofensivas vão desde o lançamento de teias que imobilizam inimigos, a investidas de carga (que também servem para destruir certos obstáculos), até tentáculos em forma de lança, capazes de causar dano devastador. O botão X activa uma habilidade especial: o parasitismo. Esta capacidade, utilizável em qualquer estágio evolutivo a partir do momento em que é desbloqueada, permite tomar controlo temporário de um inimigo humano. Ao pressioná-lo, a criatura permanece imóvel, e o analógico esquerdo comanda um tentáculo especial que, ao entrar em contacto com um humano, nos permite manipulá-lo enquanto se mantiver “vivo”. Esta habilidade é essencial não só para resolver certos puzzles, como também para ultrapassar, de forma mais criativa, alguns dos desafios de combate mais exigentes.

É precisamente nesta combinação entre habilidades e um esquema de controlo invulgar que Carrion se destaca, exigindo do jogador tanto destreza como raciocínio. Muitas vezes, teremos de alternar entre os diferentes estágios evolutivos para aceder a habilidades específicas — algo que só é possível ao depositar ou recuperar biomassa em pontos próprios para o efeito. Com frequência, o jogo obriga-nos a enfrentar segmentos desafiantes na nossa forma mais fraca, o que exige uma abordagem mais inventiva e o uso eficaz dos recursos disponíveis.

À medida que a criatura vai crescendo, também se pode tornar mais difícil de controlar em espaços mais fechados

Visualmente, Carrion é também bastante interessante. Trata-se de um jogo inteiramente em 2D, com um estilo artístico baseado em pixel art, exactamente como gosto. Os cenários apresentam uma variedade considerável entre si e a arte, apesar do seu aspecto retro, é complementada por efeitos de luz muito bem conseguidos, criando um contraste eficaz e visualmente apelativo. A criatura que controlamos é uma verdadeira amálgama de carne viva, tentáculos e dentes (muitos dentes!), e o jogo não tem qualquer pudor em impressionar nas cenas mais gráficas. Deixamos manchas de sangue por onde quer que nos movamos, podemos agarrar humanos e projectá-los contra paredes, o que, para além de gerar um resultado sangrento, salienta também as físicas tipo “bonecos de trapos”, com corpos inanimados a oscilar grotescamente presos aos nossos tentáculos. Toda esta violência estilizada é acompanhada por uma atmosfera sonora muito bem conseguida, com faixas predominantemente ambientais que ajudam a reforçar o tom opressivo e solitário da exploração, alternando com composições mais tensas em momentos de maior acção. Não há voice acting, para além dos gritos de pavor dos humanos, e a narrativa é apresentada de forma extremamente minimalista, uma escolha deliberada que funciona bastante bem dentro da proposta do jogo.

Visualmente é também um jogo impressionante na maneira em como utiliza gráficos 2D no estilo pixel art, muitíssimo bem detalhados e animados, com bonitos efeitos de luz.

Carrion revelou-se uma experiência bastante agradável, apesar de alguns problemas ocasionais com os controlos em certas secções. Durante os combates mais exigentes, dei por mim a optar por abordagens mais indirectas, tirando partido das habilidades disponíveis, algo que suspeito que terá sido mesmo intencional por parte da equipa de desenvolvimento. Ainda assim, houve momentos menos conseguidos, como um puzzle em particular que exigia accionar três interruptores em sucessão, dentro de um tempo limite apertado, e que se revelou especialmente frustrante. Fora isso, trata-se de um metroidvania excelente, com um gameplay original e envolvente. Apesar de relativamente curto, esse facto não jogou contra a experiência, pelo contrário, o ritmo e a duração pareceram-me bastante bem ajustados. No meu caso, tive também acesso a um pequeno DLC incluído na versão para a Switch: uma aventura independente, ainda mais breve, passada durante o período natalício. Não sei se estará disponível em todas as versões, mas foi um bónus bem-vindo.

Luigi’s Mansion 2 (Nintendo 3DS)

Durante estas minhas pequenas férias, trouxe comigo a Nintendo 3DS e decidi finalmente dedicar algum tempo a Luigi’s Mansion 2, sequela de um dos títulos de lançamento da Nintendo GameCube. Ao contrário do original, o desenvolvimento desta continuação ficou a cargo de um estúdio norte-americano, a Next Level Games, que já havia colaborado com a Nintendo em jogos como Mario Smash Football, ou Punch-Out!! para a Wii, entre outros títulos do universo da empresa. A relação entre ambas viria a consolidar-se ao ponto de a gigante nipónica adquirir o estúdio no início de 2021. Quanto ao meu exemplar de Luigi’s Mansion 2, confesso que já não me lembro bem de quando ou onde o comprei, apenas sei que foi há vários anos e por um preço baixo.

Jogo com caixa, papelada e folheto com instruções básicas

A premissa é simples: o Professor E. Gadd, o excêntrico cientista por detrás do equipamento de caça-fantasmas do primeiro jogo, encontrava-se a estudar os espectros que habitam os edifícios devolutos do vale de Evershade quando o vilão do Luigi’s Mansion original escapa da sua prisão, destrói a Dark Moon e passa a controlar os fantasmas da região, tornando-os subitamente hostis. Qual a solução? Para seu grande desagrado, Luigi é mais uma vez convocado por E. Gadd e acaba por aceitar a missão. Cabe-nos, então, explorar os diversos edifícios assombrados em busca dos fragmentos da Dark Moon e, eventualmente, enfrentar quem está por detrás destes estranhos acontecimentos.

A atmosfera spooky scary está toda lá uma vez mais!

No que diz respeito à jogabilidade, esta herda muitas das mecânicas introduzidas na prequela. Luigi está munido de um aspirador que serve não só para caçar fantasmas, mas também para interagir com os cenários: podemos aspirar cortinas ou tecidos que escondam segredos, accionar ventoinhas e ventiladores, ou desbloquear passagens ocultas. A ponta do aspirador funciona igualmente como lanterna, cujo feixe pode ser carregado (mantendo o botão A pressionado) para emitir um clarão que atordoa momentaneamente os fantasmas, deixando-os vulneráveis para serem aspirados. Cada fantasma possui uma determinada quantidade de pontos de vida, que vão diminuindo à medida que os sugamos. Ao puxarmos o analógico na direcção oposta à do movimento do fantasma, conseguimos reduzir a sua barra de vida mais rapidamente, numa mecânica que recorda o acto de “pescar” inimigos. Mais adiante, desbloqueamos também uma luz negra, capaz de revelar objectos escondidos no cenário e, por vezes, até fantasmas Boos. Estes últimos, caso sejam todos encontrados, desbloqueiam níveis de bónus. O dinheiro que vamos amealhando ao longo da aventura permite-nos ainda melhorar o nosso equipamento.

O ecrã tactil pode ser uitilizado para interagir com o mapa e ver os objectivos de cada nível

Quanto aos controlos, o botão B permite correr, enquanto o X é utilizado para interagir com determinados objectos. O botão Y activa a luz negra e o A serve para carregar o clarão da lanterna. O botão R é utilizado para aspirar, ao passo que o L serve para soprar. Para direccionar o aspirador verticalmente, seja para cima ou para baixo, teremos de recorrer também aos botões X e B, que ajustam a altura da “boca” do dispositivo. Não é uma solução perfeita, especialmente considerando que a Nintendo 3DS não é das consolas mais ergonómicas para sessões prolongadas, mas trata-se da melhor configuração possível dentro das limitações do sistema. Importa ainda referir que o jogo recorre aos sensores de movimento em determinadas secções, seja para manipular a câmara, seja em minijogos específicos. Um exemplo recorrente são as passagens estreitas, onde temos de usar o giroscópio da consola para equilibrar Luigi. Na prática, o ideal é mesmo pousar a 3DS numa superfície plana para ultrapassar estas sequências com maior precisão.

A exploração está repleta de puzzles, muitos deles bastante imaginativos

Uma das maiores críticas ao Luigi’s Mansion original foi a sua curta duração, algo que é consideravelmente melhorado nesta sequela. Em vez de uma única mansão, teremos agora cinco edifícios distintos para explorar, cada um com múltiplos níveis. Estes níveis não apenas apresentam áreas diferentes, como podem sofrer alterações entre visitas. Por exemplo, o segundo edifício é composto por duas torres dedicadas ao estudo e cultivo de plantas; à medida que avançamos, o crescimento descontrolado da vegetação vai transformando o espaço, afectando tanto o seu aspecto visual como as possibilidades de exploração. Como referi acima, o jogo está repleto de segredos e elementos coleccionáveis, incluindo os fantasmas Boos, cuja captura total desbloqueia um nível extra em cada “mundo”. Existe ainda um modo multiplayer cooperativo, que, no entanto, não cheguei a experimentar.

Luigi’s Mansion 2 continua repleto de charme e daquela atmosfera Halloween que tão bem caracterizou o primeiro jogo.

Visualmente, este é, a meu ver, um jogo muito bem conseguido. Do ponto de vista estritamente técnico, confesso que ainda não estou totalmente familiarizado com os limites gráficos da Nintendo 3DS, mas o resultado aqui é bastante competente. Os diferentes edifícios que exploramos são distintos entre si e apresentam cenários bem detalhados. As texturas têm uma boa qualidade, tendo em conta a resolução da portátil, e os modelos poligonais oferecem um nível de detalhe mais do que adequado. No entanto, mais do que o aspecto técnico, é na atmosfera que o jogo realmente brilha. Esta remete-nos de imediato para o imaginário de filmes de animação inspirados no Halloween, com ambientes assombrados cheios de charme e pequenos toques de humor visual. O jogo está repleto de detalhes deliciosos, como o próprio Luigi a cantarolar, nervosamente, a melodia principal enquanto explora, ou as constantes interrupções do Professor E. Gadd, que nos contacta através de um “telemóvel” improvisado a partir de uma Nintendo DS modificada. A banda sonora é igualmente eficaz, com composições discretas mas evocativas que reforçam a tal atmosfera típica de Halloween, alternando entre o mistério e o tom ligeiramente cómico. Quanto ao trabalho sonoro, como é habitual nos jogos da Nintendo, não encontramos vozes completas, mas sim pequenas frases, interjeições e sons característicos que, ainda assim, conseguem transmitir com clareza as emoções e intenções das personagens.

Portanto, este Luigi’s Mansion 2 revelou-se uma excelente surpresa. É um jogo que não só herda e aprimora as mecânicas introduzidas pela prequela, como ganha pontos adicionais por oferecer uma maior longevidade, com conteúdo opcional e um modo multiplayer. Entretanto, em 2024, a Nintendo lançou um remaster deste mesmo título para a Nintendo Switch. Como já possuía o original de 3DS na minha colecção, optei por não adquirir esta nova versão, mas, ao que tudo indica, o remaster inclui melhorias gráficas e de controlos, o que o torna, à partida, na forma mais acessível e refinada de jogar o título nos dias de hoje. Ainda assim, a versão 3DS continua a ter o seu encanto, até precisamente por suportar o efeito 3D, que, apesar de não ser essencial, confere alguma profundidade adicional aos cenários.

World Cup USA 94 (Sega Mega CD)

Nos últimos dias foi altura de fazer uma pausa, ter uns dias de férias para recarregar baterias e tempo agora de voltar aos artigos com uma super rapidinha, nomeadamente a versão Mega CD do World Cup USA 94 cujas versões Mega Drive e Master System já cá trouxe no passado, daí a brevidade do artigo. O meu exemplar da Mega CD foi-me trazido do UK por um amigo meu, tendo-me chegado às mãos algures no passado mês de Abril. Já não me recordo quanto custou, mas foi barata.

Jogo com caixa e manual. Supostamente deveria trazer também um póster com o calendário das partidas.

Como se previa, esta versão da Mega CD pouco difere da versão Mega Drive na sua essência, mantendo um estilo de jogo que faz lembrar o Sensible Soccer (e o seu after touch após remates) e todo aquele sistema de navegação de menus através de ícones, muitos deles que acabam por nos confundir. Esta versão possui no entanto alguns extras: temos uma opção no menu inicial para visualizar pequenas cenas em CGI que nos mostram todos os estádios da competição com algumas curiosidades sobre os mesmos, assim como um modo de jogo adicional: um quizz repleto de perguntas sobre os mundiais de futebol.

Uma das novidades desta versão é uma apresentação virtual dos estádios da competição

De resto contem com uma introdução extendida, à qual é acompanhada da música No Pain No Gain da banda rock germânica Scorpions, cujos contribuem ainda com uma música adicional, a Under the Same Sun, que é ouvida após finalizar a competição. Tirando isso, o som em si é também de melhor qualidade, tanto nas restantes músicas, como no ruído das partidas, tirando partido do chip PCM que a Mega CD contém para produzir sons mais realistas.

A outra grande novidade é um modo trivia. Felizmente não precisamos de responder com ícones.

Portanto esta versão Mega CD acaba por ser uma melhor versão que a original de Mega Drive, embora apenas marginalmente. As músicas de Scorpions (longe de serem as melhores deles) não chegam para justificar o upgrade para quem eventualmente já possuísse a versão Mega Drive. O modo adicional de jogo com perguntas é interessante, já a vertente “enciclopédica” com vídeos em CGI dos estádios é também uma curiosidade interessante. Fora isso sobra mesmo uma melhoria marginal na qualidade de som que simplesmente não justificaria o upgrade da versão.

Gungrave: Overdose (Sony Playstation 2)

É tempo de regressar à Playstation 2 com um jogo de acção que há muito me despertava curiosidade: Gungrave: Overdose. O primeiro Gungrave surpreendeu-me pela positiva, sobretudo pelo seu conceito e mecânicas de jogo originais. Ainda assim, havia bastante margem para melhorar certos aspectos menos conseguidos, o que me deixou curioso quanto às eventuais melhorias introduzidas na sequela. Ambos os títulos foram desenvolvidos pela Red Entertainment. O primeiro jogo foi publicado na América do Norte pela Sega, enquanto por cá ficou a cargo da não menos sonante Activision. Recordo-me bem de ver gameplay desse primeiro título com alguma frequência em canais de televisão por satélite dedicados a videojogos, reflexo de uma boa campanha de marketing. Já a sequela, lançada dois anos mais tarde, não teve a mesma sorte. Nas Américas, foi distribuída pela desconhecida Mastiff, nome do qual nunca ouvira falar, e que, após uma breve pesquisa pelo seu reportório, percebi porquê. A Europa só viria a receber esta sequela em 2005, cortesia da Play It, uma editora também especializada em títulos budget. Apesar do shovelware com que frequentemente nos brindavam, também nos trouxeram alguns lançamentos nipónicos interessantes, como Castle Shikigami 2, 1945 I&II ou, pasme-se, Guncom 2. O meu exemplar foi comprado a um particular na Vinted, algures em Janeiro deste ano, por cerca de 15€.

Jogo com caixa e manual

As mecânicas base do Gungrave original estão todas de regresso. Controlamos Beyond the Grave, um cyborg reanimado após ter sido assassinado, um pistoleiro silencioso, munido de duas armas imponentes e um enorme caixão às costas. Trata-se essencialmente de um shooter na terceira pessoa, em que o botão quadrado serve para disparar, o círculo para ataques corpo-a-corpo e o X para saltar. Uma das melhorias desta sequela é o facto de podermos disparar enquanto nos movemos, embora o ritmo de disparo seja mais rápido se estivermos parados ou, melhor ainda, durante os saltos. O botão L1 permite trancar a mira no inimigo mais próximo, e, caso não esteja activa, possibilita o movimento lateral. Com o L2, executamos uma volta de 180º, bastante mais eficiente do que rodar manualmente a personagem. Já o R1 alterna a mira entre inimigos, enquanto o R2 acciona uma pose espalhafatosa cuja utilidade, sinceramente, me escapou. Outra novidade nos controlos é o uso do analógico direito para mover a câmara. Contudo, a implementação está longe de ser ideal, sobretudo porque o sistema de lock-on também deixa a desejar. De pouco me serve virar a câmara se Grave continua virado noutra direcção, e ao pressionar o botão de mira automática, a mira prende-se no inimigo que estiver no seu ângulo, não necessariamente aquele que estou a tentar focar.

O que não faltarão aqui são inimigos para atacar e objectos para destruir. Tudo para aumentar drasticamente o nosso contador de combo!

No essencial, a jogabilidade mantém-se bastante próxima da prequela, encorajando-nos a executar combos com números impressionantes (frequentemente na casa das centenas). Tal deve-se não só ao grande número de inimigos por nível, mas também à quantidade de elementos destrutíveis nos cenários, que contam igualmente para o combo. Estes combos enchem a barra de munição para os demolition shots, ataques especiais bastante poderosos que, tal como no primeiro jogo, são activados com o botão triângulo. À medida que avançamos e dependendo da nossa performance em cada nível, vamos desbloqueando novos demolition shots, que podem ser seleccionados a qualquer momento através do botão direccional. Grave possui duas barras de energia: uma de escudo e outra de vida. O escudo regenera-se automaticamente se nos mantivermos fora de combate durante algum tempo. Quando este se esgota, passamos a perder vida, mas também é possível recuperá-la. Para isso, devemos utilizar os demolition shots de forma estratégica, pois quanto mais dano causarem, mais vida conseguimos recuperar. O jogo convida, assim, a um delicado equilíbrio entre risco e recompensa, introduzindo um elemento táctico que torna os tiroteios mais interessantes.

Infelizmente nem sempre temos direito a cenas anime como estas

Relativamente cedo no jogo, conheceremos duas novas personagens que nos acompanharão ao longo da aventura: Billy e Juji, ambos também cyborgs reanimados. A partir do momento em que os encontramos, tornam-se seleccionáveis para jogarmos com eles numa nova partida. Experimentei brevemente ambas as personagens, apenas para ter uma ideia de como se comportam em acção: as mecânicas base mantêm-se, mas cada um possui armas e demolition shots distintos. Billy é um guitarrista cuja guitarra eléctrica dispara raios de energia de longo alcance, embora os seus ataques corpo-a-corpo sejam relativamente fracos. Juji, pelo contrário, empunha um híbrido entre espadas e armas de fogo, bastante mais eficaz nos confrontos próximos. O facto de Gungrave: Overdose ser significativamente mais longo do que o primeiro jogo, aliado à possibilidade de desbloquear e jogar com estas duas personagens adicionais, contribui de forma bastante positiva para a sua longevidade!

Pela primeira vez na série, desbloqueamos também outras personagens jogáveis, que por sua vez possuem ataques e técnicas bastante diferentes.

A nível audiovisual, confesso que este jogo me deixou um pouco desapontado. Tal como no original, há um estilo visual bastante icónico no design das personagens e de alguns inimigos, o que não surpreende tendo em conta a colaboração de artistas reconhecidos do mundo manga e anime no desenvolvimento visual. Ocasionalmente, temos direito a algumas cenas em anime que ajudam a avançar a história, embora a maioria das sequências se limite a retratos estáticos das personagens envolvidas, o que retira algum dinamismo à narrativa. No que toca ao grafismo propriamente dito, o jogo deixa algo a desejar nesse aspecto. O jogo mantém um certo nível de cel-shading tal como no primeiro jogo, mas não houve grande evolução ali. A banda sonora também me passou praticamente despercebida, abafada pelo constante ruído dos tiroteios, embora por vezes se ouça uma ou outra faixa com influências jazz, sobretudo durante as cenas mencionadas acima. O voice acting sinceramente não achei nada de especial, tendo sido infelizmente dobrado em inglês, ao contrário da prequela que se manteve em japonês. Por fim, não posso deixar de referir um detalhe curioso desta versão europeia: por alguma razão, a editora Play It optou por utilizar a infame Comic Sans como tipo de letra para todos os diálogos, uma escolha questionável, tanto mais que a versão norte-americana recorre a uma fonte bem mais convencional.

O que também não falta aqui são bosses muito particulares!

Gungrave: Overdose deixa-me com sentimentos algo mistos. Apesar de apresentar melhorias na jogabilidade, como o controlo da câmara, uma duração mais prolongada e personagens desbloqueáveis, continuam a existir limitações nos controlos, especialmente no mecanismo de lock-on, que pode gerar frustração em várias situações. Visualmente, diria até que o Gungrave original teve mais impacto pela sua estética ousada, enquanto este parece ficar um ou dois degraus abaixo. Ainda assim, o jogo tem uma boa dose de momentos intensos e satisfatórios, especialmente para quem aprecia jogos de acção de ritmo elevado. Percebe-se, contudo, porque acabou por ser lançado a um preço económico. Após este título, a série Gungrave ficou em pausa durante vários anos, regressando apenas em 2018 com um jogo concebido para VR, que eu não cheguei a experimentar, nem conto em fazê-lo. Em 2022 surgiu uma nova sequela, Gungrave G.O.R.E, que também não foi particularmente bem recebida. Curiosamente, acabei por comprar a versão PS5 desse título, e conto jogá-lo em breve.