Mega Bomberman (Sega Mega Drive)

Na primeira metade dos anos 90, se quiséssemos jogar Bomberman, teriamos de recorrer a consolas da Nintendo, ou à PC-Engine/Turbografx, mas felizmente a Mega Drive teve sucesso suficiente para a Hudson se interessar pela plataforma e lançar este Mega Bomberman, que é na verdade uma conversão do Bomberman ’94 lançado originalmente para a PC-Engine. Mas não tem problema, pois não deixa de ser uma sólida entrada na velha e divertida franchise. O meu exemplar veio da Cash Converters de Alfragide algures no ano passado, tendo-me custado uns 12€ se bem me recordo.

Jogo com caixa

Na verdade, este Mega-Bomberman esteve para ser bastante diferente. Inicialmente a Hudson abordou a Factor 5 (estúdio de origens europeias que sempre foi conhecido por bastante competente a nível técnico) para desenvolver um Bomberman para a Mega Drive e a empresa alemã desenvolveu uma demo técnica que incluía o suporte para um multiplayer com até 8 jogadores em simultâneo, recorrendo a dois multi-taps conectados à Mega Drive. Mas a Hudson acabou antes por se virar para a Westone, os mesmos criadores da série Wonderboy e pediram antes uma conversão directa do Bomberman ’94, lançado originalmente para a PC-Engine no Japão. Esse é um jogo que possui uma história simples, com o planeta dos Bomberman a ser atacado e dividido em 5 partes. Cabe-nos a nós reunir o planeta, defrontando uma série de inimigos e bosses pelo meio, para depois enfrentar quem esteve por detrás do ataque.

O objectivo principal em cada nível é destruir os pequenos cristais que por sua vez incapacitam a máquina no centro do ecrã. Nem que para isso tenha de haver barbecue de coelhos inocentes!

Com isto, o modo história e single player leva-nos ao longo de 5 áreas distintas com 3 ou 4 níveis cada, para além da área final, onde podereremos percorrer múltiplos ecrãs de jogabilidade de Megaman clássica, onde a ideie é plantar bombas, de forma a destruir alguns blocos e/ou inimigos, apanhando pelo caminho vários power-ups que nos podem ajudar. E claro, o mais importante de tudo é não sermos presos nos nosso próprio fogo, seja por termos barrado o caminho com bombas ou algum inimigo que apareceu onde não devia. As arenas “quadriculadas” que permitem sempre que o fogo se expanda em forma de cruz, em 4 direcções distintas, o que nos deixa geralmente com margem de manobra para nos esquivarmos do fogo inimigo. Existem porém vários power ups, que nos podem deixar temporariamente invencíveis, deixar mais que uma bomba em simultâneo, aumentar o poder de fogo das explosões, poder atravessar barreiras ou bombas, pontapear bombas, entre outros, como a primeira vez que os Rooey, criaturas similares a cangurus, que marcam a sua presença. Cada Rooey possui diferentes cores e habilidades, que se assemelham a vários dos power ups que podemos encontrar. Para além disso, os animais servem também de escudo, permitindo-nos sofrer dano uma vez, sem perdermos qualquer vida.

No Battle Mode podemos customizar a nossa personagem de várias formas!

As áreas de jogo vão sendo variadas, desde florestas, vulcões ou mesmo o fundo dos oceanos. Os inimigos também vão tendo diferentes habilidades, alguns são capazes de voar ou atravessar barreiras, outros simplesmente mais fortes e que podem aguentar com mais que uma bomba antes de serem destruídos. Os bosses naturalmente são muito mais fortes, com diferentes padrões de ataque e que obrigam-nos a usar diferentes estratégias para os derrotar. Como um todo, a jogabilidade de Bomberman, especialmente pelo uso dos seus power-ups, sempre brilhou no multiplayer, e este Mega Bomberman não é excepção à regra, com o seu Battle Mode. Aqui podemos jogar com até 4 jogadores, em partidas que podem ir até às 5 tentativas. É certo que podemos também jogar com bots, mas contra amigos é outra coisa!

Graficamente é mum jogo bem colorido e detalhado, com sprites bem animadas. As músicas são também bastante agradáveis, mas acaba por desiludir na sua performance. O jogo possui slowdowns bem notórios, especialmente em áreas bastante populadas de inimigos e coisas a acontecer. Não é habitual isto acontecer numa Mega Drive, consola que sempre nos habituou ao seu slogan do blast processing.

Os bosses possuem diferentes habilidades. Este pode agarrar as bombas com as suas garras e absorver a explosão.

No cfim de contas, este Mega Bomberman não deixa de ser um jogo competente e divertido, apesar de ser uma conversão de um jogo já lanado antes num sistema concorrente, e pelos seus problemas de performance. Não deixa no entanto de ser curioso ver como o protótipo da Factor 5 poderia evoluir para um jogo final. Seria épico!

Wonder Boy in Monster Land (Sega Master System)

screenshotWonder Boy é um nome envolto em muitas confusões. Todos eles foram desenvolvidos pela Westone e publicados pela Sega, que por sua vez detinha os direitos da franchise e personagem. Ora o primeiro Wonder Boy, que era um simples jogo de plataformas, ao ser convertido pela Hudson para a NES, deu sucesso à série Adventure Island, e por outro lado, na Sega a série evoluiu para o “Monster World”. Noutras plataformas, como a PC-Engine, os jogos ainda são diferentes! Existe um óptimo artigo no hardcoregaming101 sobre esta série que recomendo vivamente a sua leitura. Mas sem mais demoras, este jogo é a continuação directa do primeiro Wonder Boy, e o primeiro jogo na saga Monster World. Foi-me oferecido por um particular, e mesmo não estando num óptimo estado, é para mim um dos jogos obrigatórios desta consola.

Wonder Boy in Monster Land
Jogo com caixa

Mais uma vez o protagonista é o jovem Bock Lee, apelidado de Tom-Tom pelos seus amigos, que tenta salvar a sua terra do dragão Meka que aterrorizou a população e encheu o mundo de monstros, daí o nome de Monster World/Monster Land. Apesar de ainda ser um jogo algo linear e também dividido por níveis, até porque foi um jogo lançado originalmente para arcades, aqui já se introduziram uma série de novas mecânicas de jogabilidade que se tornaram familiares em todos os Monster World seguintes. Isto porque desde cedo nos dão uma espada, com a qual atacamos os inimigos que nos vão deixando moedas, dinheiro esse que poderá ser usado ao visitar uma série de lojas para compras mais equipamento, como diferentes escudos, armaduras ou botas, ou mesmo armas mágicas especiais, como bombas, raios que provocam dano a todos os inimigos no ecrã, etc.

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Em algumas das portas apenas encontramos quem nos dê dicas

Essas lojinhas no início estão representadas como portas e o respectivo ícone a indicar para que se tratam. Mas ao longo do jogo iremos encontrar muitas dessas portas que nos levam a armadilhas, umas com pequenos bosses, outras com bosses mais a sério que são mesmo necessários derrotar para avançar para o nível seguinte. Outras lojas, muitas das vezes até com bom material para comprar, estão invisíveis, tendo de ser encontradas pelo método de tentativa-erro. De resto, para além dos coraçõezinhos que nos vão indicando a vida disponível e que podem ser aumentados ao encontrar os respectivos “heart containers”, temos também timers para avançar no nível, o que também não nos deixa assim muito à vontade para “farmar” mais tempo. Influências de este ter sido um jogo arcade!

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Não precisamos de comprar tudo logo de uma vez, outras oportunidades virão nos níveis seguintes

Graficamente é um jogo muito bem colorido e detalhado, quase ao mesmo nível do Wonder Boy III The Dragon’s Trap, que é na minha opinião um dos melhores jogos de plataformas de sempre. Não existe é uma variedade tão grande de cenários, apesar de existirem desertos, florestas, ilhas, cavernas (incluindo subaquáticas), há sempre uma insistência no mesmo tipo de cores, nomeadamente os amarelos, castanhos, verdes e azuis do céu ou água. As músicas também são boas, embora naturalmente a versão japonesa e o seu suporte ao FM Sound Unit lhe dêm uns 15-0 ao som normal.

Em suma, e embora não seja uma obra prima como o The Dragons Trap, este Wonder Boy in Monster Land já foi um bom ensaio para as mecânicas mais “metroidvania” que foram implementadas de vez nos jogos seguintes. Não, o Wonder Boy III Monster Lair não conta. Quê? Outro Wonder Boy III? A Westone é pior que um filme do David Lynch.

Wonder Boy III: The Dragon’s Trap (Sega Master System)

wonder-boy-iii-the-dragons-trap-coverA Master System foi a minha primeira e única consola durante muitos anos. Andavam os meus amigos de volta de jogos como Daytona USA ou Final Fantasy VII para a suas Sega Saturn e Playstation, e eu ainda andava de volta de jogos como Sonic 2, Desert Strike ou até Phantasy Star. Ainda assim, haviam alguns jogos mais antigos da década de 80 que me despertavam o interesse mas não conhecia ninguém que os tinha e só os vim a jogar mais tarde. A série Wonderboy da Westone foi uma delas. Wonderboy foi um jogo simples de plataformas desenvolvido para as arcades de 1986. Pouco tempo depois viu conversões para as consolas da Sega SG-1000 e mais tarde Mark III/Master System (entre outras). Uma conversão para a NES também foi desenvolvida por parte da Hudson, contudo como a Sega mantinha os direitos da franchise “Wonder Boy”, pelo que o jogo sofreu algumas alterações das personagens e bosses, bem como um novo nome “Adventure Island”. Desde esse momento que as 2 série seguiram caminhos diferentes. A Hudson manteve o nome Adventure Island e lançou vários jogos com a mesma mecânica do original, já a Westone manteve o nome Wonderboy e evoluiu a série para o mundo “Monster World”, onde os jogos passaram a ser mais que meros jogos de plataforma. Para evitar confusões neste, existe um outro Wonderboy III desenvolvido para Arcade e Mega Drive que segue um pouco as raízes da série, sendo um jogo mais linear. Este artigo refere-se exclusivamente ao “The Dragon’s Trap”. O meu exemplar veio do Ebay, tendo-me custado à volta de 15 libras. Infelizmente possui a capa e manual em mau estado, pelo que eventualmente o substituirei.

Jogo com manual

 

Bom, a história deste The Dragon’s Trap começa onde o jogo anterior ficou (Wonderboy in Monster Land). Wonder Boy no castelo do maléfico Meka Dragon, equipado com todo o equipamento lendário, todos os “corações” e ataque e defesa no máximo. Enfrentamos assim um dos bosses mais fortes do jogo logo no primeiro encontro, mas com o Wonder Boy todo “pimped up” a batalha não é assim um grande desafio. Contudo, Meka Dragon antes de morrer amaldiçoa Wonder Boy, transformando-o num pequeno monstro “Lizard-Man”. Wonder Boy escapa depois do castelo transformado em monstro e todo o equipamento e “corações” que previamente tinha foram perdidos. Assim começa esta aventura, com Wonder Boy à procura da Salamander Cross, o item que lhe poderá restaurar a sua forma humana. A maior parte dos jogos da série Wonder Boy / Monster World são jogos não lineares, que misturam a exploração de jogos de plataforma como Metroid, aliando a características de RPGs de acção como os próprios Castlevania 2D modernos, com armas/ escudos e armaduras, e vários items que alteram o status da personagem. De facto, Wonder Boy é largado num “overworld”, sem muito sítio por onde ir inicialmente. À medida que o jogo vai progredindo vamos adquirindo novas habilidades transformando-nos noutros animais, abrindo assim hipóteses de percorrer caminhos ou alcançar items que de outra forma seriam impossíveis de obter. Existem também lojas espalhadas pelo jogo onde podemos adquirir items/equipamento, igrejas onde podemos fazer “save” do jogo  – na verdade apenas geram uma password com o progresso actual, e outras casas como uma onde poderemos alternar entre as várias formas de animais que vamos adquirindo ao longo do jogo. Como devem calcular, cada animal tem pontos fortes e fracos, a impossibilidade de utilizar algum equipamento, ou habilidades próprias, tais como imunidade a lava, voar, nadar, ou esgueirar-se por portas e entradas minúsculas. Os animais que vamos “adquirindo” ao longo do jogo são: Lizard-Man, Mouse-Man, Piranha-Man, Lion-Man, Hawk-Man e finalmente o “Hu-Man” – a forma humana que embora seja forte, não possui nenhuma habilidade especial. Tal como Zelda também existem pelo jogo “Heart Containers”, que aumentam os pontos de vida de Wonder Boy.

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Graficamente, para um jogo de 1989, posso dizer sem problema algum que foi um dos jogos mais bonitos da era 8-bit. As personagens carismáticas com sprites detalhadas (o mesmo para os inimigos e bosses), os “níveis” bem pensados, bastante coloridos e variados entre si, tornam este Wonder Boy numa boa experiência mesmo ao fim destes anos todos. Visitamos vários castelos, cavernas, selvas, templos, passagens sub-aquáticas, pirâmides e esfinges, muitas dessas zonas com vários caminhos a explorar e items a descobrir, consoante o animal que incorporamos. A nível de som, quem conhece a Master System sabe que o seu chip de som nunca foi lá grande coisa (culpa da Sega que não quis lançar a Master System já com o chip FM embutido no ocidente), mas neste jogo o pessoal da Westone conseguiu dar a volta ao problema e apresentar várias melodias agradáveis que concerteza fazem parte das memórias de muitos jogadores de Master System por esse mundo fora. Os controlos são óptimos para um jogo de plataformas, com precisão e inércia de movimento no ponto certo. O combate é simples – espada e escudo (ou não, dependendo do animal). A exploração e o grinding para obter dinheiro para comprar equipamento superior, tornam este jogo numa óptima experiência, um pouco viciante, até.

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Este “padre” tem um aspecto curioso

Existem algumas conversões deste jogo: em 1992 foi lançada uma conversão directa para a Master System portátil, ou seja, a Sega Game Gear. Apesar de o jogo em si ser o mesmo, foram feitas algumas modificações, principalmente a nível de artwork, tanto no title screen como nas lojas. Antes disso, em 1991 saiu para a TurboGraphX 16 / PC Engine da NEC uma conversão feita por parte da Hudson (os mesmos por detrás da série Adventure Island) que como se as séries Wonder Boy/Monster World e Adventure Island já não fossem confusas por si só, esta versão do jogo chama-se Adventure Island no mercado japonês e Dragon’s Curse no ocidente. É o mesmo jogo que na versão Master System, mas devido ao hardware melhorzinho da TG16 o jogo apresenta gráficos mais detalhados, embora tenham alterado mais uma vez o aspecto da personagem principal e bosses. Em 2007 na colecção SEGA Ages 2500 para a PS2 japonesa saiu uma compilação completa de todos os jogos da série Wonder Boy / Monster World, e na Nintendo Virtual Console existem tanto a versão Master System como a TG16 para download. Para quem gosta de jogos de plataforma e aventura, recomendo vivamente que joguem esta série. Em Wonderboy III: The Dragon’s Trap têm o melhor jogo da série na minha opinião.