Beyond a Steel Sky (Sony Playstation 4)

Ora cá está um jogo que não estava nada à espera. O Beneath a Steel Sky foi um dos muitos jogos de aventura gráfica que os britânicos Revolution Software produziram ao longo da sua carreira e recentemente resolveram revisitar essa franquia ao produzir uma sequela inédita, lançada algures no ano passado. O meu exemplar foi comprado na worten algures por altura das promoções da Black Friday 2022, tendo-me custado algo em torno dos 20€ depois dos descontos.

Jogo com sleeve exterior, steel book, papelada, autocolantes e um código de descarga da banda sonora

O jogo decorre 10 anos após os eventos da sua prequela onde Robert Foster, depois de ter escapado de Union City, decide voltar a viver no deserto em comunidades mais pequenas e ter uma vida pacata e humilde. E é precisamente num desses momentos de descontração com os seus co-habitantes que surge um robot gigante e rapta Milo, uma criança que estava simplesmente entretida a pescar. Determinado em salvar a criança e resgatá-la de volta para a sua família, Robert segue o trilho deixado pelo robot no deserto que o leva invariavelmente de volta à Union City. Depois de ultrapassar alguns percalços que nos impediam de entrar na cidade, Robert vê esta muito diferente desde a sua última aventura. Union City é agora uma cidade próspera e com toda a sua população aparentemente feliz. No entanto rapidamente nos apercebemos que essa felicidade tem um preço na liberdade individual. A sociedade é altamente monitorizada e manipulada através do sistema informático MINOS, que por sua vez substitui o LINC da primeira aventura.

Apesar de não considerar que o jogo tenha personagens muito carismáticas, gostei particularmente da personalidade incutida a alguns dos robots com os quais temos de interagir

No que diz respeito às mecânicas de jogo, pensem neste título como uma aventura gráfica moderna, onde nos poderemos mover livremente por uma série de áreas e teremos de falar com pessoas, coleccionar e usar itens e resolver uma série de puzzles para progredir. Uma das novidades aqui introduzidas é a possibilidade de fazer hacking a certos robots e outros equipamentos electrónicos. Por exemplo, alguns podem ser tão simples como aldrabar um sistema de autenticação de uma porta, ao trocar a ordem de “abrir e/ou fechar porta” consoante o utilizador for ou não autorizado. Muitos desses puzzles serão no entanto bem mais desafiantes, exigindo a interacção de vários desses componentes em cadeia para que consigamos alcançar o nosso objectivo. Por exemplo, a parte de ir “buscar inspiração” para um poema leva-nos por uma cadeia de diferentes acções que não serão muito óbvias à primeira. De resto, também tal como no Beneath a Steel Sky teremos a oportunidade de nos aventurar dentro do próprio sistema informático MINOS, desta vez sem puzzles frustrantes, mas não deixando de ser segmentos de jogo bastante originais.

Os puzzles mais interessantes são aqueles onde teremos de fazer hacking a vários equipamentos ou robots e trocar algumas das suas funcionalidades.

No que diz respeito aos audiovisuais, este é sem dúvida um prato misto. Por um lado graficamente o jogo possui cenários bem detalhados e eu sempre gostei do aspecto futurista, mas também algo steampunk do original. Aqui os robots são um misto entre designs mais limpos e futuristas ou outros mais “retro futuristas” tal como no primeiro jogo. O meu problema é mesmo com o detalhe das outras personagens humanas. O jogo não tenta ser ultra realista, com os gráficos a terem um tom mais próximo da banda desenhada (inclusivamente é assim que a cutscene de introdução nos é apresentada), mas as caras das personagens humanas são mesmo hit or miss. Algumas acho bem conseguidas, outras são tão, tão feias que nem sei o que é que os artistas tinham em mente! Entendo perfeitamente que este jogo é um esforço de um estúdio mais pequeno e apresentar visuais bem detalhados de um jogo 3D exige muito esforço e dedicação, mas a diferença de qualidade tão abismal em certas personagens é mesmo algo que não consigo compreender. Até os pequenos bugs que enfrentei para mim são completamente irrelevantes face a essa desproporção na arte das personagens. Por exemplo, em diálogos a câmara aproxima-se dos seus intervenientes, mas muitas vezes ambas as personagens ficam parcialmente cortadas do ecrã. Ou os NPCs sem rotinas de movimento alternativas, pois também me aconteceu nos diálogos ter um NPC a constantemente a tentar passar por cima de mim, ao invés de dar a volta. São pequenas coisas que tendo em conta o budget do jogo não têm grande relevância. Por outro lado gostei bastante do voice acting. Sim, nem todas as personagens são tão fortes quanto as principais, mas gostei particularmente do tom jovial e bem humorado que muitos dos robots possuem nas suas vozes, desde o tom exageradamente educado de um certo robot mordomo, passando para o sarcasmo que já conhecemos do Joey.

Explorar o interior de um poderoso sistema informático é algo que marca também o seu regresso neste jogo

Portanto, apesar dos seus desequilíbrios a nível artístico e uma ou outra aresta por limar, devo dizer que fiquei agradavelmente surpreendido com este jogo. Para quem gostou do seu antecessor irá sem dúvida apreciar esta inesperada sequela e, mesmo sabendo que está longe de ser um jogo brilhante, fiz questão em comprar este jogo em tempo útil para dar os sinais certos à Revolution: quero mais aventuras gráficas!

Lure of the Temptress (PC)

Depois de ter jogado o Beneath a Steel Sky e me ter apercebido que foi desenvolvido pelos mesmos produtores que a série Broken Sword, acabei também por inevitavelmente ir espreitar o primeiro jogo que desenvolveram, o Lure of the Temptress. Tal como o Beneath a Steel Sky este é também um jogo de aventura point and click que acabou por ser distribuído livremente no site gog.com assim que os seus criadores os consideraram freeware. Então já sabem, para jogar tanto o Lure of the Temptress como o Beneath a Steel Sky basta registarem-se no GOG.

lure_of_the_temptress_coverMas vamos ao que interessa. Este é um jogo de aventura gráfica mais fantasioso, decorrendo algures na idade média. Diermot, o personagem principal, é um jovem ao serviço do Rei lá do sítio e a certa altura, quando o Rei se encontrava numa caçada com a sua guarda, recebe a notícia que há uma rebelião na remota aldeia de Turnvale. Decidem então partir para a aldeia mas quando lá chegam deparam-se com um exército de Skorls (o equivalente a Orcs neste universo) liderados pela bruxa Selena. O rei morre e Diermot é feito prisioneiro. A nossa aventura começa precisamente com o desafio de nos libertarmos das masmorras de Turnvale. Quando o conseguimos fazer lá temos de ir explorando a aldeia e falar com os seus visitantes, que ao seu tempo nos vão dando dicas de como avançar e derrotar Selena.

Devo dizer que gostei bem mais da cutscene de abertura deste jogo do que do Beneath a Steel Sky
Devo dizer que gostei bem mais da cutscene de abertura deste jogo do que do Beneath a Steel Sky

Este Lure of the Temptress marca a estreia do “Virtual Theatre”, um motor de jogo que permitia aos NPCs possuir mais inteligência artificial, dotando-os de rotinas que os tornam independentes, levando-os a passear pela aldeia, visitar lojas ou bares e por aí fora. Todos esses passeios têm um senão, pois as personagens vão acabar por andar todas aos encontrões e cada vez que isso acontece, sai um diálogo de “excuse me” o que também pode interferir com os diálogos que vamos tentar manter com os restantes NPCs. Outra das características deste jogo é a possiblidade de dar ordens complexas a alguns NPCs que nos apoiam. Coisas como “vai até à praça X e usa o lockpick para destrancar a porta” são ordens mais complexas que podem ser construídas através da opção TELL. Claro que muitas vezes podemos pedir coisas que não resultem em nada, mas em certas alturas do jogo precisamos mesmo do apoio de um ou outro NPC para progredir e precisamos de mandar ordens como esta. Depois as mecânicas de jogo não são tão simples assim como muitos dos jogos de aventura mais modernos. Falar, observar ou interagir são acções comuns que podemos tomar com recurso ao velho “point and click”, mas existem mais como DRINK, ASK/GIVE (para pedir ou entregar objectos a NPCs) entre outras, seleccionadas através de um menu. Temos ainda alguns segmentos em que temos de combater, algo feito através de cliques no rato, mediante o ícone escolhido. A seta para a frente faz com que demos mais um passo em frente, os diferentes ícones de ataque permitem-nos que ataquemos por cima, baixo ou em frente. Convém ser mais rápido que o inimigo, senão corremos sérios riscos de perder a vida.

Apesar das suas novidades técnicas, não consigo deixar de me sentir algo desapontado perante o baixo carisma de algumas personagens
Apesar das suas novidades técnicas, não consigo deixar de me sentir algo desapontado perante o baixo carisma de algumas personagens

Tecnicamente confesso que é um jogo que me deixou um pouco insatisfeito. Por um lado as personagens estão bem detalhadas e animadas, tendo em conta a resolução do jogo. Gosto do universo fantasioso em questão, mas acho que deveria ter muito mais vida. Por um lado compreendo que sendo o primeiro jogo de uma start-up não tenha havido budget para incluir voice-acting, mas ao menos música ou mais ruídos de fundo seriam necessários. A maior parte das vezes estamos a jogar completamente em silêncio o que não faz muito sentido. Depois é um jogo bastante curto e não há muita abertura para grandes plot twists ou mesmo a Selena, que só enfrentamos no final do jogo, nunca parece ser tão ameaçadora quanto é.

Mas não deixa de ser um interessante jogo de aventura, para quem for fã do mesmo. E sendo freeware desde 2003, não há mesmo desculpas para o irem espreitar. E ao Beneath a Steel Sky também, que acaba por ser uma óptima evolução deste jogo.

Beneath a Steel Sky (PC)

25689_frontJá há algum tempo que não jogava uma aventura gráfica do género point and click. E após visitar a minha conta no site gog.com relembrei-me que possuia uns quantos jogos freeware associados à minha conta desde que me registei. Um deles era mesmo o clássico Beneath a Steel Sky, da Revolution Software, os mesmos que mais tarde produziram a série Broken Sword. E este jogo é uma interessante mistura de temas mais sérios, sendo passado num futuro algo distópico onde cidades são na verdade mega corporações ou ditaduras que nos controlam como viver. Entretanto lá arranjei também uma cópia física numa feira de velharias por 5€.

Jogo em edição budget, de tal forma que nem um manual nem uma caixa de cd jewel case traz,

O herói desta aventura chama-se Robert Foster, este que em criança despenha-se com a sua mãe num acidente de helicóptero num deserto nas imediações da cidade de Union City. Apenas Robert sobreviveu ao desastre, tendo sido acolhido por uma tribo de aborígenes que vivia nessa zona. Robert eventualmente faz-se adulto e é levado de assalto pela Security, a polícia de Union City, que mata todos na tribo e leva Robert de novo para a cidade, sem prestar quaisquer explicações. A caminho da cidade, o helicóptero que os transporta sofre também um acidente e Foster aproveita a confusão para fugir. O resto do jogo será passado a tentar fugir da cidade, simultâneamente tentando saber mais detalhes sobre os seus mistérios, o que levou a mãe a fugir com Robert em criança e porque foi raptado vários anos depois.

Union City está repleta de arranha-céus. Mas ao contrário do que seria de esperar, os estratos sociais mais ricos são aqueles que vão estando mais próximo da superfície, não no topo das torres.
Union City está repleta de arranha-céus. Mas ao contrário do que seria de esperar, os estratos sociais mais ricos são aqueles que vão estando mais próximo da superfície, não no topo das torres.

A jogabilidade é a típica de um jogo point and click, que nos obriga a explorar todos cantos e recantos de cada cenário, à procura de itens escondidos ou objectos que possam ser interagidos, falar com pessoas e tentar combinações de itens que por vezes não pareçam ter muita lógica. É daqueles jogos em que é possível morrer, em certas alturas se não reagirmos rápido a alguma ameaça, se formos para o local errado à hora errada, ou se não tomarmos as devidas precauções, como entrar num reactor nuclear sem um fato protector. Portanto, ir gravando o nosso progresso no jogo, de preferência em ficheiros de save múltiplos, é algo que teremos de fazer com alguma frequência. O jogo foi desenvolvido com recurso à engine proprietária da Revolution, o Virtual Theatre. Uma das funcionalidades particulares dessa engine perante era a inteligência artificial mais avançada atribuída aos NPCs, permitindo-os ter rotinas e padrões de movimento que podem atravessar vários ecrãs. Isto é especialmente visível no nosso robot e companheiro Joey, que nos vai seguindo pelos ecrãs, embora a um ritmo mais lento, o que pode trazer algumas frustrações especialmente quando precisamos de apanhar elevadores. De resto a nível de jogabilidade resta-me apontar que os menus poderiam estar melhor implementados e nem sequer um ecrã título temos direito. Iremos também explorar alguns terminais e viajar mesmo para um mundo de realidade virtual dentro de LINC, a inteligência artifical que controla a cidade. Aí as coisas são algo estranhas e os puzzles que enfrentamos tornam-se um pouco incomuns.

Apesar de lidar com temas sérios da sociedade, o jogo está repleto de humor e personagens carismáticas
Apesar de lidar com temas sérios da sociedade, o jogo está repleto de humor e personagens carismáticas

A história é muito interessante, misturando conceitos mais sérios como ditaduras, guerras ou os perigos por detrás da inteligência artificial, com diálogos muito bem humorados e algumas personagens bastante carismáticas. O robot Joey então possui um humor muito corrosivo que me agradou bastante. O jogo está repleto de pequenos detalhes deliciosos, como uma referência num dos diálogos à camisola vestida por Robert, debaixo do seu casaco, e quando muito mais tarde acabamos por ver o que Robert tem vestido é algo hilariante. O cirurgião, o porteiro do clube mais estranho da cidade ou a senhora Piermont, que nos recebe em sua casa nuns trajes muito impróprios.

O conceito artístico deste jogo foi criado por um artista de banda desenhada e isso nota-se perfeitamente na cutscene de abertura, embora ache que a mesma deveria ser melhor idealizada.
O conceito artístico deste jogo foi criado por um artista de banda desenhada e isso nota-se perfeitamente na cutscene de abertura, embora ache que a mesma deveria ser melhor idealizada.

No que diz respeito aos audiovisuais, aí já possuo sentimentos mistos. O jogo começa logo com uma cutscene a abrir, em que aí sinceramente achei que o voice acting não está tão bom. E a cutscene em si é um pouco estranha, sinceramente não gostei nada. Mas depois quando entramos no jogo propriamente dito, então iremos explorar cenários bem detalhados, onde cada pixel está meticulosamente no sítio certo, resultando em personagens bastante expressivas, mesmo possuindo pouco detalhe. O voice acting vai alternando entre o bom e o mediano, com algumas personagens a resultarem bem melhor que outras. Mas no geral acho que a história está muito boa e só por isso já torna alguns dos seus defeitos bem perdoáveis. Ficou entretanto no ar a promessa de um Beneath the Steel Sky 2, o que é algo que eu vejo com bastante agrado, até porque este universo tem potencial para ser bem mais explorado.

Broken Sword: The Sleeping Dragon (PC)

Broken Sword The Sleeping Dragon

Após 2 jogos de sucesso lançados sucessivamente, o estúdio Revolution deixou a série de lado durante alguns anos, até que em 2003 lançou finalmente o terceiro capítulo da saga para o PC, PS2 e Xbox. Infelizmente muitas mudanças foram feitas à jogabilidade, a começar nos gráficos e movimentação 3D e o abandono do conceito “point and click“. Compreendo que mudanças teriam de ser feitas pois o género de jogos de aventura já há muito que estava gasto e imensas séries conceituadas acabaram por ir para o Limbo. Ainda assim, na minha opinião deram imensos passos na direcção errada. Mas já lá vamos. Tal como os outros 2 Broken Sword, este jogo foi comprado numa Steam sale a um preço tão irrisório que aconselho toda a gente a comprar. Edit: recentemente comprei um exemplar físico a um particular por 4€.

Jogo com dois discos, caixa e manual PT

O jogo decorre uns tempos após a segunda aventura, com o “casalinho” George Stobbart e Nicole Collard a seguirem cada um as suas vidas. Mas mais uma vez o destino os traz juntos, quando um hacker parisiense que se encontrava a desencriptar um manuscrito antigo e um arqueólogo em pleno Congo são ambos assassinados por intermédio de uma nova organização secreta, formada após a queda dos Neo-Templários no primeiro Broken Sword. O jogo vai-se desenrolando até que a trama começa a adquirir alguns contornos sobrenaturais, com civilizações antigas bastante avançadas tecnologicamente, dragões e uma energia bastante poderosa produzida pelo planeta que os vilões querem controlar a todo o custo.

A jogabilidade foi notoriamente adaptada para as consolas, com a versão PC sem qualquer suporte ao rato, mesmo para navegar nos menus iniciais. A falta de um analógico no PC é um pouco limitativa no movimento da personagem, principalmente por não se ter qualquer controlo sob a câmara e quando o jogo decide mudar os ângulos por vezes pode ser incomodativo. Foi bastante frustrante num ou noutro segmento que passo já a explicar: em certos pontos do jogo vão existir alguns momentos em que a personagem pode morrer, para que isso não aconteça é necessário correr ao longo de um corredor sem qualquer demora de maior e por vezes essa mudança no ângulo acabou por levar a um “game over” desnecessariamente. Felizmente quando isso acontece o jogo recomeça automaticamente do momento anterior, para uma nova tentativa.A movimentação entre obstáculos também poderia ser melhor executada. Outra coisa que surgiu neste jogo foi a implementação de alguns “Quick Time Events“, algo que nunca fui particularmente fã. Felizmente apenas consistem em pressionar sempre o mesmo botão num ou noutro momento chave.

Screenshot
A aventura de George começa com um pequeno desastre aéreo e logo com um “puzzle” de arrastar caixotes.

Outros elementos “novos” na série são algumas secções em que exige stealth para infiltrar (ou escapar) certos locais. No jogo anterior já existia uma ou outra secção do género, mas aqui aparecem em maior número. De resto o progresso no jogo assenta essencialmente na exploração dos cenários, interacção entre objectos e diálogos chave com certas pessoas, nada de novo aqui. Existem puzzles, desta vez mais adequados a um jogo de aventura em 3D. Ainda assim existe um exagero nuns puzzles tradicionais de arrastar caixotes/pedras ao longo de várias secções para aceder a outras áreas. Estes puzzles repetem-se muitas vezes e acabam por ser completamente desinspirados.

Graficamente o jogo não é nada de especial, mesmo para uns padrões de 2003. Ainda assim as animações pareceram-me interessantes. O factor nostalgia existe ao longo do jogo todo, com algumas áreas clássicas a serem revisitadas, ou mesmo o regresso de alguns items, uns mais úteis que outros. O voice-acting continua excelente, ao menos isso. O jogo mantém um bom sentido de humor, essencialmente na secção que decorre em Inglaterra, com personagens mais carismáticas. Ainda assim, está uns furos abaixo do charme que o jogo original tinha neste campo.

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A praça de Mountfaçon regressa em 3D. Os veteranos irão reconhecer aquela personagem.

Tenho pena que a série tenha enveredado por este caminho, existe um quarto jogo que é igualmente em 3D, mantendo diversos elementos da jogabilidade deste jogo presentes. Pelo que li algures, parece que corrigiram algumas falhas deste jogo, mas ainda assim preferia de longe a velha fórmula dos clássicos. Os fãs acham o mesmo e existe por aí um fangame intitulado Broken Sword 2.5, sendo este completamente em 2D e incorporando todos os elementos da jogabilidade clássica. Não sei o que a Revolution anda a planear fazer com a série, mas gostaria que regressassem às origens definitivamente. Com o a popularidade actual da distribuição digital de videojogos, certamente seria mais fácil para a empresa agradar a um certo nicho de mercado, como fazem muitas outras. Veremos.

Broken Sword II: The Smoking Mirror (PC)

O Broken Sword original agradou-me tanto que peguei logo neste em seguida. Embora seja igualmente um jogo de qualidade, aqui pareceu-me uns furinhos abaixo, por não ter personagens tão carismáticas como no jogo anterior. Esta é a versão Remastered que foi adquirida numa Steam Sale por uma pechincha. A versão remastered acrescenta algum novo artwork, nomeadamente uns retratos das personagens sempre que há diálogos, embora desta vez sejam completamente animados. Para além do mais, a partir de um certo ponto no jogo, é também desbloqueada uma pequena banda desenhada que narra os acontecimentos antes desta aventura.

Broken Sword 2: The Smoking MirrorEnquanto o jogo anterior lidava com o misticismo evolvendo os Cavaleiros Templários, este aqui está relacionado com um mistério envolvendo os Maias. Começando uns meses após os eventos anteriores, George e Nicole são convidados a visitar um conceituado professor/arqueólogo da cultura Maia para observar um objecto místico qualquer. Quando lá chegaram acabaram por ser vítimas de uma cilada, com Nicole a ser raptada e George deixado a morrer numa casa em chamas. Após George se conseguir safar do incêndio, procura resgatar Nicole e ao mesmo tempo tentar resolver o mistério que está por detrás da coisa, fazendo a dupla viajar a vários pontos do globo, como América Central, Caraíbas, Paris ou Londres.

A jogabilidade é idêntica à do jogo anterior, com as personagens poderem-se movimentar ao longo de cenários fixos, podendo interagir com diversos outros NPCs e objectos, precisando por vezes de combinar items, utilizar objectos nos locais ou pessoas certas para prosseguir, para além de ser necessário por vezes resolver alguns puzzles mais literais. O que se manteve neste “Remaster” face ao anterior foram as “death sequences“, onde em algumas fases do jogo iriam existir mesmo alguns conflitos que necessitariam de alguma execução rápida e/ou planeada anteriormente, com o risco da personagem morrer e game over.

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Parte da cutscene onde Nicole é raptada

Embora acho que seja um jogo com muita qualidade, penso que muito do charme original foi-se perdendo. O primeiro jogo tinha imensas personagens muito peculiares e carismáticas, com um sentido de humor bastante acirrado. Aqui não é tanto o caso e, mesmo com algumas personagens do jogo anterior voltarem a aparecer, muito do seu “charme” original perdeu-se. Um exemplo bastante concreto para mim é o gendarme velhote de Paris, bastante preguiçoso. Neste jogo tornou-se uma personagem bem menos conseguida, por exemplo. Ainda assim tem os seus momentos e devo admitir que teve a sua graça perguntar a toda a gente o que achava de uma certa peça de roupa interior feminina.

Tal como no “remaster” anterior, aqui existe uma dicotomia de artwork. Por um lado temos o visual completamente cartoony original, presente no jogo em si e nas cutscenes, por outro lado temos o desenho mais moderno e inspirado em banda desenhada europeia, presente nos “retratos” das personagens durante os diálogos, ou mesmo na própria banda desenhada extra que desbloqueamos a um certo ponto do jogo. O voice acting é mais uma vez de muito boa qualidade, com actores convincentes. A qualidade áudio em si é também muito melhor que no jogo anterior, onde eram bem notórias as diferenças da qualidade os diálogos novos para os originais.

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Aqui também experimentaram um pouco com alguma CG, era melhor que não o tivessem feito

No fim de contas, apesar de não ser excelente como o original, Broken Sword II é para mim um bom jogo de aventura para quem gosta do género. Infelizmente o estúdio Revolution viria a alterar a fórmula para os jogos seguintes, com a transição para o 3D e novas mecânicas de jogo. Mas isso fica para outro artigo.