Depois de ter jogado o Beneath a Steel Sky e me ter apercebido que foi desenvolvido pelos mesmos produtores que a série Broken Sword, acabei também por inevitavelmente ir espreitar o primeiro jogo que desenvolveram, o Lure of the Temptress. Tal como o Beneath a Steel Sky este é também um jogo de aventura point and click que acabou por ser distribuído livremente no site gog.com assim que os seus criadores os consideraram freeware. Então já sabem, para jogar tanto o Lure of the Temptress como o Beneath a Steel Sky basta registarem-se no GOG.
Mas vamos ao que interessa. Este é um jogo de aventura gráfica mais fantasioso, decorrendo algures na idade média. Diermot, o personagem principal, é um jovem ao serviço do Rei lá do sítio e a certa altura, quando o Rei se encontrava numa caçada com a sua guarda, recebe a notícia que há uma rebelião na remota aldeia de Turnvale. Decidem então partir para a aldeia mas quando lá chegam deparam-se com um exército de Skorls (o equivalente a Orcs neste universo) liderados pela bruxa Selena. O rei morre e Diermot é feito prisioneiro. A nossa aventura começa precisamente com o desafio de nos libertarmos das masmorras de Turnvale. Quando o conseguimos fazer lá temos de ir explorando a aldeia e falar com os seus visitantes, que ao seu tempo nos vão dando dicas de como avançar e derrotar Selena.
Este Lure of the Temptress marca a estreia do “Virtual Theatre”, um motor de jogo que permitia aos NPCs possuir mais inteligência artificial, dotando-os de rotinas que os tornam independentes, levando-os a passear pela aldeia, visitar lojas ou bares e por aí fora. Todos esses passeios têm um senão, pois as personagens vão acabar por andar todas aos encontrões e cada vez que isso acontece, sai um diálogo de “excuse me” o que também pode interferir com os diálogos que vamos tentar manter com os restantes NPCs. Outra das características deste jogo é a possiblidade de dar ordens complexas a alguns NPCs que nos apoiam. Coisas como “vai até à praça X e usa o lockpick para destrancar a porta” são ordens mais complexas que podem ser construídas através da opção TELL. Claro que muitas vezes podemos pedir coisas que não resultem em nada, mas em certas alturas do jogo precisamos mesmo do apoio de um ou outro NPC para progredir e precisamos de mandar ordens como esta. Depois as mecânicas de jogo não são tão simples assim como muitos dos jogos de aventura mais modernos. Falar, observar ou interagir são acções comuns que podemos tomar com recurso ao velho “point and click”, mas existem mais como DRINK, ASK/GIVE (para pedir ou entregar objectos a NPCs) entre outras, seleccionadas através de um menu. Temos ainda alguns segmentos em que temos de combater, algo feito através de cliques no rato, mediante o ícone escolhido. A seta para a frente faz com que demos mais um passo em frente, os diferentes ícones de ataque permitem-nos que ataquemos por cima, baixo ou em frente. Convém ser mais rápido que o inimigo, senão corremos sérios riscos de perder a vida.

Apesar das suas novidades técnicas, não consigo deixar de me sentir algo desapontado perante o baixo carisma de algumas personagens
Tecnicamente confesso que é um jogo que me deixou um pouco insatisfeito. Por um lado as personagens estão bem detalhadas e animadas, tendo em conta a resolução do jogo. Gosto do universo fantasioso em questão, mas acho que deveria ter muito mais vida. Por um lado compreendo que sendo o primeiro jogo de uma start-up não tenha havido budget para incluir voice-acting, mas ao menos música ou mais ruídos de fundo seriam necessários. A maior parte das vezes estamos a jogar completamente em silêncio o que não faz muito sentido. Depois é um jogo bastante curto e não há muita abertura para grandes plot twists ou mesmo a Selena, que só enfrentamos no final do jogo, nunca parece ser tão ameaçadora quanto é.
Mas não deixa de ser um interessante jogo de aventura, para quem for fã do mesmo. E sendo freeware desde 2003, não há mesmo desculpas para o irem espreitar. E ao Beneath a Steel Sky também, que acaba por ser uma óptima evolução deste jogo.