Death Rally (PC)

A minha saga pela 3D Realms Anthology (uma grande compilação de clássicos da Apogee, 3D Realms e Pinball Wizards) está a chegar ao fim, não contando com os jogos que já tinha analisado anteriormente noutras ocasiões. Da Apogee sobra um dos seus últimos trabalhos publicados com o seu nome, sendo também curiosamente uma das primeiras obras da Remedy Entertainment, que nos viria mais tarde trazer séries como Max Payne ou Alan Wake. Este artigo é referente ao jogo original de MS-DOS, que mais tarde foi lançado convertido para Windows e lançado como freeware pela própria Remedy, não é referente ao novo Death Rally lançado em 2011/2012 para dispositivos móveis e Windows mais uma vez.

250px-death_rally_coverDeath Rally é então um jogo de corridas bastante violento, como o nome indica. Aqui vamos participando numa série de corridas violentas, onde com um orçamento inicial de 495$, temos de lutar para nos mantermos nos lugares cimeiros em cada corrida, de forma a amealhar mais dinheiro para comprar upgrades no nosso carro (armadura, motor ou pneus), comprar carros novos ou gastar dinheiro em coisas anti-jogo, como minas, ou sabotar os carros dos nossos oponentes. Ganhar dinheiro é muito importante para a continuidade do jogo, pois o dano sofrido em cada corrida custa a reparar e os nossos oponentes não se importam nada de nos causar estragos. Cada corrida leva 4 carros e temos mesmo de nos esforçar em chegar pelo menos em terceiro, para garantir que conseguimos ganhar algum dinheiro, embora muitas vezes não seja suficiente para pagar os estragos.

Ecrã de selecção de circuito. Podemos até optar por nem correr se acharmos que as nossas chances não serão as melhores
Ecrã de selecção de circuito. Podemos até optar por nem correr se acharmos que as nossas chances não serão as melhores

Nas corridas vamos vendo também vários power-ups, como munições para a nossa metralhadora, dinheiro, ferramentas que nos reparam um pouco os estragos sofridos, itens que nos carregam o turbo ou cogumelos alucinogénicos que nos deturpam a visão, dificultando-nos bastante a vida para ter uma condução coerente. Depois o jogo está também repleto de pequenos detalhes como missões que vamos recebendo como destruir o carro do piloto X ou Y em corrida, evitar que certo piloto não chegue em primeiro lugar, entre outros. Se tivermos com dificuldades financeiras podemos sempre recorrer a um loan shark que nos empresta dinheiro, mas espera um retorno bem maior em breve, pelo que é sempre uma jogada arriscada.

Correr em Death Rally é uma tarefa cheia de adrenalina!
Correr em Death Rally é uma tarefa cheia de adrenalina!

De resto, só me resta explicar também alguns dos conceitos principais do jogo. Existe um ranking de cada piloto e 3 classes de circuitos, os fáceis, médios e avançados, cada qual com diferentes níveis de dificuldade, mas também recompensas monetárias muito diferentes se chegarmos nos lugares cimeiros, assim como a pontuação que nos é atribuida no final de cada corrida. Nessa selecção de circuito vamos vendo os oponentes (e o seu ranking) que se vão registando nas 3 diferentes categorias, pelo que um circuito de dificuldade média pode-se tornar bem mais complucado se um oponente avançado (com carros topo-de-gama) decidir competir aí, ou vice-versa. O nosso objectivo a longo prazo é subir no ranking até ao primeiro lugar, amealhando todo o dinheiro que conseguirmos para comprar o carro topo de gama e respectivos upgrades até termos uma máquina bastante robusta. Quando chegarmos a primeiro no ranking (de onde Duke Nukem também costuma ser uma presença constante) somos então levados para um circuito especial, onde defrontamos apenas o “The Adversary”, o último desafio do jogo. Quando o conseguirmos finalmente derrotar, chegamos ao fim do jogo.

Death Rally possui uma jogabilidade excelente, com circuitos cheios de curvas e contracurvas, e oponentes ferozes que nos vão obrigar a jogar sempre de uma forma agressiva ou mais calculista. Aproveitar as curvas para os fazer despistar e perder segundos preciosos, é uma boa estratégia que a inteligência artificial também nos faz muitas vezes. Evitar sofrer muitos danos é também algo a ter muito em conta, especialmente quando precisamos de poupar dinheiro. De resto, para além do modo “campanha”, Death Rally possuia uma vertente multiplayer online que não foi trazida nesta versão Windows, visto o lançamento original usar arquitecturas e redes IPX, agora obsoletas.

Para além dos upgrades normais, podemos sempre recorrer ao mercado negro e jogar sujo. Afinal toda a gente o faz neste jogo.
Para além dos upgrades normais, podemos sempre recorrer ao mercado negro e jogar sujo. Afinal toda a gente o faz neste jogo.

As músicas são algo variadas, com temas mais rock ou electrónicos que sinceramente até achei bastante agradáveis. Nada a reclamar dos efeitos sonoros e os gráficos são também bastante interessantes tendo em conta que o jogo saiu originalmente em 1996. Apesar de ter uma perspectiva semelhante aos Micromachines clássicos para a Mega Drive, os circuitos são representados com cenários que se assemelham a 3D poligonal, mas que me parecem ser na realidade gráficos digitalizados, um truque usado por jogos como Donkey Kong Country na SNES mas que aqui resulta muito bem. E a variedade de circuitos até que nem é má de todo. A maioria é centrada em cenários urbanos futuristas e nocturnos,  mas existem também outros circuitos em zonas mais florestais ou desertas. A violência é também uma constante com o pobres espectadores das corridas a poderem servir também de pinos de bowling, se bem que nos custam segundos preciosos sempre que atropelemos um.

Death Rally é um jogo clássico que foi bastante viciante na altura em que saiu. A conversão para Windows e freeware ao fim de muitos anos foi algo muito benvindo por parte da Remedy e rejogar este jogo ao fim de muitos anos deixou-me bastante satisfeito e curioso por experimentar o remake que foi lançado há poucos anos atrás.

Max Payne 2: The Fall of Max Payne (PC)

Max Payne 2De volta para mais uma rapidinha, pois como tem sido habitual e com muita pena minha, o tempo não dá para mais. Mas também sejamos sinceros, o Max Payne foi um jogo bastante original e na minha opinião excelente, e esta sequela não muda muita coisa na fórmula, pelo que também não haverá muita coisa a acrescentar. Esta sequela já foi desenvolvida sem a supervisão da 3D Realms, mas com a Rockstar por detrás e com um budget maior, a Remedy também conseguiu esmerar-se mais na apresentação do jogo. O meu exemplar foi também comprado na feira da Ladra em Lisboa, por 3€, estando completo e em bom estado.

Max Payne 2 - PC
Jogo completo com caixa, manual e discos

O jogo decorre 2 anos após os acontecimentos de Max Payne. Aqui o ex-detective acabou por ter toda a sua killing spree de gangsters perdoada e foi readmitido no corpo policial de Nova Iorque. Eventualmente quando damos por isso já estamos uma vez mais envolvidos num mistério envolvendo gangues, com conspirações políticas por detrás, e com Mona Sax a ter um papel predominante em todo o jogo, quanto mais não seja pelo romance que se vai desenvolvendo. Essa história tanto é contada através de cutscenes utilizando o próprio motor gráfico do jogo, ou outras no estilo de comic book tal como no primeiro jogo, mas também através dos monólogos de Max Payne, que para além de nos guiarem ao longo do jogo, Max também nos dá a conhecer o que vai na sua cabeça.

screenshot
Yup, continuamos a poder fazer estas coisas em câmara lenta

A jogabilidade continua excelente. Este é um jogo de acção non-stop, onde as mecânicas do bullet time continuam a ser o centro das atenções. Aqui essas mecânicas de jogo foram um pouco mais refinadas, com o ecrã a mudar para a cor sépia quando activamos essa habilidade, e com o jogo a recompensar-nos as “combo kills”, ao abrandar ainda mais a acção. O uso do bullet time é limitado, mas matar inimigos acelera o processo de regeneração da barrinha de “tempo disponível”. De resto é só tiroteios, com o jogo a apresentar-nos um bom arsenal de armas e granadas e dar aqueles saltos artísticos enquanto limpamos o sebo a meia sala de inimigos com a nossa AK-47 nunca se torna cansativo. Em certos pontos do jogo podemos jogar também com a Mona, embora a jogabilidade se mantenha. Existem também outros 2 modos de jogo distintos desbloqueáveis, o New York Minute que é essencialmente um Time Attack para cada nível, bem como o Dead Man Walking que é uma espécie de Survival, colocando-nos a combater contra várias waves de bandidos.

screenshot
O aspecto de Max e Mona é agora muito mais maduro, o que se adequa melhor às personagens

No que diz respeito aos audiovisuais, este Max Payne 2 é um jogo excelente. Para além de apresentar óptimos gráficos para a época e com um excelente trabalho de texturas, o jogo mantém uma Nova Iorque fria e escura, mesmo não abordando com tanta frequência as zonas mais decadentes da cidade. Os próprios visuais de Max, Mona e outras personagens acabam por ser bem mais convincentes e adequados ao carácter e personalidade de cada um. Max Payne já não tem a cara de alguém que acabou de sair da Faculdade. As cutscenes em forma de comic book também regressam e essas mesmas também têm uma melhor qualidade. As músicas continuam a ser bastante minimalistas, entrando apenas quando necessário. Ao longo da acção, apenas os são os monólogos de Max e o som das balas a serem disparadas é que nos acompanham. Ainda na parte do som, o voice acting continua excelente, e a contrastar com a história principal bem séria e austera, podemos ver também alguns pequenos escapes humorísticos, como os programas que vão dando na TV, muitas vezes parodiando outros filmes, novelas e séries de policiais. Para além disso, devo também deixar a nota técnica que este foi um jogo que usou o motor de física da Havok e para a altura em que o jogo foi lançado, os resultados eram impressionantes, com objectos a cairem naturalmente, ou a maneira bem fluída e graciosa como podemos ver os corpos a voar após levarem com um balázio (este é o momento em que alguém fica a pensar que eu sou um psycho).

screenshot
Há uma opção escondida no jogo que nos permite tirar screenshots todos fancies

Max Payne 2 não muda muito (ou quase nada mesmo) da fórmula do original. Mas também se diz, e bem, que em equipa vencedora não se mexe, e quando o primeiro jogo tem uma óptima qualidade, geralmente o que se pede da sequela é que tenha mais e melhor. Infelizmente este Max Payne 2 pareceu-me mais curto, mas tudo o resto continuou com muita qualidade. O terceiro jogo, que ainda não joguei, apesar de aparentemente manter as mesmas mecânicas básicas pelo que já vi, acabou por mudar drasticamente de atmosfera. Mas a curiosidade em o jogar não diminuiu nada!

Max Payne (PC)

Max PayneVoltando aos grandes clássicos do PC, o Max Payne foi um dos jogos mais esperados por mim na década passada. A primeira vez em que vi um trailer do jogo no saudoso programa Templo dos Jogos, e todos aqueles tiroteios em câmara lenta tal como no filme The Matrix, deixaram-me de tal forma com água na boca que passei a acompanhar o desenvolvimento desse jogo nos fóruns da antiga 3D Realms, produtora do Max Payne e também do Duke Nukem Forever que demorou muito mais até que visse a luz do dia. Mas antes que venham os paladinos da justiça corrigir-me, o papel da 3D Realms neste primeiro Max Payne foi de produtora, todos os créditos devem ir para a Remedy Entertainment, claro. Mas deixemo-nos de devaneios. Este meu exemplar foi comprado na Feira da Ladra em Lisboa, algures durante o mês passado, por 2€, estando completo e em óptimo estado.

Max Payne - PC
Jogo completo com caixa, manual e papelada

E de que se trata este Max Payne? Para mim, é simplesmente um dos melhores jogos de acção em 3D da última década (onde é que já disse isto?), onde jogamos no papel de Max Payne, um ex-detective que perdeu tudo o que tinha de valor na vida, após ver a sua esposa e bébé a serem brutalmente assassinados por um bando de drogados. Decide então tornar-se num agente infiltrado numa das mais perigosas organizações mafiosas de Nova Iorque para tentar conter o tráfico da nova droga da moda, o Valkyr. Mas como em todas as boas histórias de detectives, alguém dá com a língua nos dentes e Max é descoberto, sendo envolvido num massacre no metro de NY, que também deixa a polícia, sem saber que é um agente à paisana, no seu encalço. Sem nada a perder e com a angústia de Max a acompanhar-nos ao longo de todo o jogo, somos levados pelos seus monólogos a uma série de locais manhosos nos meandros do crime organizado de Nova Iorque, com muitos tiroteios à mistura e uma conspiração crescente.

screenshot
O bullet time foi um dos maiores selling points deste jogo e eu não me cansei nada dele

Mas claro, não poderíamos deixar de falar do Max Payne sem referir a sua óptima jogabilidade, sendo um shooter 3D na terceira pessoa, mas com os óptimos controlos que estamos habituados nos FPS modernos com teclado e rato. E para apimentar ainda as coisas, podemos usar e abusar do chamado bullet-time, que abranda a toda a acção (excepto o nosso movimento com o rato), permitindo-nos assim disparar em grande estilo em pleno voo num salto prolongado, e limpar o sebo a um conjunto de bandidos de uma só vez. Para isso, ao lado do nosso indicador de saúde (cuja pode ser restabelecida tomando os painkillers que encontramos ao longo da aventura) temos uma ampulheta que vai descrescendo à medida em que vamos utilizando esta habilidade do bullet time. Por outro lado, ao não a usar, essa mesma ampulheta vai-se regenerando, obrigando-nos assim a usar este sistema com algum cuidado para não tornar a acção demasiado fácil. Ainda dentro do bullet-time, também podemos ver o rasto das balas certeiras disparadas de uma sniper rifle, algo também utilizado depois em jogos como Sniper Elite.

screenshot
A maior parte das cutscenes são mostradas desta forma, como se uma BD se tratasse, mas com a narração da personagem.

 

Para quem gosta daquele estilo “noir“, este é um dos melhores videojogos que o utilizam, tanto nos cenários, pois jogamos uma Nova Iorque decrépita, gélida e austera, como na personagem Max Payne e sua situação desesperante que se vê envolvido. As cutscenes entre cada nível são apresentadas num estilo também noir de banda desenhada, dignas de obras de um Frank Miller, mas narradas pela voz deprimida de Max. Aliás, os monólogos de Max são algo que vamos ouvindo ao longo de todo o jogo, mesmo nos seus pesadelos, os quais também visitamos e sinceramente foram das partes do jogo que mais gostei. O que já não gostei tanto foi de um pequeno aspecto que já refiro em seguida.

screenshot
Eventualmente também jogamos nos pesadelos de Max.

Graficamente sempre achei este Max Payne um óptimo jogo. Os cenários sempre foram bem detalhados e transmitiam brilhantemente a atmosfera algo sombria e austera que o jogo sempre tentou transparecer. Tudo excepto numa coisa, na cara do próprio Max Payne. Pode ser picuinhice minha, mas nunca gostei muito dele neste jogo, sempre me pareceu uma cara bastante jovem e “limpinha” e que se desenquadrava um pouco do resto. Mas sim, sei perfeitamente que a Remedy tinha um budget apertado e os seus funcionários, amigos e familiares deram as caras para todas as personagens no jogo, com Max Payne a ser encarnado no seu próprio criador, Sam Lake. Mas acho que no segundo jogo acertaram definitivamente no look da personagem, embora sinceramente quando era mais novo e joguei ambos os jogos na sua altura, pensei precisamente o contrário. A música apenas toca quando estritamente necessário e bem, já o voice acting sinceramente achei muito bem conseguido, mediante todas as outras limitações.

screenshot
A atmosfera deste jogo e da sua sequela são excelentes, pena que no terceiro tenham mudado por completo o ambiente.

Tenho alguma pena que a Remedy tenha vendido os direitos de propriedade intelectual de Max Payne à Take-Two e seja agora a Rockstar a tomar conta da série. Por um lado a Rockstar não faz propriamente maus jogos e por tudo o que vi do Max Payne até agora, parece-me ser um shooter muito sólido. Mas, a mudança de uma Nova Iorque fria para as favelas solarengas do Brasil parece-me muito grande e retira-lhe alguma da sua “magia”. Mas espero sinceramente estar enganado!