Streets of Rage 4 (Sony Playstation 4)

Produzido pela dotEmu, Lizardcube (as mesmas mentes responsáveis pelo óptimo remake Wonder Boy The Dragon’s Trap) e Guard Crush Games, este projecto começou por ser uma ideia de ser um remake do primeiríssimo Streets of Rage. No entanto, a ideia evoluiu para uma sequela e quando a apresentaram à Sega, a empresa nipónica, reconhecendo o talento dos estúdios envolvidos, deu luz verde ao projecto. E assim tivemos uma sequela desta série que já estava adormecida há mais de 25 anos! O meu exemplar foi comprado numa Worten, algures por alturas da Black Friday de 2021, tendo-me custado 30€ se bem me recordo.

Jogo com caixa, na sua edição Anniversary que inclui o DLC Mr. X Nightmare em disco.

A história decorre 10 anos após os acontecimentos de Streets of Rage 3, onde das cinzas do império do crime deixado pelo antagonista Mr. X, surge um novo grupo de crime organizado que aterroriza a cidade, aparentemente liderado pelos seus filhos, os gémeos Y. Os detectives Axel Stone e Blaze Fielding, juntando-se a Cherry Hunter (filha de Adam Hunter) e Floyd Iraia (discípulo de Dr. Zan, e igualmente um cyborg) decidem investigar o gangue e o resto é o que se sabe, pancadaria a torto e a direito!

O primeiro nível começa como é habitual: de noite e nas ruas sujas da cidade!

A jogabilidade é então e de um beat ‘em up urbano à antiga, mas também modernizando-o, ao introduzir um novo sistema de combos que nos irá aumentar a pontuação quanto mais dano for infligido aos inimigos, sem sofrer dano pelo meio. As mecânicas de jogo são algo similares às do Streets of Rage II, embora com algumas mudanças. Temos um botão de ataque básico, cujos ataques podem ser encadeados para desencadear alguns combos básicos, outro botão para salto. O círculo é usado para apanhar itens ou armas do chão, bem como atirá-las aos inimigos (se pressionado em conjunto com uma esquerda ou direita), ou simplesmente pode também ser usado para agarrar algum inimigo que nos esteja próximo. Mas temos também uma série de golpes especiais que podem ser usados. Todas as personagens (iniciais) possuem ataques blitz, special e stars. Os primeiros são golpes especiais que podem ser despoletados ao seguir uma certa combinação de botões e sem qualquer penalização. Os specials, que por sua vez podem ser defensivos, ofensivos ou aéreos, são despoletados com o triângulo e fazem-nos perder alguma vida, que pode agora ser recuperada se conseguirmos desferir alguns golpes bem sucedidos em seguida e sem sofrer dano. Os stars são desencadeados ao pressionar os botões círculo e triângulo em simultâneo e podem apenas ser usados se tivermos coleccionado alguma estrela.

O segundo nível desde cedo se torna numa rebaldaria. A polícia não está do nosso lado, desta vez

É portanto um beat ‘em up muito bem feito e também desafiante, com várias secções onde teremos de enfrentar grupos de inimigos numerosos e teremos muitas vezes de jogar um misto entre agressividade e estratégia, ao estudar as habilidades de cada inimigo, as suas animações e atacá-los no melhor momento possível. Aquele último nível então, teve momentos de bradar aos céus! Dependendo da dificuldade escolhida, teremos um certo número de vidas disponíveis para tentar passar cada nível, cujo progresso é posteriormente gravado ao terminá-los. Morrendo resta-nos recomeçar o nível em questão, no entanto o jogo permite-nos alterar a personagem seleccionada se assim o desejarmos, ou activar algumas ajudas, como vidas e/ou estrelas extra, que por sua vez nos penalizarão na pontuação alcançada no final do nível. Pontuação essa que é usada para desbloquear uma série de novos lutadores! O primeiro, Adam Hunter (finalmente de volta à acção!) é desbloqueado automaticamente com o decorrer da história. Os restantes são, nada mais nada menos, que todas as personagens do Streets of Rage 1, 2 e 3 (excepto o Roo, na versão vanilla). Para além de todo esse fan service, essas personagens possuem os golpes das suas versões originais, ou seja, no caso das personagens do SoR1, por exemplo, apenas possuem os especiais star, que por sua vez consistem em chamar um carro da polícia que lança um rocket, causando dano em todos os inimigos à nossa volta. Foi de facto um detalhe delicioso!

O facto de podermos desbloquear as personagens antigas, com o aspecto e jogabilidade original, é um detalhe delicioso

Para além do modo história dispomos de outros modos de jogo adicionais como um modo arcade, onde somos obrigados a terminar o jogo todo de uma só assentada ou um boss rush, que nos leva a enfrentar todos os bosses de forma consecutiva. O battle mode é um modo de jogo multiplayer competitivo, onde podemos andar à batatada uns com os outros. Eventualmente sai também um DLC chamado Mr X. Nightmare, que traz uma série de coisas novas, a começar por um novo modo de jogo, o survival, que nos leva a tentar ultrapassar uma série de desafios específicos, sobrevivendo ao máximo de inimigos possível. Sinceramente não cheguei a perder muito tempo com este modo de jogo, mas sempre que derrotamos uma onda de inimigos, somos levados a escolher um entre dois power ups, que nos darão buffs aleatórios, como causar dano elemental, melhorar a nossa defesa, recuperar vida automaticamente, etc. Ao progredir e passar certos níveis, iremos também desbloquear novos golpes, que por sua vez poderão ser seleccionados no modo história, ao customizar a personagem escolhida. As outras grandes novidades deste DLC, para além de um modo treino com tutoriais, estão mesmo nas novas personagens jogáveis, outrora bosses do modo história, como é o caso da polícia Esteel, ou as caras conhecidas do Max ou Shiva. A personagem Roo do Streets of Rage 3 foi também introduzida neste DLC como personagem jogável, mas terá de ser desbloqueada com recurso a um código, mesmo à antiga!

Entre cada nível vamos tendo cutscenes que avançam na história, mas estas poderiam ser melhores. São practicamente imagens estáticas com texto, sem qualquer voice acting também.

Graficamente é um jogo soberbo. Todas as personagens foram desenhadas e animadas à mão, o que lhe dá um aspecto fantástico e o mesmo pode ser dito dos níveis, que são bem variados e bem detalhados. O primeiro nível começa como habitual à noite e nas ruas sujas O segundo nível passa-se numa esquadra da polícia, onde temos de fugir da prisão e a certa altura a só vemos mesmo a polícia e bandidos à pancada uns com os outros e nós podemos optar por nos manter longe do conflito e esperar que eles se matem uns aos outros, ou podemos dar porrada em todos. Ou o nível do esgoto que culmina na entrada da casa de banho de um bar, onde começa a haver uma rixa entre bandidos e motoqueiras e uma vez mais nós lá no meio. E claro, o Roo a servir de barman! Obviamente que também teremos segmentos com elevadores! As referências aos clássicos são inúmeras, logo no primeiro nível que tem um look muito similar ao primeiro nível do primeiro SoR, até com alguns dos neons das lojas semelhantes, como o Pine Pot. No nível do esgoto temos um graffiti do Joe Musashi (Shinobi) e o barman é nada mais nada menos que o Roo, por exemplo! As personagens extra que desbloqueamos dos jogos antigos possuem as mesmas sprites dos clássicos e poderemos até desbloquear alguns mini-níveis escondidos, onde teremos de defrontar alguns bosses dos clássicos da Mega Drive.

Estes tipos são chatos! Especialmente quando acompanhados daquelas meninas que atiram cocktails molotov que nos paralisam temporariamente.

Já a nível de som este é também um excelente trabalho. A banda sonora é super ecléctica, oscilando entre a música electrónica, o rock, jazz ou até outros tipos de sonoridades mais folclóricas. Apesar da maioria das músicas serem da autoria do compositor francês Olivier Deriviere, o jogo conta com várias faixas de Yuzo Koshiro, Motohiro Kawashima (que colaborou com Koshiro nos Streets of Rage e em muitos títulos), mas também foram buscar compositores que trabalharam em clássicos da Capcom, Tecmo e outros. Ficou um trabalho fantástico. De salientar também a excelente banda sonora do DLC Mr. X’s Nightmare, que foi toda composta pelo “nosso” Tee Lopes e é mais uma vez uma óptima mistura entre o rock, electrónica e outros géneros musicais. De resto convém também referir que, algures nas opções, poderemos activar a banda sonora retro. E esta leva-nos não só a ouvir algumas melodias clássicas dos jogos da Mega Drive, mas também das versões Master System / Game Gear dos Streets of Rage, o que foi uma surpresa que não estava nada à espera!

Portanto eu devo dizer que fiquei muito agradavelmente surpreendido por este Streets of Rage 4. É um beat ‘em up desafiante, moderno, mas ainda assim contém toda a essência da série original. Jogabilidade excelente, um grande número de personagens jogáveis, todas com mecânicas distintas entre si, muitas personagens desbloqueáveis e muitos modos de jogo capazes de nos entreter por largas horas. A nível audiovisual está também um jogo muito apelativo e lá está, mantém todas as raízes dos trabalhos originais. A dotEmu continua de parabéns em continuar a querer publicar jogos deste calibre e as expectativas para o Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge são elevadíssimas!

Wonder Boy: The Dragon’s Trap (Sony Playstation 4 / PC)

O Wonder Boy III: The Dragon’s Trap é, para mim, um dos melhores jogos de plataforma da era 8bit. É também um metroidvania, embora seja ainda algo primitivo. E quando soube há alguns anos atrás que estava a ser preparado um remake, fiquei bastante interessado. É que a liderar o projecto estava nada mais nada menos que Omar Cornut, não só um grande entusiasta da série Wonder Boy, mas também da própria consola Master System e restante hardware Sega 8bit. Omar Cornut é o autor do emulador Meka, que usei bastante há anos atrás, bem como um dos fundadores da comunidade SMSPower, que costumo também seguir. Mas adiante! Apesar de ter o jogo no steam há algum tempo, e sinceramente não me recordo como veio cá parar, quis mesmo optar por ter antes um lançamento físico, algo que aconteceu há uns meses atrás, após ter comprado este exemplar da PS4 através de um vendedor no ebay por cerca de 25€. É bom ver um jogo de PS4 “normal” com tantos extras, a começar por um manual!

Jogo com capa reversível, manual, banda sonora, porta chaves e papelada

E escrever sobre a série Wonder Boy é sempre uma dor de cabeça, não só pelas diferenças de nome entre regiões e entre consolas, a começar pelo facto do Adventure Island ser um reskin do primeiro Wonder Boy e que deu origem à sua própria série. O Wonder Boy III da Master System (não confundir com o Wonder Boy III da Mega Drive que não tem nada a ver) é na verdade o segundo jogo da subsérie Monster World, que primam por serem jogos de plataforma não lineares (os tais metroidvania) e com alguns elementos ligeiros de RPG. O twist deste Dragon’s Trap está mesmo na forma como o jogo começa. Há um recontar da última batalha contra o Dragão (a mesma que finaliza o Wonder Boy in Monster Land), mas desta vez, o dragão ao ser derrotado lança uma maldição ao jovem herói, transformando-o num dragão! Então lá teremos uma vez mais de vaguear pela Monster Land em busca da nossa humanidade! No entanto, à medida que vamos defrontando outros bosses, vamo-nos transformando noutras criaturas, que nos darão diferentes habilidades também. E o mundo está construído de forma a que certos locais apenas sejam acessíveis a certas criaturas, bem como teremos muitas salas secretas para descobrir, com equipamento mágico ou corações que nos extendam a barra de vida.

É impossível ficar indiferente a estes gráficos lindíssimos, pintados à mão

Não é um jogo muito grande, mas gostei bastante do conceito das diferentes transformações. O dragão cospe fogo, podendo atacar à distância e é invulnerável a lava, mas não tem qualquer escudo que o defenda. A segunda transformação é um homem-rato, minúsculo, mas que lhe permite não só esgueirar-se por passagens estreitas mas também agarrar-se a superfícies com uma textura quadriculada, podendo assim subir paredes ou mesmo andar pelos tectos. Outra é um homem-piranha, capaz de nadar à vontade na água, já o lion-man é uma transformação poderosa e com uma óptima área útil de defesa e ataque. A última transformação é um homem-pássaro, que apesar de ser mais frágil, permite-nos voar livremente e explorar os cenários à vontade. É contudo, a única forma que é vulnerável à água, pelo que temos também de ter isso em atenção. É portanto um jogo onde há um grande foco na exploração, mas também teremos de fazer algum grinding, pois os melhores equipamentos também custam uma pipa de massa.

Ocasionalmente encontramos lojas onde poderemos comprar melhor equipamento, outros itens, ou mesmo hospitais onde nos regeneram a barra de vida

Mas o que traz este remake de novo? Bom, para além dos gráficos e som refeitos e que descreverei mais à frente, temos também alguns locais secretos (e novos) para explorar, bem como alguns melhorias de quality of life. Apesar de não haver nenhum sistema de fast travel, sempre que quisermos voltar à aldeia central, que serve de hub para aceder a todas as outras áreas, basta pausar e escolher a opção para voltar ao ecrã título. Quando recomeçarmos o jogo, estamos novamente na aldeia central, mas retendo toda a barra de vida, dinheiro, equipamento e magias que tenhamos amealhado. É também uma excelente maneira de evitar morrer, pois apesar do jogo ter vidas infinitas, sempre que morremos voltamos à tal aldeia central, mas perdemos todos os itens que tenhamos amealhado (no entanto o equipamento, tamanho da barra de vida e dinheiro mantêm-se).

Diferentes formas do Wonder Boy possuem também diferentes habilidades

Já a nível audiovisual, fizeram aqui um trabalho excelente. Os gráficos foram todos redesenhados com figuras e cenários desenhados à mão, mas com excelentes animações. A banda sonora foi toda regravada usando instrumentos reais, e algumas músicas ficaram mesmo muito boas na minha opinião, dando-lhe até outra vida, como o tema do deserto que agora é bem mais jazzy. Gostava de um dia ver um documentário de making of deste jogo, pois o Omar e sua equipa fizeram todo este jogo com base em engenharia reversa do lançamento original para a Master System. Para além disso, a qualquer momento podemos alternar, em tempo real, entre os gráficos originais e do remake, mas também ambas as bandas sonoras, e aí dá mesmo para sentir as diferenças!

Outra das novidades aqui introduzidas é a possibilidade de jogarmos com uma rapariga

Portanto este lançamento acaba por me agradar bastante, pois não só é um remake de um jogo clássico da Master System, como também é um remake de muita qualidade e, espero eu, que tenha de certa forma cativado a audiência para eventualmente vermos mais lançamentos deste género, o que de certa forma já aconteceu. Em 2018 tivemos o lançamento de Monster Boy and the Cursed Kingdom, um sucessor espiritual de Wonder Boy, e este ano um novo remake, o do Monster World IV, agora sob o nome de Wonder Boy: Asha in Monster World. Planeio comprar e jogar ambos em breve!