O jogo de Wii que decidi jogar em Maio foi o Cursed Mountain. Publicado pela Deep Silver em 2009, este é um survival horror com uma interessante premissa que irei detalhar mais à frente. Começou também por ser um exclusivo da Nintendo Wii, algo que seguramente terá chamado à atenção visto este ser um survival horror, enquanto o foco da consola sempre foram os jogos para um público mais casual. Este Cursed Mountain era também mais um título que tinha em backlog há imenso tempo, seguramente há mais de 10 anos. Lembro-me perfeitamente de o ter comprado numa loja de videojogos de Santo Tirso (actualmente já extinta) por 5€.
A narrativa parte de uma interessante premissa. Nós encarnamos no alpinista Eric Simmons que parte para o Tibete, mais precisamente para as imediações da montanha de Chomolonzo em pleno Himalaias, em busca do seu irmão que havia desaparecido após o tentar escalar. O wikipedia diz-me que já várias pessoas conseguiram escalar essa montanha até ao seu topo, mas na história que o jogo nos apresenta isso nunca tinha acontecido, até porque a montanha é sagrada para as povoações locais e escalar ao topo da montanha é um tabu. Mal chegamos à cidade de Lhando, nas imediações da montanha, encontramos a cidade deserta e assombrada com fantasmas hostis. Ao longo da aventura iremos invariavelmente desvendar o mistério por detrás de tais acontecimentos e procurar Frank a caminho do topo da montanha.

Pensem neste jogo como um survival horror da geração da PS2, mas infelizmente este é um dos jogos da Wii que requer wiimote e nunchuck para ser jogado, pelo que teremos também de utilizar forçosamente os seus sensores de movimento. Os controlos levam-nos a utilizar o analógico do nunchuck para mover Eric pelos cenários, com o botão A a ser o principal botão para interagir com os cenários e o B para atacar com um machado de alpinismo. O direccional para baixo serve para activar uma câmara quase de primeira pessoa, que por sua vez poderá ser controlada também com o analógico. Voltando ao nunchuck, o botão Z é utilizado para andar mais rápido, enquanto o C é utilizado para activar a visão do “terceiro olho”. Esta é parte integrante tanto nos combates como em eventuais puzzles que teremos de resolver. Basicamente é uma perspectiva diferente da realidade à nossa volta, onde tudo parece um mundo de sombras. É com essa perspectiva que melhor visualizamos os fantasmas que nos perseguem, assim como alguns símbolos importantes para resolver certos puzzles.

Mas então como funciona o sistema de combate mesmo? Como referi acima, o botão B do wiimote é utilizado para atacar com um machado, mas tal deve ser apenas utilizado em último recurso, para afastar algum fantasma que se aproxime demasiado de nós. Ainda consideravelmente no início do jogo, quando aprendemos a utilizar o terceiro olho, iremos também começar a desbloquear certas armas “místicas” que são bem mais eficazes para combater os fantasmas. Considerem-nas como armas que disparam projécteis de energia, mas que devem ser utilizadas em conjunto com a tal visão do terceiro olho. Apontamos para os alvos com o wiimote e utilizamos na mesma o botão B para disparar. Temos é de ter em atenção que estamos estáticos enquanto o fazemos, visto que o analógico apenas controla a câmara nessa perspectiva. Ao fim dos fantasmas sofrerem dano suficiente, surge um símbolo sobre o seu corpo etéreo e aqui temos uma escolha: ou continuamos a atacar normalmente e o fantasma eventualmente desaparece, ou podemos fazer um certo ritual para exorcizar o espírito, recompensando-nos ao recuperar alguma da barra de vida se bem sucedidos.

E é aqui que os problemas começam, pois esse ritual são na verdade quick time events que nos obrigam a utilizar os sensores de movimento tanto do wiimote, como do nunchuck. Inicialmente as coisas não são más de todo, pois os movimentos que temos de fazer são diagonais (embora mesmo assim às vezes falham), mas quando são introduzidos similares a espetar uma faca, estes falham muitas vezes, particularmente quando requerem o nunchuck. À medida que avançamos no jogo, esses movimentos em particular vão sendo cada vez mais frequentes, o que aumenta bastante a frustração. Outro factor agravante para isso é a maneira como recuperamos vida. Ao contrário de outros videojogos dentro do mesmo género que nos dão itens regenerativos que podemos utilizar sempre que assim entendermos, aqui esse papel é atribuído a velas de incenso, que apenas poderemos queimar em locais próprios. Ora sempre que entramos em combate ficamos confinados numa arena fechada, a maior parte das vezes fora do alcance de algum local onde o incenso possa ser queimado, pelo que exorcizar os espíritos é fundamental para recuperar vida em confrontos mais exigentes. Os maus controlos de movimento são de longe o maior problema do jogo! Outro exemplo notável são os segmentos onde precisamos de atravessar passagens estreitas, com o wiimote a ser utilizado para balancear a personagem enquanto as atravessa. Tirando isso, os controlos de movimento podem também ser utilizados noutras situações e aí até nem funcionam mal de todo, como acelerar a escalada de paredes, ou escapar dos encontros próximos com espíritos quando estes nos agarram.

A nível audiovisual não esperem por uma obra prima. Por um lado fiquei agradavelmente surpreendido quando me apercebi que o jogo se passava no Tibete e muito da história circula à volta do misticismo e da religião budista local, o que não é uma premissa de todo habitual. Explorar aquelas aldeias inóspitas e abandonadas, assim como imponentes mosteiros budistas foi uma experiência algo refrestante. Mas tecnicamente não esperem por um jogo brilhante, os gráficos são adequados ao sistema, mas não o melhor que a Wii é capaz de fazer. Ao longo da aventura teremos também umas quantas cenas que irão avançar a narrativa, mas a maioria dessas cenas são apenas uma sequência de algumas imagens estáticas, o que é pena, pois gostaria de algo mais trabalhado. Já no que diz respeito ao som, o voice acting é competente e a banda sonora é composta principalmente por temas mais ambientais e ocasionalmente com um toque algo folclórico também, o que é perfeitamente adequado ao que o jogo nos propõe.

Portanto este Cursed Mountain é um survival horror decente, mas que perde muitos pontos pela sua implementação dos controlos de movimento em quick time events, particularmente durante o combate onde estamos sempre mais pressionados. É mais um daqueles exemplos que ilustra bem a resistência que muitas vezes sinto em pegar jogos da Wii: acho que a Nintendo teve de facto uma óptima ideia que serviu para trazer um público mais casual ao mundo dos videojogos e não tenho nada contra controlos com sensores de movimento, logo que sejam adequados. Mas não se perderia nada se os criadores suportassem também um esquema de controlo mais tradicional, para além dos sensores de movimento. Existe também uma versão deste jogo para o PC, cujos QTEs mantêm-se, obrigando-nos agora a desenhar alguns símbolos no ecrã com o rato. Em teoria é uma alternativa melhor, mas não coloco as minhas mãos no fogo por isso.


















