O Max Payne original é, possivelmente, um dos meus videojogos preferidos e um daqueles a que associo um carinho especial, por toda a nostalgia que me traz. Lembro-me perfeitamente de, algures em 1999, ter visto pela primeira vez um trailer do jogo no saudoso programa Templo dos Jogos, com todos aqueles tiroteios em câmara lenta a deixarem-me deliciado! Desde essa altura que acompanhei de perto o seu desenvolvimento nos fóruns da 3D Realms, já que foi a editora norte-americana que o publicou. O que me havia passado completamente despercebido foi que, mais tarde, a 3D Realms vendeu os direitos da propriedade intelectual de Max Payne, o que levou a que a sua sequela, apesar de ainda ter sido desenvolvida pela Remedy, já tivesse sido publicada pela Rockstar. No caso deste Max Payne 3, quando o mesmo foi anunciado algures em 2011, tratava-se já de um jogo inteiramente desenvolvido pela Rockstar, o que me apanhou de surpresa, embora a Remedy tenha mantido um papel consultivo no processo. A impressão que o jogo me deixou inicialmente, com base nos trailers que vi, foi a de ser tão diferente do clima noir dos seus antecessores que isso acabou por diminuir a minha vontade de o jogar. Tinha já um exemplar na minha colecção para a PlayStation 3 há alguns anos, mas, tratando-se de um shooter exigente, a vantagem de se jogar com rato e teclado falou mais alto. Assim, algures em 2023, surgiu a oportunidade de adquirir a versão física para PC a um preço acessível, pelo que acabei por vender a versão PS3 e dedicar-me antes a esta, tendo agora finalmente chegado o momento de a jogar.
Antes de avançar para a minha opinião sobre o jogo em si, deixo uma nota para quem estiver a pensar adquirir a versão física para PC, já que tive alguns problemas durante a instalação. Ao inserir o primeiro DVD na drive, inicia-se o processo de instalação, sendo necessário ir trocando de disco até o mesmo concluir. Até aqui, tudo normal. No entanto, ao lançar o jogo pela primeira vez, este liga-se aos servidores da Rockstar e solicita a instalação de uma série de patches, bem como do serviço Rockstar Games Social Club. Em seguida, somos obrigados a instalar um novo cliente, o Rockstar Games Launcher, que não detectou a instalação do Max Payne 3. Ao tentar resgatar a CD-key nas opções do cliente, a mesma não foi reconhecida, apesar de o meu exemplar ter sido comprado selado e, portanto, com a chave teoricamente válida. Após várias tentativas de troubleshooting, reinstalações do jogo, dos clientes, ou de ambos, sem sucesso, acabei por contactar o suporte da Rockstar. Passados alguns dias, activaram manualmente a chave na minha conta, e o Max Payne 3 passou a figurar na minha biblioteca. Foi necessário reinstalá-lo, desta vez directamente através do cliente e, finalmente, lá consegui pô-lo a correr!!

Voltamos a encarnar o ex-polícia Max Payne, agora mais velho, afectado pelo alcoolismo e preso num poço emocional após os acontecimentos trágicos que vivemos nos títulos anteriores. O jogo começa de forma algo in media res, com Max a exercer a sua nova profissão como guarda-costas privado de um milionário brasileiro, em plena cidade de São Paulo. Durante um evento privado da família do seu patrão, o empresário Rodrigo Branco, a situação descamba quando um grupo de bandidos irrompe pela festa e rapta a esposa do anfitrião, levando-nos a tentar resgatá-la a todo o custo. À medida que avançamos, vamos não só regressando ao passado de Max para compreender como chegou até ali, como também descobrimos uma intrincada teia conspiratória, à medida que os acontecimentos se vão tornando cada vez mais complexos e perigosos.

No que diz respeito às mecânicas de jogo, existem algumas diferenças em relação aos seus antecessores. No entanto, a mecânica mais importante mantém-se: este continua a ser um jogo de acção na terceira pessoa que usa e abusa do bullet time, secções em câmara lenta onde podemos tirar partido da desaceleração para disparar com precisão sobre quem se atravessa no nosso caminho. Continua a ser extremamente satisfatória a sensação de nos atirarmos para um corredor em câmara lenta enquanto abatemos uma série de inimigos apanhados de surpresa. Há, ainda assim, algumas novidades, como um sistema de cobertura (típico dos jogos de acção desta geração) e o facto de só podermos transportar três armas de cada vez: duas ligeiras, para uso individual em cada mão, e uma arma maior, que requer o uso das duas mãos. Se optarmos por empunhar duas armas ligeiras, Max descarta automaticamente a arma pesada, já que não tem espaço para a transportar no coldre. De resto, a saúde continua a recuperar-se com comprimidos analgésicos espalhados pelos cenários, tal como nos jogos anteriores. Uma outra novidade é a mecânica de last stand: quando estamos prestes a morrer, o tempo abranda e temos uma breve oportunidade para eliminar o inimigo que nos derrubou. Se conseguirmos fazê-lo (e se tivermos analgésicos connosco) Max recupera a vida e volta à acção.

Mas é no ambiente do jogo que se notam, de facto, as maiores diferenças. As cores escuras e cinzentas, típicas dos ambientes de filmes noir, foram substituídas pelo clima solarengo da América Latina, seja em cenários urbanos, seja nas favelas, fábricas ou edifícios em ruínas. O contraste é acentuado, sem dúvida, mas Max Payne está mais cínico do que nunca, e os seus monólogos enriquecem, e de que maneira, a narrativa! ‘Tudo está perdoado, Rockstar’, fui pensando eu à medida que jogava e a trama se adensava. Depois, há toda a questão do ambiente brasileiro, e devo dizer que foi uma experiência curiosamente agradável ouvir constantemente insultos em português. Um detalhe interessante é que as legendas seguiam a língua dos diálogos: por norma activo sempre que possível legendas em inglês, e neste caso, quando alguém falava em português, as legendas apareciam também em português. Não reparei se existiria alguma opção para forçar todas as legendas a aparecerem em inglês, mas até preferi assim, visto que compreendo bem ambas as línguas. E já agora, pareceu-me que algumas das falas em PT-BR não foram ditas por nativos, notei aqui e ali um sotaque algo estranho. Os meus leitores e amigos brasileiros que me perdoem, pode ter sido apenas impressão minha, por não conhecer bem todas as nuances da língua nas diferentes regiões do Brasil.
De um ponto de vista técnico, graficamente trata-se de um jogo interessante, levando-nos a atravessar os mais variados cenários, desde favelas brasileiras e florestas tropicais até zonas bem mais urbanas, passando ainda por um ou outro ponto mais surpreendente, que não irei aqui revelar para não estragar a surpresa. Todos estes níveis apresentam um bom nível de detalhe, pelo menos para os padrões de 2012, ano do seu lançamento. Infelizmente, esta versão PC não se encontra bem optimizada: possuo uma máquina mais do que capaz de correr o jogo com tudo no máximo, e mesmo assim sofria quebras de framerate graves e constantes, o que me obrigou a atenuar algumas definições. O suporte para monitores ultra wide também deixa a desejar, embora felizmente existam patches criados por fãs que permitem contornar essa limitação. Um detalhe adicional a destacar é o uso recorrente de efeitos visuais como deturpações da imagem, distorções de cor e pequenos flashes, que surgem com frequência no ecrã como reflexo do estado de intoxicação constante de Max, fruto do álcool e dos comprimidos que consome, um recurso estilístico eficaz que reforça o peso emocional da narrativa. Por fim, passando para o som, o voice acting é excelente, particularmente no que diz respeito à voz do próprio Max Payne, carregada de cinismo, como já mencionei anteriormente. A banda sonora é igualmente interessante e bastante diversificada nos seus estilos musicais, abrangendo desde ritmos latinos a faixas mais tensas, dignas de um bom thriller.

Portanto, este Max Payne 3 revelou-se uma surpresa bastante agradável. O facto de se passar num ambiente tão distante do noir que caracterizou os primeiros jogos da série é algo que se estranha inicialmente, mas acaba por nos prender de forma bastante convincente, fruto não só de uma óptima narrativa, mas também da jogabilidade característica da série, aqui ainda mais aprimorada. Fico muito curioso para ver o que a Rockstar irá fazer com a série no futuro, pois a mesma ficou definitivamente entregue em boas mãos.




























