Vamos voltar a mais uma compilação, desta vez esta Castlevania Anniversary Collection cujo lançamento físico esteve a cargo da Limited Run Games. É uma compilação cuja emulação esteve a cargo da M2, que já está mais que habituada a fazer trabalhos como este (foram eles que trataram da emulação de várias consolas mini como é o caso da PC Engine ou ambas as Mega Drive e muitas outras compilações similares), e o número de jogos aqui incluído até que é algo satisfatório. O meu exemplar veio da Limited Run Games algures em Janeiro do ano passado, tendo custado os habituais 35 dólares mais portes e taxas.
Neste artigo vou focar-me no conteúdo desta compilação, particularmente os seus extras e uma análise um pouco mais detalhada apenas aos jogos que, até ao momento de escrita deste artigo, ainda não possuo na colecção, o que é o caso do Castlevania III e Kid Dracula. Um detalhe interessante a referir é que todos os jogos possuem também as suas versões japonesas disponíveis para serem jogadas, excepto no entanto para o Castlevania II da NES imaginando que seja do nosso progresso depender bastante do texto que vamos lendo aqui e ali.

Indo para os jogos propriamente ditos e começando pela trilogia original da NES, temos aqui portanto o primeiro Castlevania, um jogo icónico e que para sempre mudou o paradigma dos jogos 2D sidescroller, o Castlevania II Simon’s Quest, um jogo um pouco mal amado mas considero-o importantíssimo para influenciar os metroidvanias que viriam a ser lançados no futuro e por fim este Castlevania III: Dracula’s Curse onde me vou focar um pouco mais.

Neste terceiro título controlamos Trevor Belmont onde a sua família, depois de ter sido exilada para uma terra longínqua devido à população temer os seus poderes, acaba por ser chamado novamente, pois Dracula renasceu e voltou a lançar o terror pela Europa fora, algures no século XV. Os controlos são os mesmos de sempre, com um botão para saltar e outro para atacar com o vampire killer, o tal chicote dos Belmont passado de geração em geração. Poderemos também apanhar armas especiais cujas munições vão sendo os corações que podemos apanhar ao destruir candelabros e ocasionalmente poderemos encontrar pedaços de comida em locais escondidos que nos regeneram parcialmente a barra de vida. É um jogo bem mais próximo do original nas suas mecânicas portanto, sendo também mais linear que o seu predecessor.

Existem no entanto algumas novidades que o tornam bastante único. Para além do Trevor Belmont, à medida em que avançamos no jogo poderemos recrutar um de três personagens que nos irão acompanhar ao longo do resto da aventura e das quais poderemos controlar sempre que o desejarmos ao pressionar o botão Select. As personagens são: Grant Danasty, um acrobata bastante ágil (o mais rápido de todas as personagens disponíveis) e o único capaz de mudar a direcção a meio de um salto, para além de poder escalar paredes. Os contras é que os seus ataques e alcance são bastante fracos. A Sypha Belenades é uma feiticeira disfarçada de monge e apesar dos seus ataques básicos serem também bastante fracos, pode ter acesso a poderosos feitiços elementais que nos podem ajudar bastante. Poderemos lançar feitiços de fogo, gelo ou ar, todos com diferentes utilidades. Por fim temos o Alucard, o filho de Drácula que é semi-vampiro e revoltou-se contra o seu pai. Infelizmente o Alucard não é muito ágil e os seus saltos não são grande coisa, mas tem a vantagem de se transformar em morcego e assim atravessarmos os níveis a voar, a custo dos tais corações que poderemos ir coleccionando. Para além disso, o jogo terá alguns caminhos alternativos com níveis distintos entre si e com quatro finais distintos, o que aumenta bastante a sua longevidade.

A nível gráfico este Castlevania III é excelente. Mantém a mesma lógica do primeiro Castlevania a nível de inimigos e bosses, tendo no entanto níveis bem mais variados nos seus cenários. Aliás, cenários esses que estão muito bem detalhados para um jogo de NES e ocasionalmente com bonitos efeitos gráficos como é o caso do efeito de nevoeiro num dos níveis. As músicas são igualmente boas, embora nós ocidentais temos ficado bastante a perder nesse departamento. Tal como no Castlevania II, a Konami lançou este jogo no Japão num cartucho com hardware adicional que expandia as capacidades de som da NES. As músicas nessa versão possuem então alguns canais de som a mais e que fazem bastante a diferença!
Ainda na NES, embora esteja no final da lista dos jogos disponíveis, temos também o Kid Dracula. Lançado originalmente no Japão em 1990, este foi um jogo que se manteve exclusivo naquele território precisamente até ao lançamento desta compilação, onde todo o seu texto foi traduzido para inglês. Aqui controlamos um pequeno Drácula e o jogo possui uma temática bem mais alegre e claro, apesar de ter alguns picos de dificuldade (principalmente nos últimos níveis), é bem mais fácil que os Castlevania normais, até porque temos bem mais controlo nos saltos, embora quando sofremos dano também vamos um pouco para trás, o que pode arruinar algum salto que tenhamos planeado.
A nível de mecânicas, um botão salta e o outro ataca, o que no caso deste Kid Dracula refere-se a lançar projécteis de fogo. Mantendo o botão pressionado durante alguns segundos carregamos um charge attack, lançado assim que largarmos o botão. À medida que vamos avançando no jogo iremos também desbloquear outros ataques como bombas, projécteis teleguiados ou outros poderes especiais como nos transformar temporariamente num morcego ou inverter (também de forma temporária) a gravidade. Todos estes power ups podem ser seleccionados através do botão Select.

A nível audiovisual o jogo é bastante mais infantilizado nos seus cenários, que por sua vez até que são bastante diversificados. Começamos o jogo pelo próprio castelo do Dracula, passando pelos céus, subterrâneos, o Egipto ou até a cidade de Nova Iorque, onde o boss desse nível é nada mais nada menos que a própria estátua da Liberdade e que, em vez de combater, prefere lançar uma espécie de concurso televisivo de perguntas e respostas. As músicas são agradáveis, embora muito abaixo daquilo que a série principal nos trouxe. Este Kid Dracula é portanto um interessante jogo de plataformas e um bonito spinoff da série.

Continuando pela compilação, esta inclui também os Castlevania Adventure e Castlevania II: Belmont’s Revenge da Game Boy clássica que são bastante simples nas suas mecânicas e a nível audiovisual também. Notavelmente a compilação não traz o Castlevania Legend também para o Game Boy, supostamente pelo facto de a Konami eventualmente o ter considerado não canónico, mas o que dizer da inclusão do Kid Dracula nesse caso? E falando no Kid Dracula, a versão Game Boy poderia perfeitamente ter sido incluída também. É uma pena que tanto uma como a outra não esteja incluída, particularmente o Castlevania Legends pois actualmente é um jogo caríssimo. De resto, das consolas de 16bit temos também o Super Castlevania IV da Super Nintendo e o Castlevania Bloodlines / The New Generation da Mega Drive, ambos excelentes jogos. Infelizmente o Rondo of Blood da PC Engine ficou de fora (posteriormente lançado numa outra compilação Castlevania Requiem com o Symphony of the Night também), assim como a sua adaptação mais simplificada da Super Nintendo (Dracula X / Vampire Kiss) que também acabou por sair numa outra compilação mais dedicada aos títulos portáteis.

De resto, para além da possibilidade de criar save states (um funcionalidade de rewind seria óptima também), o jogo oferece-nos a possibilidade de gravar a nossa playthrough, para além de incluir toda uma série de diferentes filtros gráficos como costuma ser habitual nestas compilações. Para além disso, o jogo traz também um ebook com informações de todos os jogos presentes na compilação, entrevistas a pessoas envolvidas na série e vários documentos usados durante a criação dos jogos, o que para os fãs é um extra muito interessante. Em suma é uma sólida compilação, mas a meu ver poderia perfeitamente ter incluído alguns títulos adicionais como o já referido Castlevania Legend, a versão GB do Kid Dracula (que é um jogo inteiramente novo), a versão MSX do primeiro Castlevania que é também muito diferente da versão NES, o Haunted Castle de arcade ou o Castlevania Chronicles do Sharp X68000 ou PS1.




Um pensamento em “Castlevania Anniversary Collection (Nintendo Switch)”