Capcom vs SNK 2 (Sony Playstation 2)

Voltando agora aos jogos de luta na PS2, vamos ficar com o Capcom vs SNK 2, o segundo grande crossover entre os dois gigantes dos jogos de luta, este também produzido pela Capcom e lançado originalmente nas arcades, no sistema Naomi. Apesar de uma versão Dreamcast ter sido inevitável, infelizmente essa versão ficou-se apenas pelo Japão. A PS2 foi o segundo sistema a receber uma conversão, desta vez com um lançamento global. O meu exemplar foi comprado algures em Outubro de 2014 numa das minhas visitas à Cash Converters de Alfragide, tendo-me custado uns 5€.

Jogo com caixa, manual e papelada

O primeiro jogo não foi nada mau, mas a Capcom agitou ainda mais as águas nesta sequela, a começar pelo elenco de personagens ser bastante grande, com 23/24 personagens jogáveis para cada lado! No que diz respeito às mecânicas de jogo, também temos aqui umas quantas mudanças. Vamos pegar no modo arcade para começar, onde nos é perguntado se queremos jogar o Ratio Match, 3 on 3 Match ou Single Match. Os dois últimos (exclusivos das versões para consola) permitem-nos em jogar partidas de 3 contra 3 típicas dos King of Fighters com total liberdade de escolha de personagens, ou combates de 1 contra 1 tal como nos Street Fighter. O Ratio Match desta vez também nos permite escolher livremente que e quantos lutadores queremos formar numa equipa, sem qualquer restrição inicial. É no entanto necessário atribuir pontos aos lutadores que escolhemos, sendo que o total de pontos escolhidos terá de ser sempre 4. Tal como no primeiro jogo, quanto maior o ranking de uma personagem, melhor será o seu ataque e defesa, pelo que acaba por ser uma decisão estratégica com quantas personagens queremos montar a nossa equipa e como distribuir os seus ranking points. Continuo a não ser o maior fã desta mecânica, mas ao menos agora temos a liberdade de escolher quem quisermos!

O número de personagens jogáveis é qualquer coisa de astronómico!

Mas ainda antes de escolher as personagens com as quais queremos jogar, teremos também de escolher o nosso groove. No primeiro Capcom vs SNK haviam dois grooves à escolha, o da Capcom, que nos levava a uma jogabilidade próxima do Street Fighter Alpha com os seus super moves, ou a da SNK que nos levava a uma jogabilidade próxima dos primeiros King of Fighters. Bom, agora temos 6 (seis) grooves para escolher, três de cada lado! Da Capcom podemos escolher os gooves C, A e P, que correspondem aos 3 estilos diferentes do Street Fighter Alpha 3, o A-ism, V-ism e X-ism, sendo que este último inclui também as mecânicas de parry do Street Fighter III. Já do lado da SNK temos os grooves S, N e K. O primeiro corresponde ao groove da SNK do primeiro jogo, influenciado pelo KOF94-95 e mecânicas Extra dos KOF-96-98. O groove N corresponde às mecânicas de jogo “Advanced” introduzidas nos KOF96-98 e por fim o groove K é influenciado pelas mecânicas de jogo do Samurai Shodown. Aqui temos a barra de POW que se vai enchendo à medida que vamos levando dano. Uma vez cheia, a personagem fica vermelha de raiva e a barra começa a esvaziar-se automaticamente. Nesse tempo os nossos golpes são mais fortes e podemos também executar os specials mais poderosos! É interessante a Capcom ter introduzido tantas mecânicas de jogo distintas, mas também ter adaptado cada uma das dezenas de personagens aqui presentes para usarem todos os 6 estilos de jogo.

Maki, de Final Fight e Haohmaru de Samurai Shodown são algumas das novas personagens

Para além do modo arcade, temos mais uns quantos modos de jogo, incluindo o versus para 2 jogadores e um modo de treino onde poderemos practicar os golpes de cada personagem. Temos também um survival que se divide entre o All Survival e o Infinite Survival. O primeiro leva-nos numa série de batalhas onde teremos de enfrentar todas as personagens do jogo, já o segundo, bom, como o nome indica, não tem fim! É mesmo sobreviver até onde conseguirmos. Para além das opções normais temos também o Color Edit onde podermos customizar as vestimentas/cores das personagens. Tal como noutros jogos do género, a nossa performance no modo arcade irá ditar se iremos encontrar mid bosses (Geese Howard ou M.Bison), final bosses (Akuma ou Rugal), ou mesmo as suas versões Shin Akuma ou Ultimate Rugal. Se conseguirmos derrotar Shin Akuma e Ultimate Rugal, não só os desbloqueamos como personagens jogáveis, mas também desbloquearemos outros modos de jogo como um Boss rush ou o Groove Edit. Estas são opções especiais onde poderemos customizar um groove system à nossa medida! Um outro detalhe interessante a mencionar é o de que as versões japonesas da PS2 e Dreamcast dispunham também de um modo online e aparentemente até dava para jogar entre plataformas!

Os cenários são em 3D poligonal. Não que sejam maus de todo e até que vão tendo alguns detalhes interessantes, mas prefiro de longe o pixel art aprimorado

A nível gráfico, este jogo foi desenvolvido para o sistema Naomi e, tal como a Capcom acabou por fazer em títulos como o Marvel vs Capcom 2, as arenas são em 3D poligonal, com a jogabilidade a manter-se toda em 2D e personagens em sprites 2D também. As arenas vão sendo bastante variadas entre si, mas confesso que prefiro o pixel art de arenas bem detalhadas em 2D (o que tinha acontecido no primeiro jogo). Embora a arena dos moinhos no campo, pela sua simplicidade até que não ficou nada más. Já as personagens, que vêm agora de mais universos para além de Street Fighter e King of Fighters (Final Fight e Rival Schools do lado da Capcom, Samurai Shodown e The Last Blade da SNK), mantêm a mesma abordagem do primeiro Capcom vs SNK. Quer isto dizer que a Capcom foi obrigada a desenhar todas as sprites e animações das personagens da SNK (e ficaram óptimas!), já do lado da Capcom, a maior parte das personagens herdaram sprites de jogos anteriores. As que vieram do Street Fighter Alpha 3 estão um pouco abaixo da qualidade das personagens da SNK, enquanto que a Morrigan de Darkstalkers continua com uma sprite de resolução muito baixa e merecia muito melhor. A arte das personagens foi uma vez mais ilustrada pelos mesmos artistas do jogo anterior, que providenciaram arte para todos os personagens presentes, o que resulta uma vez mais em dois traços muito distintos. Infelizmente, no entanto, não encontrei nenhuma galeria onde pudesse consultar essa arte com mais detalhe, nem sei se tal dá para desbloquear. Já no que diz respeito ao som, nada de especial a apontar. A banda sonora vai sendo também bastante enérgica e eclética, com músicas rock, electrónica e por vezes com um toque mais tradicional oriental quando a arena chama para isso.

Portanto este Capcom vs SNK 2 é um jogo de luta bastante frenético e a Capcom está de parabéns por ter implementado um jogo que apresenta muitas mecânicas de jogo para serem exploradas e às quais todas as personagens tiveram de ser adaptadas. O elenco de lutadores é também de luxo e felizmente o ranking system deixa-te criar as equipas de lutadores à vontade, antes de assignarmos um ranking às personagens seleccionadas. Para além do lançamento original arcade e as primeiras conversões para Dreamcast e PS2, o jogo foi posteriormente lançado na GameCube e Xbox com o sufixo EO (de easy operation). Essas versões permitem um sistema de controlo mais adequado para principiantes, até pelo comando da GC não ser o mais indicado para este tipo de jogos.

Super Darius (PC-Engine CD)

Vamos voltar à PC-Engine CD para mais um shmup clássico, nomeadamente a conversão do primeiro Darius da Taito. Já cá trouxe uma modesta conversão deste jogo para o ZX Spectrum, ou mesmo a sua sequela para a Master System, mas esta versão PC-Engine CD teve a honra de ser a primeira conversão a chegar às consolas. O meu exemplar foi comprado em Outubro numa loja online japonesa e custou-me cerca de 17 dólares.

Jogo com caixa e manual embutido na capa

O Darius é um shmup lançado originalmente nas arcades em 1986, por parte da Taito. Demarcava-se dos restantes pelos seus bosses grandes, bem detalhados e todos eles baseados em peixes ou outras criaturas marinhas, pelos caminhos divergentes à lá Outrun, mas também pela sua resolução muito peculiar. A área de jogo era formada por três televisores ligados entre si horizontalmente, resultando numa resolução extremamente widescreen para a época. Naturalmente que essa característica teve de ser abandonada quando se trouxe o jogo para fora das arcades, mas esta versão da PC-Engine CD acaba por ser uma conversão muito próxima do original.

Estes primeiros inimigos são autênticas esponjas de balas!

A nível de jogabilidade é simples, a nossa nave possui dois ataques, um frontal e outro que larga bombas ou mísseis para o solo, pelo que os botões faciais do comando de 2 botões da PC-Engine servem para isso mesmo. Os inimigos vão surgindo no ecrã por ondas e vamos ganhando pontos adicionais se os conseguirmos destruir a todos antes que desapareçam. Temos no entanto muitos inimigos que são autênticas esponjas de balas, especialmente nos primeiros níveis, onde a nossa nave ainda está bastante fraca. Como não poderia deixar de ser vamos poder apanhar uma série de power ups coloridos onde os vermelhos melhoram-nos a arma principal, os verdes a secundária e os azuis dão-nos um precioso escudo que nos deixa sofrer algum dano antes de perdermos uma vida. Temos no entanto de apanhar oito power ups da mesma cor para que possamos melhorar as armas ou escudo e cada vez que perdemos uma vida, perdemos também progresso nos upgrades, o que é sempre frustrante.

Apesar de existirem 2 pilotos na intro, infelizmente esa versão não suporta multiplayer

Uma vez derrotado o boss do nível em que estamos, teremos de fazer uma escolha, pois o caminho bifurca-se. Tal como o OutRun, a longevidade aumenta bastante pois poderemos tomar uma série de caminhos alternativos. Cada run extende-se por 7 níveis, existindo 28 níveis no total. Infelizmente, ao contrário do Outrun em que cada bifurcação resultava em cenários completamente distintos entre si, isto não acontece no Darius. Existem apenas 5 cenários diferentes: as cavernas, uma cidade, montanhas, espaço e zonas sub aquáticas, variando apenas nas cores. No entanto esta versão PC-Engine CD supera o original arcade numa coisa, os bosses. Enquanto o original possuía apenas 13 bosses que se repetiam, esta versão PC-Engine CD possui 26 bosses únicos, existindo apenas 2 repetições. A Taito colocou então 9 bosses protótipos que nunca chegaram a ser introduzidos na versão arcade, mais 4 bosses retirados do Darius II, cuja versão arcade já tinha saído um ano antes desta.

Graficamente o jogo não é nada de especial, até que entram os bosses super bem detalhados

Graficamente este é um jogo bastante simples e a PC-Engine consegue fazer muito melhor, mas sendo sincero, está muito próximo da versão arcade que, sendo um jogo de 1986, também não era propriamente muito excitante do ponto de vista gráfico. Tal como referi acima, os níveis são muito simplistas e apenas os bosses é que são grandes e com um bom nível de detalhe. Mas tirando a questão resolução ter sido adaptada para um televisor apenas, esta versão PC-Engine CD está muito próxima do original. Até no som, pois a banda sonora, apesar de estar no formato CD-Audio, possui gravações das músicas da versão arcade!

Os bosses têm todos a temática de criaturas marinhas

Portanto estamos aqui perante uma conversão sólida do Darius e que até acrescenta algum conteúdo adicional perante o lançamento original, nomeadamente os bosses. Do ponto de vista gráfico é um jogo simples, mas a própria série Darius começaria a ficar mais interessante nesse departamento a partir do Darius II. Mas vamos terminar este artigo com uma curiosidade. Tal como o R-Type, que no Japão foi repartido em dois lançamentos distintos, mas recebeu mais tarde um lançamento completo em CD, o Darius também tem uma história curiosa. Isto porque este lançamento para a PC-Engine CD não foi filho único. Pouco tempo depois a NEC lança também o Darius Plus, agora em formato HuCard para a PC-Engine normal. Sendo um jogo em cartucho, é uma versão que sofre alguns cortes em relação ao lançamento de CD, nomeadamente muitos dos seus bosses, com apenas 16 bosses ao contrário dos 26 da versão CD. Porque a NEC decidiu lançar estas duas versões em formatos distintos? Por um lado para chegar a mais público pois nem toda a gente possuía a PC-Engine CD. Por outro lado este lançamento conta com a distinção de ter sido desenvolvido com especial suporte à SuperGrafx (um sucessor da PC Engine que apesar de ser mais poderoso, foi um flop comercial). Se jogado numa SuperGrafx, o Darius Plus conta com uma performance superior e que elimina algum do sprite flicker visível se jogado numa PC-Engine normal. Para quem tivesse comprado ambas as versões, e enviasse à NEC uma prova de compra de ambos, recebiam posteriormente pelo correio uma recompensa, o Darius Alpha! Essa é uma versão promocional do Darius Plus, que inclui apenas um boss rush com todos os bosses presentes na versão Plus do Darius. Tendo em conta que esse foi um lançamento que nunca chegou a ir para as lojas e apenas 800 unidades foram produzidas, acabou por se tornar num dos títulos mais caros e cobiçados por coleccionadores.

Rolling Thunder 2 (Sega Mega Drive)

Lembro-me perfeitamente de, há uns bons anos atrás, ter jogado o Rolling Thunder original de arcade através do MAME e ter achado um jogo incrivelmente difícil, pela enorme quantidade de inimigos no ecrã que surgiam em simultâneo. Ainda assim, o jogo foi um sucesso e a Namco acabou por produzir duas sequelas que acabaram por receber um lançamento na Mega Drive. O meu exemplar custou-me 5€, tendo sido comprado a um amigo no passado mês de Novembro.

Jogo com caixa

A história coloca-nos no papel de uma dupla de espiões que começam por infiltrar uma mansão em Miami na suspeita de servir de abrigo a uma poderosa organização terrorista. Naturalmente que é isso mesmo que acontece, pelo que vamos acabar por explorar uma série de bases secretas (as últimas são no Egipto) até que finalmente confrontamos o manda chuva que os lidera para impedir os seus planos nefastos.

Para além do já conhecido Albatross esta sequela introduz uma nova agente, a Leila. Ambos são idênticos a nível de jogabilidade.

Rolling Thunder tinha uma jogabilidade muito própria. Este era um sidescoller 2D de acção onde poderíamos alternar entre 2 planos de jogo, o chão e um andar superior e entrar em várias portas, não só em busca de power ups, mas também como estratégia de evasão do fogo inimigo. Estávamos munidos de uma pistola e poderíamos eventualmente usar outras armas, mas apenas poderíamos disparar directamente em frente. Era então um jogo de reflexos rápidos e também de grande precisão de tempo, para disparar apenas quando alguns dos inimigos saíssem dos seus esconderijos, imediatamente antes de eles abrirem fogo sobre nós. Esta sequela herda todas essas mecânicas de jogo, com a particularidade de termos agora dois agentes secretos, o Albatross e a nova agente Leila. A grande novidade está então na possibilidade de o jogo ser jogado em multiplayer cooperativo.

Alternar entre o chão e o nível superior é uma das melhores técnicas de evasão que podemos fazer

Então este continua a ser um jogo desafiante e que nos obriga a jogar de forma cuidada e com grande atenção ao timing para derrotar certos inimigos que estão abrigados. Continuamos a poder disparar apenas em frente, pelo que temos de nos abaixar, mudar de nível (chão ou primeiro andar) ou entrar em portas para evadir do fogo inimigo. Por detrás das portas podemos não ter nada a não ser um abrigo para nós próprios, mas também poderemos encontrar munições, tanto do nosso revólver normal, como de outras armas de fogo como metralhadoras, lança chamas ou mesmo uma poderosa arma laser. Extensões de tempo ou medkits que regenerem (ou extendam) a nossa barra de vida podem também ser encontrados. Devemos poupar as munições pois uma vez que estas acabem, apenas conseguiremos disparar uma bala lenta, e apenas podemos disparar uma bala de cada vez, podendo disparar novamente só após a bala disparada antes desaparecer do ecrã. E uma vez terminado o jogo pela primeira vez, somos convidados a jogar novamente, agora com uma dificuldade ainda maior (mais inimigos no ecrã) para obter o final verdadeiro que sinceramente nem acrescenta nada de mais ao primeiro final.

Exclusivo da versão Mega Drive, temos entre níveis algumas pequenas cutscenes que expandem a história

Graficamente esta versão é um pouco inferior à original arcade, tanto no detalhe, como em cor, o que sinceramente até seria esperado. Ainda assim a Namco esmerou-se ao introduzir três novos níveis, bem como novos inimigos e bosses que não existiam no lançamento original. Os cenários vão sendo bastante diversificados, desde as ruas cheias de palmeiras de Miami, a sua mansão luxuosa, diversas bases secretas mais high tech ou militares, passando pelas próprias ruas de Cairo e pirâmides de Giza. Para além das cutscenes de abertura e fecho, também exclusivo da versão Mega Drive são as várias sequências que existem entre cada nível, que vão narrando um pouco o progresso da aventura (bem como nos informar da password do nível actual). As músicas são bastante agradáveis, bastante enérgicas e muitas delas dão-nos mesmo aquele sentimento de filmes de espiões, conceito do qual o jogo se baseia.

Nalguns níveis vamos encontrar inimigos que se abrigam nestas cabines. Esta jogabilidade certamente influenciou o Blackthorne, lançado depois

Portanto este Rolling Thunder 2 é um excelente jogo de acção que podem encontrar na Mega Drive. Ainda chegou a receber mais uma sequela, o Rolling Thunder 3, esse já exclusivo da Mega Drive e infelizmente tendo sido lançado apenas em solo Norte-Americano em 1993. É uma pena que nunca tenha chegado a sair na Europa!

Genpei Toumaden (PC-Engine)

Vamos voltar à PC-Engine e agora para um jogo mais obscuro e brutalmente difícil (abençoada emulação e save-states!). Estou a falar, claro, deste Genpei Toumaden, um jogo arcade da Namco que teve a sua origem precisamente nessa plataforma em 1986 e foi convertido posteriormente para outros sistemas, incluindo a PC-Engine, em 1990. O meu exemplar foi comprado em Outubro numa loja japonesa, tendo-me custado pouco mais de 12 dólares.

Jogo com caixa e manual embutido na capa

Este é um jogo nitidamente nipónico. Para além de todo o Kanji (até os algarismos são representados com caracteres japoneses!), o jogo decorre algures no Japão Feudal, aparentemente uns valentes anos após a guerra Genpei. Nós encarnamos no samurai Kagekiyo Taira que, muitos anos após a sua morte, é ressuscitado por uma bruxa que o leva a combater o seu arqui-inimigo Yoritomo Minamoto e seus guerreiros Yoshitsune Minamoto e Saito Benkei, todas personagens que aparentemente existiram mesmo na História Japonesa. Não sei ao certo o que se está a passar, mas vamos percorrer níveis repletos de criaturas e cenários infernais, outros já com uns visuais mais tradicionais japoneses. Mas que há um grande foco no sobrenatural, folclore e crenças japonesas, isso é bastante óbvio!

Rapidamente as ciosas ficam caóticas a este ponto

O jogo começa como um “simples” jogo de acção e plataformas, onde um botão salta, o outro ataca com a espada. O problema é que rapidamente nos apercebemos da dificuldade que nos espera, pois existem toneladas de inimigos a atirarem-se contra nós, para além de todos os desafios de platforming. Eventualmente encontramos um torii, que serve de portal de saída do nível. E o nível seguinte já é um sidescroller com uma câmara bem mais próxima de nós, com sprites grandes e bem detalhadas. É nesses níveis onde vamos combater a maioria dos bosses que teremos pela frente. É também nestes níveis onde temos um maior controlo da espada e podemos atacar com posturas diferentes. Derrotado o boss, mais um torii e o nível seguinte muda a perspectiva para um jogo top down, com níveis algo labirínticos que fazem lembrar de certa forma o Gauntlet. E aí vamos encontrar não um, mas vários portais por onde escolher, cada um que nos leva a um caminho diferente. Portanto, ao longo de toda a aventura vamos estar a alternar constantemente entre diversos estilos de jogo e escolher também diferentes caminhos a seguir, o que por si só aumentaria a longevidade deste jogo.

Cada uma destas províncias japonesas é um nível a ser explorado

Mas o seu maior problema é a sua enorme dificuldade, que é muitas vezes injusta. Para além das dezenas de inimigos e obstáculos que são atirados contra nós de forma incessante ao longo dos muitos níveis, o combate e platforming poderia ser também melhor. Não temos mais nenhum ataque a não ser a espada, o que nos deixa muito vulneráveis tendo em conta a agilidade dos inimigos, as plataformas móveis obrigam-nos a que nos movamos em conjunto com a plataforma, caso contrário caímos e se perdermos uma vida, podemos não recomeçar a parir do nível onde estamos, mas sim um nível bastante anterior! Um detalhe interessante é o facto de, se cairmos nalgum abismo não perdemos nenhuma vida, mas somos largados no inferno, um nível de perspectiva vista de cima e, para escapar, temos duas hipóteses. Ou saltamos para uma poça de sangue/lava e, caso tenhamos o máximo possível de dinheiro amealhado somos transportados de volta ou podemos procurar o “chefe” lá do Inferno que nos dá a escolher um de vários baús à sua volta: alguns contém um power up que nos regenere parcialmente a vida e somos levados de volta, outros matam-nos logo.

Os níveis onde jogamos com a câmara mais próxima já são mais detalhados mas não necessariamente menos difíceis

Mas o pior é que, mesmo que consigamos aguentar todo o sadismo que o jogo nos coloca, se conseguirmos chegar ao boss final, podemos não conseguir causar-lhe dano algum. É que temos de encontrar 3 itens escondidos algures nos vários níveis para que o consigamos derrotar. Ora o backtracking neste jogo é complicado, portanto acertar no melhor caminho que nos leve ao boss final e ainda por cima garantir que encontramos os tais itens vai ser outro desafio! E isto até que é algo que é mencionado no manual, mas infelizmente este está todo em japonês, naturalmente, e o Google Lens não me serviu de grande ajuda para o traduzir desta vez. É que dava muito jeito pois a informação do jogo é muito escassa na internet. Para além de tudo isto que já referi, vamos também encontrar diversos power ups como esferas coloridas que podem ser dinheiro (uma das formas de escapar do inferno como já referi), aumentar o nosso poder de defesa ou ataque, entre outros que não faço ideia do que se tratam. Mas mesmo esses pouco me servem pois ao lado da nossa barra de vida temos precisamente o estado que mostra a quantidade de dinheiro, ataque e defesa. O problema é que até os números estão em japonês. Sim, os algarismos. Imaginem o que era terem a pontuação no ecrã em numeração romana… é mais o menos isso.

Os níveis de perspectiva aérea são por norma mais labirínticos

Visualmente é um jogo que me desperta sentimentos mistos. Por um lado adoro todos aqueles visuais mais sinistros e repletos de influências ocidentais, mas não consigo deixar de me sentir um pouco desapontado com os gráficos dos segmentos dos níveis de platforming, com os seus cenários muito simplistas e pouco detalhados. Mas depois vejo o original de arcade de 1986 e reparo que é practicamente igual! Já os níveis onde jogamos com a câmara mais próxima, já têm gráficos bem mais detalhados. Um detalhe que achei delicioso é o ciclo de dia e noite que temos ao longo dos níveis, onde vemos o sol a nascer e por-se, a cor do céu a mudar e o sol dar origem à lua. Já no que diz respeito ao som, o jogo está repleto de vozes digitalizadas e a banda sonora vai alternando entre músicas mais rápidas e enérgicas, outras mais calmas, com melodias tradicionais japonesas.

Este é o símbolo que vemos no ecrã quando morremos. Preparem-se para ficar com este caracter gravado nas vossas memórias.

Portanto este Genpei Toumaden é um jogo que apesar de ser bastante original no seu conceito e possuir uma temática algo “terrorífica” tradicional japonesa que me agrada bastante, a sua dificuldade exagerada e injusta, aliados a muitas particularidades nas mecânicas que só descobrimos se soubermos ler japonês, tiram-lhe muita piada. Este jogo está também disponível (na sua versão arcade) numa das compilações Namco Museum para a Playstation. Curiosamente essa versão foi traduzida para inglês, pelo que será certamente uma melhor opção a abordar. Existe também uma sequela lançada exclusivamente na PC-Engine (e Turbografx-16!) que chegou ao ocidente como Samurai Ghost e aparentemente é um jogo bastante superior.