The Silver Case é uma visual novel muito peculiar que foi lançada originalmente em 1999, apenas no Japão e para a primeira Playstation. É o primeiro jogo lançado de forma independente pela Grasshopper Manufacture, o estúdio liderado por Suda 51, que por sua vez possui muitos outros jogos bizarros na sua carteira como o Killer 7 que já cá trouxe no passado. Eventualmente fizeram um remaster que acabou por ter um lançamento físico para a PS4, cujo meu exemplar veio do eBay algures no mês passado de Agosto por cerca de 13€.
O jogo leva-nos para uma versão distópica de Tóquio no presente, onde começamos por nomear a personagem que vamos encarnar nesta aventura. No prólogo, fazemos parte de uma equipa de intervenção de forças especiais da polícia onde acompanhamos uma operação de perseguição de um antigo serial killer que se escapou do seu hospital psiquátrico mas as coisas acabam por não correr lá muito bem. A partir do capítulo seguinte, a nossa personagem é transferida para uma unidade policial diferente, a Heinous Crime Unit, onde irá colaborar com outros detectives na investigação de vários crimes, muitos relacionados com o tal serial killer do prólogo. À medida que vamos avançando no jogo, e logo mal terminemos o primeiro capítulo, vamos também desbloquear uma aventura paralela sobre o nome de Placebo. Estes capítulos expandem a história principal, pois iremos explorar os mesmos eventos e acontecimentos de cada capítulo, mas através de Tokio Morishima, um ex-jornalista que está também a investigar o tal serial killer. Já os capítulos onde jogamos com o herói que nomeamos estão agrupados sobre o nome de Transmitter.
No que diz respeito às mecânicas de jogo, este é um jogo algo bizarro nesse aspecto também, pois mistura conceitos de aventura gráfica com visual novels. Portanto, para além de ler diálogos, ocasionalmente também nos vamos poder movimentar livremente pelos cenários, mas numa perspectiva de primeira pessoa. As mecânicas de jogo aqui também não são tão intuitivas quanto isso, pois temos de optar primeiro por activar qual a acção que queremos desempenhar, seja movimentar, interagir com algum objecto ou pessoa à nossa volta, explorar o inventário ou chamar o menu que nos permite gravar o progresso no jogo, alterar opções, entre outros. E uma vez activada a opção de nos movimentarmos, é aí que podemos finalmente explorar os cenários. Aqui apenas nos podemos virar em ângulos de 90º, sendo que o jogo nos informa através de pistas visuais se podemos posteriormente avançar na direcção pretendida ou não. Isto porque a pairar no ar em cada cenário que podemos explorar estão uma série de triângulos coloridos ou estrelas douradas. Os triângulos indicam zonas onde nos podemos movimentar, já as estrelas indicam zonas que possuem alguma coisa com que interagir, seja uma porta, objecto ou pessoa para falar. Ocasionalmente vamos tendo alguns puzzles e nos primeiros capítulos é interessante que nos darão alguns puzzles onde temos de decifrar passwords como se estivéssemos numa aula de ciber segurança.
Transmitter e Placebo, apesar de possuirem as mesmas mecânicas de jogo base, são bem diferentes entre si. A narrativa de Transmitter é bem mais obtusa e muito provavelmente não iremos apanhar metade da história, enquanto que no Placebo, os acontecimentos sendo investigados por um jornalista acabam por ser melhor explicados, pelo que recomendo vivamente que joguem o capítulo Placebo logo após terminarem o episódio do Transmitter respectivo. Na história Transmitter é também onde vamos acabar por interagir com mais personagens e explorar mais cenários, já nos Placebo, apesar de Tokio ir explorando um ou outro cenário, tudo onde interagimos está no seu quarto: o PC onde consultamos/enviamos e-mails ou as suas notas pessoais, o telefone e a sua tartaruga de estimação.

Apesar de termos muitas imagens minimalistas e estáticas, ocasionalmente temos alguns clipes de video
Portanto temos mecânicas e narrativa bizarras, só falta mesmo os visuais serem bizarros para podermos realmente afirmar que isto é uma obra do Suda 51, o que acaba mesmo por acontecer. Tipicamente as visual novels possuem ecrãs com backgrounds bem detalhados, imagens das personagens com as quais vamos interagindo e ocasionalmente algumas imagens bem mais detalhadas de momentos chave na história. Aqui tudo é apresentado numa pequena janela no centro do ecrã, onde ocasionalmente também poderemos ver alguns clipes de vídeo em live action ou outras animações. Não existe qualquer voice acting e os textos são sempre acompanhados de uns ruídos como se tivessem saído de uma máquina de escrever. Em ecrã de fundo, atrás da janela de acção e dos diálogos, vamos tendo algumas animações em loop constante, que vão sendo distintas consoante o capitúlo na história onde vamos. São visuais muito estranhos e o texto não lhes faz justiça. As músicas essas sinceramente gostei bastante, sendo na sua maioria composições electrónicas mas sempre com aquele feeling noir que se encaixa bem na narrativa.
Portanto este The Silver Case foi de facto uma surpresa interessante. É sem dúvida um jogo que não irá agradar a toda a gente, quer fãs de visual novels, quer fãs de jogos de aventura, pelas sua apresentação, narrativa e mesmo jogabilidade muito fora do convencional. Mas é também precisamente pela conjugação de todos esses factores que este Silver Case me despertou o interesse. Vou estar atento a ver se encontro a um bom preço a sua sequela 25th Ward, bem como o Flower, Sun and Rain da Nintendo DS.
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