TRAUMA (PC)

De volta às análises indie, para uma rapidinha a um “jogo” artístico muito peculiar. Trauma é uma espécie de aventura point ‘n click muito introspectiva, onde visitamos os sonhos de uma vítima de um acidente de carro, vemos as suas inseguranças, preocupações e seguimos o seu percurso até à sua recuperação. Infelizmente as coisas estão muito repartidas e acabam por ser muito abstractas, não fazendo grande sentido no final. Este jogo foi-me oferecido por um particular, que entretanto tinha saído num dos imensos indie bundles por aí.

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Explicar a jogabilidade deste jogo é um pouco complicado, por ter algumas mecânicas de jogo muito próprias e por todo o abstractismo presente ao longo do jogo, mas aqui vai: ao começar o jogo vemos um filme com actores reais onde vemos a personagem principal a sofrer um acidente de carro e ser hospitalizada. Logo depois temos 4 sonhos em que podemos explorar. Esses sonhos são apresentados com um conjunto de fotografias em que podemos movimentar o cursor do rato e avançar nesses mesmos cenários, viajando por uma sequência de fotografias panorâmicas, quase como se estivéssemos a utilizar a street view de um google maps. Ao avançar nos cenários vamos ouvindo uma narração introspectiva que relaciona o que estamos a ver com vivências da personagem. A ideia aqui é, para além de explorar os cenários, devemos interagir com os mesmos, desenhando diversos movimentos com o rato. Por exemplo, numa imagem com arbustos, podemos desenhar um “Z”, símbolo de cortar, que remove os arbustos da fotografia, geralmente abrindo um novo caminho, ou revelando um outro objecto. Podemos também desenhar um símbolo de “apanhar”, “levantar” entre outros para interagir com objectos. Existem ainda outros símbolos que servem apenas para movimentação, como zoom out ou turn around.

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Este é o objectivo orincipal do primeiro sonho. As bolas verdes, presença constante no jogo, significam o peso que os problemas têm em nós. No fundo temos uma dica do símbolo a desenhar.

Em cada sonho temos alguns objectivos a cumprir. Cada sonho tem um final principal, e uns 3 finais alternativos, atingidos ao interagir corretamente com alguns objectos, ou ao descobrir o caminho certo. Para além do mais, temos 9 fotografias espalhadas em cada sonho que podemos procurar. Algumas fotos servem de tutoriais a explicar como desenhar os símbolos com o rato, outras são fragmentos de memória da personagem principal, ou mesmo pistas de como obter um dos finais alternativos noutros sonhos.

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Os sonhos são sempre locais austeros e solitários

E tal como já referi várias vezes, o jogo está repleto de momentos de introspecção, outros mais emocionais ou abstractos. É frequente termos de “levantar” os problemas que nos afectam, encontrar câmaras de vigilância em todo o lugar que nos observam durante a vida, andar em círculos pelo caminho, entre vários outros sinais deste género. Mas no entanto as coisas estão aparentemente todas desconexas entre si, não havendo um grande fio condutor, quer entre os sonhos, quer mesmo com todas estas inseguranças e flashbacks que vamos vivendo.

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Podemos revisitar cada sonho sempre que o quisermos.

O jogo vale assim na minha opinião pela sua apresentação. A atmosfera que conseguiram criar está muito bem conseguida, as fotografias difusas, os “fantasmas”, e acima de tudo, a voz narradora, que fala num tom verdadeiramente delicioso são para mim os pontos altos deste jogo. A jogabilidade tem ideias muito boas, assim como todo o conceito de jogo no geral. Infelizmente a execução não é de todo a melhor. É um jogo que pode ser terminado em sensivelmente uma hora, e mesmo assim muitos dos “puzzles” podem ser mesmo resolvidos por mero acaso, apenas ao clicar em locais aleatórios e desenhar os símbolos. Gostaria de ver este jogo re-imaginado no futuro. “Jogos” artísticos são sempre experiências interessantes, pelo que para quem gosta de coisas mais introspectivas e abstractas, fica aqui mais uma sugestão.

Virtua Racing (Sega Mega Drive)

Virtua RacingContinuando com a Mega Drive, desta vez para uma análise a um jogo muito importante na biblioteca da consola de 16bit da Sega, que no entanto não tem grande conteúdo que justifique uma análise longa, o seu background já merece uma. Virtua Racing é um jogo lançado originalmente nas Arcades no ano de 1992, sendo o primeiro jogo do famoso sistema Model 1 da Sega, com foco em jogos em 3D poligonal, onde vimos também Virtua Fighter ou Star Wars Arcade. Apesar de não ser o primeiro jogo de corridas em 3D Poligonal, essa honra vai para o Winning Run da Namco, Virtua Racing foi o primeiro jogo da Sega nesse campo, sendo bem mais detalhado e rápido que os seus predecessores.

Jogo completo com caixa e manuais

Reza a lenda que o Virtua Racing inicialmente era apenas uma demo técnica para demonstrar as capacidades da Model 1, mas o resultado foi tão bom que a Sega decidiu poli-lo mais um pouco e lançá-lo no mercado. Como o jogo chegou à Mega Drive, bom, nativamente a Mega Drive não teria condições de receber um jogo deste calibre, a conversão do Hard Drivin’ não é exemplo para ninguém. A solução passaria por a Sega adoptar a mesma estratégia que a Nintendo fez com a Super Nintendo, ou seja, lançar jogos com hardware adicional que lhe permitam expandir as capacidades nativas do sistema. O resultado foi o chip SVP (Sega Virtua Processor), que conferiu à Mega Drive as capacidades necessárias em apresentar gráficos em 3D poligonal com maior qualidade. A minha cópia do jogo chegou-me às mãos há umas semanas atrás, estando completa. Foi comprada na cash converters de Alfragide, por cerca de 5€.

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Os circuitos que podemos escolher

Dispomos então de três modos de jogo: Virtua Racing, Free Run e 2Players VS. O primeiro é uma conversão do modo arcade, onde podemos escolher um de três circuitos com diferentes graus de dificuldade  – Beginner, Medium e Expert. Em todos os circuitos temos de completar 5 voltas e jogamos contra outros 15 adversários. Tal como os outros jogos arcade, para além de fazermos todos os possíveis para chegar em primeiro lugar, temos também de lutar contra o relógio até atravessar cada checkpoint. O modo Free Run é um modo treino, onde podemos aperfeiçoar as nossas habilidades e conhecer melhor os circuitos, sendo possível jogar sessões de 5, 10, 15 ou 20 voltas. Como seria de esperar, o outro é um modo multiplayer para 2 jogadores em splitscreen. E também como seria de esperar perde-se algum detalhe gráfico, nomeadamente algumas estruturas no horizonte. Ainda assim, a sensação de velocidade continua muito boa. Podemos também desbloquear um modo de jogo adicional, que nos permite jogar as pistas ao contrário.

Graficamente é natural que o jogo não possua todas as qualidades do original na arcade. Mesmo com o SVP, a paleta de cores da Mega Drive ainda é algo reduzida e mesmo os próprios modelos poligonais têm uma qualidade pior que na arcade. Ainda assim, a fluidez de jogo, longe de estar dos 60 frames por segundo que faziam do original um êxito, é bastante boa, dando ao jogador uma sensação de velocidade que sinceramente não estou a ver outro jogo de corrida na Mega Drive, ou até na SNES a fazer. Infelizmente o jogo tem uma draw distance reduzida, resultando em frequentes pop ups dos cenários, o que é ainda mais agravado se jogarmos com a perspectiva de câmara na primeira pessoa, aumentando o risco de colisões. Ainda assim gosto bastante do detalhe dado ao cockpit e às mãos do piloto nessa perspectiva. Para além da perspectiva em primeira pessoa, podemos seleccionar outros 3 ângulos de câmara, cada vez mais afastados do carro.

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As box estão também aqui presentes. Olhem para aqueles mecânicos quadrados. Tecnologia de ponta!

Um outro pormenor técnico que achei delicioso, são os instant replays no final de cada corrida. Estes mostram a nossa partida do início ao fim, em vários ângulos panorâmicos. Não tenho olho de lince para ver se o replay é 100% fiel da partida, ainda assim parece-me um feito tecnológico impressionante. No quesito do som as coisas parecem-me divididas. Por um lado tenta manter-se como uma conversão fiel ao jogo nas arcades, com apenas pequenos clipes de músicas no início e final da corrida, ou quando passamos algum checkpoint. O jogo merecia que as músicas continuassem pois algumas parecem ser mesmo catchies. Por outro lado, tirando os efeitos sonoros parecem-me bons, tirando o som que ouvimos ao ultrapassar o carro dos adversários ou mesmo algumas das voice samples, em especial a que ouvimos a passar os checkpoints.

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Os replays estão muito bons, tendo em conta que estamos a falar de uma Mega Drive

Porque não vimos mais jogos a utilizar o SVP na Mega Drive, tendo sido este jogo tão bom, apesar de caro? Bom, a resposta está precisamente em serem jogos que seriam bastante caros. Para contrariar isso, a Sega decidiu “inventar” a 32X, um infame add-on que conferia à consola da Sega melhores capacidades técnicas, capazes de correr jogos num 3D poligonal (pouco melhor que o apresentado neste jogo), ou jogos 2D mais detalhados. A ideia da Sega era precisamente contrariar o facto desses jogos “especiais” serem mais caros. Assim tinha-se um investimento inicial ao comprar o add-on, mas a longo prazo compensaria, pois os jogos de 32X custariam o mesmo que os restantes. Todos sabemos que essa estratégia saiu furada pelas mais variadas razões, mas isso será assunto para um outro artigo no futuro, se eventualmente comprar uma 32X.

Ainda assim, uma outra pergunta pertinente surge: esta versão “simples” e cara para a Mega Drive seria mesmo necessária, com uma versão largamente superior nos planos para a 32X lançada cerca de meio ano depois? Conjecturas à parte, Virtua Racing para a Mega Drive é uma excelente conversão arcade para o sistema. Para quem procurar algo mais, então existem outros jogos de corrida na própria Mega Drive com muito mais conteúdo.

Quackshot: Starring Donald Duck (Sega Mega Drive)

QuackshotAntes de a Disney ter criado a sua divisão Disney Interactive algures durante o ano de 1994, é certo e sabido que os melhores jogos baseados em franchises da marca foram produzidos por duas empresas. Num lado tinhamos a Capcom, empresa responsável pelo lançamento de diversos platformers de excelente qualidade nas consolas da Nintendo, por outro lado tinhamos a Sega, também com vários platformers de qualidade para as suas consolas, como Castle of Illusion, World of Illusion, Lucky Dime Caper ou este mesmo Quackshot. A minha cópia foi comprada algures em Dezembro de 2013, na cashconverters do Porto, tendo-me custado 4€. Curiosamente é mais uma edição Sega Genesis comercializada oficialmente em Portugal pela distribuidora Ecofilmes.

Quackshot - Sega Mega Drive
Jogo com caixa, versão Genesis

Tal como o nome indica, este jogo baseia-se no Pato Donald, que por acaso é sem sombra de dúvidas a minha personagens preferida de todo o universo Disney. Ainda assim outras personagens do universo do Donald também vão aparecendo, como o Tio Patinhas, os sobrinhos Huguinho, Zézinho e Luisinho, a Margarida, o Prof. Pardal e meio que perdido aparece também o Pateta. Acontece que enquanto Donald estava a cuscar as coisas do Tio Patinhas, encontrou um antigo mapa de tesouro que prometia riquezas de valor incalculável. Donald lança-se assim à aventura na busca desse grande tesouro, mas pelos vistos o vilão habitual Bafo-de-Onça estava a espiá-lo e obviamente que lhe quer roubar o tesouro, colocando os seus capangas no caminho do nosso pato preferido.

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Quaisquer semelhanças com o Indiana Jones são mera coincidência

Quackshot é assim um jogo de plataformas, como muitos o eram na altura, porém este é algo não-linear. Para além de podermos escolher qual o nível a jogar, teremos de os revisitar mais que uma vez, utilizando um item coleccionado num outro nível para se poder avançar no outro. E isto é marcado com um sistema de “checkpoints” nos locais intermédios, que nos deixam precisamente no local chave para a segunda visita. Para além do mais, a arma de Donald é um dispara-desentupidores, arma essa que tem também as suas peculiaridades. Utilizando a munição standard, os desentupidores infinitos, quando disparados num inimigo, apenas os imobiliza durante um curto intervalo de tempo. Existem outras munições mais poderosas que são capazes de destruir permanentemente os inimigos, e podem até ser utilizadas em alguns níveis para destruir alguns blocos. Essas munições consistem em pipocas e bolas de sabão. Sim, é um jogo da Disney.

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No início e fim do jogo temos direito a estas “cutscenes” onde a história vai sendo contada

Para além do mais ainda existem outros 2 upgrades aos desentupidores que podemos encontrar. O primeiro permite agarrar os desentupidores temporariamente nas paredes, fazendo com que sirvam de plataformas para alcançar outras secções previamente inacessíveis. O último upgrade, para além de herdar todas as características dos anteriores permite também que fiquem temporariamente agarrados aos inimigos, sendo especialmente úteis quando temos de nos agarrar a uns papagaios gigantes para uma viagem sobre abismos. O jogo vai tendo assim níveis variados com outros detalhes interessantes para além do platforming clássico, desde uma viagem alucinante em carrinhos de mineiros como num certo filme do Indiana Jones, ou andar perdido num palácio oriental labiríntico à procura das portas certas para se safar. Claro que pelo meio teremos várias batalhas com os habituais bosses e no geral é um jogo que acaba por ser bem desafiante em algumas alturas.

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Parece o Bafo de Onça, mas é apenas um dos seus muitos “minions” espalhados em todos os níveis

Graficamente é um jogo com sprites bem detalhadas e com boas animações, assim como os próprios níveis que são bem variados entre si, com temáticas bem diferentes. Desde cidades clássicas das antigas animações da Disney, pirâmides egípcias, um castelo assombrado na transilvânia ou mesmo um navio viking abandonado são apenas alguns dos exemplos. O único senão que eu coloco na componente visual é a paleta de cores escolhida ser muito escura. É verdade que a Mega Drive em si tem uma paleta de cores bem inferior que a da Super Nintendo, por exemplo, mas ainda assim existem outros jogos da Mega Drive com cores bem mais garridas do que este Quackshot, que o merecia. Por outro lado as músicas são agradáveis como seria de se esperar.

No fim de contas, é mais um excelente platformer produzido pela Sega, que muito provavelmente acabou por ser ofuscado pelo jogo de estreia de um certo ouriço azul, lançado no mesmo ano de 1991. Infelizmente foi também um jogo que ficou algo esquecido no catálogo da Mega Drive, pois a menos que algo me tenha escapado, não chegou a sair em nenhuma compilação para sistemas mais recentes, nem para a Virtual Console da Nintendo Wii, o que é pena.

Battlefield 2: Modern Combat (Sony Playstation 2)

Battlefield 2 Modern CombatMais tarde ou mais cedo hei-de escrever sobre o Battlefield 3, um dos melhores FPS com uma vertente multiplayer que já tive o prazer de jogar. Mas enquanto esse dia não chega vou escrever sobre a primeira incursão de um jogo da conhecida franchise nas consolas, nomeadamente este mesmo Battlefield 2: Modern Combat. Tal como o nome indica este jogo abandonou a temática da 2a Guerra Mundial, na qual os primeiros jogos da série se focaram, passando para a era actual. E ao contrário dos jogos no PC, este aqui inclui também um modo campanha single player, embora não seja grande coisa. E este jogo entrou na minha colecção algures no verão de 2013, após uma ida à feira da Ladra em Lisboa, pela módica quantia de 1€. Está completo e em excelente estado.

Battlefield 2 Modern Combat (Sony Playstation 2)
Jogo completo com caixa e manual

A campanha tem uma história muito estranha e confusa. Essencialmente coloca-nos no meio de um confronto entre forças da NATO e o exército Chinês, em pleno solo do Cazaquistão. Ao longo da campanha iremos alternar entre ambos os exércitos, onde entre cada missão somos também presenteados com os noticiários norte-americano e chinês, cada qual a contar a história do conflito da maneira que melhor lhes convém. O certo é que esse mesmo conflito é bastante confuso, mas lá para o final lá se vem a descobrir que afinal andavam terroristas metidos ao barulho, como não poderia deixar de ser.

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As classes com que podemos jogar e o seu equipamento que vamos desbloqueando

Mas a jogabilidade tem algumas ideias muito interessantes. Começamos cada missão como um determinado soldado, mas podemos alternar entre os restantes companheiros no campo de batalha sempre que o quisermos, bastando olhar para eles até que o seu identificador que paira sobre as suas cabelas se ilumine. Aí é só carregar no quadrado do comando que o passamos a controlar. E a ideia é mesmo ir fazendo isso ao longo do jogo. Tanto podemos jogar com tropas de assalto para matar infantaria inimiga, como depois passar para um engineer equipado com um rocket launcher para atacar veículos inimigos, ou para um sniper numa outra posição estratégica, ou mesmo para algum veículo como um tanque ou helicóptero. Como já devem ter percebido a infantaria está dividida em várias classes como é habitual nos Battlefield. Soldados de assalto, snipers, engineers e suporte, cada qual com as suas armas e geringonças, por exemplo os snipers podem identificar alvos inimigos a uma grande distância, para que apareçam no mapa a toda as nossas tropas, os engineers podem reparar ou destruír veículos e por aí fora.

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Mesmo as turrets têm munição limitada. Teremos de esperar algum tempo para voltar a ter munições

Este mecanismo do hotswap é uma excelente ideia, infelizmente a sua execução não é a melhor. As missões são passadas em mapas grandinhos, com objectivos próprios, seja fazer reconhecimento a certos locais, destruir outros, ou mesmo tomar de assalto algumas posições e defendê-las. Isto requer uma componente estratégica e infelizmente a inteligência artificial não dá conta do recado como deveria. Pelo menos falando na versão PS2, não sei se as versões Xbox e X360 são assim. Assim sendo, com a IA não tão eficiente como seria suposto, era bom que pudéssemos comandar algumas tropas para fazer o que quiséssemos, um esquema como o de Battalion Wars seria muito interessante. E o facto de apenas podermos fazer hotswap para as tropas que estejam visíveis no mapa também é um ponto que poderia ser modificado. Uma opção de abrir o mapa geral da missão e seleccionar a tropa/veículo para trocar deveria ter sido implementada.

Na maioria das missões vamos tendo reforços a chegar constantemente de pára-quedas, pelo que mesmo que alguns soldados nossos morram, reforços acabarão por chegar. Ainda assim, há outras missões com um número limitado de tropas e veículos, e deixá-las todas morrer é sinal de repetir a missão. Infelizmente as tropas inimigas também vão fazendo respawn em várias missões, pelo que tal como um jogo multiplayer se tratasse, ficar muito tempo no mesmo sítio não é uma boa política. A jogabilidade também é um pouco arcade e menos realista do que habitual na série. Por exemplo, é possível matar tropas com um tiro certeiro de shotgun, mesmo que estejam a uma distância considerável. A gravidade das balas nos snipers também é algo que não entra na equação e depois o sistema de pontuação que nos premeia com medalhas sempre que fazemos algumas combos, ou matamos vários inimigos com as mesmas armas/classe, é algo que também contribui para esta jogabilidade quase arcade.

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Existem vários veículos que podemos manobrar, mesmo barcos.

No final de cada missão os pontos amealhados, as medalhas, o tempo da missão e as casualidades entram nas contas para um ranking final. Ao subir de ranking, tal como os outros Battlefields, vamos podendo desbloquear várias armas/equipamentos para as 4 classes de infantaria, ou upgrades para as armas que já tivermos. Para além do mais desbloqueamos alguns desafios que poderemos jogar mais tarde, também em single player. Esses desafios são mesmo como o nome indica: desafios.  Alguns requerem que façamos o hotswap de soldados do ponto A ao ponto B no menor tempo e número possível, outros são corridas com os veículos ou mesmo desafios para testar a nossa habilidade com algumas armas. Também aqui a nossa performance é recompensada em medalhas para subir no ranking.

Mas Battlefield é maioritariamente uma experiência multiplayer. E aqui inclui-se uma vertente multiplayer online com capacidade para até 26 jogadores, nos modos de jogo Conquest, onde temos de conquistar e defender algumas posições em mapas grandinhos, ou o Capture the Flag, que dispensa apresentações, apesar de decorrerem em mapas mais pequenos. Até há bem pouco tempo ainda haviam servidores online em vários jogos de PS2, mas infelizmente desde que me mudei para Lisboa que deixei de poder ligar a minha PS2 à rede, pelo que nem sequer experimentei esta vertente. Aparentemente teria tudo para ser um bom jogo. Por outro lado não dá para jogar localmente em split screen, o que é pena, mas até é compreensível que a PS2 tenha alguns problemas de performance em renderizar mapas grandes várias vezes, e jogar Battlefield com 2 jogadores e bots, não é a mesma coisa.

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Apesar de ser um pouco “arcade”, entrar à Rambo nem sempre é a melhor solução

Graficamente não achei o jogo nada de especial, as texturas são pobres, os modelos de soldados e veículos apresentam pouco detalhe, mas tendo em conta o tamanho dos mapas, sem loadings intermédios e a quantidade de veículos e tropas inimigas no ecrã por vezes, acabam por justificar o porquê de os visuais no geral não serem nada por aí além. Os efeitos sonoros, voice acting e a tradicional música mais militar também foram coisas que me pareceram medianas, cumprem o seu propósito, mas não são por si só memoráveis.

Assim sendo apenas consigo recomendar este jogo aos mais entusiastas de FPS. Não sei se o online ainda está activo, se o tiver, é bem possível que este jogo seja bem divertido. Para quem for a jogar sozinho, existem na PS2 shooters militares na era moderna bem melhores. Black, por exemplo. O esquema de hotswap é a meu ver uma ideia excelente, mas ainda poderia ser bem mais polida.

Porsche Challenge (Sony Playstation)

Porsche ChallengePorsche Challenge é para mim o Sega Rally da primeira Playstation. Mas só com Porsches. E circuitos urbanos. Ok, se calhar não é bem um Sega Rally, mas é dos jogos de corrida com o feeling arcade da 32bit da Sony que mais me agradou back in the day. Como o título parece indicar, este é um jogo licenciado pela Porsche e como tal não existe sistema de dano ou mesmo o carro a capotar, como era habitual em jogos licenciados. E com o nome de “Porsche Challenge”, é um jogo que teria muito a ganhar se incluísse vários dos mais icónicos veículos da marca alemã, mas apenas existe o Porsche Boxter que aliás está na capa do jogo também. O facto deste jogo ter saído na mesma altura em que o carro alemão também é algo que me faz suspeitar se não é um elaborado produto de marketing, mas a verdade é que o jogo não é nada mau. A minha cópia foi comprada algures em Novembro de 2013 na cashconverters do Porto. Penso que me custou algo entre os 2 e 3€. É a edição “Value Series“, uma espécie de pós-Platinum que abrangiu alguns jogos da Playstation.

Porsche Challenge - Sony Playstation
Jogo completo com caixa e manual. Versão Value Series, o que inclui o disco platinum.

Inicialmente dispomos de 6 personagens para escolher, cada uma com diferentes personalidades e um Boxter com uma cor própria. A meu ver não há grande diferença na escolha das personagens, a não ser as suas bocas que por vezes mandam uns aos outros nas corridas e, claro está, a cor do carro. A vertente singleplayer deste jogo está dividida em 3 modos: Practice, que dispensa apresentações , Time Trial também e por fim o modo Championship que coloca o jogador a jogar um conjunto de 12 corridas divididas em 3 categorias diferentes. Infelizmente apenas existem 4 circuitos – um numa pequena cidade Norte-Americana, outro à noite, numa metrópole japonesa, um outro nos alpes, com a pista coberta de neve e gelo e por fim o cicuito oficial de testes para a Porsche, em Estugarda, Alemanha.

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Inicialmente podemos escolher qual o piloto/carro para correr, incluindo as mudanças em auto ou manual.

Mas esses circuitos vão-se modificando de acordo com as diferentes etapas do modo Championship. Inicialmente temos os circuitos no modo classic, que decorrem como se um jogo arcade se tratasse: somos largados na 6a (última posição), e ao longo de poucas voltas no circuito temos de ir correndo de forma a ultrapassar os restantes carros que já vão bem adiantados, isto lutando sempre contra o relógio até chegar ao checkpoint seguinte. Concluídas as pistas neste modo avançamos para o Long, onde para além de termos de correr mais voltas, as pistas também vão-se modificando, com alguns atalhos a surgirem, bem como outros obstáculos. Por fim temos as Interactive Races, onde os circuitos apresentam ainda mais modificações, sendo essas modificações aleatórias a cada volta.

Por cada vez que vamos terminando o modo Championship, desbloqueamos também alguns cheat codes, muitos deles hilariantes, como as vozes sob o efeito de hélio, os oponentes a conduzirem bêbedos, carro invisível, entre muitos outros. Mas como em todos os jogos da época, é possível desbloquearem-se esses cheats através dos cheat codes habituais, pressionando combinações de botões em menus. Para além do mais, existe também um habitual modo multiplayer para dois jogadores em split-screen, onde podemos optar por entre uma single-race, ou o modo championship. Existem algumas customizações que podemos fazer neste modo de jogo, mas foi algo que não cheguei a experimentar.

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Alguns adversários conduzem mais agressivamente que outros

Graficamente é um jogo bastante competente, tendo em conta o ano em que saiu (1997). Principalmente nos carros, que apresentam um detalhe considerável, mas também sendo o único modelo disponível em todo o jogo, mau era se assim não fosse. As pistas têm gráficos agradáveis, mais uma vez tendo em conta a data em que o jogo foi lançado, contudo é mais um jogo de corridas a sofrer do sindrome de uma draw distance curta, onde conseguimos ver o cenário a ser “construído”, à medida em que vamos correndo. Em pistas com mais objectos nas bermas apenas quando lhes passamos muito perto é que vemos o circuito com todos os detalhes. Mas sinceramente este defeito é algo que para mim é bastante carcterístico desta altura das 32bit, e até têm o seu charme. Muitas horas de volta do Manx TT ou Daytona USA na Sega Saturn deu nisso.

Os efeitos sonoros são OK, e até é engraçado ouvir as bocas que o pessoal manda uns aos outros quando os ultrapassamos. Alguns dos oponentes até tentam descaradamente nos fazer despistar, mas tal como referi anteriormente, sendo este um jogo homologado pela Porsche, um sistema de dano, ou pelo menos acidentes mais credíveis é coisa que não existe aqui. A música tem toda uma toada de “dance music” dos anos 90. Acredito que para alguns seja uma boa banda sonora, já eu prefiro outras andanças.

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Eléctricos (sem se deslocarem em carris) são alguns dos obstáculos que nos teremos de desviar

O facto de ser um jogo homologado pela Porsche não se fica por aqui. Um dos extras que podemos aceder é a opção “View Boxter”, onde temos acesso a um pequeno vídeo com pouco mais de 2 minutos onde vemos um pequeno “making-of” do Porsche Boxter. O foco em demasia que se dá ao na altura novo modelo da Porsche é bastante exagerado, ficamos com a ideia que isto não é muito mais que um enorme anúncio “comprem um Porsche Boxter, se tiverem dinheiro” na forma de um jogo. O facto de só ter um modelo jogável e poucos circuitos realmente distintos entre si tiram algum mérito a este jogo. Ainda assim, com a sua jogabilidade mais arcade não deixa de ser um jogo divertido, e se o encontrarem baratinho, é sempre uma boa opção para a biblioteca da Playstation.