Rastan (Sega Master System)

RastanO sucesso de filmes como Conan the Barbarian alastrou-se ao mundo dos videojogos, nos finais da década de 80, tal como toda a cultura “ninja”. Isso acabou por se traduzir em jogos como Golden Axe ou este Rastan. Rastan é um sidescroller old-school lançado originalmente para as Arcades através da Taito, durante a segunda-metade dos anos 80. Recebeu várias conversões para outras plataformas da mesma época, incluindo a que trago hoje, que saiu em 1988. Foi dos poucos jogos produzidos por uma third party para a consola da Sega durante os anos 80, devido às políticas altamente restritivas e monopolistas que a Nintendo então tinha. A minha cópia foi comprada algures em 2005/2006, num lote de uns 10 para a Master System que me ficaram por cerca de 7€ no total, no miau.pt. Um bom negócio!

Jogo com caixa e manual

Este será um post mais curto, visto que não há muito a dizer sobre este jogo. A história prende-se com o mercenário bárbaro Rastan que foi chamado por um rei para resgatar a sua filha da região de Semia, uma terra controlada por monstros e pelo vilão Karg. Sim, é mais um cliché do “salva a princesa do gajo mau”. O jogo em si é um sidescroller, mas ao contrário de muitos jogos do seu tempo, em Rastan os níveis decorrem ao longo de 4 direcções, existindo por vezes alguns pequenos caminhos alternativos, ao contrário da esmagadora maioria dos sidescrollers da época, onde a acção era sempre da esquerda para a direita. Um problema com Rastan é a sua jogabilidade travada que não cresceu bem ao longo do tempo. Os saltos que Rastan dá são difíceis de se controlar, e como o jogo tem várias partes em que skills de platforming são bem precisas, como saltar de corda em corda, podem tornar o jogo um pouco irritante. O jogo está dividio em 6 zonas, cada zona com 3 níveis sendo que no terceiro existe um boss. Felizmente, Rastan não é daqueles “1hit kills”, aqui existe uma barra de energia para o bárbaro. Ao longo do jogo Rastan irá encontrar vários items, desde diferentes armas, escudos, armaduras, items restaurativos ou até veneno que retira energia ao bárbaro.

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A preparar-se para desfazer mais 2 baddies

Graficamente o jogo não é nada de especial, mas considerando que é um jogo de 1988 não está nada mau e até é uma das melhores conversões do original da arcade. As sprites é que são bastante pequenas, e os níveis graficamente são algo simples. Os inimigos ainda são bastante variados e são o que se estaria à espera de encontrar num jogo com esta temática. Desde morcegos e cobras gigantes até vários monstros verdes com espadas ou machados, esqueletos “vivos”, feiticeiros, e outros bichos que tal. Algo controverso em Rastan é que este é um jogo violento e controverso tendo em conta a época em que saiu. Os inimigos são esquartejados e desfazem-se em poças de sangue, o manual inclui artwork dos inimigos, alguns com nudez feminina, etc. Embora nos dias de hoje isto seja algo não tão incomum, a verdade é que esses jogos levam logo um rating para idades mais adultas, mas naquele tempo não havia nada disso. Não que isso me incomode, já agora. A nível de som não esperem uma obra prima, a Master System não tem mesmo um bom chipset de som (se não contarmos com o FM japonês – isso é uma história completamente diferente).

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Exemplo da artwork polémica – isto é uma Gorgon

Rastan é uma série que viu 3 jogos ao longo dos anos (mais um ou outro cameo), mas talvez apenas este jogo viu algum sucesso. Foi convertido para vários computadores da época, como o Commodore 64, ZX-Spectrum ou o Apple IIgs. Não é um jogo fantástico, mas como sempre gostei desta temática creio que não custa nada vocês experimentarem-no um dia. Recentemente saiu para PC, PS2 e Xbox uma compilação de nome Taito Legends, Rastan está lá e é uma conversão perfeita do original Arcade. Eu diria que era a melhor versão para se jogar actualmente, a menos que prefiram a emulação.

Devil May Cry 2 (Sony Playstation 2)

Devil May Cry 2 coverQuando se faz uma sequela de um jogo de sucesso, normalmente as expectativas são postas numa fasquia muito alta. Talvez por isso o Devil May Cry 2 tenha desapontado muita gente. Como só comprei a minha PS2 neste ano, só comecei a jogar estes jogos já muito depois do hype inicial, talvez por isso a minha perspectiva seja diferente e seja dos poucos que até preferem este jogo ao original. A minha cópia foi comprada neste ano no ebay UK, tendo-me custado apenas 3£ mais portes de envio, cerca de 7€ no total. Está completa e em bom estado.

Devil May Cry 2 PS2
Jogo completo com caixa e manual

Devil May Cry 2 é um jogo em que inicialmente poderemos usar 2 personagens. O já conhecido Dante, filho do demónio Sparda que salvou a raça humana há muitos anos atrás, e de mãe humana. Acompanhando Dante temos também uma personagem feminina que podemos escolher desde o início, Lucia, também semi humana. A história desta vez prende-se  com um tal de Arius, que se encontra à procura de uns items mágicos chamados “Arcanas” para libertar um poder demoníaco e assim conquistar o mundo. Lucia pede a Dante que vá com ele à Dumary Island, sua ilha de nascença e local onde Arius procura ressuscitar o demónio Argosax. Este jogo encontra-se dividido em 2 discos, sendo cada disco dedicado a uma personagem, podendo ser jogados de forma independente. As 2 histórias são semelhantes, sendo apenas a perspectiva de cada uma das personagens. Muitas áreas são idênticas, mudando apenas o caminho que Dante ou Lucia tomam. Sinceramente preferia que os níveis fossem sendo jogados de maneira alternada, e se calhar com mais alguma variedade entre os mesmos, seria melhor até para o desenvolvimento da história.

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Dante a dar uso às suas pistolas

A jogabilidade sofreu várias alterações desde o jogo original, e de facto aqui é algo que não gostei muito neste jogo. Passo a explicar: O sistema de combate básico a meu ver parece ter sido melhorado, com mais acrobacias e movimentos. O passo atrás está na variedade de “gameplay”. Em DMC1, se usássemos Alastor ou Ifrit, o estilo de luta mudava completamente, mesmo as próprias Devil Trigger. Aqui o facto de termos mais ou menos armas não traz nada inteiramente novo. Dante continua a usar espadas grandes e armas de fogo, já Lucia é mais uma “melee fighter”. Tem algumas espadas mais pequenas que usa ao mesmo tempo que luta com o corpo. Já de projécteis Lucia especializa-se mais em atirar facas, dardos, etc. Já o mecanismo do Devil Trigger a meu ver foi algo que mudou para melhor. O equipamento de Dante/Lucia não se resume apenas a armas, mas também uma espécie de joias que podem ser colocadas num colar. Essas jóias conferem habilidades especiais quando se utiliza o Devil Trigger, isto é, quando Dante ou Lucia alteram a sua forma humana para a demoníaca. O Devil Trigger é um “estado” especial, que usa uma barra de energia especial para ser consumida, tal como descrevi no Devil May Cry. Enquanto que no jogo original a forma de Devil Trigger de Dante e as suas habilidades modificavam consoante a sua “arma branca” escolhida, aqui é sempre a mesma. As habilidades são customizadas através da escolha das tais jóias que referi. A capacidade de voar, correr mais rápido, utilizar poderes elementais, curar-se mais depressa, entre outras, são alguns exemplos. Outra coisa que não gostei na jogabilidade foi o facto de o CPU fazer “auto-lock” aos inimigos para lutar. Nem sempre o CPU faz a melhor escolha do lock, e várias vezes nem quero lutar, apenas activar alguma switch e esse “auto lock” impede-me. Felizmente se carregar em R2 o lock desaparece, mas é desconfortável jogar dessa forma. Uma boa notícia foi a inclusão da habilidade de fazer o double jump logo de raiz, e torná-la independente do equipamento escolhido.

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O arsenal de Dante

Apesar de a jogabilidade ter alguns altos e baixos, gosto mais deste jogo que o original pelo simples motivo de ser um jogo mais voltado para a acção, e não uma mistura estranha de um jogo de porrada com um jogo de exploração e puzzles. DMC2 continua a ser um jogo dividido em missões, embora desta vez os níveis não sejam contínuos entre si. As secret missions do jogo original não existem, passando a existir as secret rooms que como o próprio nome indica são salas secretas espalhadas nas missões. Nestas salas secretas apenas há combates normais, no fim do mesmo o jogador recebe uma recompensa sob a forma de várias orbs, orbs essas que mantêm as mesmas funções que serviam no jogo original. Infelizmente aqui a câmara apesar de não ser de ângulos totalmente fixos, a mesma continua a não poder ser controlada, o que resulta mais uma vez em nem sempre termos o melhor ângulo do caminho que queremos tomar e dos inimigos que temos pela frente. Graficamente Devil May Cry 2 está superior. Muitos dos níveis são passados em exteriores, que apesar de não serem exteriores tão detalhados, apresentam arquitecturas que pessoalmente me agradam. Desde edifícios rurais que me fazem lembrar algumas aldeias do interior do nosso País, passando para cidades abandonadas que parecem terem ficado congeladas desde os anos 50, até zonas urbanas que, apesar de novamente desertas e não tão agradáveis como as anteriores, não deixam de ser bonitas. Quando passamos para os interiores então sim, acho que são tão ou mais detalhados que os de DMC1, até porque ao contrário do jogo original, aqui as coisas são mais variadas.

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As cut-scenes geralmente utilizam o motor gráfico do jogo, mas também existem CGs

A nível de som, o jogo continua a ter uma boa banda sonora apropriada para os combates, quando surgem, passando de música ambiente para  musicas mais mexidas na onda de um rock/industrial/electrónico. O voice acting sinceramente achei-o competente. Apesar de a história ainda ser contada um bocado aos trambolhões, achei melhor que o jogo original. Devil May Cry 2 tem bastante conteúdo para desbloquear, desde vários níveis de dificuldade, novas roupas para Dante e Lucia (mais para Lucia), a hipótese de se jogar com a Trish de DMC1, e um novo modo de jogo de nome “Bloody Palace”. Bloody Palace é nada mais nada menos que um conjundo de “secret rooms” com vários inimigos e bosses repetidos ad aeternum. Ou então ao longo de 9999 níveis. Não tenho paciência para isso.

Para finalizar, Devil May Cry 2 é um jogo com os seus altos e baixos. Compreende-se que os fãs se tenham sentido desiludidos, mas na minha opinião não deixa de ser um jogo divertido, e até o prefiro ao jogo original. De qualquer das maneiras, pelo pouco que já joguei do DMC3 parece que a Capcom acabou por dar ouvidos aos seus fãs e melhorou muitos dos problemas que DMC2 trouxe.

Shadow Warrior (PC MS-DOS)

shadow warrior

A 3DRealms, por alturas em que estava a desenvolver o Duke Nukem 3D, estava também a desenvolver outros 3 FPS utilizando o mesmo motor gráfico Build, de Ken Silverman. Enquanto que Blood e Exhumed/Powerslave acabaram por ser vendidos a outras empresas que os terminaram, a 3D Realms manteve o seu Duke 3D e no ano seguinte (1997) presenteou-nos com este Shadow Warrior, um FPS igualmente repleto de humor e violência gratuita, mas num contexto mais oriental. A minha cópia foi comprada algures em 1999 na já extinta Gamestage, penso que no Norteshopping, e a par do Quake é dos únicos jogos antigos de PC que ainda guardei a sua caixa enorme de papelão.

Shadow Warrior PC
Jogo completo com caixa de papelão, caixa de cd e manual (incluido no livrete da caixa de cd)

Shadow Warrior decorre no Japão moderno, onde encarnamos Lo Wang, um poderoso guarda-costas que outrora trabalhava para a maior empresa do Japão, a Zilla Enterprises. A certa altura Lo Wang descobre que Zilla, o seu patrão tencionava controlar o Japão pelo uso de criaturas do oculto. Lo Wang não compactua com esta atitude e decide demitir-se, voltando ao seu dojo. O jogo começa precisamente com Lo Wang no seu dojo quando é assaltado por criaturas de Zilla com o objectivo de o assassinar. Assim sendo, Lo Wang não tem outro remédio senão partir ao ataque e derrotar Zilla ele mesmo. Pouco tempo depois de iniciar a sua jornada Lo Wang decide visitar o seu mestre no seu templo repleto de meninas bonitas e descobre que Zilla o assassinou, ganhando assim outro motivo para o derrotar.

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Bolinhos da sorte, também em Shadow Warrior.

Shadow Warrior introduz várias funcionalidades que viriam a ser popularizadas por outros jogos posteriormente, tais como modos secundários de fogo para várias armas, a possibilidade de conduzir veículos e disparar outras “turrets“, subir e descer escadas, entre outros. A interactividade com os objectos é algo que se manteve desde o Duke Nukem 3D, sendo possível interagir com máquinas de Pachinko, conduzir carrinhos tele-comandados, entre outros exemplos, como interagir com NPCs. De entre as armas existentes, é impossível não referir a óptima katana de Lo Wang (espada tradicional japonesa), capaz de cortar ao meio os inimigos mais fracos num só golpe, manchando as mãos e a espada de sangue, um outro detalhe inovador na época. Armas tradicionais japonesas existem também as shurikens que ficam presas às paredes e é possível a sua recuperação. Posteriormente temos as habituais shotgun, as metralhadoras Uzi que podem ser usadas num par, lança rockets com vários modos de fogo secundários, incluindo heat-seeking missiles e pequenas bombas atómicas que fariam Duke Nukem orgulhoso. Granadas, a metralhadora futurista “rail gun” e as chamadas “sticky bombs” que ficam espetadas nos inimigos ou paredes já seriam por si só um arsenal de respeito, mas Shadow Warrior vai ainda mais longe, permitindo usar certas partes de corpo de alguns inimigos como arma, nomeadamente a cabeça dos Guardians, disparando bolas de fogo de 3 modos diferentes, ou os corações dos Rippers, que colocam uma espécie de holograma de Lo Wang em campo de batalha matando tudo o que se mexe. Para além disso, mais uma vez tal como Duke 3D, existe um inventário de vários items que podem ser utilizados a qualquer altura, desde kits de primeiros socorros e estojos de ferramentas, passando por granadas de fumo, gás e flash, pregos para colocar no chão ferindo quem por lá passar, entre outros. Para além do jogo single player também era possível o jogo multiplayer, tanto online como utilizando a porta série para ligação a um outro PC. Permitia o jogo cooperativo, deathmatch e variantes e capture the flag.

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Um dos nossos "amigos" ninjas a esvair-se em sangue

Graficamente Shadow Warrior já era um pouco datado, pois em 1997 já os FPS inteiramente poligonais estavam a surgir em força. Shadow Warrior mantém os inimigos como sprites, mas os items, armas e restantes objectos passaram a ser representados em 3D (embora exista uma opção para os representar igualmente como sprites). Ainda assim, Shadow Warrior não deixa de ser um jogo com uma bonita estética, com cenários muito variados e relativamente coloridos. A atenção aos detalhes continuou a ser o grande foco da 3D Realms e mantiveram muitas das funcionalidades de Duke 3D. Para além da interactividade falada acima, a atenção que deram às animações das personagens é muito boa. Nunca me cansei de ver os ninjas a serem cortados em 2, ou quando uma shuriken ou bala lhes acerta na aorta e é só ver o sangue a jorrar e os pobres coitados a verem a sua vida a ir desvanescendo. Ah, estes ninjas se forem desonrados tiram a sua própria vida com um tiro de Uzi no céu da boca. Nunca percebi o que desencadeia este comportamento, mas às vezes acontece. Os mapas em si estão bem construídos e são bastante variados. Muitos são passados em zonas urbanas modernas do Japão, outros em zonas mais industriais e uns outros em zonas mais rurais indo buscando muito misticismo aos templos ocidentais e à arquitectura tradicional japonesa. Os inimigos também são variados, para além de ninjas de várias cores e habilidades, existem vários monstros do submundo, arqueiras femininas, gajos suicidas com uma caixa de TNT às costas, cuja morte geralmente liberta um fantasma, peixes carnívoros, entre outros.

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"Do you wanna wash Wang? Or do you wanna watch Wang wash Wang?"

Sonoramente Shadow Warrior é um jogo muito divertido. Os “bitaites” que Duke mandava em Duke 3D estão ainda mais engraçados neste jogo, com o sotaque oriental característico. A banda sonora incide mais em temas mais orientais, como seria de esperar. O humor perverso e negro é uma constante em Shadow Warrior. Meninas nuas (mas com tudo tapado) a tomar banho, mas ainda assim com espaço para guardar uma Uzi sabe-se lá onde, velhotas taradas, coelhos a andar livremente e com vontade “própria” de acasalarem uns com os outros, carros e veículos da marca “Titsubishi”, enfim os exemplos são vários, joguem e vejam.

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Sim, também aparece aqui.

Em 2005 a 3D Realms libertou o código fonte de Shadow Warrior, surgindo assim vários projectos de actualização do jogo por parte dos fãs. Conversões para windows, usando novas texturas em maior resolução são agora possíveis, tornando o jogo mais bonito. Infelizmente quando saiu o jogo já tinha uns gráficos algo datados o que se traduziu em vendas baixas, embora na minha opinião este Shadow Warrior seja um jogo mais completo e mais divertido do que Duke Nukem 3D. É um daqueles sleeper hits. Se forem fãs de FPS old school e gostaram do humor de Duke 3D, joguem este Shadow Warrior.