Worms (Sega Mega Drive)

Muitas memórias tenho eu de jogar Worms 2 ou Worms Armageddon com amigos, quer nas suas casas, quer mesmo nos computadores da escola! Ainda assim, é incrível como, após tantos anos a coleccionar, nunca tinha tido um jogo desta série na minha colecção. Isto porque com o foco no multiplayer que a série sempre teve, foi tendo cada vez menos importância para mim enquanto jogador. Mas como grande fã da Mega Drive, não resisti e acabei por comprar (finalmente) um exemplar do primeiro jogo da série nessa versão. Entrou na minha colecção algures em Julho deste ano, após o ter adquirido a um amigo meu por um preço bastante convidativo.

Jogo com caixa e manual

Desenvolvido originalmente para o Commodore Amiga, Worms apresenta um conceito simples. Até quatro equipas de minhocas militares combatem entre si em cenários gerados de forma aleatória, onde cada soldado tem o seu turno para, dentro de um tempo limite, se mover pela arena e atacar com a arma que entender. No fim, vence a equipa que tiver pelo menos um sobrevivente. As minhocas podem ser derrotadas de três formas: ao perderem toda a barra de vida, ao caírem na água ou se forem projectadas para fora da arena. A natureza bizarra de muitas armas, como projécteis de energia chamados de “dragon ball“, explosivos em forma de bananas ou ovelhas, acrescenta um humor peculiar, muito associado à tradição do ecossistema Amiga. O jogo teve sucesso, não só pelas inúmeras sequelas que gerou ao longo dos anos, mas também pelas várias conversões da versão original, incluindo a da Mega Drive, ainda que esta apresente algumas limitações. Mas já lá vamos.

Um dos problemas desta versão é o facto das minhocas serem todas idênticas entre si, independentemente da equipa a que pertençam

Os níveis são completamente destrutíveis, um elemento central da jogabilidade. Cada explosão abre crateras, e certas armas ou ferramentas podem ser usadas para escavar túneis, o que acrescenta uma forte componente estratégica. Afinal, quanto menos cenário houver, maiores são as hipóteses de uma minhoca cair à água. Até a eliminação de um inimigo pode ser perigosa, já que, ao perder toda a vida, cada minhoca detona um pequeno explosivo, capaz de danificar todos os que estejam por perto. A gestão do arsenal disponível é outra das preocupações. Armas mais comuns, como a bazuca (com que cada minhoca começa), a uzi, a caçadeira ou as granadas têm munição ilimitada. Outras mais poderosas, como as cluster bombs, o teletransporte ou os ataques aéreos, possuem usos limitados e exigem maior ponderação. De tempos a tempos, são lançados mantimentos por pára-quedas que trazem armas raras e devastadoras, inacessíveis de outra forma, como as bananas explosivas ou as célebres ovelhas. Estes itens tornam-se, assim, tesouros muito cobiçados. Por fim, há ainda o efeito do vento, em constante mudança, que influencia trajectórias de projécteis, embora algumas armas não sejam afectadas.

Uma das formas de derrotar as minhocas é mandá-las para a água, pelo que destruir certas secções do nível é também algo a considerar

A versão Mega Drive tem, no entanto, alguns pontos negativos. O mais notório é o facto de os níveis não serem gerados aleatoriamente, mas sim escolhidos de um conjunto pré-renderizado. Ainda assim, estes cenários apresentam alguma variedade temática, incluindo desertos, florestas, montanhas geladas ou paisagens marcianas, embora o original do Amiga oferecesse aparentemente muito mais opções. Outros aspectos menos positivos (que podem não ser exclusivos desta versão) incluem o facto de todas as minhocas serem visualmente idênticas, independentemente da equipa a que pertençam, o que torna essencial memorizar os nomes dos elementos do nosso esquadrão para manter o foco. Certas armas, como a caçadeira ou a uzi, podem também sofrer ricochetes quando disparadas a curta distância ou na proximidade de superfícies, causando muitas vezes mais dano ao jogador do que ao inimigo. Por fim, a barra de vida de cada equipa surge numa posição fixa no topo do ecrã, ficando frequentemente fora de vista quando a câmara acompanha a acção em zonas mais baixas do terreno.

A barra de vida de cada equipa está fixa no topo do mapa, portanto nem sempre fica visível

Visualmente, este é um jogo bastante simples, mas funcional. O reduzido tamanho das minhocas (algo que viria a mudar nas sequelas) remete claramente para a inspiração de outros jogos com origem no Amiga, como Lemmings. Ainda assim, apesar da escala diminuta, as minhocas exibem bastante personalidade, graças a animações que lhes conferem um sentido de humor característico. Os níveis, por sua vez, são simples, com apenas alguns detalhes gráficos ocasionais, mas destacam-se sobretudo pelo facto de serem totalmente destrutíveis. Já a paleta de cores mais limitada em relação a outras versões, bem como a menor variedade de cenários nesta edição, são fragilidades difíceis de ignorar. No que toca ao som, mantém-se a mesma simplicidade: para além de alguns efeitos sonoros do combate, apenas se ouvem curtas composições musicais nos menus.

Os modos de jogo são simples: podemos jogar uma partida amigável ou um campeonato. As partidas podem também ser bastante customizáveis nas regras e armas/equipamento permitido

Portanto, este primeiro Worms revelou-se uma experiência bastante agradável. Por um lado, foi bom regressar a esta série ao fim de tantos anos; por outro, mesmo que este título inicial (e em particular a versão Mega Drive) seja visivelmente mais limitado no aspecto audiovisual, a verdade é que a essência das mecânicas divertidas já estava presente. Se não tivesse tido acesso a um PC na segunda metade dos anos 90, consigo facilmente imaginar-me a passar bons momentos com os meus amigos a jogar esta versão. Hoje em dia, no entanto, existem muitas outras alternativas, mesmo para revisitar este primeiro jogo, que está melhor implementado noutras versões.

Alien Breed Special Edition 92 (Commodore Amiga)

Vamos voltar ao Commodore Amiga para mais um clássico. Lançado originalmente em 1991 pela Team 17 (que viria mais tarde a fundar a série Worms), Alien Breed era um shooter com uma perspectiva vista de cima e inúmeras influências retiradas dos filmes Alien, tal como a forma dos aliens que vamos defrontando inicialmente como dos próprios facehuggers que são iguais aos dos filmes. Nem sei como a 20th Century Studios não os processou! Entretanto no ano seguinte a Team 17 lança esta “Special Edition 92”, um lançamento budget que é na verdade uma espécie de expansão do primeiro jogo, incluindo no entanto mais níveis (12) que os seis do lançamento original. O meu exemplar veio do Reino Unido, trazido por um amigo meu algures no passado mês de Setembro e nem chegou a 4 libras.

Jogo com caixa, disquetes e manual

A história leva-nos ao longínquo ano de 2191, onde a humanidade evoluiu imenso na exploração do espaço. Nós controlamos um (ou dois caso joguemos em multiplayer) soldados que recebem a missão de investigar uma estação espacial que há muito deixou de transmitir qualquer informação ou sinais de vida. E de facto quando lá chegamos encontramos a base completamente invadida por extraterrestres super agressivos, pelo que em vez de salvar o que quer que seja, a nossa missão irá passar por ameaçar a ameaça extraterrestre e acabar por a destruir por completo. Toda esta exploração será feita ao longo de 12 andares, cada um o seu próprio nível e onde poderemos ter objectivos diferentes, seja o de destruir uma série de objectivos ou simplesmente o de sobreviver e encontrar a passagem para o nível seguinte.

Publicidades a outros jogos da Team 17? Sim vamos ver alguma

A jogabilidade é simples, com os controlos principais a levarem-nos a usar o joystick para movimentar a personagem e o seu botão de acção a disparar a arma que tenhamos equipada no momento. Existem no entanto algumas teclas de “suporte” que necessitamos de usar no teclado, como é o caso da tecla de espaço para interagir com terminais, a tecla M para activar/desactivar mapa caso o tenhamos comprado ou a tecla ALT para alternar a arma equipada. Para além das influências notórias dos filmes Alien, eu diria que o jogo tem também uma forte influência de títulos como o Gauntlet. Isto porque todos os níveis são bastante labirínticos, os aliens não param de fazer respawn, embora não ataquem em números tão elevados quanto no Gauntlet, e teremos também de encontrar múltiplas chaves que servirão para abrir as inúmeras portas que iremos atravessar.

Quaisquer semelhanças com os xenomorfos mais conhecidos do cinema não são mera coincidência

Explorar os níveis com cuidado é então obrigatório e poderemos também encontrar inúmeros itens, como as já faladas chaves, munições, itens regenerativos, vidas extra ou dinheiro. Ocasionalmente poderemos encontrar uma série de terminais que nos ligam ao sistema Intex, onde para além de podermos consultar informações úteis como os objectivos do nível actual e o seu mapa, temos também uma autêntica loja onde poderemos gastar o dinheiro que vamos amealhando ao explorar os níveis. Este pode então ser usado para comprar novas armas ou outras utilidades como conjuntos de chaves, vidas extra ou mapas portáteis. A versão original do Alien Breed ainda nos permitia jogar um clone de Pong, mas essa funcionalidade foi aqui retirada desta versão. De resto convém também mencionar que é um jogo bem desafiante, precisamente pelo facto de os inimigos estarem constantemente a renascer, o jogo ter os seus momentos sádicos com armadilhas como vidas extra falsas e claro, a natureza labiríntica dos níveis. É que muitas vezes depois de cumprirmos o objectivo do nível é activada uma sequência de auto destruição, onde teremos de navegar novamente pelo labirinto com poucos segundos para chegar à sua saída.

Ao explorar os níveis iremos encontrar diversos itens

No que diz respeito aos audiovisuais, este é um jogo interessante apesar de não ter uma grande variedade de cenários, pois o jogo passa-se inteiramente a bordo de uma gigante estação espacial. Ainda assim, a acção está constantemente acompanhada de efeitos sonoros atmosféricos no lugar de música, o que acaba por contribuir bem para o clima tenso. Temos alguns clipes de voz digitalizada com bastante qualidade e ouvir constantemente uma voz a avisar “destruction imminent” enquanto desesperadamente procuramos a saída do nível acaba por resultar muito bem. As músicas apenas existem em certos momentos como no ecrã título ou transições entre níveis e apesar de serem poucas em número são bastante agradáveis e bem conseguidas. O Alien Breed original possuía ainda uma disquete extra só para animações e cutscenes especiais, mas tal infelizmente não foi incluído nesta edição, até porque foi um lançamento barato e tal é até admitido nos créditos finais pela própria Team 17.

O dinheiro que juntamos pode ser usado para comprar novas armas ou outras utilidades

Portanto o Alien Breed é de facto um interessante jogo de acção para os sistemas Amiga e é fácil entender o porquê de ter tido bastante sucesso nos anos 90. Apesar de desafiante e por vezes frustrante, não deixa de ser um óptimo jogo de acção e a Team 17 conseguiu produzir inúmeras sequelas ao longo dos anos, incluindo autênticas maravilhas tecnológicas como eram os Alien Breed 3D, pois os Commodore Amiga nunca foram sistemas com hardware apropriado para videojogos poligonais. Anos mais tarde a Team 17 lançou também um reboot em 2009, trazendo a série para a modernidade, embora a recepção dos fãs e crítica já não tenha sido a melhor. Tenho essa “nova” trilogia algures na minha conta GOG para jogar um dia.

Leisure Suit Larry: Box Office Bust (PC)

Depois do decepcionante, porém com algum potencial, LSL Magna Cum Laude, a Vivendi ainda possuia planos para desenvolver mais um jogo da série, com Larry Lovage, sobrinho de Larry Laffer, como protagonista. Desenvolvido pelos britânicos da Team 17, os mesmos por detrás da famosa franchise dos Worms, este Box Office Bust acabou por sofrer vários atrasos na sua produção e, com a  própria Vivendi em maus lençóis, o que sobrou do seu desenvolvimento acabou por ser adquirido pela também britânica Codemasters. O jogo acabou mesmo por sair em 2009 para o PC, PS3 e X360, cujo meu exemplar acabou por ser comprado algures em 2012 na Game do Maiashopping, creio que por menos de 3€.

Jogo com caixa e manual

Tal como referido acima, este Box Office Bust coloca-nos novamente com Larry Lovage, sobrinho de Larry Laffer como protagonista. E desta vez é o próprio Laffer que nos incumbe de uma importante missão: trabalhar à paisana nos seus estúdios cinematográficos de forma a apanhar uma toupeira, que planeia sabotar o estúdio para dar vantagem à sua concorrência do outro lado da rua, os estúdios Big Anus. Sim, tal como todos os outros Larry este também possui imenso innuendo e referências sexuais. Mas enquanto os clássicos faziam-no de forma algo inocente, o Magna Cum Laude já era demasiado grosseiro, mas ainda com piada, este Box Office Bust é apenas grosseiro. Os diálogos continuam tão parvos como no Magna Cum Laude, mas aqui acho que se esforçam demasiado para a pouca piada que acabam por ter.

À esquerda, Larry Laffer, nada a ver com o original

Mas se a história não é nada de especial, ao menos que a jogabilidade fosse melhor, o que infelizmente não é o caso. O Magna Cum Laude já se tinha desviado bastante da fórmula dos LSL clássicos, mas o seu foco em mini-jogos (muitos deles maus) não o favoreceu. Aqui quiseram representar o jogo como uma espécie de open world, onde poderemos navegar pelo estúdio e ir completando algumas missões à medida que os seus ícones fossem surgindo no mapa do jogo. Infelizmente os controlos e as físicas são terríveis. Muitas missões são relativamente simples, ao incumbir-nos de tarefas típicas de um moço de recados ao transportar ou coleccionar objectos espalhados pelos cenários. Mas muitas destas missões obrigam-nos também a passar alguns desafios de platforming e apesar de Larry poder saltar, duplo salto, e saltar entre paredes à lá Ninja Gaiden, a implementação dos controlos deixa muito a desejar. Eventualmente teremos também de combater alguns inimigos e aqui o sistema de combate uma vez mais é completamente atroz. Mais lá para a frente teremos também alguns segmentos de shooting, e estes apesar de maus, já são um nadinha mais agradáveis.

A ideia de um jogo de acção/aventura open world nem me parece tão descabida, mas a jogabilidade acabou por ficar horrível

Ocasionalmente teremos alguns mini-jogos para participar, muitos deles envolvem QTEs mas, no caso da versão PC, todos os botões que surgem no ecrã são B1, B2, B3 e por aí fora, o que nos obriga a memorizar qual foi o mapeamento de botões que tenhamos configurado. Creio que o mini jogo mais interessante é o de realizar a parte final de alguns filmes, onde teremos de estar especialmente atentos ao diálogo e seleccionar uma de três câmaras disponíveis que melhor representem a acção. Muitas vezes apanhamos coisas estranhas a acontecer em background e, por muito tentador que seja mantê-las no filme, temos mesmo de o evitar fazer.

Ocasionalmente teremos de realizar alguns trechos de filmes, um mini jogo até que divertido

No que diz respeito aos audiovisuais, graficamente é um jogo que possui cenários simples, com texturas limpas, algo cartoony até, mas bem eficazes. É possivelmente o melhor que posso tirar daqui, pois os estúdios de Laffer são bastante diversos, com edifícios com diferentes propósitos e iremos inclusivamente sonhar com alguns filmes, sendo transportados para um Western, um filme de terror e um Titanic, o que acaba por dar uma maior variedade nos cenários a explorar. Por outro lado, quando olhamos para as personagens, quer para as mulheres que teoricamente deveriam ser bem sexy, quer para os homens, todos possuem caras e proporções horríveis, mesmo com o aspecto cartoon que o jogo tenta incutir. Até o próprio Larry Laffer não tem rigorosamente nada a ver com o seu visual clássico. O voice acting até que é bem competente, embora tal como já referi acima a narrativa deixa muito a desejar. O ponto mais positivo disto é mesmo a personagem do actor Damone Le Coque ser protagonizada pelo mesmo actor que dá a voz a Joe Swanson, o polícia paraplégico de Family Guy.

Neste Box Office Bust não há nudez. E sinceramente ainda bem pois todas as personagens são horríveis.

Portanto este LSL Box Office Lust é de facto um mau jogo que merece todas as más críticas que recebeu. Percebo o porquê da Codemasters o querer lançar pois o nome de Leisure Suit Larry ainda era algo popular, mas também percebo porque é que o jogo baixou tanto de preço e tão rapidamente. A ideia de ser um jogo de acção/aventura com mecânicas de open world nem é assim tão descabida quanto isso (seria bem preferível aos mini jogos chatos de Magna Cum Laude), mas a sua implementação foi simplesmente péssima. Certamente que foi mais um jogo inacabado a sair para o mercado.