Danganronpa 2: Goodbye Despair (Sony Playstation Vita)

Ao longo das últimas semanas, no pouco tempo livre de que fui dispondo, tenho vindo a jogar aos poucos este segundo Danganronpa. Tal como o seu predecessor, trata-se de uma visual novel que vai buscar algumas inspirações a jogos como a série Ace Attorney, embora apresente contornos bem mais sinistros e diversos elementos próprios na sua jogabilidade, como irei detalhar mais adiante. Também à semelhança do primeiro Danganronpa, este exemplar entrou para a minha colecção, creio que algures em 2017, após ter adquirido vários jogos a um conhecido meu, também coleccionador, por preços bastante convidativos para a época.

Jogo com caixa. Infelizmente manuais já eram incomuns nesta geração e este é um dos que não o traz de todo, até porque o jogo estava ainda selado.

A premissa deste jogo é muito similar à da sua prequela. Um grupo de jovens prodígios é convidado a tornar-se aluno de uma prestigiada escola secundária no Japão, famosa por garantir um futuro de sucesso a todos os que de lá se graduam. Contudo, mal colocam um pé na escola, os adolescentes perdem a consciência e acordam num local exótico: uma ilha paradisíaca, deserta, e sem qualquer memória de como ali chegaram. Encarna-se o papel de um desses alunos e rapidamente se descobre a dura realidade: os dezasseis adolescentes presentes na ilha são forçados a participar num jogo de vida ou morte, se quiserem regressar a casa. O vilão Monokuma dita as regras: um aluno deve assassinar outro e, uma vez descoberto o cadáver, existe um tempo limitado para recolher provas e testemunhos, seguindo-se um julgamento, sob a forma de uma acesa discussão entre os participantes. O objectivo é identificar correctamente o culpado. Se o veredicto for correcto, o assassino é executado; se, pelo contrário, conseguir iludir os restantes, todos os outros alunos são executados e o culpado é libertado. A única diferença de fundo entre ambos os jogos reside no local onde decorrem os acontecimentos. Se, no primeiro título, a acção tinha lugar no interior da própria escola (com janelas e portas devidamente tapadas e blindadas), nesta sequela exploramos um arquipélago de ilhas interligadas, que se vão desbloqueando gradualmente à medida que a história avança.

O que não faltam aqui são personagens bastante bizarras

A jogabilidade divide-se em três fases distintas: Daily Life, Deadly Life e Class Trial. A primeira consiste numa etapa puramente dedicada à exploração e socialização, durante a qual podemos investigar as novas zonas das ilhas e, ocasionalmente, usufruir de períodos livres que nos permitem interagir com qualquer um dos colegas, fortalecendo os laços com quem escolhermos. Invariavelmente, a narrativa conduz-nos à descoberta de um cadáver, dando assim início à fase seguinte. Nesta, devemos explorar cuidadosamente os cenários, em especial o local do crime e outras áreas relevantes, assim como recolher testemunhos e álibis dos nossos colegas. Assim que todas as pistas (aqui apelidadas de Truth Bullets) forem obtidas, o jogo convida-nos a dirigir-nos ao local do julgamento, iniciando-se, então, a última fase do capítulo. E é aqui que se regista uma maior divergência face à série Ace Attorney. Se, por um lado, temos igualmente de usar todas as provas, pistas e testemunhos recolhidos na fase imediatamente anterior, seja para identificar contradições, estabelecer raciocínios ou validar certas afirmações, a forma como o fazemos não podia ser mais distinta.

E mais de uma centena de coleccionáveis, incluindo alguns presentes bastante estranhos.

Ocasionalmente, bastará seleccionar a pista certa para sustentar uma afirmação, mas na maioria das vezes teremos de ultrapassar uma série de mini-jogos para fundamentar o nosso raciocínio. O mais comum é o Non-Stop Debate, onde assistimos a uma troca de ideias entre os protagonistas. Quando surge uma expressão relevante, devemos disparar uma das Truth Bullets recolhidas anteriormente para expor uma contradição (ou, por vezes, uma concordância) com base nessa prova. Mas há muitos outros mini-jogos com mecânicas bastante distintas, como o Logic Dive, em que descemos um “tubo” virtual sobre uma prancha de surf. Aqui, além de evitar obstáculos, é necessário tomar decisões lógicas ao escolher os caminhos certos. Mini-jogos como o Hangman’s Gambit ou o Panic Talk Action (este último com forte componente rítmica) marcam também o seu regresso, com algumas nuances novas.

Os julgamentos vão ser cada vez mais mirabolantes e cheios de reviravoltas, mas os diferentes mini-jogos e a música também contribuem para esse ritmo mais acelerado.

Ao longo dos julgamentos temos duas barras de energia a considerar: a de persuasão, que funciona essencialmente como barra de vida, e a de foco. A barra de vida diminui sempre que sofremos dano num dos mini-jogos mencionados ou quando fazemos uma escolha errada, embora se regenere parcialmente com decisões acertadas que tomarmos de seguida. Já a barra de foco permite abrandar temporariamente a acção e regenera-se automaticamente quando não está em uso. Existe ainda todo um conjunto de atributos que podem ser melhorados, como a extensão de ambas as barras, a velocidade com que se regeneram ou o “dano” que causamos em certos mini-jogos. Tudo isso é feito através do uso de skills que podem ser desbloqueadas e equipadas. Para as desbloquear, no entanto, é necessário fortalecer os laços com os nossos colegas, algo que pode ser feito nos tais períodos livres. Aí temos de conversar com eles, conhecê-los melhor e eventualmente oferecendo-lhes presentes. À medida que esses laços se estreitam, ganhamos pontos que podem ser usados para adquirir e activar estas habilidades. Existem diversos graus de dificuldade para estes mini-jogos que podem ser alterados nas opções, mas a dificuldade vai aumentando gradualmente à medida que avançamos na história.

O que também não falta aqui é conteúdo opcional e diferentes modos de jogo, incluindo uma nova incarnação do híbrido jogo de estratégia e dating sim do primeiro título

Tal como o seu predecessor, Danganronpa 2 apresenta-nos uma narrativa bastante peculiar. As personagens são bizarras, com backgrounds e personalidades completamente distintas entre si. E, embora muitos dos diálogos possam parecer inicialmente algo infantis, a verdade é que o mistério que envolve os alunos e aquele arquipélago vai-se adensando, e confesso que fui ficando cada vez mais curioso em saber como a história iria terminar. Os assassinatos tornam-se progressivamente mais complexos e mirabolantes, e desvendar o que realmente aconteceu, bem como as motivações do assassino, revela quase sempre grandes surpresas.

Para além da história principal, existe aqui muito conteúdo adicional. É possível revisitar qualquer capítulo previamente desbloqueado, havendo também uma grande quantidade de coleccionáveis para descobrir. Ao concluir a história principal, desbloqueamos uma pequena visual novel em tom de what if, protagonizada pelas personagens do primeiro Danganronpa, assim como o Island Mode, uma nova iteração do School Mode, uma espécie de jogo de simulação e estratégia onde temos de recolher recursos e construir diversos artefactos num determinado limite de tempo. Em cada dia, continuamos a ter períodos livres que nos permitem fortalecer os laços com os colegas. Um novo modo introduzido nesta sequela é o Magical Miracle Girl Monomi, um jogo de acção simples onde controlamos Monomi (uma das protagonistas e rival de Monokuma), enfrentando diversos inimigos e um boss no final de cada nível. Novos níveis vão sendo desbloqueados à medida que progredimos no jogo principal e exploramos novas ilhas. A jogabilidade é simples: com o botão quadrado, devemos circular os inimigos, desenhando à sua volta um círculo com cores de arco-íris. Uma vez cercados, é invocado automaticamente um ataque mágico que lhes causa dano. À medida que avançamos, podemos também recolher presentes, que funcionam como peças de equipamento para Monomi, que por sua vez lhe conferem melhorias estatísticas ou novas habilidades.

O Magical Miracle Girl Monomi é um outro modo de jogo adicional que desbloqueamos algures durante a aventura principal. Este sim, é um jogo de acção completo com ligeiras mecânicas de RPG

A nível audiovisual, não esperem por nada de extraordinário, pois Danganronpa 2 é, na sua essência, uma visual novel. Ainda assim, existem várias zonas que podem ser exploradas na primeira pessoa, embora com gráficos poligonais bastante rudimentares, herança do seu lançamento original na PSP. A movimentação nestas secções está longe de ser fluída, notando-se alguma rigidez nos controlos. Os cenários que exploramos com maior detalhe consistem em imagens estáticas, onde temos um ligeiro controlo de câmara e um cursor que nos permite interagir com objectos de interesse ou com outras personagens. A banda sonora, por outro lado, é bastante ecléctica, apresentando temas de vários géneros musicais, incluindo composições em chiptune que remetem para videojogos de outros tempos. No geral, trata-se de uma banda sonora agradável e eficaz no apoio à atmosfera do jogo. O voice acting pode ser alternado entre o original japonês e uma dobragem em inglês, que confesso ter ignorado, pois tento optar sempre por manter sempre as vozes originais.

Ocasionalmente teremos alguns cenários em 3D poligonal para explorar na primeira pessoa. Graficamente continuam a ser super simples e a movimentação está longe de ser a melhor.

No geral, Danganronpa 2 revelou-se uma aventura interessante, ainda que me tenha demorado uma eternidade a terminar, em parte porque quis explorar todos os extras incluídos. Já terminei RPGs bem mais curtos! A narrativa teve alguns bons momentos e, apesar de nem todos os mini-jogos presentes nos julgamentos serem particularmente cativantes, contribuem para uma jogabilidade variada e pouco repetitiva. Eventualmente irei jogar o terceiro título da série, ainda que não num futuro próximo, pois ao que tudo indica, esse terceiro título inclui ainda mais conteúdo do que estes dois primeiros capítulos.

Danganronpa: Trigger Happy Havoc (Playstation Vita)

Já há muito tempo que não trazia cá nada da Playstation Vita e num dos últimos fins de semana lá me decidi voltar a ligar a portátil da Sony e jogar mais um jogo do meu backlog. O escolhido foi mesmo este primeiro Danganronpa, um jogo inspirado em títulos como o 999 (também da Spike Chunsoft) e a série Ace Attorney da Capcom. O meu exemplar foi comprado a um coleccionador que vive perto de mim, mas já não me recordo ao certo quando o comprei nem quanto custou. Lembro-me que foi a um preço bem acessível!

Jogo com caixa

A história leva-nos a encarnar no papel de Makoto Naegi, um adolescente perfeitamente banal que a certa altura recebe o convite para entrar numa prestigiada escola secundária nipónica, acessivel apenas a uma pequena elite de adolescentes que são muitíssimo bons em alguma coisa. Por exemplo, dos seus colegas de turma encontram-se alunos mestres em artes marciais, programação, pop idols ou até líderes de um gangue de motards. Makoto foi escolhido à sorte para entrar na escola, recebendo então o título de “prodígio sortudo”. No entanto quando colocamos um pé na escola, Makoto perde os sentidos. Acorda mais tarde e, em conjunto com os seus novos colegas, dirigem-se à entrada da escola e apercebem-se que a mesma está barrada do exterior com portas blindadas. Todas as janelas do edifício estão também barradas e não há qualquer forma de contacto com o exterior. É aqui que entra Monokuma, um urso robótico que lhes dá as boas vindas e lhes apresenta um jogo macabro. Ou os alunos resignam-se a uma vida em comunhão entre todos e vivem o resto das suas vidas presos na escola, ou então assassinam alguém para terem a oportunidade de serem libertados. Quando há um assassinato, os alunos terão algum tempo de investigar a escola em busca de pistas, sendo depois levados a um julgamento, onde os alunos debaterão entre si o que se terá passado e quem é o culpado. Se descobrirem o culpado, essa pessoa será executada. Caso o assassino não seja descoberto este é então libertado, enquanto que todos os restantes colegas acabam por ser executados também.

Os corredores da escola são explorados livremente e na primeira pessoa. Mas sendo este um jogo lançado originalmente para a PSP, não esperem um detalhe acima da média

O jogo possui então várias mecânicas de jogo distintas, sendo estas demarcadas por três diferentes fases. A primeira fase corresponde à vida quotidiana dos estudantes. Aí poderemos explorar a escola livremente (com mais zonas a ficarem acessíveis à medida que vamos progredindo no jogo) e falar com os outros estudantes e criar mais alguns laços no meio de todo o caos. Isto até que eventualmente alguém descobre um cadáver e aí o jogo entra na segunda-fase: a de recolha de provas. Tanto a primeira como segunda fases deixam-nos movimentar livremente a nossa personagem pelos corredores da escola numa perspectiva de primeira pessoa. Sempre que entramos numa sala aí já estamos numa posição estática, podendo no entanto mover um cursor (e câmara) que nos permite interagir com outras personagens e certos pontos de interesse nos cenários, pontos esses que podem ser realçados ao pressionar o botão triângulo. Sempre que recolhermos tudo o que precisamos para ter sucesso, o jogo transita automaticamente para a fase do julgamento.

Já quando entramos numa sala a nossa posição é fixa, podendo no entanto manobrar a câmara até certo ponto. O cursor serve para interagir com personagens ou investigar pontos de interesse.

E aqui, ao invés de simplesmente copiarem a fórmula dos Ace Attorney, a Spike Chunsoft decidiu apimentar as coisas. Não há cá advogados e juízes, isto é literalmente uma questão de vida ou morte para todos os participantes, pelo que terá de haver um consenso entre todos e no final uma votação de quem é o culpado. Portanto teremos todas as personagens a discutir entre si e nós também teremos de argumentar o nosso ponto de vista do caso, sendo suportado por todas as provas e testemunhos que recolhemos anteriormente. E em muitos dos casos teremos de participar em certos mini-jogos, seja para contrariar argumentos de alguém e/ou para apresentar os nossos próprios argumentos, sendo que temos sempre um tempo limite para agir. Caso falhemos a nossa barra de vida vai diminuindo e esta poderá ir sendo regenerada com cada resposta certa que dermos a seguir. É um pouco complicado descrever todos estes mini jogos, mas digamos que envolvem tempos de resposta algo rápidos e um deles até envolve ritmo. As mecânicas vão sendo introduzidas em tutoriais e antes de cada julgamento poderemos inclusivamente equipar algumas skills que nos poderão ajudar em certos momentos. Por exemplo, ter mais tempo para responder, ou mais vida. Essas skills são adquiridas ao passar algum tempo com cada personagem, nos momentos de “free time” que o jogo nos dá. É uma pequena mecânica de dating sim para melhorar a nossa relação com as personagens onde até lhes poderemos dar alguns presentes.

O elenco de personagens é bastante diverso e por vezes bizarro

Quando terminamos o jogo principal, desbloqueamos ainda o School Mode que possui uma história alternativa e muito mais ligeira. Neste modo de jogo temos uma espécie de jogo de simulação/estratégia, onde Monokuma nos vai dando objectivos de construir novos robots dentro de prazos limite. Para isso teremos de colocar cada estudante a procurar recursos nas diversas divisões da escola, sendo que temos de ter também atenção à sua fadiga. Os itens que estes recolhem não servem apenas para construir as peças necessárias para o robot, mas também para criar vários itens de suporte como itens que regeneram a nossa barra de vida, outros que nos fazem subir de nível instantaneamente ou outros que potenciem a descoberta de materiais de diferentes géneros, para acelerar as coisas. Das primeiras vezes que jogamos este modo não conseguiremos de todo terminar todos os projectos, mas à medida que os estudantes vão ganhando experiência e aumentar os seus stats, passará a ser possível. Neste modo de jogo temos também alguns tempos livres onde poderemos aprofundar as relações com cada uma das personagens e assim conseguir completá-lo a 100%.

O método que usamos para encontrar contradições nos diálogos das personagens é no mínimo original. A bala seleccionada no canto inferior do ecrã representa o “tema” a argumentar, enquanto que as expressões a amarelo são os argumentos susceptíveis de serem interceptados, mas apenas uma combinação é a correcta.

A nível audiovisual estamos perante um jogo interessante, se bem que temos de nos lembrar que este é, na sua essência, um jogo de PSP, pelo que os poucos gráficos 3D que existem não são grande coisa, o que acontece quando exploramos na primeira os corredores da escola. De resto não deixa de ser uma visual novel, pelo que durante os diálogos vamos estar perante cenários estáticos e retratos das personagens com as quais vamos interagindo também sem grandes animações. Mas quando a acção transita para os julgamentos, tudo muda de figura. A começar pela banda sonora que é composta por música electrónica e que vai ficando cada vez mais acelerada à medida que os julgamentos se vão desenrolando, o que contribui de forma bastante positiva para a atmosfera. E a nível visual também fica tudo muito mais apelativo! Já no school mode não esperem por nada disto. No que diz respeito ao voice acting, o jogo permite-nos optar pela língua inglesa ou japonesa e eu obviamente que escolhi a segunda opção. Durante os diálogos “normais”, apenas ouvimos pequenas palavras ou sons proferidos pela personagem em questão, com a restante mensagem a surgir apenas em texto. No entanto, durante cutscenes importantes ou durante todos os julgamentos na íntegra, todas as falas são também narradas e aí não tenho nada a apontar, parece-me ser um trabalho competente (pelo menos na língua japonesa).

No final de cada julgamento a nossa performance é avaliada e somos recompensados com moedas (algumas podem também ser descobertas com a exploração). Moedas essas que podem ser utilizadas nesta máquina para coleccionar presentes que poderemos oferecer às outras personagens para mais nos aproximar-mos. Não é de todo obrigatório, mas algumas skills que desbloqueamos dessa forma ajudam bastante.

Portanto devo dizer que fiquei bastante agradado com este primeiro Danganronpa. Pegaram nos conceitos macabros de outros jogos da Spike Chunsoft como os Nonary Games e misturaram com a parte de investigação e argumentação dos Ace Attorney, no entanto com mecânicas de jogo inteiramente novas. Confesso que não sou o maior fã dos desafios baseados em ritmo, mas como um todo gostei bastante da aventura principal, principalmente pela sua história empolgante e o ritmo frenético a que se desenrolam os julgamentos. A ver se jogo a sequela em breve!

Zero Escape: The Nonary Games – Parte 2: Virtue’s Last Reward (Sony Playstation Vita)

O segundo jogo que vem na compilação Zero Escape: The Nonary Games é precisamente este Virtue’s Last Reward que irei abordar hoje. Tal como a sua prequela, este é um misto entre visual novel e aventura gráfica point and click, onde mais uma vez 9 pessoas, aparentemente escolhidas de forma aleatória, foram raptadas e deixadas numa espécie de complexo industrial, onde terão uma vez mais de participar num jogo de vida ou morte. Tal como tinha referido no artigo do 999, este meu exemplar do The Nonary Games foi comprado a um coleccionador, creio que em 2017, por um valor bastante em conta.

Jogo com caixa

Ora tal como referi acima, 9 pessoas foram raptadas e levadas para um complexo industrial, onde têm de jogar um jogo de vida ou morte e eventualmente desbloquear a porta número 9 para escaparem. As regras são um pouco diferentes da primeira aventura. Todos os participantes possuem na mesma uma pulseira electrónica capaz de os matar caso alguém quebre as regras do jogo, mas a maneira como eles terão de se dividir e ir explorando as diferentes salas é diferente. Já não temos de fazer combinações numéricas entre os participantes mas sim de cores, já o número de participantes (ou pulseiras) a passar por cada porta terá de ser sempre 3. Então, tal como no jogo anterior, a decisão de que porta atravessar e as equipas que deverão ser formadas é o que vai ditando o decorrer da história, culminando agora num de dezenas de finais diferentes. Mas a maior novidade é que no final de cada “ronda”, onde cada equipa explora a sua sala e resolve os seus puzzles, temos uma votação muito peculiar. Cada uma das equipas de 3, um par e um solo, são encaminhados para salas diferentes e fazer uma votação de confiança, onde podem escolher entre “ally” ou “betray“. Se ambos escolherem ally, ambos ganham 2 pontos. Se um escolher ally e o outro betray, quem escolheu betray ganha 3 pontos, mas quem escolheu ally perde 2. Por outro lado se ambos escolherem betray, ninguém ganha ou perde pontos. Tendo em conta que para abrir a tal porta 9 e vencer o jogo é necessário ter 9 ou mais pontos e quem tiver 0 pontos ou menos morre, a pressão é muita e irão haver muitas traições.

Algumas personagens são ainda mais bizarras que no primeiro jogo

De resto, tal como o 999, podemos dividir as mecânicas de jogo em duas fases distintas. A narrativa decorre toda como se uma visual novel se tratasse e é aí onde vamos tomar as decisões que irão ditar o curso da história. Já quando temos puzzles para resolver, aí o jogo já se comporta como uma aventura gráfica point and click onde, na primeira pessoa, teremos de explorar a pente fino todos os cenários, pegar em, interagir ou combinar objectos, bem como resolver uma série de puzzles para eventualmente conseguirmos encontrar a saída da sala e progredir na história. Mas tendo em conta que há dezenas de finais para desbloquear, este jogo acaba por ser bastante longo, até porque para desbloquear o final verdadeiro teremos de explorar todas essas ramificações da história, por vezes até mais que uma vez, para desbloquear certos pré-requisitos para a história avançar noutros pontos. A narrativa é ainda mais imprevisível que no jogo anterior, com o mistério a adensar-se à medida que vamos experienciando os diferentes finais, mas com as diferentes peças do puzzle a juntarem-se também à medida que nos vamos aproximando do final verdadeiro. Mas para lá chegarmos, vamos ter umas valentes horas de leitura pela frente. E no fim… tudo acaba por ser um prelúdio para o final da trilogia Zero Escape com o Zero Time Dilemma, que eventualmente hei-de comprar e jogar.

Tal como no seu percursor, temos também todas as mecânicas de jogo de um point and click, incluindo a possibilidade de observar e combinar objectos no nosso inventário

A nível audiovisual confesso que fiquei um pouco desiludido com esta sequela. A nível de som nada a apontar, as músicas não atrapalham e vão tendo o mood certo para cada situação e o voice acting, que uma vez mais está disponível o inglês e o original nipónico, também é bastante competente. Mas a nível gráfico o jogo desiludiu-me. Isto porque todos os cenários e personagens estão em 3D poligonal, mas com um nível de detalhe muito pobre. Quer dizer, em screenshots até parece bem competente, mas rapidamente nos cansamos de ver as mesmas animações e expressões faciais. É que para as personagens permanecem muito estáticas como é tradicional nas visual novels, mais valia, na minha opinião, manter as personagens em 2D como na sua prequela.

Zero Escape: The Nonary Games – Parte 1: Nine Hours, Nine Persons, Nine Doors (Sony Playstation Vita)

O artigo hoje irá incidir no primeiro jogo da trilogia “Zero Escape”. Lançado originalmente para a Nintendo DS como “Nine Hours, Nine Persons, Nine Doors”, foi posteriormente lançado em conjunto com a sua sequela “Virtue’s Last Reward” nesta compilação dos Nonary Games. A minha versão é a da Playstation Vita, versão norte-americana que comprei a um coleccionador que se estava a desfazer de parte da sua colecção, isto algures em 2017. Já não me lembro bem quanto custou, mas foi um bom negócio.

Jogo com caixa

Ora e este é um misto de jogo de aventura gráfica e visual novel, onde controlamos o jovem estudante universitário Junpei que se vê envolvido numa grande embrulhada. Ele e mais 8 pessoas foram raptadas e levadas a bordo um grande e antigo navio, onde terão de participar num sádico jogo de vida ou morte. Ele e os restantes participantes terão de cooperar entre si e atravessar as diferentes salas dos navios, resolver os seus puzzles e descobrir a saída, antes que o barco afunde ao fim de 9 horas. Cada participante tem uma pulseira electrónica com um número, número esse que é usado para, em conjunto com outros participantes, atravessar algumas portas específicas. Caso alguma regra seja quebrada, a pulseira emite um sinal que detona uma bomba que cada participante tem no seu corpo. Ora isto acaba por ser um jogo muito psicológico e os participantes, que aparentemente não se conhecem, terão de confiar uns nos outros, o que nem sempre irá acontecer. Faz lembrar um pouco os filmes Saw, embora não seja tão macabro.

Nos segmentos de exploração temos de interagir bastante com os cenários e resolver os puzzles que nos vão surgindo

O jogo está dividido então em duas mecânicas de jogo distintas. Por um lado temos todas as sequências de história, onde o mesmo se comporta como uma visual novel e eventualmente teremos de fazer algumas escolhas que influenciam o decorrer da história, bem como as mecânicas de jogo de aventura. Estas acontecem quando chegamos a alguma zona do navio onde temos de resolver uma série de puzzles para continuar. E tal como nas aventuras gráficas, teremos de percorrer os cenários a pente fino, procurar objectos, usar e/ou combinar objectos com outros objectos e eventualmente resolver uma série de puzzles, a maioria deles com enigmas mais matemáticos. Isto, em conjunto com as decisões que tomamos nos segmentos visual novel, irá levar-nos a um de vários finais diferentes.

O inventário permite-nos examinar e combinar objectos. Os fracos modelos poligonais são uma herança da versão original da Nintendo DS

A nível técnico não há muito a dizer. Como é habitual nas visual novels, os cenários são estáticos, tanto na exploração como nos diálogos, onde aqui também teremos imagens dos intervenientes na conversa. As músicas vão sendo bastante diversificadas mas algo tensas na sua maioria e no que diz respeito às vozes, temos a opção de ouvir o voice acting original em japonês, ou um outro em inglês. Acabei por optar pela primeira opção, embora as vozes em inglês estejam activadas por defeito. Tipicamente prefiro ouvir o voice acting original sempre que possível, e aqui não foi excepção.

Já nos segmentos de visual novel teremos sempre imagens algo estáticas das pessoas com as quais vamos dialogando

Mas o ponto forte deste jogo está mesmo na sua narrativa. Inicialmente há a aparência que todas as personagens que lá estão foram escolhidas aleatóriamente, mas à medida que avançamos no jogo, e principalmente à medida que vamos explorando os diferentes finais alternativos, vamos descobrindo que todas as pessoas estão naquela situação por um motivo e inclusivamente muitos se conhecem. Em cada final vamos então desvendando um pouquinho mais do mistério e para alcançar o final verdadeiro, para além de termos de conhecer todos os outros finais alternativos, temos também de preencher alguns pré-requisitos muito especiais ao longo da história. Mas é algo que compensa bem o esforço, pois a narrativa desenrola-se bastante e apesar de finalmente começarmos a ter mais respostas, na verdade terminamos o jogo com muitas mais questões por responder. O que me levará a jogar o Virtue’s Last Reward logo de seguida!

Steins;Gate Elite (Sony Playstation 4)

Vamos a mais uma rapidinha, desta vez para a Playstation 4 para aquele que é um remake de uma das visual novels mais interessantes que tive o prazer de jogar. O Steins;Gate original, uma visual novel com a temática das viagens fez bastante sucesso de tal forma que chegou a originar um anime que contava a mesma história do jogo. Este Elite é então um remake que conta a mesma história, mas agora com cenas do próprio anime, em vez das típicas imagens estáticas que geralmente nos são proporcionadas por este tipo de jogos. A história e mecânicas de jogo são semelhantes, pelo que recomendo a leitura da minha opinião da versão PS3 do lançamento original. O meu exemplar deste Elite foi comprado numa CeX algures no passado mês de Agosto por 12€, creio.

Jogo com caixa

Ora aqui temos na mesma a narração da aventura de Okabe Rintaro e seus amigos, que por acidente constroem uma espécie de máquina do tempo. As interacções que vão tendo com esta máquina vão ter repercussões no passado e o presente acaba por ser todo reconstruído, sempre de forma surpreendente e com repercussões de “efeito de borboleta” que ninguém estaria à espera. Eventualmente tropeçam também numa grande conspiração onde o SERN (CERN) estaria também a investigar a tecnologia de máquinas do tempo em segredo, com planos de controlar o mundo no futuro. A narrativa inicialmente irritava-me um pouco pela personalidade excêntrica de Okabe, a personagem principal, mas when shit hits the fan, as coisas ganham proporções épicas e isso devo dizer que gostei bastante. Esta versão mantém a história do original quase intacta, tendo sido retiradas algumas partes de certos finais alternativos, mas nada de muito relevante se perdeu. Ainda assim, este é um jogo para perdermos umas boas dezenas de horas, até porque temos uns quantos finais distintos para alcançar se assim o desejarmos.

As animações em vez de backgrounds estáticos dão uma outra vida à narrativa

No que diz respeito às mecânicas de jogo, bom, este é um visual novel, pelo que apenas temos de ler texto na maior parte do tempo. O original tinha um grande foco no uso do telemóvel para ler/enviar mensagens ou receber/fazer chamadas e era aí que poderíamos tomar decisões que levariam a história para finais distintos. Essas mecânicas foram agora um pouco simplificadas na medida em que já não podemos consultar o telemóvel sempre que quisermos. Mas sim é o próprio jogo que pára a história e nos mostra o telemóvel sempre que necessário para tomar acções, ou ignorá-las. Do ponto de vista audiovisual, o jogo possui o mesmo voice acting que me pareceu bem competente já no jogo original. Já da parte gráfica, bom, agora com vários clips do anime a acompanhar a narrativa já lhe dá de facto um outro dinamismo. Era bom que o primeiro já fosse assim, mas compreendo perfeitamente que o budget necessário para este nível de apresentação já seja outro.

A interface com o telemóvel foi simplificada, agora apenas o usamos quando o jogo bem entender

Portanto este Steins;Gate Elite é, para mim, a melhor maneira de apreciar esta história actualmente (devo dizer que não vi o anime). A apresentação bem mais dinâmica com sequências de animação é um ponto positivo que pesa bem mais que o facto de terem feito ligeiros cortes na história em si.