Vamos voltar agora à família Xbox para um jogo já exclusivo da actual geração de consolas. É um título curto e confesso que tem alguns problemas, mas também é um jogo marcante. Há aqui coisas que acontecem que dificilmente me irei esquecer! O jogo foi lançado originalmente em Outubro de 2022 para o PC e Xbox Series X, com uma versão PS5 a surgir um ano depois. Optei por comprar a versão Xbox em Março do ano passado visto que ainda não tinha em vista comprar uma Playstation 5 num futuro próximo, pelo que nessa altura infelizmente tive de importar o meu exemplar da Amazon americana, visto que a sua edição física estava já fora de circulação. No Outono desse mesmo ano acabei por comprar uma PS5 e reparei que o Scorn iria receber um reprint da sua versão física na Europa, pelo menos para a PS5, pelo que poderia ter poupado uns trocos e comprar antes essa versão se tivesse esperado, mas não havia como adivinhar, este é um jogo tão de nicho que não estava mesmo a contar que fosse lançada uma nova “fornada”. Ainda bem que o fizeram, é porque havia interesse para tal.

Este é um jogo que é inteiramente jogado na primeira pessoa e possui um conceito bastante peculiar. Basicamente estamos envolvidos num mundo muito estranho e bizarro (notoriamente inspirado pelos trabalhos do já falecido artista suíço Hans Ruedi Giger – criador do design do Alien, por exemplo) e onde encarnamos num humanóide que acorda nesse mundo bizarro e aparentemente abandonado. Grande parte do jogo é precisamente passada a explorar todo esse mundo que nos rodeia, com alguns puzzles ocasionais para resolver e eventualmente teremos alguns encontros com criaturas igualmente bizarras (ou até grotescas) pelo que quando isso acontece o jogo começa a assumir contornos de survival horror até porque os recursos são escassos e as armas que temos para nos defender não são propriamente a melhor coisa de sempre.
É difícil falar deste jogo com detalhe sem estragar a experiência para quem o vai jogar, mas posso dizer que o mesmo não nos dá nenhuma informação escrita em lado algum. Alguns dos puzzles podem parecer até algo complexos e é precisamente a exploração, observação cuidada dos cenários e tentativa-erro que nos vão permitir avançar na narrativa, ao desbloquear caminhos e habilidades, como a capacidade de abrir certas portas, por exemplo. Até aqui tudo bem, pois o jogo possui uma atmosfera muito bem conseguida e foi de facto um prazer explorar todos aqueles corredores escuros, sinistros e sinuosos. O problema para mim foi mesmo quando o combate começa a ser introduzido, pois este é francamente mau e é mau mesmo por escolha própria dos criadores do jogo, o que eu não concordo a 100% com a abordagem escolhida.

A primeira arma que desbloqueamos é uma espécie de um martelo pneumático, que tem um alcance muito reduzido e apenas o podemos utilizar duas vezes seguidas, precisando depois de esperar alguns segundos para que o mesmo recarregue. Como nada disto é explicado, é algo que iremos aprender com a tentativa-erro. A arma que apanhamos depois já é uma pistola, mas mesmo essa tem um caveat: precisamos de estar absolutamente estáticos para que a mira se foque e consigamos garantir que o nosso disparo será certeiro. No entanto, os primeiros inimigos “a sério” que encontramos possuem ataques de longo alcance que são bastante fortes e nos retiram uma percentagem elevada da nossa barra de vida e simplesmente demoram bastante a morrer com essas armas que nos dão inicialmente. Visto que as munições (e health kits) são bastante limitados, vamos mesmo ter de avaliar cada encontro se vale a pena ou não. Quando temos de enfrentar um inimigo de cada vez, rapidamente aprendemos que a melhor estratégia é aproximarmo-nos dele, atacar e correr novamente para longe, rezando para que não levemos com um ataque de longo alcance a meio. Quando começam a surgir mais do que um inimigo em simultâneo, a estratégia passa mesmo por usar bem os cantos para evitar os seus ataques e atacar de inteligentemente de forma a poupar munições e vida. Ou mesmo evitar o combate se possível!

Felizmente, as duas armas que apanhamos a seguir são mais poderosas e simples de utilizar, mas temos uma vez mais de ter em conta a pouca munição disponível. Para salientar ainda mais este fraco balanço que existe entre o jogador e os inimigos, lá na recta final vamos ter uns bosses para enfrentar que requerem uma estratégia própria para serem derrotados. Esses inimigos disparam-nos granadas e o dano provocado pelas mesmas é uma fracção do dano sofrido por ataques desses inimigos mais fracos que mencionei atrás. Isto aliado aos poucos checkpoints existentes, causaram-me alguns momentos de frustração, particularmente depois de ter apanhado a pistola, pois é aí que começam a surgir vários inimigos em simultâneo e muitas vezes teremos de passar pelos mesmos corredores estreitos e mais que uma vez, o que não nos dá muita margem de evitar o combate ou até de nos escondermos e atacar os inimigos de forma inteligente. Se as armas fossem um pouco melhores, ou o dano sofrido não fosse tão elevado nos inimigos mais básicos, teria sido uma experiência muito melhor, mesmo com a pouca munição e medkits disponíveis.

Mas se por um lado o combate é de longe para mim o ponto mais fraco do jogo, a exploração e toda a parte audiovisual é de longe a melhor e aquilo que me fez mesmo valer a pena o ter jogado, particularmente por ser um fã de toda a arte “biomecânica” que o senhor HR Giger nos trouxe ao longo da sua carreira. Sim, os cenários são sinistros e toda aquela arquitectura parece ter sido “crescida” naturalmente, e não simplesmente construída. Para quem viu o “Alien, o Oitavo Passageiro” (ou até os filmes mais recentes como o Prometheus), a nave onde os ovos dos alien são encontrados ilustra precisamente o tipo de arquitectura que vamos ver aqui. E depois todas as interacções que vamos ter com os cenários são marcantes, até porque o jogo tem vários momentos algo gore e bastante desconcertantes. Aquela recta final então que o diga! Para além de visualmente o jogo estar deslumbrante e representar muito bem esse estilo de arte muito peculiar e que eu tanto gosto, no som marca também pontos. Isto porque não temos quaisquer músicas, mas apenas todo o ruído de fundo de um ambiente sinistro, inóspito e desolador. É um jogo muito bem conseguido na atmosfera opressora que incute, o que acaba por ser ainda mais exacerbado pelo quão mau o combate é.

Portanto sim, este jogo é algo que eu recomende particularmente para quem gostar de Alien e da arte muito peculiar do senhor HR Giger. É uma aventura curta, embora como não há qualquer “ajuda” no que temos de fazer, contem que seja necessário perder umas horinhas extra só a explorar e resolver puzzles. O combate é infelizmente mau e visto que os checkpoints são espaçados, será algo que nos teremos mesmo de habituar, não havendo escape possível. Fico feliz por lançamentos mais de nicho como estes tenham tido direito a um lançamento físico, algo que infelizmente será cada vez mais raro na actual geração, a não ser através de limited runs da vida.

