Tempo agora para uma rapidinha a mais uma compilação retro para a Nintendo Switch, sendo que desta vez se trata da Castlevania Dominus Collection, uma compilação que traz os Castlevania lançados originalmente para a Nintendo DS (nomeadamente os Dawn of Sorrow, Portrait of Ruin e Order of Ecclesia). A acrescentar à compilação está não só a versão original arcade do Haunted Castle, bem como um remake (bem ao estilo retro) exclusivo desta compilação. Visto que já havia terminado (e trazido cá também) os jogos originalmente lançados para a Nintendo DS, este artigo vai-se focar exclusivamente nos Haunted Castle e ouros extras aqui incluídos na compilação.
Jogo com caixa e pequeno livrinho com breves descrições e imagens de cada jogo aqui presente
Ora e o Haunted Castle é um título original de 1988, onde encarnamos uma vez mais no Simon Belmont que vê a sua noiva ser raptada pelas forças do Drácula em pleno dia de casamento. Antes que Selena seja sacrificada, cabe-nos a nós salvá-la, sendo que para isso teremos de ultrapassar inúmeros obstáculos e inimigos. E como é habitual nos jogos arcade de acção 2D da época, este é um título bastante exigente, até porque mantém os saltos rígidos do Belmont e inimigos posicionados em locais estratégicos. Felizmente, tal como tem sido habitual nas outras compilações Castlevania que tenho trazido cá, as mesmas vêm trazem melhorias de qualidade de vida como save states e mecanismos de rewind. É por causa de jogos como este Haunted Castle que inventaram tal coisa!
O Haunted Castle original é uma das razões pelas quais se inventaram save states e rewind!
A nível de mecânicas tem também algumas ligeiras diferenças perante os Castlevania clássicos, começando por termos algumas armas secundárias distintas, como é o caso das bolas de fogo que têm um efeito similar ao da água benta. Para além disso, podemos ter alguns upgrades ao chicote, bem como novas armas principais que o substituem, como é o caso de um morning star (aprendi hoje que o seu devido nome em português é um chicote d’armas) ou uma espada. De resto, a nível audiovisual sinceramente até o acho um jogo bastante competente e bem detalhado para os padrões de 1988, com 6 cenários distintos entre si, bem detalhados visualmente e com toda aquela temática de filmes de terror clássicos, pela qual a série é bem conhecida. As músicas são também bastante agradáveis, sendo que reconheci ali uma versão da conhecida Bloody Tears.
O Haunted Castle Revisited mantêm a essência do original, mas com um grafismo mais detalhado e uma dificuldade mais balanceada
Para além da versão original do Haunted Castle, tivemos também direito a um outro miminho desenvolvido pelos feiticeiros da M2. Haunted Castle Revisited foi desenvolvido propositadamente para esta compilação e é uma espécie de remake do original, mantendo no entanto os seus visuais em 2D, simplesmente muito melhor detalhados e com outros bonitos efeitos gráficos aqui e ali. A nível de mecânicas os controlos são mais refinados, o sistema de armas secundárias foi revisto para incluir mais das armas conhecidas da série, como é o caso das facas ou machado. O sistema de power ups do chicote ou as outras armas principais que o substituem estão também aqui implementados.
Tal como noutras compilações da série, podemos escolher qual a versão regional que queremos jogar
Save states e rewind são no entanto coisas do passado, isso não existe aqui. No entanto, a dificuldade está mais balanceada. A nossa barra de vida é restabelecida na sua totalidade entre os níveis (isso não acontece na versão original) e aqui temos continues ilimitados e um sistema de checkpoints mais justo. Portanto é daqueles jogos em que se tivermos alguma dificuldade em passar um certo nível ou boss, é mesmo só uma questão de ganhar alguma práctica que eventualmente ultrapassamos o desafio. Não existem quaisquer níveis adicionais no entanto, pelo que continua a ser também uma aventura curtinha, mas muito agradável de se jogar.
Os jogos de DS, com os seus dois ecrãs, foram adaptados de forma curiosa nesta compilação. Em destaque a acção, com ecrãs secundários com o mapa e informações do estado da personagem que controlamos à direita.
A restante compilação possui bastante qualidade como tem sido o caso das anteriores, também trabalhadas pela M2. Para além de certos filtros gráficos que podemos definir por jogo, temos também acesso a diferentes versões regionais, como as originais japonesas, americana, europeias ou ocasionalmente até teremos versões coreanas em certos jogos. Todos eles possuem mecânicas de save state e rewind (excepto o Haunted Castle Revisited como mencionado acima). No caso dos metroidvanias da Nintendo DS, também temos acesso a uma espécie de enciclopédia com todos os inimigos e habilidades lá detalhadas. Para além disso, contem também com galerias de arte, que também incluem digitalizações dos manuais e arte das capas de cada um dos jogos aqui presentes, assim como as suas bandas sonoras na íntegra.
Portanto estamos aqui perante mais uma sólida compilação por parte da M2. Com os preços das versões físicas originais a subirem em flecha nos últimos anos, estas compilações apresentam-se sempre como uma maneira alternativa em jogarmos estes clássicos da Konami. Pena que os lançamentos físicos se tenham limitado à Limited Run Games no Ocidente, pois enquanto a prometida loja europeia não abrir, as despesas de transporte e aduaneiras representam sempre um custo considerável e acrescido a nós europeus. Para quem não gostar da LRG no entanto, estas mesmas compilações têm vindo a ser editadas novamente no mercado japonês, mantendo todo o seu conteúdo, pelo que poderão também ser alternativas viáveis.
Tempo de voltar à Nintendo Switch para mais um indie que acabei por adicionar à colecção. Publicado pela Devolver Digital, Carrion apresenta uma premissa invulgar: descrito como um ‘survival horror reverso’, trata-se, na verdade, de um metroidvania em 2D onde controlamos uma criatura monstruosa em fuga do seu cativeiro, devorando todos os humanos que se atravessam no caminho. Adquiri o meu exemplar em Junho de 2023, num pack conjunto com outro título da mesma editora (Gris) por cerca de 30€.
Jogo com caixa e pequeno livro com arte
Como referi acima, em Carrion controlamos uma criatura bizarra, repleta de dentes e tentáculos, que escapa do seu confinamento numa instalação científica onde era alvo de estudos. Para conseguir fugir, teremos de enfrentar guardas armados e diversas defesas, como drones, sendo que muitos dos humanos, especialmente os desarmados, servem também de sustento, permitindo recuperar energia e fazer com que o monstro cresça em tamanho.
Carrion é um jogo diferente, na medida em que controlamos o “vilão”, que neste caso é uma criatura monstruosa
Tal como é habitual nos metroidvanias, o mundo de Carrion encontra-se totalmente interligado, e à medida que vamos explorando adquirimos novas habilidades que nos permitem ultrapassar certos obstáculos. Zonas já visitadas podem (e devem) ser revisitadas, pois escondem segredos que só se tornam acessíveis com determinadas capacidades. Os controlos, no entanto, são bastante particulares, tendo em conta a forma amorfa da criatura que comandamos. Podemos deslizar livremente por qualquer superfície com o analógico esquerdo, enquanto o analógico direito direcciona um dos muitos tentáculos, funcionando como um cursor. Estes tentáculos permitem interagir com objectos ou agarrar inimigos, bastando depois pressionar o gatilho ZR. Por exemplo, para devorar um cientista, basta guiar um dos tentáculos na sua direcção, agarrá-lo (ZR) e levá-lo até uma das várias bocas que vamos adquirindo. Para accionar interruptores, o processo é semelhante: apontamos, agarramos e movemos o analógico na direcção pretendida. Este sistema, embora engenhoso, não está isento de problemas. Por um lado, em momentos de maior tensão, nem sempre é fácil agarrar o objecto ou inimigo desejado, sobretudo quando estamos sob fogo cerrado. Isto porque apesar de controlarmos uma criatura grotesca e poderosa, a sua barra de vida esvai-se rapidamente quando é atingida por balas ou chamas. Por outro lado, à medida que a criatura cresce, torna-se mais difícil de a controlar com precisão: nunca sabemos ao certo qual dos tentáculos irá responder ao nosso comando, o que pode tornar certas interacções frustrantes.
Em certas alturas teremos alguns combates mais desafiantes que ou exigem reflexos rápidos, ou uma abordagem mais cuidada e metódica, recorrendo às diferentes habilidades ao nosso dispor
Os restantes controlos envolvem o botão ZL, que permite à criatura soltar um rugido (útil tanto para assustar ou atrair inimigos humanos como para indicar a direcção dos pontos de save mais próximos) e os botões L, R e X, usados para activar as diversas habilidades que vamos adquirindo. A criatura possui três estágios de evolução, desbloqueados progressivamente ao longo do jogo. Cada estágio dá acesso a um conjunto específico de capacidades, mapeadas para os botões L (habilidades defensivas) e R (habilidades ofensivas). As defensivas incluem, por exemplo, invisibilidade temporária, o crescimento de espinhos ou o endurecimento da pele para resistir a dano. Já as ofensivas vão desde o lançamento de teias que imobilizam inimigos, a investidas de carga (que também servem para destruir certos obstáculos), até tentáculos em forma de lança, capazes de causar dano devastador. O botão X activa uma habilidade especial: o parasitismo. Esta capacidade, utilizável em qualquer estágio evolutivo a partir do momento em que é desbloqueada, permite tomar controlo temporário de um inimigo humano. Ao pressioná-lo, a criatura permanece imóvel, e o analógico esquerdo comanda um tentáculo especial que, ao entrar em contacto com um humano, nos permite manipulá-lo enquanto se mantiver “vivo”. Esta habilidade é essencial não só para resolver certos puzzles, como também para ultrapassar, de forma mais criativa, alguns dos desafios de combate mais exigentes.
É precisamente nesta combinação entre habilidades e um esquema de controlo invulgar que Carrion se destaca, exigindo do jogador tanto destreza como raciocínio. Muitas vezes, teremos de alternar entre os diferentes estágios evolutivos para aceder a habilidades específicas — algo que só é possível ao depositar ou recuperar biomassa em pontos próprios para o efeito. Com frequência, o jogo obriga-nos a enfrentar segmentos desafiantes na nossa forma mais fraca, o que exige uma abordagem mais inventiva e o uso eficaz dos recursos disponíveis.
À medida que a criatura vai crescendo, também se pode tornar mais difícil de controlar em espaços mais fechados
Visualmente, Carrion é também bastante interessante. Trata-se de um jogo inteiramente em 2D, com um estilo artístico baseado em pixel art, exactamente como gosto. Os cenários apresentam uma variedade considerável entre si e a arte, apesar do seu aspecto retro, é complementada por efeitos de luz muito bem conseguidos, criando um contraste eficaz e visualmente apelativo. A criatura que controlamos é uma verdadeira amálgama de carne viva, tentáculos e dentes (muitos dentes!), e o jogo não tem qualquer pudor em impressionar nas cenas mais gráficas. Deixamos manchas de sangue por onde quer que nos movamos, podemos agarrar humanos e projectá-los contra paredes, o que, para além de gerar um resultado sangrento, salienta também as físicas tipo “bonecos de trapos”, com corpos inanimados a oscilar grotescamente presos aos nossos tentáculos. Toda esta violência estilizada é acompanhada por uma atmosfera sonora muito bem conseguida, com faixas predominantemente ambientais que ajudam a reforçar o tom opressivo e solitário da exploração, alternando com composições mais tensas em momentos de maior acção. Não há voice acting, para além dos gritos de pavor dos humanos, e a narrativa é apresentada de forma extremamente minimalista, uma escolha deliberada que funciona bastante bem dentro da proposta do jogo.
Visualmente é também um jogo impressionante na maneira em como utiliza gráficos 2D no estilo pixel art, muitíssimo bem detalhados e animados, com bonitos efeitos de luz.
Carrion revelou-se uma experiência bastante agradável, apesar de alguns problemas ocasionais com os controlos em certas secções. Durante os combates mais exigentes, dei por mim a optar por abordagens mais indirectas, tirando partido das habilidades disponíveis, algo que suspeito que terá sido mesmo intencional por parte da equipa de desenvolvimento. Ainda assim, houve momentos menos conseguidos, como um puzzle em particular que exigia accionar três interruptores em sucessão, dentro de um tempo limite apertado, e que se revelou especialmente frustrante. Fora isso, trata-se de um metroidvania excelente, com um gameplay original e envolvente. Apesar de relativamente curto, esse facto não jogou contra a experiência, pelo contrário, o ritmo e a duração pareceram-me bastante bem ajustados. No meu caso, tive também acesso a um pequeno DLC incluído na versão para a Switch: uma aventura independente, ainda mais breve, passada durante o período natalício. Não sei se estará disponível em todas as versões, mas foi um bónus bem-vindo.
Ao longo das últimas semanas, tenho jogado, aos poucos, os títulos disponíveis no terceiro volume da compilação Valis: The Fantasm Soldier Collection, lançada originalmente pela Edia em Julho de 2023 no Japão, com versões localizadas em inglês a ficarem disponíveis algures durante o ano seguinte. Os jogos que compõem este volume são as adaptações do primeiro Valis para o sistema NEC PC-88, assim como a sua versão Famicom, radicalmente diferente das restantes. Temos também Valis II para o MSX2, uma versão largamente superior à adaptação do primeiro Valis no MSX1, Valis III para a Mega Drive (que já analisei anteriormente, portanto não será aqui abordado) e, por fim, a versão Super Nintendo de Valis IV. Tal como aconteceu com os dois volumes anteriores, a Limited Run Games lançou uma edição em formato físico, que me chegou às mãos algures no final do ano passado.
Jogo com caixa e um pequeno livrete com detalhes básicos de cada jogo presente nesta compilação.
Começando pelo primeiro Valis para o sistema PC-88, aproveito para corrigir uma imprecisão na minha análise ao volume anterior, onde mencionei que a versão MSX seria a original. Isso, aparentemente, não corresponde à verdade, apesar dessa versão ter uma data de lançamento anterior à de PC-88, segundo a Wikipédia no momento da escrita do referido artigo. Supostamente (e de acordo com os próprios criadores do jogo) a versão PC-88 é a original, até porque possui todo o conteúdo inicialmente planeado, enquanto a versão MSX perde uma série de níveis e todas as sequências no estilo anime. Na verdade, esta versão PC-88 herda todas as mecânicas da versão MSX que já abordei anteriormente, com níveis longos, labirínticos, e uma avalanche de inimigos que nos atacam continuamente vindos de todas as direcções. As esferas de energia que estes largam servem para restaurar e expandir a barra de vida de Yuko, sendo que os power-ups de armas que podemos encontrar consomem parte da vida/experiência que vamos amealhando. Tudo isto, aliado a um scrolling pouco fluído, mecânicas de salto bastante obtusas e à ausência de frames de invencibilidade após sofrer dano, torna esta experiência particularmente penosa, ao ponto de mesmo as funcionalidades de save state e rewind introduzidas pela compilação pouco ajudarem.
Apesar de mais bonito que a versão MSX, esta versao PC-88 é bem mais frustrante de se jogar!
Ainda assim, a nível audiovisual e para os padrões de 1986, trata-se de um lançamento notável. Confesso que nunca tinha jogado nada de PC-88 antes deste título, pelo que não tenho grande base para tecer comparações dentro da plataforma, mas, comparando com videojogos contemporâneos de outros sistemas, este Valis é de facto impressionante, não só pelos seus gráficos detalhados para a época, como também pelas sequências no estilo anime que vão surgindo entre níveis. O tema principal é também uma melodia bem agradável e memorável, com a interpretação nesta versão PC-88 a resultar particularmente bem, graças à tecnologia FM dos seus chips de som. No entanto, a versão MSX, apesar de visualmente inferior e privada de grande parte do conteúdo, acaba por ser mais jogável, graças à acção mais lenta e ao menor número de inimigos em simultâneo no ecrã.
Acredito que esa versão PC-88, para os padrões de 1986, tenha impressionado pelas suas sequências animadas!
Segue-se a versão Nintendo Famicom do primeiro jogo da saga. Desenvolvida pela Takuma Soft, esta adaptação é inteiramente distinta da original. Em vez de um jogo puramente de acção, a abordagem aqui seguida aproxima-se mais da de um action RPG, na medida em que o mundo que exploramos está todo interligado e vamos desbloqueando uma série de itens que fortalecem a personagem. As mecânicas são simples, com um botão para saltar e outro para atacar. O seu maior problema reside, no entanto, no facto de o mapa ser um autêntico labirinto, extremamente confuso. Por exemplo, duas saídas completamente distintas podem levar ao mesmo local, enquanto outras são de sentido único, transportando-nos para zonas diferentes se quisermos voltar atrás. Isto, aliado ao facto de não termos vidas, os itens regenerativos serem raros e os inimigos ressurgirem constantemente, torna esta numa experiência bastante frustrante. Para se ter uma noção do quão confuso o jogo é, precisei de seguir em simultâneo um guia escrito e um outro em vídeo para garantir que não me perdia! Visualmente, é uma entrada mais modesta na série, embora as adaptações da banda sonora ao chiptune da NES até resultem consideravelmente bem.
A versão Famicom é um jogo inteiramente de qualquer outro! Igualmente frustrante pela maneira labiríntica e confusa com o seu mundo se interliga, para além dos inimigos renascerem constantemente e itens de vida serem raros.
Em relação ao Valis II, versão MSX2, esta é também consideravelmente diferente das versões para a Mega Drive e PC Engine CD que já cá trouxe no passado. Tal como a Falcom fez com o Ys IV, a Telenet Japan comissionou dois estúdios distintos para produzirem versões separadas: a Laser Soft ficou responsável pela versão PC Engine, enquanto a Renovation desenvolveu as versões lançadas para computadores exclusivamente nipónicos, como é o caso da versão MSX2 aqui incluída nesta compilação. Também aqui se notam certas influências de RPGs de acção, na medida em que vamos coleccionando diferentes uniformes, armas e itens especiais que conferem à personagem habilidades distintas. Apesar de a história ser essencialmente a mesma, os níveis em si são completamente diferentes das outras versões.
A versão MSX2 do Valis 2 é tecnicamente muito superior à do seu sistema predecessor. Infelizmente ainda não se joga muito bem, mas não deixa de ser também curioso o quão diferente é.
A nível técnico, esta versão para MSX2 é largamente superior ao seu predecessor no sistema MSX original. O jogo apresenta-se muito mais colorido e detalhado, ainda que o scrolling continue longe de ser fluído e o sistema de detecção de colisões nem sempre seja o mais amigável. Entre níveis, somos presenteados com cenas animadas que fazem avançar a narrativa, e estas são consideravelmente mais longas, detalhadas e bem animadas do que as da versão PC Engine CD, faltando-lhes apenas voice acting. Como também é habitual em muitos jogos de computadores japoneses da época, estas cenas são mais violentas e com alguma nudez, sendo que esta última acabou por ser censurada nesta versão nesta compilação. Esta adaptação foi originalmente lançada no MSX2, PC-88 e PC-98, com uma versão posterior para o Sharp X68000. Esta última, segundo consta, é excelente, pelo que é uma pena não estar incluída nesta compilação.
Aqui temos também a possibilidade de equipar Yuko com uma série de uniformes, armas e outros itens que lhe confiram habilidades especiais.
Por fim, resta-me mencionar a versão Super Nintendo do Valis IV, aqui intitulada Super Valis IV. Tal como Castlevania: Vampire’s Kiss foi uma adaptação consideravelmente distinta do original para PC Engine CD, também este Super Valis IV segue uma aproximação semelhante. Embora herde níveis, história e conceitos da versão original, o resultado final é um jogo radicalmente diferente. A começar pelas personagens jogáveis: onde anteriormente tínhamos três personagens, cada uma com habilidades distintas como o slide ou o duplo salto, aqui controlamos apenas Lena, que não possui nenhuma dessas capacidades.
O sistema de magias foi igualmente revisto, substituindo o modelo original por um sistema de power-ups acumuláveis. Os últimos seis que tenhamos recolhido permanecem disponíveis para serem utilizados a qualquer momento. Muitas dessas magias correspondem aos ataques especiais que, na versão original, estavam atribuídos às outras personagens agora ausentes. Por defeito, Lena pode atacar com a espada ou lançar projécteis de munição ilimitada, sendo que os restantes ataques mágicos possuem utilizações limitadas. Um outro detalhe interessante é o facto de a barra de vida dos bosses variar consoante o nosso desempenho ao longo de cada nível.
A versão Super Nintendo deste jogo é consideravelmente diferente do original, mas não é um mau jogo de todo.
Naturalmente, os níveis foram todos redesenhados, tendo em conta que já não existem múltiplas personagens jogáveis com habilidades distintas entre si. Graficamente, o jogo é bastante competente, com cenários muito coloridos, bem detalhados e repletos de efeitos visuais interessantes, como várias camadas de parallax scrolling e transparências. Por outro lado, perdemos todas aquelas belíssimas cenas anime que iam avançando a narrativa. Aqui, contamos apenas com breves sequências no início e no final do jogo, o que é uma pena. A banda sonora mantém-se excelente, repleta de temas enérgicos. A Super Nintendo até se saiu surpreendentemente bem na recriação dos temas mais rock desta composição. Em suma, esta adaptação de Valis IV apresenta pontos positivos e negativos, mas, sinceramente, mesmo sendo graficamente mais avançada, continuo a preferir a jogabilidade e as cenas animadas do lançamento original.
Acho super interessante estes scans do material original!
De resto, cada jogo desta compilação possui as mesmas funcionalidades dos volumes anteriores: contamos com um sistema de rewind, save states e controlos personalizáveis. Para além disso, podemos consultar uma adaptação para inglês dos manuais de cada jogo, seguida dos scans dos manuais, caixa e cartucho/disquetes dos lançamentos originais. As cenas animadas e a banda sonora de cada jogo podem também ser visualizadas livremente, a par de alguns trailers ou anúncios televisivos em certos títulos, algo que, sinceramente, me passou despercebido nas compilações anteriores.
Portanto, para quem for um fã acérrimo da série Valis, tem aqui mais uma compilação interessante que nos traz diversas variantes dos seus títulos. Ainda assim, se a Edia queria realmente dividir tudo isto em três volumes, talvez tivesse feito mais sentido organizar as versões da seguinte forma: o primeiro volume dedicado às edições para PC Engine CD, o segundo às versões lançadas para Famicom, Mega Drive e Super Famicom, e um terceiro volume exclusivamente para adaptações em computadores nipónicos, onde a inclusão da versão Sharp X68000 do Valis II teria sido uma mais-valia.
Muito recentemente joguei o 2064: Read Only Memories, uma agradável surpresa não só pelos seus visuais retro, mas também pela inspiração bastante vincada em títulos como Snatcher, do qual sou igualmente fã. Apesar de inicialmente planear jogar esta sequela, Neurodiver, algumas semanas após o seu antecessor, acabei por decidir levá-lo já comigo na Nintendo Switch, dado que tenho passado algum tempo fora de casa nos últimos dias. E, tal como já tinha lido aqui e ali, infelizmente este é um jogo consideravelmente diferente e, na minha opinião, não tão bom quanto o seu antecessor. Mas já lá vamos.
Compilação com caixa e um papel com códigos de descarga da banda sonora de ambos os jogos
Neurodiver decorre vários anos após os acontecimentos do título anterior e apresenta-nos uma nova protagonista: a jovem agente ES88, uma esper ao serviço da agência Minerva. O termo esper é relativamente popular no Japão e já foi utilizado em diversos videojogos, como é o caso de Psychic World, que também trouxe recentemente aqui ao blogue. De forma simples, um esper é alguém com habilidades extra-sensoriais, como telepatia ou telecinese. No caso específico de Neurodiver, estas capacidades permitem aos espers entrarem nas mentes das pessoas para recuperar memórias perdidas — seja devido a trauma, seja por interferência de outros espers. É precisamente essa a base do jogo: após alguns casos introdutórios que servem para nos familiarizar com as mecânicas, somos incumbidos de uma missão mais séria. Os nossos superiores encarregam-nos de localizar a Golden Butterfly, uma entidade psíquica aparentemente bastante poderosa que tem vindo a corromper memórias de várias pessoas. Curiosamente, muitas dessas pessoas são personagens que já conhecemos de 2064… Curiosamente, muitas dessas pessoas são personagens que já conhecemos de 2064. Infelizmente, apesar de o conceito do jogo ser bastante interessante, a narrativa nunca atinge a mesma intensidade do seu antecessor, ficando-se por algo mais contido. É também um jogo consideravelmente mais curto.
O Harold é talvez a melhor personagem deste universo!
Já no que diz respeito às mecânicas, enquanto 2064 era uma aventura gráfica mais tradicional, que nos exigia explorar ambientes, interagir com objectos e falar com diferentes personagens, Neurodiver aproxima-se mais do formato de uma visual novel, sendo também bastante linear. Apesar de surgirem ocasionalmente algumas opções de diálogo, estas raramente influenciam de forma significativa o desenrolar da narrativa. Há ainda algumas mecânicas de point and click, desta vez com controlo directo de um cursor que nos permite seleccionar elementos nos cenários e interagir com as personagens presentes. No entanto, o grau de interacção é bastante limitado, pois não temos liberdade de escolha quanto à acção a realizar. Por vezes recolhemos objectos, mas o seu único propósito é “desbloquear” memórias corrompidas nas mentes das pessoas que tentamos ajudar. A mecânica funciona de forma simples: ao entrarmos na mente de alguém, eventualmente encontramos objectos distorcidos que não pertencem ao cenário, representando memórias alteradas. Para as restaurar, temos de associar esses elementos aos objectos que tenhamos recolhido anteriormente durante a exploração. É um conceito interessante, mas o processo acaba por ser demasiado simples e pouco desafiante.
A escolha de uma paleta de cores mais limitada só me faz lembrar da Mega Drive!
Visualmente, este Neurodiver é, para mim, um jogo bastante apelativo e, sem dúvida, o seu maior ponto forte. Tal como o seu antecessor, apresenta um estilo retro repleto de pixel art detalhada e muito bem executada. É um verdadeiro hino à geração dos 16-bit, e atrevo-me a dizer que é também uma homenagem à própria Mega Drive, com a sua paleta de cores mais contida e os tons geralmente mais escuros, algo muito característico da máquina de 16-bit da Sega. Mesmo no que toca à banda sonora, arriscaria dizer que muitas das composições aqui presentes evocam o chiptune típico dessa consola. São músicas, no geral, bastante agradáveis de se ouvir e, mais uma vez, contamos com um voice acting competente, que acompanha a maioria dos diálogos ao longo da aventura.
O que fizeram ao/à Tomcat!
Portanto, apesar dos seus excelentes visuais retro e de um conceito interessante para a história, não deixo de ficar algo desiludido com este Neurodiver. Para quem gostou do antecessor, é importante ter em conta que este é um título bastante diferente, com mecânicas de jogo muito mais simplificadas e uma experiência consideravelmente mais curta. Os puzzles são demasiado simples, as escolhas que fazemos têm poucas consequências distintas e, apesar da inclusão de várias personagens do jogo anterior ser bem-vinda, essa presença acaba por acrescentar pouco à narrativa ou à evolução das personagens. Já para não falar do quão diferente a personagem Tomcat (e de certa forma a Jess também) se tornou neste jogo.
É tempo de continuar a explorar jogos de aventura, desta vez com um indie bastante interessante que teve o seu lançamento original para PC em 2015. Já tinha uma cópia digital deste título na minha conta Steam há alguns anos, provavelmente vinda de algum indie bundle comprado ao desbarato, e há muito que ponderava jogá-lo, mas tal nunca chegou a acontecer. Pelo meio, foram sendo lançadas algumas edições físicas, tanto deste jogo como da sua sequela, Neurodiver, através de tiragens limitadas que sempre me passaram ao lado. No entanto, algures no ano passado, vi que a Serenity Forge iria relançar não só a versão “completa” de 2064, como também a sua sequela Neurodiver, num único cartucho e desta vez já não me escapou! Este artigo incidir-se-á apenas sobre o primeiro jogo. Planeio jogar o Neurodiver algures nas próximas semanas e, mais tarde, escrever também sobre a sequela.
Jogo com caixa e códigos de download para a banda sonora de ambos os títulos
Mas afinal, o que é este 2064: Read Only Memories? Trata-se de uma aventura gráfica ao estilo point and click, com uma forte temática cyberpunk, visuais assumidamente retro e várias influências declaradas pelos próprios criadores: títulos como Rise of the Dragon, Gabriel Knight e Snatcher, sendo este último, na minha opinião, a principal inspiração. Para além da estética em pixel art, o jogo partilha com o clássico de Hideo Kojima não só algumas sequências de acção semelhantes, como também o foco na investigação de um mistério que se irá revelar parte de uma conspiração de grande escala. Assumimos o papel de um protagonista anónimo, um jornalista de investigação a atravessar dificuldades financeiras. Certo dia, recebemos a visita de Turing, um robô com uma inteligência artificial extremamente avançada, que nos pede ajuda para localizar o seu criador. Este é um cientista conceituado que trabalha numa mega corporação e que, segundo Turing, terá sido raptado, provavelmente devido ao trabalho que estava a desenvolver. Ao que tudo indica, Turing será o primeiro robô com uma IA suficientemente evoluída para agir de forma completamente independente e até possuir consciência de si. À medida que vamos investigando o paradeiro do cientista, vamos também conhecendo a realidade de Neo-San Francisco, uma cidade tecnologicamente avançada, onde assistentes pessoais com IA fazem parte do quotidiano. No entanto, trata-se também de uma sociedade profundamente fracturada, especialmente devido ao surgimento dos chamados híbridos, pessoas com alterações genéticas que modificam a sua aparência física para se assemelharem a animais e não só. Esta divisão social está bem presente no jogo, e teremos de lidar com ela ao longo da narrativa, interagindo com personagens e facções de ambos os lados e tomando decisões que poderão agradar a uns e antagonizar outros.
Visualmente este é um jogo que utiliza um estilo artístico baseado em pixel art da geração 16-bit, algo que eu adoro
No que diz respeito à jogabilidade, e mantendo as coisas simples, 2064: Read Only Memories é, para todos os efeitos, uma aventura gráfica do estilo point ‘n click, em que, tal como em tantos outros jogos do género, teremos de falar com personagens, investigar cenários, recolher e utilizar objectos para avançar na história. No entanto, em vez de um cursor tradicional, utilizamos o direccional para seleccionar os vários pontos de interesse espalhados pelo ecrã, sejam eles objectos ou personagens. Uma vez seleccionados, ao pressionar o botão A acedemos às acções disponíveis, podendo observar, usar, falar ou até utilizar um item do inventário sobre esse elemento. Alguns cenários estendem-se por vários ecrãs, sendo possível atravessá-los ao seleccionar setas nas extremidades da imagem. No lado esquerdo do ecrã encontramos também um pequeno menu que nos permite aceder ao inventário, consultar o mapa com as localizações disponíveis ou abrir o menu de gravação e carregamento de saves. Para além destas interacções mais clássicas, o jogo introduz, ocasionalmente, puzzles originais e até algumas sequências de acção. Tal como em Snatcher, existem momentos em que temos de disparar sobre inimigos numa grelha de 3 por 3 posições. Noutro segmento que remete para várias aventuras gráficas nipónicas dos anos 80, teremos ainda um pequeno labirinto para explorar em perspectiva de primeira pessoa.
Para além dos segmentos de aventura, vamos tendo também diversos puzzles originais para resolver
Desde o seu lançamento original em 2015, o jogo continuou a ser trabalhado e recebeu diversos updates. Algures no início de 2016, foi adicionado um capítulo extra intitulado Endless Christmas, acessível apenas a quem tivesse alcançado o verdadeiro final. Já em 2017, o jogo foi alvo de uma actualização considerável, passando a chamar-se 2064: Read Only Memories. Esta versão incluiu puzzles adicionais e voice acting, com várias vozes conhecidas da indústria a contribuírem para a experiência. Entre os nomes envolvidos destaca-se Jeff Lupetin, que deu voz a Gillian Seed na versão inglesa de Snatcher, uma referência incontornável para os fãs do clássico de Hideo Kojima. Embora a sua participação aqui seja limitada, trata-se ainda assim de uma presença simbólica que reforça a ligação entre os dois títulos! A versão disponível na Nintendo Switch é 2064: Read Only Memories Integral, que para além de incluir todo o conteúdo mencionado anteriormente, oferece ainda um pequeno cenário extra, uma galeria com todos os trailers lançados ao longo dos anos, a banda sonora e uma selecção de arte conceptual.
As influências de Snatcher são notórias, até temos alguns momentos de acção similares!
Passando para os audiovisuais, este é, na minha opinião, um dos pontos mais fortes do jogo. A começar pela pixel art, propositadamente algo minimalista, que remete de imediato para os clássicos das eras 8 e 16-bit, como é precisamente o caso de Snatcher. Sou um grande fã de gráficos 2D bem trabalhados e, nesse aspecto, o jogo marca bastantes pontos positivos. O trabalho de voz é, na sua maioria, competente e convincente, contribuindo de forma sólida para a atmosfera da narrativa. Já a banda sonora é bastante variada, alternando entre temas quase chiptune, melodias suaves recheadas de sintetizadores (muito ao estilo dos clássicos policiais dos anos 80 e 90), e outras faixas com influências de electrónica, trip-hop, jazz ou outros géneros musicais. Esta diversidade musical reforça o tom cyberpunk e ajuda a criar uma identidade sonora distinta.
A versão Nintendo Switch possui aparentemente algum conteúdo adicional exclusivo, como é o caso de uma pequena história adicional
2064: Read Only Memories foi uma aventura gráfica que me surpreendeu consideravelmente pela positiva. Snatcher é uma das minhas aventuras gráficas preferidas de sempre, e o facto de esse clássico da Konami ser uma das principais influências neste título é mais do que evidente. Ainda que a narrativa de Read Only Memories não atinja os mesmos patamares que a de Snatcher, apresenta, ainda assim, alguns momentos muito bem conseguidos. A nível de jogabilidade, as mecânicas mantêm-se fiéis ao género, com destaque para alguns puzzles bastante originais que surgem ao longo da aventura. Estou genuinamente curioso para experimentar a sequela, Neurodiver, algo que planeio fazer algures nas próximas semanas.