Recentemente apeteceu-me jogar algo indie no PC e de preferência em first person. Então ao vasculhar o meu imenso backlog no steam, este Albedo foi das primeiras opções que me surgiu. Ao ler a descrição do jogo e ver que o mesmo era inspirado em filmes de terror série B dos anos 60, com visuais 3D competentes e uma jogabilidade que misturava conceitos de aventura gráfica e acção, confesso que fiquei curioso. Infelizmente o resultado ficou muito aquém das expectativas. Sinceramente não me recordo como é que este jogo veio cá parar, seguramente deverá ter vindo nalgum indie bundle comprado por uma bagatela.
E o jogo coloca-nos no papel de John T. Longy, um mero segurança nocturno de uma instalação semi abandonada algures numa zona rural. Digo semi-abandonada pois na verdade esse é um laboratório secreto onde faziam experiências… bem… secretas. E a certa altura dá-se uma enorme explosão que atira John para um dos pisos inferiores. Pouco depois de nos recompormos somos logo atacados por uma criatura estranha, com um único olho gigante! O nosso objectivo inicial é o de escapar em segurança, mas cada vez mais iremos enfrentar tanto essas criaturas estranhas, como ter outras alucinações que não fazem nenhum sentido. Naturalmente iremos eventualmente descobrir a verdade por detrás de todos esses acontecimentos, mas deixo isso para quem quiser explorar o jogo.
Ora como eu referi acima, este é um híbrido entre a exploração e puzzle solving características de uma aventura gráfica, com alguns segmentos de acção de um first person shooter. Ambos são os meus géneros de videojogos preferidos para se jogar num PC (e os CRPGs, claro!), mas estava muito curioso em ver como implementaram a interface do jogo que pudesse satisfazer os requisitos de géneros tão distintos. E infelizmente aí falharam miseravelmente. Para além de algumas teclas de atalho como o E para pegar ou largar objectos, I para os guardar no inventário, ou O para os observar, tudo o resto é feito com o rato e as teclas WASD para movimento. Apontando o cursor do rato para algum objecto, personagem ou inimigo, surge no ecrã uma acção pré-definida que poderemos activar ao clicar com o rato, sendo que outras acções poderão estar também disponíveis, devendo para isso rodar a scroll wheel para escolher que acção queremos desempenhar, seja observar, pegar ou largar objecto, interagir com ele, guardá-lo no inventário, entre outros, incluindo a opção de combate. Abrir o inventário é feito com um clique no botão direito do rato, uma vez mais usando a roda do rato para circular entre objectos e o botão esquerdo (ou às vezes o direito, este é um jogo confuso) para os seleccionar. E aí, com o objecto na mão teremos uma vez mais um conjunto de acções para seleccionar, incluindo as acima mencionadas ou a opção de o usar com alguma coisa, seja com algum objecto no ecrã, seja com outro do próprio inventário.

Ora como referi acima, o combate é uma das acções possíveis, sempre que passamos o cursor do rato sobre algum inimigo. Se tivermos as mãos livres atacamos com murros, caso tenhamos nas mãos algum objecto especial que possa ser usado como arma branca ou de fogo, usamo-los. É um sistema muitas vezes frustrante pois a navegação complicada entre inventário e itens que tenhamos equipados podem levar a uma série de cliques acidentais que nos inibam de combater, levando com dano no processo. Se morremos, resta-nos carregar o último save, sendo que o jogo salva automaticamente entre transições de cenários e também poderemos gravar manualmente as vezes que quisermos. A meu ver, caso quisessem manter o mesmo sistema complicado do modo “aventura”, seria bem mais interessante haver uma tecla que alternasse entre o modo aventura e acção, com este último com controlos simplificados, minimizando as frustrações. De resto, teremos ocasionalmente alguns puzzles mais a sério que envolvam destrancar cadeados, sliding puzzles, tubos em 3D, ou outros. Em níveis de dificuldade mais baixos poderemos eventualmente fazer skip de alguns desses puzzles.

No que diz respeito aos audiovisuais, o jogo, lançado originalmente em 2015, foi desenvolvido em Unity 3D, tendo alguns visuais em 3D bem respeitáveis, apesar de por vezes com demasiada saturação de cor (algo que foi mesmo escolha por design do criador). Infelizmente a maior parte do jogo passa-se em ambientes fechados e escuros (daí também o tal feeling de um jogo de terror, embora ligeiro), mas vamos ter um ou outro nível em locais abertos e aí sim, dá para ver alguns efeitos gráficos verdadeiramente bonitos, principalmente tendo em conta que é um jogo indie. Aliás, já que toco nesse ponto, temos mesmo de atacar o elefante gigante da sala: este jogo foi maioritariamente desenvolvido por uma (1) pessoa: o italiano Fabrizio Zagaglia que, após ter lido os seus developer diaries na página do jogo no Steam, fiquei a saber que também trabalhou no desenvolvimento do Nicolas Eymerich the Inquisitor, que já cá trouxe no passado. E para o trabalho de uma pessoa só, tenho mesmo de lhe tirar o chapéu e aplaudir todo o esforço, perseverança e dedicação. Mas não há como dar a volta, o jogo é bastante mediano ou fraco como um todo. É certo que tem os visuais competentes principalmente sabendo que é um one man show, mas em muitos outros pontos fica bem abaixo das expectativas, como a narrativa no geral, péssimo (e pouco) voice acting, para além da horrível jogabilidade que já mencionei acima. Gostei no entanto de encontrar várias referências a cultura pop dos anos 80 e 90 como os Ghostbusters ou mesmo o Dopefish, do universo Commander Keen.

Mas para além da jogabilidade confusa, o que me chateou mais foram a quantidade de bugs que encontrei. Em certos puzzles o progresso pode ficar completamente bloqueado, pois não o inventário não abre/funciona de forma a que possamos utilizar os itens certos para o resolver. Por exemplo, em certo ponto do jogo temos de usar um capacete com uma lanterna, mas é preciso primeiro trocar a pilha. Quando iniciamos o puzzle a câmara transita para uma imagem estática do capacete e a ideia seria abrir o inventário, seleccionar a chave de fendas, desaparafusar a tampa e eventualmente trocar de pilha. Mas o inventário simplesmente não aparece, ou não funciona de todo, bloqueando o progresso. Após uma vista de olhos nos fóruns do steam, a solução passava por despoletar uma análise da integridade dos ficheiros do jogo, onde o steam corrigiria algum que tivesse ficado corrompido. Resolveu. Mas mais para a frente voltei a ter um problema similar e tive de aplicar a mesma resolução. Já na recta final do jogo há uma parte onde somos engolidos por uma criatura gigante e temos de escalar o seu esófago para escapar em segurança. Aqui entra um mini jogo de escalada, mas infelizmente com uma execução a nível de controlos incrivelmente frustrante, onde temos de controlar cada mão individualmente com os botões do rato. Mas acreditem que não é tão simples quanto parece, pois para além dos controlos serem confusos temos de ter em especial atenção os indicadores de fadiga de cada braço e quer fiquemos cansados, quer simplesmente com os controlos estranhos acabemos por largar a parede de todo, ou quer demoremos muito tempo, iremos ser consumidos pelo suco gástrico. Essa foi de longe a parte mais frustrante em todo o jogo, ainda para mais porque o botão de skip pura e simplesmente não funcionava, por muito que eu clicasse lá. Tentei usar o mesmo workaround várias vezes e mesmo o steam detectando sempre um ficheiro corrompido e substitui-lo, nunca consegui fazer skip dessa secção. Finalmente, ao fim de inúmeras tentativas lá consegui passar essa parte. Mas no meio de tanto alt-tab entre o jogo e o browser em busca de respostas para todos estes problemas, o jogo também crashou várias vezes. Mas crashes daqueles a sério onde a janela do jogo, por ter estado em full screen fica sempre à frente das outras e mesmo depois de alguns malabarismos nunca consegui matar o processo, a solução era sempre desligar o PC à força pois nem o restart gracioso do windows funcionava.
Como podem ver, este foi um jogo que me deu muitas frustrações, tanto pela jogabilidade e controlos confusos, como por todos os bugs que o jogo ainda tem. Parece ainda um early access (que na verdade o jogo até começou a ser vendido assim no steam). É um jogo com algumas boas ideias e confesso que até gostei do design dos extraterrestres que iremos encontrar, assim como alguns dos visuais. Mas a narrativa é má assim como o voice acting. Ainda assim, tendo sido este jogo 95% fruto do trabalho de uma pessoa só, não deixa de ser louvável todo o esforço e dedicação aqui envolvido. Mas com uma pequena equipa a ajudar certamente o jogo teria sido melhor, ou pelo menos tecnicamente mais polido e com menos bugs. Lamento, mas não consigo dizer que recomendo.