Illusion of Time (Super Nintendo)

50775_frontA Super Nintendo é uma consola fascinante no que diz respeito aos RPGs. Para além de óptimas entradas em séries já bem conhecidas do público em geral como Dragon Quest, Final Fantasy ou Fire Emblem, obras primas como Earthbound ou Chrono Trigger, teve também direito a vários jogos um pouco mais experimentais no seu conceito, como ActRaiser, Live-A-Live ou a interessante trilogia de RPGs de acção da Quintet/Enix, composta pelos Soul Blazer, Illusion of Time/Gaia e Terranigma. Este meu exemplar do Illusion of Time foi adquirido num bundle de vários cartuchos de SNES que comprei no OLX, algures em meados de 2016. Ficou-me por 12€, embora infelizmente seja a versão francesa. No entanto já era um jogo que conhecia e tinha jogado até ao final através da emulação, alguns anos antes.

Apenas cartucho, versão francesa
Apenas cartucho, versão francesa

O jogo decorre numa versão fantasiosa do nosso planeta, onde iremos visitar alguns locais conhecidos como as linhas de Nasca, ruínas Incas, a grande muralha da China ou as piramides do Egipto. A história no entanto leva-nos a encarnar no jovem Will, que desde cedo é incumbido do pesado fardo de salvar o mundo, obrigando-nos a percorrer esses conhecidos locais em busca das Mystic Statues, de forma a impedir que um estranho e sinistro cometa que surgiu recentemente no céu destrua o mundo. Na verdade a história vai se desenrolando de uma maneira bem interessante e as coisas vão fazendo mais sentido, mas deixo isso para quem o for jogar. Will possui também poderes especiais, consegue entrar em portais que o levam ao Dark Space, uma estranha dimensão onde podemos falar com uma misteriosa entidade de nome Gaia, que de certa forma nos vai guiando pela nossa aventura. Aí podemos também salvar o jogo, bem como alternar entre as diferentes formas que nos podemos transformar, como o guerreiro Freedan ou o estranho ser etéreo Shadow, que apenas é desbloqueado perto do final do jogo. Mas já lá vamos.

Ao longo do jogo vamos desbloqueando habilidades que Will, Freedan ou mais tarde Shadow poderão executar
Ao longo do jogo vamos desbloqueando habilidades que Will, Freedan ou mais tarde Shadow poderão executar

Illusion of Time é um RPG de acção que faz lembrar bastante jogos como o The Legend of Zelda, mas com um percurso altamente linear, ao contrário do mundo aberto de Zelda. Há aqui um foco bastante grande no combate e exploração de dungeons, bem como na narrativa da história. No primeiro tema, somos encorajados a derrotar todos os inimigos presentes na mesma sala, por um lado em algumas circunstâncias tal é obrigatório para que se abram novos caminhos que nos permitam progredir na dungeon, por outro se o fizermos somos recompensados com um aumento definitivo da nossa barra de energia, poder de ataque ou defesa. No decorrer do jogo vamos também ganhando novas habilidades como diferentes ataques ou movimentos, bem como a tal possibilidade de encarnar noutras personagens. Tanto Freedan como Shadow possuem habilidades únicas que serão também necessárias para resolver puzzles e progredir nas dungeons. Por exemplo, para além de Freedan ser mais forte, tem também alguns ataques de longo alcance que para além de darem um jeitaço contra os bosses, servem também para interagir com interruptores ou alavancas longínquos e que nos abrem passagens. Shadow, pelo ser etéreo que é, pode-se também esgueirar entre as frinchas do solo e alcançar outras salas, mas esta é uma habilidade que só daremos uso mais lá para o final.

As transições de locais no mapa mundo são feitas através dos efeitos gráficos do mode 7
As transições de locais no mapa mundo são feitas através dos efeitos gráficos do mode 7

A narrativa é algo que até me surpreendeu pela positiva pelos temas que aborda, como a fragilidade da vida humana, o seu legado, a escravatura ou o canibalismo forçado de uma tribo indígena que pela fome que passava se viu obrigada a comer parte dos seus habitantes para sobreviver (se bem que isto está algo censurado na versão ocidental). As várias personagens como os amigos de infância de Will e as outras que vão aparecendo também vão amadurecendo e as relações se vão estreitando de uma forma bastante interessante para a época em que o Illusion of Time foi lançado.

A narrativa é por vezes bastante macabra, como é a história deste jogador de uma espécie de roleta russa, que mais tarde vimos a descobrir que sofria de uma doença terminal e jogava apenas para tentar ganhar o máximo de dinheiro possível para deixar para a sua família.
A narrativa é por vezes bastante macabra, como é a história deste jogador de uma espécie de roleta russa, que mais tarde vimos a descobrir que sofria de uma doença terminal e jogava apenas para tentar ganhar o máximo de dinheiro possível para deixar para a sua família.

Tecnicamente acho este jogo bastante interessante. Algumas sprites como as de Will e Freedan são bastante bem animadas, assim como a grande variedade dos cenários que percorremos é bastante agradável. Para além de representarem diferentes culturas do nosso planeta, temos também cenários completamente fantasiosos como uma floresta de cogumelos e lianas gigantes. Os bosses geralmente são grandinhos e também bem detalhados. Mas se há coisa que realmente se destaca nos audiovisuais deste jogo é sem dúvida a banda sonora que tem uma óptima qualidade. Os instrumentos soam mesmo a instrumentos reais e as músicas em si são geralmente folclóricas (tendo em conta cada cultura).

No fim de contas considero este Illusion of Gaia um jogo muito interessante para quem gostar de RPGs de acção, tanto pela sua jogabilidade orientada ao combate físico, como pela narrativa que nos leva a atravessar diferentes culturas e a maneira como as personagens madurecem e estreitam os laços entre si. E claro, a excelente banda sonora que referi acima.

T2 The Arcade Game (Sega Mega Drive)

21170_frontO artigo de hoje para não variar é mais uma rapidinha, desta vez para um jogo da Mega Drive. T2: The Arcade Game, é um dos vários jogos lançados sobre este fantástico filme de acção protagonizado por Arnold Schwarzenegger, tendo as suas origens na arcade e produzido pela Midway. É um light gun shooter em 2D, portando ainda algo similar àquelas galerias de tiro como o Operation Wolf. O meu exemplar veio da feira da Ladra em Lisboa, foi comprado algures em Agosto/Setembro e custou-me 5€.

Jogo com caixa
Jogo com caixa

O jogo segue mais ou menos os acontecimentos narrados pelo filme, que acredito plenamente que todos os leitores já o tenham visto. No entanto há um grande foco nos acontecimentos do futuro, pelo que a primeira metade dos níveis decorre nesse cenário apocalíptico onde as máquinas tentam a todo o custo exterminar a raça humana, connosco a participar em campos de batalha onde temos de destruir ondas intermináveis de exterminadores, ou mesmo nas próprias bases da resistência, onde exterminadores disfarçados de humanos tentam causar o caos. Eventualmente lá mandamos o “nosso” exterminador para o passado para proteger John Connor e os níveis seguintes uma vez mais acabam por ser mais ou menos inspirados no filme, com a destruição da empresa Cyberdine que viria mais tarde criar a Skynet e a fuga ao avançado T-1000, culminando no famoso tiroteio numa fundição metarlúrgica.

Existe um número razoável de diferentes itens que podemos apanhar. Este em particular faz o reset do medidor de sobreaquecimento da metralhadora
Existe um número razoável de diferentes itens que podemos apanhar. Este em particular faz o reset do medidor de sobreaquecimento da metralhadora

Eu gosto bastante de light gun shooters, mas infelizmente, antes do Virtua Cop ou Time Crisis que introduziram o 3D, permitindo a transições mais dinâmicas ou cinemáticas, nos velhinhos jogos 2D deste género, a jogabilidade acabava por ser bem mais limitada, com os níveis a resumirem-se a galerias de tiro algo estáticas ou simplesmente com um simples scrolling no ecrã. Este jogo não foge a essa regra, e o número de inimigos no ecrã é bastante abundante, de tal forma que se torna practicamente impossível não sofrer dano, principalmente se não tivermos uma Menacer e recorrermos aos controlos pelo comando. Talvez por isso o jogo não penalize o jogador sempre que seja necessário recorrer aos continues. De resto a jogabilidade em si é bastante simples, com um botão para disparar a arma no seu modo “normal”, ou seja, disparar balas. O outro botão serve para disparar a arma secundária, que podem ser rockets ou uma shotgun, dependendo dos níveis. Aí a munição é limitada, ao contrário da arma primária, a metralhadora, que possui balas infinitas. No entanto essa arma pode sobreaquecer, obrigando-nos a gerir melhor as coisas do nosso lado. Naturalmente existem também uma série de power ups, que tanto podem surgir normalmente no ecrã, ao derrotar inimigos, ou ao destruir caixotes e objectos aleatórios nos níveis. Desses power ups temos coisas como continues extra, itens que nos aumentam temporariamente o poder de fogo, munição para a arma secundária, rapid fire sem sobreaquecer a arma principal, entre outros.

Graficamente é um jogo um pouco mais modesto tendo em conta o original de arcade, onde as sprites digitalizadas à lá Mortal Kombat foram substituídas por puro pixel art, alguns níveis foram simplificados e a cutscene final foi removida, substituída por uma foto do John Connor, acompanhada por texto. No que diz respeito ao som, para além de algumas voice samples que foram também omitidas face à versão arcade, no geral até gostei da adaptação. As músicas têm todas uma toada mais rock, que se adequa bem àquilo que o chip de som da Mega Drive é capaz de produzir.

Sempre me fascinou o design ameaçador destes exterminadores!
Sempre me fascinou o design ameaçador destes exterminadores!

No fim de contas, considero este T2 The Arcade Game um sólido light gun shooter, tendo em conta que para a época, não havia muito melhor e os jogos 2D deste género sempre foram algo “gallery shooters” (com o Lethal Enforcers da Konami a ser uma notável excepção). De resto, numa nota de rodapé, este jogo foi convertido para uma panóplia de plataformas incluindo a Commodore Amiga, Super Nintendo e respectivas consolas de 8bit. E se por um lado a conversão da Game Boy é horrenda, as versões Master System e Game Gear, numa perspectiva meramente técnica, foram óptimas surpresas. Mas deixarei isso para um possível futuro post, assim que apanhar uma dessas versões na colecção.