Edna & Harvey: The Breakout (PC)

A Daedalic é uma produtora alemã que já tive o prazer de jogar e analisar muitos dos seus jogos de aventura point and click. O Edna & Harvey: The Breakout é inclusivamente o primeiro jogo que a Daedalic desenvolveu, cujo lançamento original já data de 2008. No entanto apenas chegou ao steam em 2013, se não estou em erro, bem depois de a sequela Edna & Harvey: Harvey’s New Eyes ter sido lançada. O jogo teve a sua origem como um projecto universitário e isso nota-se bem à medida em que vamos jogando. E lá veio parar à minha colecção num dos Humble Bundles, creio que foi no próprio Weekly Bundle dedicado à Daedalic, tendo ficado bem barato no conjunto.

Edna and Harvey The BreakoutComo seria de esperar pelo nome, neste jogo controlamos Edna e Harvey. Edna é uma rapariga aprisionada num asilo, por motivos inicialmente desconhecidos e Harvey é o seu coelho de peluche falante – que obviamente apenas fala na sua imaginação. A única coisa que sabemos é que Edna aparentemente é maltratada pelo director lá do sítio, o médico Dr. Marcel, que por acaso era seu vizinho de infância. Edna é orfã, o seu pai foi condenado à pena de morte por aparentemente ter assassinado o filho de Marcel, que também era “amigo” de Edna. A única coisa que Edna sabe é que todos os dias o Dr. Marcel tenta-lhe apagar a memória, suspeitando que o psiquiatra tenta encobrir alguma coisa do seu passado e sempre acreditando que o seu pai é inocente. O jogo todo consiste em levarmos a dupla de Edna e Harvey a fugir do asilo e tentar então encontrar o que aconteceu no seu passado, provar a inocência do seu pai e incriminar o Dr. Marcel.

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Estes são os “gémeos siameses” lá do sítio

As mecânicas de jogo são algo arcaicas, mesmo como os grandes clássicos do género. Como qualquer point and click que se preze, temos de clicar em todos os objectos no ecrã, interagir e misturá-los, falar com todas as personagens e tentar resolver uma série de puzzles para progredir na história. Mas para isso, temos sempre de escolher uma de quatro acções, disponíveis na parte de baixo do ecrã: look to, talk to, use ou pick up. Existem vários jogos deste género que fazem estas opções de uma forma mais intuitiva, e isso foi algo que a Daedalic foi aprendendo ao longo dos seus jogos. Mas não deixa de ser interessante tentar fazer combinações estapafúrdias de itens e objectos só mesmo para ouvir a resposta, e no entanto algumas dessas coisas até funcionam! Sim, este é daqueles jogos em que alguns dos puzzles acabam por não ter lógica nenhuma mas hey, isto é passado num manicómio, portanto vale tudo. Existem também uma série de coisinhas que podemos fazer que não têm influência nenhuma na história, nomeadamente vandalizar com canetas, ketchup e mostarda o escritório do Dr. Marcel e outras salas, ou mesmo amassar e arranhar o seu caro carro.

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Em algumas partes do jogo “voltamos ao passado” para relembrar algumas coisas do passado, nestes momentos a jogabilidade é um pouco diferente, podemos controlar também o Harvey

Visualmente é um jogo simples. Infelizmente a adaptação para computadores modernos, mesmo para os padrões de 2008 não é a melhor. Sendo assim eu acabei por preferir jogá-lo no modo janela, de outra forma a resolução tão baixa estragava um pouco as coisas. O jogo tem um aspecto cartoonish bastante insano, o que se adequa perfeitamente ao tema. No entanto nota-se perfeitamente que as animações simples, e em algumas situações até inexistentes foram mesmo fruto de este ser um jogo com origens num projecto académico. Aliás, mesmo no próprio jogo isso é ironizado por várias vezes pelos próprios criadores de jogo. Uma das secções que temos de atravessar é quando entramos numa sala de terapia de grupo. O tema? Terapia para Game Designers, onde o criador do jogo se lamenta por ter achado uma óptima ideia ter feito um jogo destes para o seu projecto de tese e ter de animar sozinho todas as possíveis animações num curto intervalo de tempo de alguns meses.

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Esta é a cela de Edna, logo no início do jogo

Os diálogos são sempre bem humorados, e como conhecemos todos os outros pacientes daquele manicómio, não podem esperar personagens mentalmente muito estáveis, e com isso os diálogos também vão sendo bastante surreais. Infelizmente na recta final do jogo acontecem algumas coisas bem mais “sérias”, que me deixaram assim um pouco impressionado, por não estar mesmo nada à espera do tom que essas coisas tomaram. Prefiro não “spoilar” pormenores, mas quem já jogou este jogo até ao fim creio que sabe bem do que me refiro. De resto os diálogos (experimentei naturalmente o voice-acting em inglês) parecem-me competentes, mas lá está, a Daedalic depois acabou por fazer bem melhor. O mesmo para as músicas, que tirando a música título, bastante alegre e viciante, as restantes cumprem bem o seu papel, mas depois acabam por passar despercebidas.

Assim sendo, Edna & Harvey: The Breakout se calhar é um jogo um pouco caro para o preço base que vemos na loja do Steam. O facto de ter sido um projecto académico e o produto final ser inferior a muitos outros jogos que a Daedalic acabou por desenvolver, é uma razão pela qual eu venderia esse jogo mais barato como preço base. No entanto não deixa de ser divertido e bem humorado, pelo que se o voltarem a ver numa boa promoção e gostarem de jogos deste género, então certamente será uma boa compra.

Tekken 3 (Sony Playstation)

Tekken 3Até ao Tekken 2, devo dizer que sempre preferi os Virtua Fighters da Sega Saturn. Mas a Namco com este Tekken 3 consegui inverter completamente a balança. Já a versão arcade deste jogo me parecia impressionante, e conseguiram fazer um excelente trabalho ao trazê-la para a consola, pois para além de tecnicamente ser um jogo excelente, a Namco deu-se ao trabalho de incorporar uma série de extras que os outros ports de arcade não costumam trazer. E este jogo lá deu entrada na minha colecção algures durante o ano passado, tendo sido comprado a um particular por algo em torno dos 5 ou 6€.

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Jogo com caixa e manual, versão platinum

Confesso que me cansa um pouco ter de escrever sobre a história de jogos de luta, pois para além de estar sempre repleta de clichés, no fim de contas acaba por não ser uma coisa a que demos assim muita importância. Mas muito resumidamente, após Heihachi ter vencido o torneio anterior e recuperado o controlo do seu poderosíssimo grupo empresarial, Heihachi tenta fazer um favor ao mundo e utiliza a sua riqueza para obter paz mundial. Meanwhile, Jun Kazama engraviou do filho de Heihachi, Kazuya Mishima, quando este estava possuído por um demónio. De Jun e Kazuya nasce Jin Kazama, a nova estrela da série Tekken que teve aqui a sua estreia. Entretanto após umas escavações arqueológicas algures no méxico, Heihachi descobre um ser bastante poderoso e tenta utilizá-lo novamente para tentar dominar o mundo. Fica assim aberto o novo torneio dos King of Iron Fist. O jogo decorre assim 19 anos após o jogo anterior, com todas as personagens conhecidas a aparentarem ser mais velhas.

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Jin é a nova coqueluche da série

A jogabilidade herda as mesmas mecânicas dos jogos anteriores da série, na medida em que cada botão facial representa um golpe de um membro (braço esquerdo ou direito e o mesmo para as pernas). A grande novidade está mesmo na inclusão do movimento de sidestepping que outrora era exclusivo de alguns movimentos especiais de algumas personagens, agora todos dispõem dessa habilidade, bastando carregar ligeiramente no direccional para cima ou baixo. Desta vez para além dos tradicionais modos de jogo como o arcade, versus e os outros modos de jogo vistos em Tekken 2, temos ainda mais 2 extras. Do Tekken 2 lá herdou o Practice onde podemos praticar os movimentos especiais de cada personagem, o survival onde teremos de sobreviver uma série de combates seguidos e o Time Attack, onde temos de vencer uma série de combates seguidos dentro de um certo limite de tempo e o Team Battle, onde podemos escolher uma equipa e lutar em combates 1 contra 1 até todos os lutadores adversários terem sido derrotados.

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Tekken sempre teve alguns lutadores para a parvalheira e este não é excepção

Os novos modos de jogo existentes nesta conversão são os Tekken Ball e Tekken Force. O primeiro é um mini-jogo algo parecido com o voleibol de praia e o jogo do “mata”. O objectivo para marcar pontos tanto pode ser ao atacar o adversário, ao atirar-lhe com a bola em cima, ou fazer com que a bola caia ao chão do lado do campo do adversário. Mais divertido que isto é o modo Tekken Force, que é nada mais nada menos que um pequeno tributo aos beat ‘em ups de outrora. Infelizmente é um jogo curto, com apenas 5 níveis bastante simples. No final de cada nível temos sempre um combate contra um boss, que vai sendo diferente mediante a personagem escolhida. No entanto, o boss final é sempre Heihachi. Estes 2 modos de jogo não são propriamente grande coisa por si só, mas não deixam de ser alternativas interessantes que a Namco deu-se ao trabalho de fazer. Nos jogos seguintes este Tekken Force ainda foi mais aprimorado, pois era um modo de jogo com muito potencial, mas isso será assunto para outra altura.

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Tekken Force, apesar de curto é uma homenagem aos beat ‘em ups de outrora

No campo audiovisual, Tekken 3 é excelente. Obviamente que tem menos eye-candy que a sua versão arcade, cuja corre num hardware mais poderoso, mas ainda assim não deixa de ser impressionante o detalhe que conseguiram manter nos lutadores na versão PS1. Já na altura quando via screenshots deste jogo em revistas ficava bastante impressionado, já ao vê-lo ao vivo e a cores era ainda melhor. Os lutadores têm bastantes polígonos e boas texturas e o mesmo pode ser dito dos cenários, embora os backgrounds não estejam tão bons como na versão arcade. As animações são também bastante fluídas e os golpes especiais estão repletos de efeitos especiais. Sinceramente em jogos de porrada em 3D prefiro o maior realismo de Virtua Fighter, mas não deixa de ser verdade que Tekken 3 é um jogo impressionante em todos os aspectos.

Até na música, que anteriormente achei bastante aborrecida, sempre com passagens electrónicas de mau gosto, desta vez eles esmeraram-se, apresentando uma banda sonora bem mais variada, e com algumas boas rockalhadas à mistura, como eu gosto. Para quem gosta das “electroniquices”, o género não foi esquecido e acho que neste jogo melhoraram bastante as composições também.

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A CG de abertura está muito boa e Yoshimitsu está cada vez mais estranho

Posto isto tudo, é impossível não recomendar o Tekken 3 como um dos melhores jogos da biblioteca da Playstation, pelo menos de tudo o que eu tenha jogado até agora. O jogo apresenta um lineup bem sólido de personagens, muitas desbloqueáveis como de costume, e bastantes modos de jogo que nos deixavam entretidos durante muito tempo. A série Tekken não se poderia ter despedido da Playstation original de uma maneira melhor.

The Revenge of Shinobi (Sega Mega Drive)

The Revenge of ShinobiA série Shinobi da Sega sempre foi daquelas cujos jogos separavam os meninos dos homens. Chegar ao fim de um jogo da série fazia-nos logo crescer barba e cabelo no peito e este Revenge of Shinobi para a Mega Drive não foge à regra. Lançado originalmente para a Mega Drive e depois nas arcades para o sistema Mega-Tech (essencialmente uma Mega Drive na mesma), este é ainda um dos jogos de primeira geração desta consola e que apesar de ter saído em inúmeras compilações que vinham inclusivamente em bundles com a consola, é um jogo que eu sempre fiz questão em ter a sua versão standalone. E felizmente isso veio a acontecer numa incursão que fiz à feira da Vandoma no Porto no mês passado, onde o consegui comprar num bundle ficando-me por pouco mais de 3€.

The Revenge of Shinobi - Sega Mega Drive
Jogo com caixa e manual pt.

Este é uma sequela directa do primeiro Shinobi que também possuo para a Master System e figura mais uma vez o melhor ninja do clã Oboro, Joe Musashi. Após Musashi (porque Joe não tem piada nenhuma) ter derrotado o grupo mafioso de Zeed no primeiro jogo, este reforma-se como Neo-Zeed e a sua primeira acção foi mesmo vingar-se do clã Oboro, assassinando o mestre de Musashi e raptando a sua namorada Naoko. Ao longo do jogo Musashi irá atravessar meio mundo até finalmente chegar à fortaleza de Zeed e fazer o que lhe compete: dar um infesto de porrada em Zeed mais uma vez.

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O fantástico ecrã título. Genesis does what Nintendon’t.

A jogabilidade é simples, um botão para saltar, outro para atacar e um outro para utilizar as magias ninjutsu, que já detalharei mais à frente. Os ataques tanto podem ser melee, se estivermos ao lado do inimigo, como podem ser de longo alcance através das shurikens que podemos apanhar ao longo dos níveis. Existe um cheat code que nos deixa com shurikens infinitas, código esse que me acompanhou em toda a infância e mesmo assim as coisas não eram fáceis. Para além do salto normal, podemos também dar um duplo salto com uma cambalhota no ar, que para além de nos permitir alcançar locais mais altos, podemos também disparar um molho de shurikens em várias direcções, um golpe bastante útil. Existem também níveis com 2 planos distintos, como o nível da base militar, onde temos inimigos no background e foreground, e é com esse duplo salto que alternamos de plano. Ao longo dos níveis podemos encontrar diversos caixotes que podem ter vários powerups, ou então estão armadilhados com bombas. Dos powerups, para além de mais shurikens, items que regeneram a nossa barra de vida ou mesmo vidas extra, temos powerups para armas, ou para as magias. Os primeiros tornam as nossas shurikens envoltas em fogo, capazes de dar duas vezes o dano das normais e equipam Musashi de uma espada também poderosa para close encounters. Mas como isto é um Shinobi, basta levar com um ponto de dano que perdemos esse bónus.

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Ao dar um duplo salto podemos disparar shurikens por uma vasta área

O segundo deixa-nos utilizar mais uma magia no nível em questão. Existem 5 magias distintas, que podemos escolher qual queremos equipar no menu de pausa. Podemos utilizá-las em qualquer altura do nível, mas apenas o podemos fazer uma vez. A menos claro, que apanhemos esse powerup. Os Jitsus mágicos podem então ser o Ikazuchi, um escudo eléctrico que nos protege de 4 golpes; Karyu, onde Musashi invoca 4 dragões de fogo que dão dano a todos os inimigos no ecrã; Fushin, onde Musashi ganha uma maior destreza física, capaz de saltar ainda mais e por fim Mijin, mais uma magia que dá dano a todos os inimigos no ecrã, mas a troco da vida de Musashi. No entanto, apesar de ser um ataque suicida, restabelece a barra de vida e deixa-nos utilizar uma outra magia mais uma vez.

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Um dos jitsus que podemos invocar, este dá dano a todos os inimigos no ecrã.

O jogo está dividido em 8 zonas, todas elas distintas visualmente entre si e divididas em 2 níveis de plataforma e um boss. Começamos o jogo em ruínas japonesas, lutando contra outros ninjas e guerreiros com armaduras samurai, e vamos atravessando cidades, bases militares e industriais, incluindo alguns níveis fora-de-série, como lutar em cima de um comboio, ou sobre um veículo que transporta mísseis intercontinentais. O último nível então é uma fortaleza labiríntica, onde existem imensas portas que o mais certo é não levarem a lado nenhum de interesse, levando-nos assim muito tempo até encontrar a saída. Mas para “piorar” as coisas, não fosse este um Shinobi, é practicamente obrigatório chegar ao boss final com um poder mágico extra e com o power-up que dê mais dano. Isto porque mal começamos a enfrentar Zeed, vemos Naoko aprisionada em background e Zeed solta uma armadilha em que o tecto da sua cela começa a descer lentamente. Sendo assim o jogo deixa-nos com 2 finais distintos: derrotar Zeed e Naoko morrer, ou derrotar Zeed a tempo e salvar Naoko. Por isso é que ter 2 poderes mágicos e/ou o powerup de dar mais dano é practicamente obrigatório. Não podia também deixar de referir outros bosses como o Hulk, Spiderman, Batman ou Godzilla. Inicialmente a Sega utilizou estas sprites (ou parecidas) sem autorização dos seus autores, pelo que existem em circulação diversas versões deste jogo, com sprites diferentes consoante as licenças na altura. Infelizmente não tenho a minha Mega Drive comigo em Lisboa, pelo que confesso que não sei qual das versões do jogo eu possuo.

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Exemplo de um dos níveis em que podemos alternar entre 2 planos de acção distintos

Visualmente, apesar de ser um jogo de primeira geração da Mega Drive, não deixou de impressionar bastante na altura e mesmo nos dias de hoje porta-se bem. Ver aquela “cutscene” inicial do Musashi a defender-se com a espada de um monte de shurikens em grande plano sempre me impressionou quando era miúdo e mesmo hoje em dia continua-me a agradar. É verdade que outros jogos da Mega Drive, como por exemplo o excelente Shinobi III são melhores graficamente, mas este é bem competente, especialmente tendo em conta o facto de ser um jogo de primeira geração. Sprites grandes e detalhadas, níveis bem desenhados, não tenho razões de queixa. As músicas essas são autoria do grande senhor Yuzo Koshiro, que quem estiver por dentro do que ele faz, já sabe o que esperar. Músicas bem catchy, e sendo este um jogo de ninjas têm também um toquezinho oriental.

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O Godzilla foi um dos bosses “polémicos”, por questões de copyright. Existem versões que trocam esta sprite por um esqueleto

No fim de contas, The Revenge of Shinobi é um excelente jogo. Não é por acaso que fez parte de imensos bundles e compilações até na própria Mega Drive. É um jogo bonito, com excelentes músicas e com uma jogabilidade simples, mas com uma dificuldade elevada. É jogo para separar os meninos dos homens, como sempre foram os jogos desta série. Joe Musashi, temos saudades tuas.

The Bouncer (Sony Playstation 2)

The BouncerA Squaresoft desde que lançou o Final Fantasy para  a NES, que se tem focado maioritariamente nos JRPGs, tendo um ou outro lançamento mais esporádico noutros subgéneros. E dentro dos jogos de primeira geração da Playstation 2 estava precisamente  um destes exemplos em que a Square saiu da sua zona de conforto, com este The Bouncer que é um beat ‘em up em 3D, mas com alguns ligeiros elementos de RPG também. No entanto o jogo é curtinho e simples, pelo que não esperem um artigo particularmente longo. A minha cópia deste jogo entrou na minha colecção após ter sido comprada no ano passado na feira da Ladra em Lisboa por 5€.

The Bouncer - Sony Playstation 2
Jogo completo com caixa e manual

A história começa por ser bastante simples. Sion, Volt e Kou são “bouncers” no bar Fate da menina Dominique. O jogo decorre no futuro de uma cidade fictícia chamada Edge, onde a Shinra errr, Mikado, era uma grande empresa tecnológica e se preparava para desenvolver uma espécie de satélite que convertia a energia solar em energia eléctrica para ser utilizada na Terra. A certa altura o bar é tomado de assalto por tropas especiais dos Mikado que raptam Dominique. Esta trama de alguém ir salvar a donzela em perigo já foi vista vezes sem conta, mas ao longo do jogo lá vamos aprendendo que o motivo desse rapto tem por detrás planos conspiratórios da Shinra (lá estou eu outra vez) lá do sítio, e o background histórico por detrás de cada personagem também vai sendo descoberto.

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Tanto lutamos contra oponentes humanos, como contra robots ou cyborgs

Existem vários modos de jogo. O modo história coloca-nos em vários combates ao longo de diversos locais à medida em que a história se vai desenrolando. No início de cada nível, podemos escolher com qual protagonista queremos jogar. A história vai tendo assim algumas pequenas variações, excepto num ou noutro nível em que as coisas se tornam realmente diferentes, sendo assim necessário jogar pelo menos 3 vezes o jogo para ver todas essas variações no jogo. Acima disse que o jogo incorporava conceitos simples de RPGs, e isso acontece porque cada vez que derrotamos um inimigo, seja um boss ou o soldado raso somos recompensados com alguns pontos de experiência. Esses pontos podem depois ser trocados no final de cada nível, onde podemos, para a personagem com quem jogamos o tal nível, aumentar as suas stats de saúde, defesa e ataque, ou mesmo aprender novos golpes especiais. Para ter todas as personagens maxed out, teremos de jogar o jogo várias vezes, para isso podemos começar um Extra Game, onde herdamos a experiência de cada personagem de jogos anteriores.

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Antes de cada combate no modo história, podemos escolher qual a personagem com quem jogar.

Os controlos são simples. Um joystick para movimentar, os quatro botões faciais para golpes, um botão de cabeceira para defender, outro para “activar” os golpes especiais que adquirimos com os pontos de experiência, e por fim um outro botão para activar os Trinity Rush, ataques todos bonitinhos que usam as 3 personagens em jogo, mas não são tão úteis assim. Ainda assim, apesar de os controlos serem simples, devo dizer que a movimentação é bastante lenta e os golpes também não têm o “ouch factor” de outros jogos do género, como o Dynamite Cop da rival Dreamcast, por exemplo. Mas pior é mesmo a inteligência artificial, tanto dos inimigos que são bem burrinhos, como dos nossos colegas de equipa. O sistema de pontos de experiência podia ser melhor pensado, isto porque apenas ganhamos os pontos se formos nós a dar o golpe final no inimigo em questão. Ora isto aliado a uma IA não muito inteligente quer dizer que os outros 2 lutadores controlados pelo CPU vão-nos roubar muitos desses pontos. Depois ainda temos o problema do fluxo do jogo. Cutscenes – selecção de personagens – uma batalha. Passamos bem mais tempo a ver cutscenes do que propriamente em combate, que nunca são com tantos inimigos assim. Depois se morrermos, temos novamente de passar pelo ecrã de título, fazer load game, assistir à última cutscene, seleccionar a personagem e por fim voltar a jogar. Deveriam ter pensado isto melhor.

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Ao longo da história principal podemos ir desbloqueando outras personagens a utilizar noutros modos de jogo

Para além do modo história temos também outros modos de jogo, incluindo o já habitual survival. Este também é um modo de jogo single-player e coloca-nos ao longo de uma série interminável de combates até que finalmente padecemos. Os outros 2  modos de jogo são mais focados no multiplayer em que um deles poderá ir até 4 jogadores, se tivermos um multi-tap. Esse é o modo Battle Royale, onde temos 4 contra 4 e quem sobreviver ganha. O outro modo de jogo, Team Battle, dá apenas para 2 jogadores, em que cada jogador faz uma equipa com outras 2 personagens controladas pelo computador e lançam-se também para a porrada.

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Como é típico da Square, as cutscenes têm uma óptima qualidade visual

Graficamente é um jogo bonitinho, se tivermos em conta que é um jogo da primeira geração da consola. Os cenários estão bem detalhados, embora não tenham texturas nada por aí além, mas as personagens estão bem detalhadas, tanto em polígonos como em texturas. Quem for fã dos Final Fantasy desde a era PS1, certamente irá gostar dos visuais deste The Bouncer. E sendo um jogo da Square, tem cutscenes com um excelente detalhe para a época. As músicas são também boas, sendo bastante variadas a nível de géneros. Tanto é possível ouvir hard-rock cheio de guitarradas como eu bem gosto, como outras melodias mais calminhas. O voice acting é competente e este é daqueles jogos que tem algo que eu dou muito valor. A oportunidade de ouvir o voice acting em inglês, ou o original japonês.

Posto isto, The Bouncer é jogo que para mim, como beat ‘em up é fraquinho. As movimentações foleiras, a má inteligência artificial, o facto de não existir suporte a 2 jogadores no modo história ou acima de tudo, existirem batalhas contra 3 ou 4 inimigos e depois levamos com 5 minutos de cutscenes, tiram muito do potencial que este jogo poderia vir a ter. Ainda assim, para quem for fã da Squaresoft, poderá encontrar algo que lhe interesse, pois todo o carisma do jogo faz lembrar os Final Fantasy da era moderna.

A Walk in the Dark (PC)

Voltando aos indies para mais um jogo português, desta vez do estúdio Flying Turtle. A Walk in the Dark é um interessante jogo de plataforma que apesar de não primar pela originalidade, não deixa de ser um jogo bem conseguido. Digo que não prima pela originalidade pois possui influências notórias de outros jogos indie como Limbo, Super Meat Boy ou VVVVVV. Mas isso já veremos. Este jogo entrou na minha colecção digital do Steam algures durante o ano passado, tendo-me saído num sorteio.

A Walk in the Dark

A história de A Walk in the Dark é simples: a menina Arielle e o seu gato de estimação Bast estavam a desfrutar de um passeio quando subitamente o mundo torna-se negro e Arielle é levada por uma criatura misteriosa. Sendo assim, resta-nos controlar Bast pelo sinistro mundo em que se encontra, de forma a resgatar Arielle. E vamos então viajando por diversos “mundos” diferentes ao longo de 100 níveis, onde tanto controlamos Bast, como Arielle, sendo que existem níveis com mecânicas de jogo diferentes. Começando por Bast, como felino é bastante ágil, e nos seus níveis vamos encontrando diversos obstáculos à lá Super Meat Boy, desde espinhos, serras e lâminas diversas, outros inimigos ou mesmo bolas projécteis de canhão, onde nos temos de esquivar com saltos planeados ao milímetro, incluindo entre paredes. Nalguns níveis jogamos com Arielle e tal como Bast teremos de chegar do ponto A ao ponto B evitando imensos obstáculos e perigos à espreita. A diferença é que Arielle não consegue saltar, a sua habilidade consiste em alternar a gravidade livremente, utilizando as mesmas teclas de salto ou agachar de Bast, alternando a gravidade de forma a “puxar” para cima ou baixo.

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O objectivo de cada nível está em alcançar aquele foco de luz que serve de meta

Outros níveis em que jogamos com Bast vão também buscar este jogo com a gravidade e outras coisas. Em certos níveis vemos um scrolling automático, onde o único controlo que temos é saltar com o gato de forma a escapar dos obstáculos, ou mesmo alternar a gravidade da mesma forma que Arielle o consegue fazer. Lá mais para a recta final, existem ainda uns níveis de platforming “normais” que alteram a gravidade sempre que tocamos nuns pontos luminosos próprios para o efeito. No geral, como seria de esperar este é daqueles jogos com um platforming exigente, que nos tirará muito do nosso tempo e paciência, mas temos vidas infinitas e podemos rejogar cada nível as vezes que quisermos. Existem ainda uns achievements internos que nos premeiam se conseguirmos apanhar o “shiny” escondido em cada nível (geralmente em locais mais perigosos de se lá chegar), no caso dos níveis normais temos um achievement para o speed-running, e nos que têm scrolling automático somos premiados se conseguirmos concluir o nível à primeira, sem morrer uma única vez.

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Os backgrounds apresentam bonitos jogos de cor e luz, nem tudo é negro nesta aventura

Visualmente é impossível não referenciar Limbo com o seu visual monocromático e silhuetas. No entanto enquanto as coisas em Limbo eram completamente monocromáticas, aqui é apenas o foreground que é totalmente negro. De fundo vamos tendo bonitos backgrounds que, embora não sejam completamente coloridos, dão uma outra vida e um contraste diferente a esta aventura. A acompanhar os bonitos visuais está uma banda sonora que usa e abusa do piano, com melodias bastante calmas e suaves, servindo assim para um excelente contraste com a jogabilidade tentativa-erro capaz de irritar monges tibetanos, mas que não deixa de ser altamente viciante.

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Lá para o final as coisas começam a ficar bem mais desafiantes

Por fim convém também referir que podemos também desbloquear uma série de níveis mais difíceis na categoria “Challenge”. E sim, logo o primeiro nível é uma dor de cabeça como não vemos no jogo todo, pelo que quem quiser buscar um desafio ainda maior terá aqui algo mais com que se entreter. Infelizmente, e não sei se é bug do próprio jogo ou do Steam, apesar de ter concluído os 100 níveis, não consegui ver o final do jogo. Isto aconteceu porque há uns dias atrás o steam estava com alguns problemas na cloud e não me fez um tracking correcto dos achievements, e penso que terá sido por isso que o jogo “passou-se” e após concluir o último nível o jogo colocou-me novamente no início do nível. Lá tive de ir ao youtube ver a cutscene final e os ending credits mas também não se perdeu grande coisa, a não ser este pequeno sentimento de orgulho ferido por não ter tido esta recompensa final após ter chegado ao fim deste jogo desafiante.

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As brincadeiras com a gravidade estão bem conseguidas

Concluindo, apesar de A Walk in the Dark ser um jogo que vai buscar influências ao level design de tentativa-erro e viciante de Super Meat Boy, as brincadeiras com a gravidade de VVVVVV ou os visuais inspirados pelo Limbo, acaba por ser um óptimo jogo de plataformas que, para quem tenha gostado desses jogos referidos, certamente irá achar piada a este jogo. E é um jogo português, coisa que é sempre de enaltecer.