DecapAttack (Sega Mega Drive)

Depois do Psycho Fox da Master System, a Vic-Tokai desenvolveu um outro jogo de plataformas, agora para a Mega Drive, com a mesma jogabilidade base, ou seja o seu platforming algo escorregadio, devido à inércia que vamos ganhando à medida que aceleramos. O jogo foi originalmente lançado no Japão como uma adaptação do anime Magical Hat, que sinceramente nunca ouvi falar. Talvez por isso a Sega tenha decidido em alterar completamente o jogo quando o trouxe para o ocidente e o resultado foi este DecapAttack. O meu exemplar veio do Reino Unido no final do ano passado, custou-me umas 14 libras se bem me recordo.

Jogo com caixa e manual

O protagonista principal é uma múmia sem cabeça (Chuck D. Head), se bem que possui um rosto no seu torso. Somos uma criação do Dr. Frank. N. Stein, que nos traz à vida para combater um vilão qualquer, que decide separar os territórios da ilha onde nos encontramos. Ilha essa que tem a forma de um esqueleto, onde cada conjunto de níveis decorre numa parte do corpo desse esqueleto? Já estão confusos? As coisas não fazem muito sentido neste jogo, é verdade.

Chuck pode não ter uma cabeça, mas a cara que tem no seu tronco é letal

Mas o que interessa reter é que no fundo este é um jogo de plataformas com algumas mecânicas básicas: um botão para saltar, outro para atacar. Podemos destruir os inimigos ao saltando em cima deles várias vezes seguidas, ou atacando-os com o botão respectivo. E como ataca o Chuck? Com a cara que tem implantada no seu torso, lançando-a contra os inimigos. À medida que vamos avançando nos níveis vemos algumas estátuas por lá espalhadas, estas podem e devem ser destruidas, pois  geralmente possuem vários itens e power ups, mas também podem ter armadilhas como abrigar fantasmas que acabaremos por libertar. O power up mais comum é uma caveira que assim que a apanharmos, fica agarrada ao corpo de Chuck e pode também ser usada como arma. Isto porque tendo a cabeça equipada, ao pressionar o botão de ataque, Chuck irá atirar a sua cabeça para a frente, sendo que alguns segundos depois ela volta ao nosso corpo. Algo interessante a reter é que mesmo que tenhamos falhado o alvo, a cabeça fica no chão por alguns segundos, causando dano a todos os inimigos que lhe toquem. Talvez porque lhes esteja a morder??? No entanto basta sofrer dano uma vez que perdemos a cabeça irremediavelmente, tendo de procurar outra.

Esta é a estranha ilha de Chuck que temos de voltar a reunir

Os restantes itens que poderemos apanhar podem ser vidas extra, corações que nos restabelecem ou extendem a nossa barra de vida, moedas que nos dão direito a começar o nível de bónus ou então diferentes poções mágicas que vão para um inventário. E é aqui que entra o terceiro botão facial do comando da Mega Drive, para aceder ao inventário e usar as poções que vamos encontrando. Estas podem-nos dar invencibilidade, destruir todos os inimigos presentes no ecrã, outras tornam-nos mais rápidos, etc. Os efeitos de cada poção duram tipicamente 10 segundos, pelo que as devemos usar nos momentos de maior aperto. Por sua vez, os níveis de bónus que falei são muito simples. Temos 5 caminhos para escolher, onde desses 5 caminhos alguns dão recompensas, outros não dão nada. Por cada moeda que coleccionamos num nível podemos colocar um Chuck num desses caminhos. O seu progresso até ao topo não é linear, pelo que é uma questão de sorte mesmo. No entanto, se forem minuciosos a explorarem os níveis, podemos apanhar sempre 5 moedas, o que nos garante conseguir todos os bónus nestes níveis. De resto, ainda na jogabilidade, uma outra das mecânicas estranhas neste jogo é o facto de depois de saltarmos, se continuarmos a pressionar o mesmo botão de salto, vemos o Chuck a dar às pernas no ar, o que vai suavizando a sua queda e nos permite mais tempo no ar. Alguns níveis possuem alguns maiores desafios de platforming onde temos de usar bem esta técnica, entre outras.

No final de cada mundo temos sempre um boss para defrontar

No que diz respeito aos audiovisuais, há uma temática do horror que nos vai acompanhando ao longo de todo o jogo, mas sempre com um design mais cartoon, como se estivéssemos a ver um episódio de animação da série Addams Family. Isto é especialmente verdade na banda sonora, que é bastante agradável e as músicas têm sempre um certo factor assombroso nas suas melodias. Graficamente é um jogo interessante dentro das limitações da Mega Drive, com inimigos também bem detalhados, pelo menos no que diz respeito aos seus desenhos mais cartoony. Já os níveis em si, não há propriamente um grande fio condutor que os distinga bem uns dos outros, o que é pena. Pelo que vi do Magical Hat, a tal versão original japonesa sobre um anime que nunca tinha ouvido falar, parecia-me estar bem mais colorida e coesa neste aspecto. Os efeitos sonoros, porém, esses infelizmente já os achei muito irritantes.

Portanto este DecapAttack até que é um jogo de plataformas muito bizarro, no entanto divertido e desafiante. A ideia de apanharmos os power ups e usá-los apenas quando realmente precisarmos deles faz sentido, mas confesso que estava à espera de ver algumas mecânicas de jogo diferentes. Por exemplo, creio que seria mais interessante se o Chuck pudesse equipar diferentes cabeças, cada qual com diferentes poderes ou habilidades.

Golgo 13: Top Secret Episode (Nintendo Entertainment System)

Golgo 13 é uma manga nipónica com as suas origens na primeira metade da década de 70, que tem como protagonista o assassino Duke Togo, e sendo uma série iniciada em plena Guerra Fria, o que não faltam são teorias de conspiração pelo meio. O primeiro videojogo baseado nesta série a chegar ao ocidente foi precisamente este Top Secret Episode para a NES, desenvolvido pela Vic Tokai. É um jogo que não chegou até à Europa, pelo que o meu exemplar é norte-americano. A minha cópia custou-me 25€, tendo vindo de um leilão online algures no mês passado.

Jogo com caixa e manual

O jogo decorre após um helicóptero da CIA, que transportava uma arma biológica desenvolvida pela própria agência, é abatido por um tiro certeiro de uma sniper rifle M-16, a mesma usada pelo Golgo 13. A CIA atribui as culpas ao assassino profissional, de estar aliado ao KGB nesse incidente. Por outro lado, uma outra agência de inteligência acredita que é a organização terrorista Drek que está por detrás do incidente e contrata Golgo 13 para o investigar.

Por acaso gosto mais do ecrã título americano que o original Japonês

Este Top Secret Episode é um jogo algo confuso, até pelos diferentes modos de jogo que oferece. Começamos a vaguear pelas ruas de Berlim oriental (sim, antes da queda do muro) e poderemos entrar em várias localidades como edifícios ou estações de metro, onde poderemos falar com NPCs e avançar a história. Nesses segmentos de exploração o jogo assume-se como um sidescroller, onde a nossa vida (que começa com 200 pontos de vida) vai diminuindo automaticamente com o tempo. A única maneira que temos de regenerar a nossa vida (e recuperar munições) é mesmo a de matar inimigos, o que nem sempre é assim tão fácil. Depois também temos alguns “encontros aleatórios” como nos RPGs, onde a perspectiva passa para a primeira pessoa e teremos uma série de inimigos a surgir no ecrã que teremos de derrotar. Aqui os inimigos oferecem menos luta (excepto claro, nos níveis mais avançados), pelo que estas batalhas aleatórias podem ser uma boa fonte de vida e munições. Temos também segmentos subaquáticos onde teremos de nadar do ponto A ao ponto B, sendo muitas vezes rodeado de mergulhadores inimigos. Ainda nos sidescrollers, vamos tendo alguns segmentos onde Golgo 13 conduz um helicóptero, com as mecânicas a serem muito semelhantes às de um shmup. Tanto nos segmentos subaquáticos como nos aéreos teremos também as batalhas aleatórias para nos preocupar. Mas o que causa mais polémica é mesmo os segmentos de jogo onde teremos de explorar labirintos em primeira pessoa como um dungeon crawler da velha guarda. Aqui, para além de vários inimigos humanos, também teremos de nos preocupar com raios laser que nos impedem o progresso, buracos que nos levam para pisos mais abaixo, ou paredes que se atravessam à nossa frente. Mas estas, se tivermos granadas na nossa posse, podem ser demolidas.

Sinceramente até gostei dos diálogos

Portanto há toda aqui uma mistura de diferentes géneros de jogos, o que por um lado até é interessante para haver uma maior variedade na jogabilidade, no entanto acabam por ser algo desconexas e confusas. Sinceramente gosto mais dos segmentos em sidescroller, já os de primeira pessoa parecem-me algo desnecessários, a não ser que fossem usados para combater os bosses, algo que acontece no boss final, todo ele derrotado em primeira pessoa. A jogabilidade também não é a melhor, pois não conseguimos disparar agachados, enquanto os inimigos conseguem, o que acaba por ser um pouco injusto num jogo já por si difícil. No entanto a história até me pareceu interessante e “adulta” o suficiente, mantendo-se fiel ao feeling da manga ou anime, o que me surpreendeu bastante pela positiva devido a ser um jogo da NES.

Também temos um pouco de shmup, sinceramente pareceu-me algo forçado. E os encontros aleatórios aqui não fazem muito sentido.

Aliás, mantendo-nos nesse ponto, convém relembrar que a Nintendo naquela altura, principalmente nos Estados Unidos, o que também acabava por influenciar os jogos que chegavam à Europa, era bastante restritiva nas temáticas dos seus videojogos. Exigia a remoção de símbolos religiosos, tabaco, álcool, sexo e violência excessiva, pelo que muitos jogos de NES e SNES acabaram por ser algo censurados quando comparados com as suas versões japonesas. Aqui também houve alguma censura, mas ainda assim houve muita coisa que escapou. Nos segmentos labirínticos em primeira pessoa, quando atingimos um inimigo, vemos sangue a sair disparado das suas cabeças. Há um segmento específico onde temos de assassinar alguém através de uma sniper rifle, nunca antes visto num jogo da NES. É possível ver o Golgo 13 a fumar ocasionalmente e temos pelo menos 2 cenas de sexo, quando Golgo se encontra com 2 agentes num hotel. É verdade que a versão ocidental não é tão explícita quanto a versão japonesa, mas ainda assim não deixa de ser impressionante como a Nintendo deixou passar tanta coisa “impune”.

Uma das infames cenas de sexo. São só silhuetas, mas toda a gente sabe o que insinuam. Ah, e a vida de Golgo é regenerada.

Portanto eu vejo este Top Secret Episode como um jogo que tinha bastante potencial para ser muito melhor do que o que saiu. Acho interessante a Vic Tokai ter introduzido tantos segmentos com jogabilidades tão distintas entre si, mas a sua execução ainda deixa um pouco a desejar. Também dos mesmos produtores saiu uma sequela deste jogo, conhecida nos Estados Unidos como The Mafat Conspiracy. Estou bastante curioso em ver como se sairam, mas visto que o jogo uma vez mais não saiu cá na Europa, tão cedo não o deverei comprar.