Police Quest: In Pursuit of the Death Angel (PC)

Há uns meses atrás comprei um bundle muito interessante que incluiu imensos clássicos da Sierra no steam. Alguns jogos eu já tinha jogado como foi o caso dos Phantasmagoria, mas os lançamentos clássicos de séries como King’s Quest, Police Quest e Space Quest nunca os tinha jogado antes. Decidi começar pela série Police Quest, que nesta colectânea inclui os seus primeiros quatro títulos. É curioso que esta série apesar de ter começado com aventuras gráficas point and click, acabou por evoluir para a série SWAT, com shooters tácticos como os Rainbow Six.

Tal como o primeiro Larry e outras aventuras gráficas da Sierra, o primeiro Police Quest foi lançado em 1987 usando o motor gráfico AGI da Sierra, ou seja, um pouco como nas aventuras de texto de antigamente, teremos de escrever comandos para interagir com os cenários, como “open door“, “look“, “talk to man” ou “take uniform“. Portanto não só temos o desafio de procurar usar as palavras certas para cada acção, bem como temos de estar localizados no sítio certo, muitas vezes com uma precisão pixel perfect. Para além disso este era um motor gráfico ainda algo primitivo, que suportava apenas cores EGA. Nos anos 90 a Sierra decidiu lançar remakes de alguns dos seus jogos mais antigos no novo motor SCI, que suportava cores VGA, maior resolução e um interface verdadeiramente point and click, onde teremos de alternar os ponteiros do rato para ícones que representam diversas acções como falar, mover, observar ou interagir. Esta compilação inclui ambas as versões, pelo que irei abordar brevemente ambas.

O original é ainda daqueles jogos onde temos de escrever comandos com as acções que queremos fazer

Independentemente da versão que escolhermos jogar, a história base é a mesma. Nós encarnamos no agente policial Sonny Bonds que vive e trabalha numa cidade fictícia algures no estado da Califórnia. Era uma pequena cidade pacífica, mas nos últimos anos a criminalidade tem vindo a crescer, particularmente crimes relacionados com tráfico de droga. E nós começamos como um polícia que vai fazendo patrulhas de carro pela cidade, passar multas por excesso de velocidade, apreender bêbedos e entretanto a história vai evoluindo e lentamente iremos no encalço dos traficantes locais.

Como é habitual nos jogos da Sierra, o que não faltam são situações de game over, principalmente se não seguirmos à risca todos os protocolos policiais

Eu sempre gostei de aventuras gráficas policiais tipicamente pelas suas histórias repletas de mistérios e reviravoltas, mas devo dizer que já não gostei tanto deste Police Quest, porque se baseia muito mais em seguir o protocolo policial, do que propriamente pela sua trama. Por exemplo, sempre que sairmos da esquadra temos de revistar o nosso carro antes de o usar. Caso não o façamos é game over porque um dos pneus afinal estava vazio. Ou quando nos preparamos para aprisionar alguém, temos de ter em conta que o devemos algemar e revistar antes de o levar para a cadeia, caso contrário as coisas podem correr mal. No remake, quando o levamos para a cadeia temos ainda de digitar uma série de códigos policiais referentes às infracções que o suspeito tenha cometido, como por exemplo o código 21603 corresponde à infracção “Driving under the influence of intoxicants“. Estes códigos estão todos incluidos no manual, que felizmente temos acesso a uma versão digital de alguns destes documentos. Compreendo que este tipo de técnicas eram usadas como mecanismo de protecção anticópia, mas torna a experiência bem mais aborrecida.

O remake possui muito melhor detalhe gráfico, mas confesso que gosto mais do pixel art minimalista do original

E ainda nem mencionei na questão das patrulhas das ruas. Tanto no original como no remake temos de percorrer as ruas de Lytton num carro patrulha, principalmente na primeira metade do jogo, literalmente à espera que algo aconteça. Seja através de contactos pelo rádio, uma chamada do rádio a avisar-nos para ir a qualquer sítio, ou simplesmente termos apanhado alguém a cometer uma infracção. E percorrer as ruas de Lytton é um martírio, em primeiro lugar porque temos de seguir as regras: manter uma condução dentro do limite de velocidade, estar atento a sinais vermelhos e tentar não embater noutros carros ou casas, senão é game over. Para além disso a navegação é confusa, pois o mapa é grandinho e é difícil saber para onde nos teremos de dirigir. O ideal será procurar um mapa na internet, particularmente na primeira versão do jogo, visto que no remake o interface de condução foi todo remodelado para usar apenas uma série de ícones e aqui poderemos também ver os nomes das ruas, bem como observar os edifícios, o que já será uma ajuda.

As secções de condução no remake também têm agora uma interface completamente point and click. Ao menos podemos agora usar o rato para saber que edifícios correspondem ao quê

No que diz respeito aos audiovisuais, tal como aconteceu no primeiro Larry, apesar do remake possuir cenários e personagens bem mais coloridas e detalhadas, eu acabo por preferir o charme do pixel art mais minimalista do primeiro jogo. Até os diálogos ficaram melhor no original, na minha opinião. Por outro lado, o primeiro jogo foi lançado em 1987 e apenas suporta o PC Speaker como interface de som, pelo que este estará repleto de bips e bops. No remake já são suportadas uma série de placas de som, pelo que já teremos músicas e efeitos sonoros de melhor qualidade.

Portanto devo dizer que fiquei um bocado desiludido com este Police Quest, pelo seu maior foco em ser quase um “Police Simulator” do que uma aventura gráfica policial. A exagerada obrigação em seguir protocolos confesso que me deixou frustrado e é certo que terá sido certamente uma mecânica de jogo original para a época, mas eu não consegui mesmo apreciar. Mas estou bastante curioso em ver como a série evoluiu ao longo dos anos, pelo que deverei jogar a sua sequela em breve.

Leisure Suit Larry 3 – Passionate Pattie in Pursuit of the Pulsating Pectorals (PC)

Continuando na saga Leisure Suit Larry, ficamos agora com o terceiro capítulo, que curiosamente tinha sido o último que joguei há anos atrás. Tal como os restantes jogos da saga que tenho trazido até então, este veio também na compilação Leisure Suit Larry: Greatest Hits and Misses que comprei ao desbarato no GOG algures em 2013.

A história decorre pouco tempo depois dos acontecimentos do jogo anterior, onde Larry acabou por ir parar à ilha tropical de Nootoonyt, deu cabo dos planos maquiavélicos de um super-vilão e acabou por casar com a lindíssima filha do chefe da tribo local. Entretanto a ilha prosperou economicamente, imensos resorts turísticos foram sendo construídos e Larry era um empresário de sucesso. Isto até um certo dia regressar a casa e descobre a sua esposa no marmelanço… com outra mulher! Larry acaba por ficar divorciado e sem um tostão no bolso, uma vez mais. O resto do jogo será todo passado na mesma ilha, uma vez mais com imensas localizações para explorar, outras mulheres para conquistar em situações hilariantes, até que finalmente conhecemos a Passionate Patti, a “nova mulher dos seus sonhos”. Na última parte do jogo iremos inclusivamente jogar com a Patti, algo que se acabou por repetir no jogo seguinte.

Este novo capítulo usa o mesmo motor gráfico do anterior, com cenários muito detalhados para a época, mas as poucas cores dos sistemas EGA estragam um bocado a magia

A nível de mecânicas de jogo, este usa o mesmo motor gráfico do seu predecessor, incluindo uma interface algo rudimentar com o rato (embora tudo se possa fazer com o teclado, incluindo navegar nos menus) e todas as acções que possamos fazer, devem ser lançadas através de comandos com palavras chave. O problema, tal como no jogo anterior, é que nem sempre o jogo compreende as nossas intenções, pelo que teremos de usar algumas palavras específicas. Para além disso, em muitas das acções o jogo obriga-nos a estar posicionados em coordenadas muito específicas, quase pixel-perfect, o que às vezes também irrita um pouco. Este novo capítulo é um pouco mais não linear que os anteriores, pois temos practicamente todas as áreas abertas logo desde o início. E sim, também teremos várias maneiras de morrer, e ocasionalmente poderemos morrer por não ter apanhado algum item específico muito atrás no jogo, pelo que é recomendado gravar o nosso progresso várias vezes e em ficheiros diferentes. Mas felizmente estas situações não são tão recorrentes quanto no seu predecessor!

Antes de começar o jogo somos confrontados com uma série de questões para averiguar o quão adultos somos

Uma coisa que me esqueci de referir nos jogos anteriores é o sistema de protecção anti pirataria que tipicamente existem nos jogos da Sierra e no caso do Larry, o sistema de verificação de idades. Como os jogos do Larry tipicamente possuem algum conteúdo adulto, como cenas de nudez e inúmeras referências sexuais, até que fazia algum sentido implementarem controlos deste género. No primeiro jogo (e o remake de 1991), antes de começar a aventura é-nos questionada a nossa idade. Se for inferior a 17, o jogo salta logo fora, se dissermos que somos adultos, então teremos uma série questões de cultura geral para responder. Se acertarmos numas quantas, o jogo lá nos deixa começar a aventura, caso contrário, saltamos fora uma vez mais. O problema é que as questões são vocacionadas para adultos norte-americanos da época, pelo que vão haver umas quantas questões que não vamos saber responder. Felizmente que existe forma de fazer bypass a este controlo e, hoje em dia, também facilmente encontramos as suas respostas na internet. O segundo jogo não possui qualquer questionário de verificação de idade, pois as suas referências sexuais são menores, embora ainda existam ocasionalmente alguns pixeis marotos em cenas de nudez. Já neste Larry 3 os questionários de verificação de idade voltaram, mas desta vez não nos atiram borda fora se a nossa performance for má. Basicamente temos 5 questões para responder, uma vez mais de cultura geral nem sempre actualizada e focada no público norte americano. Mediante a percentagem de respostas acertadas, o nível de “censura” vai variando. Naturalmente eu procurei sempre acertar as respostas todas para ter acesso à versão o menos censurada possível e sim, neste Larry teremos muitas mais cenas de sexo e nudez, embora estejamos sempre a falar de coisas muito modestas e altamente pixelizadas.

Se respondermos correctamente às 5 questões iniciais, poderemos ver cenas como esta

Já no que diz respeito às protecções anti cópia, antigamente qualquer pessoa copiava muito facilmente jogos de uma disquete para outras, pelo que a Sierra decidiu incluir, seja nos manuais, seja através de folhetos extra que vinham na edição física dos jogos, uma série de pistas para questões que ocasionalmente o jogo nos coloca. Por exemplo, no remake de 1991 do primeiro Larry, a edição física trazia uma série de planfletos aparentemente publicitários, mas que na verdade eram usados pelo jogo ao questionar-nos alguma informação que poderíamos encontrar nesses planfletos. No Larry 2, em vez de um questionário de idade tinhamos um questionário de números de telefone que se podiam encontrar no manual. Já neste Larry 3, teremos alguns puzzles ao longo do jogo que apenas conseguimos resolver se tivermos os manuais. Felizmente que os lançamentos GOG trazem digitalizações dos manuais e todos estes extras!

O sistema de protecção anti cópia obriga-nos a verificar o manual ou outros papéis que vinham originalmente na edição física

Focando-nos novamente neste Larry 3 e na sua parte mais audiovisual, o jogo usa o mesmo motor gráfico do anterior, ou seja com cenários muito detalhados, mas que sofrem bastante com o facto da tecnologia EGA suportar apenas 16 cores em simultâneo, o que acaba por estragar bastante a “pintura”. Por outro lado, as músicas são ainda mais variadas e com mais qualidade. E mesmo a nível de narrativa, o jogo tem uma certa inspiração cinematográfica, ao apresentar alguns créditos dos principais produtores do jogo nas primeiras cenas.

E pronto, fica assim fechada a trilogia inicial dos primeiros Leisure Suit Larry. O jogo seguinte, Larry 5 pois o 4 nunca existiu, já usa um motor gráfico com gráficos em VGA e uma interface verdadeiramente point and click. Estou muito curioso com os  restantes jogos da série, pois apenas tinha jogado os 3 primeiros até agora. Veremos como se safam!

Leisure Suit Larry II: Goes Looking for Love (in Several Wrong Places) – PC

Depois do sucesso do primeiro Leisure Suit Larry, Al Lowe e a Sierra não perderam muito tempo para colocarem cá fora uma sequela. Usando um motor gráfico mais recente (a primeira versão do SCI), esta sequela é um jogo mais linear, no entanto bem maior, com muitos mais locais para visitar. O meu exemplar digital, tal como os outros jogos da série, veio na compilação Leisure Suit Larry’s Greatest Hits and Misses que foi comprada no GOG algures em 2013 por menos de 2.5€.

Depois da noite incrível que Larry protagonizou no final do primeiro jogo, a sua aventura começa precisamente na casa de Eve, onde acaba por ser expulso da vida da sua primeira conquista amorosa. Ao vaguear por Los Angeles, acabamos por nos ver envolvidos numa série de eventos bizarros: Larry finge ser o vencedor da lotaria e, enquanto está prestes a ser entrevistado pela estação televisiva local, vê-se agarrado a participar por engano num programa de encontros amorosos, onde, incrivelmente, acaba por ganhar uma viagem num cruzeiro pelos trópicos com a jovem concorrente. Pelo meio vê-se também envolvido, acidentalmente como sempre, no meio de uma conspiração de um vilão à lá James Bond que possui uma base secreta numa ilha tropical, onde naturalmente acabaremos por tropeçar e teremos também à perna inúmeros agentes do KGB à nossa procura.

Como habitual vamos tendo sempre uma narrativa bem humorada

Portanto, sendo este um jogo mais linear, tem no entanto vários pontos sem retorno, o que nos pode levar a avançar na história sem ter coleccionado alguns itens importantes antes, algo que iremos certamente sentir a sua falta mais tarde pois o que não faltam aqui são diferentes cenários de game over. Seja pela falta de algum item específico, seja por não usarmos alguns itens em certos momentos chave (o protector solar é muito importante!), ou se caírmos nalguma armadilha do KGB entretanto, ou simplesmente se formos desastrados em certos momentos do jogo. Tal como o seu predecessor, o interface é todo feito através de comandos que teremos de escrever, pelo que por vezes lá existam algumas falhas de vocabulário. Mover Larry é feito através das setas do teclado, e neste jogo teremos algumas ocasiões onde teremos de mover Larry por caminhos perigosos, como escapar de areia movediça, ou atravessar um perigoso desfiladeiro. Por todas estas razões é muito importante ir gravando o progresso no jogo em vários pontos, seja para voltarmos a uma zona atrás no jogo para procurar algum objecto que tenha ficado esquecido, ou para escapar de alguma armadilha do KGB, por exemplo.

Este segundo jogo está repleto de armadilhas e mortes bizarras! Façam saves frequentes e em slots diferentes

A nível audiovisual, sinceramente prefiro o primeiro Larry. Aqui já jogamos num motor gráfico novo, que apesar de possuir sprites, cenários e animações mais detalhadas, ainda é um motor gráfico com tecnologia EGA com 16 cores em simultâneo. Ou seja, com tão poucas cores disponíveis, sinceramente acho que os visuais mais simples e limpos do primeiro jogo tenham envelhecido melhor. Basta verem screenshots dos ecrãs na selva para terem uma ideia melhor do que estou a tentar dizer. Por outro lado, no som, já temos mais músicas e efeitos sonoros ao longo do jogo, embora ainda existam muitos momentos absolutamente silenciosos.

Esta fase foi muito chata!

Portanto este Leisure Suit Larry é mais uma aventura gráfica repleta de situações caricatas e bom humor. É também um jogo mais linear que o seu predecessor, porém é maior, com uma maior variedade de localizações distintas a explorar. No entanto, exige uma jogabilidade ainda mais cuidada, pois teremos imensas armadilhas e alguns puzzles não muito lógicos, muitas vezes exigindo itens que podemos ter deixado passar despercebidos em áreas anteriores às quais já não poderemos regressar. Uma vez mais, múltiplos saves são absolutamente recomendados, caso não queiram consultar nenhum guia.

Phantasmagoria: A Puzzle of Flesh (PC)

phantasmagoria2Voltando aos clássicos de PC, para mais uma das aventuras a saudosa Sierra Online. O primeiro Phantasmagoria, da autoria de Roberta Williams, uma das mais importantes personalidades na indústria nas décadas de 80 e 90, é um jogo de culto, mas infelizmente acabou por ser bem mauzinho, tendo ficado imortalizado pelo seu mau acting e cenas pseudo-adultas como uma violação bastante estúpida, na minha opinião. Ainda assim o jogo fez um sucesso tremendo, justificando-se o desenvolvimento de uma sequela que na minha opinião é superior em tudo. Este jogo entrou na minha colecção após ter sido comprado algures durante este ano na Feira da Ladra em Lisboa por uns meros trocos. Infelizmente apenas tenho os discos do jogo e suas caixas em jewel case, a big box o antigo dono já não a tinha.

Phantasmagoria A puzzle of Flesh - PC
Jogo com 2 caixas jewel case, 5 discos e o manual (embutido na capa)

Desta vez a nossa personagem é Curtis Craig, um jovem funcionário de uma empresa farmacêutica. E inicialmente lá andamos pelo escritório a conhecer as personagens, falar um pouco com as mesmas, ver os nossos e-mails e documentos de trabalho para nos contextualizar um pouco a coisa… Curtis tem uma namorada secreta na empresa, outra que o anda a assediar fortemente e o seu melhor amigo/colega de trabalho é gay, pelo qual ele se sente um pouco atraído (sim, Curtis é bi). Tudo business as usual, até que um colega de trabalho que Curtis nem gosta nada é brutalmente assassinado. A partir daí a história vai tomando uma componente psicológica muito forte, com os dramas de infância de Curtis a virem ao de cima, o facto de ter sido internado num hospital psiquiátrico, começar a ter alucinações horripilantes, mais assassinatos à mistura e relações sexuais fora do convencional.

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Agora cada acção é acompanhada de uma sequência em full motion video, ao contrário do anterior que mesmo assim apresentava os backgrounds pré-renderizados

Infelizmente a história deste Phantasmagoria ainda não é perfeita e por vezes nota-se bem que o jogo tenta ser polémico sem haver uma razão muito forte para isso. As cenas de sadomasoquismo, a bissexualidade de Craig ser levemente trazida à baila só porque sim e a recta final da história que é um plot twist surpreendente. Lembram-se da primeira vez em que viram o From Dusk Till Dawn e estarem a gostar bastante? Até que chega a uma altura em que aquilo se torna num filme de vampiros quase série B? Pronto, aqui acontece algo semelhante. Ah, e para os pervertidos de plantão, há boobies.

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Yup, there’s boobies.

A grande diferença que notamos neste jogo mal ele seja lançado é a diferença nos gráficos. Basicamente notamos uma melhoria na qualidade dos videos, tanto em resolução como em cores. E como o jogo tem “apenas” 5 CDs, a sua compressão é também melhor. Depois os cenários pré-renderizados do jogo anterior practicamente que desaparecem na sua totalidade. A esmagadora maioria dos cenários são baseados em fotos de cenários reais, onde a “sprite” das personagens estão constantemente a fazer movimentos de circunstância, apenas para dar mais algum dinamismo. Os controlos são os simples de um point and click e sempre que clicamos para Curtis se deslocar para algum lado ou efectuar uma acção (apanhar, investigar ou interagir com objectos, por exemplo), vemos uma cutscene em full motion vídeo de todos esses movimentos e diálogos. E a segunda coisa que imediatamente reparamos é que apesar deste Phantasmagoria não ter a qualidade de Hollywood nas representações dos seus actores, acaba por ser muito melhor que a do primeiro jogo. Mas nem tem comparação!!!

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…e cenas de S&M. Não é por acaso que este jogo foi banido em muito lado.

Mas infelizmente como jogo de aventura point and click, continua a deixar a desejar, pois oferece pouca variedade de coisas a fazer. O fluxo é sempre algo do género: acordar, falar com o rato de estimação, ir para o trabalho, falar com toda a gente e tentar ir a todo o lado na empresa, ver e-mails e documentos, sair do trabalho e ir a um restaurante, ou ao psicólogo, algum divertimento (ou não) durante a noite e repetir no dia seguinte. Os puzzles em si, para além de ter de adivinhar algumas passwords para aceder a documentos de outros users, são bastante dispersos e são um pouco idiotas. Logo no início do jogo esquecemo-nos da carteira em casa. Curtis vê que a mesma está debaixo do sofá. A solução lógica seria arrastar o sofá e pegar na carteira mas o que temos de fazer é soltar o rato debaixo do sofá e depois atraí-lo com comida, magicamente volta com a carteira… O puzzle final também é inesperado mas prefiro não o revelar.

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O gore também não podia faltar. E na recta final do jogo podemos morrer nalgumas destas cenas, a menos que cliquemos no sítio certo no momento oportuno.

No fim de contas, e apesar de continuar a achar que este jogo, tal como o primeiro Phantasmagoria, ganharam este estatuto de culto devido às cenas gore e às de cariz sexual, acaba por desiludir um pouco nas suas mecânicas de jogo e à forma em como a história é conduzida. De resto, tal como referi acima, há melhorias consideráveis no audiovisual. As músicas são na sua maioria ambientais e bastante tensas, as cutscenes têm uma qualidade bem melhor que o primeiro jogo e o acting também. Portanto, apesar de não ser perfeito, acho que já justifica a sua compra, especialmente se o acharem a um bom preço.

Phantasmagoria (PC)

PhantasmagoriaPhantasmagoria é para mim um jogo muito caricato. Desde que o vi em revistas ou mesmo no Templo dos Jogos durante os anos 90 que sempre tive curiosidade em o jogar, quer pelo facto de usar actores reais, como supostamente ser um jogo “adulto” e com temática do horror. Mas por uma razão ou outra nunca o cheguei a fazer, talvez o facto de trazer 7 CDs me tenha desencorajado a tentar obtê-lo por meios menos legítimos enquanto não tinha uma internet em condições. Mas eventualmente, numa das minhas idas à Feira da Ladra em Lisboa durante este ano, acabei por o encontrar completo, onde o consegui trazer por 2.5€. Saí bastante satisfeito com tal façanha, mas agora que o joguei até ao final não consigo deixar de me sentir desiludido.

Phantasmagoria - PC
Jogo completo com big box, caixas de cd, manual (serve também de capa de uma das jewelcase) e 7 discos.

Phantasmagoria é o que Roberta Williams (uma das personalidades mais marcantes da indústria dos videojogos, em especial no subgénero de aventuras point-and-click) considera ser o seu magnum-opus, a sua obra de uma carreira. A sua ambição foi desenvolver um videojogo com temática adulta e assustadora, com uma óptima narrativa que nos deixasse mesmo tensos à medida que íamos avançando no jogo. Infelizmente isso não aconteceu pelas razões que passarei a explicar em seguida.

Em primeiro lugar, porque a história é bastante previsível e não assusta nem a minha avó: o jogo coloca-nos no papel de uma protagonista feminina, a romancista Adrienne Delaney que, juntamente com o seu marido Donald Gordon compraram uma enorme mansão abandonada cujo antigo dono era um mágico chamado Zoltan Carnovasch, que viveu algures durante o século XIX. Tanto ele como as suas numerosas mulheres com que se foi casando ao longo dos anos, foram assassinadas brutalmente, logo está-se mesmo a ver que a casa está assombrada. E pouco depois de a explorarmos, inadvertidamente soltamos um espírito maligno que possui Donald, tornando-o de uma pessoa afável e caridosa, para alguém sempre zangado e cada vez mais violento, tal como aconteceu com Zoltan quase 100 anos antes. O jogo é assim todo passado a explorar a enorme mansão e as suas divisões, passagens secretas, áreas à volta ou mesmo a pequena vila nas suas imediações, tanto para fazer coisas corriqueiras como ir buscar um desentupidor de canos só porque o marido a mandou, como para descobrir o mistério por detrás de Zordan e os seus eventuais crimes.

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A aventura é jogada na terceira pessoa, onde vemos filmagens da actriz a contracenar com fundos gerados por computador.

A jogabilidade seria a de um point and click normal, não fosse este um jogo de “full motion video“. Apesar de eventualmente irmos desbloqueando várias cutscenes completamente filmadas “na vida real”, todo o resto do jogo coloca filmagens de actores reais a contracenar com fundos pré-renderizados, tal como vimos em 7th Guest ou 11th Hour, embora esses sejam jogados numa perspectiva de primeira pessoa. Aqui todos os movimentos de Adrienne foram gravados, sejam dela a passear-se pela casa ou suas divisões, bem como todas e quaisquer interacções com pessoas e objectos. Isso deve ter dado um trabalhão inacreditável e o resultado nem é mau de todo para a época, tendo em conta que tiveram de comprimir bastante as gravações e mesmo assim o jogo ocupa 7 cds, pois tiveram de ter muito conteúdo repetido em cada CD para evitar trocas constantes.

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O jogo tem algumas cenas violentas, mais na sua segunda metade. Ainda assim pensei que fosse bem pior nesse aspecto.

No entanto isto acaba mais por parece um filme interactivo do que outra coisa. Apesar de termos de interagir com objectos e pessoas como num point and click normal, essas interacções não são assim tão frequentes e o grande desafio dos “puzzles” é saber onde temos de ir e clicar no ecrã para fazer qualquer coisa. Felizmente o ponteiro do rato muda consoante passemos com o mesmo em alguma zona onde podemos interagir com algo, ou simplesmente nos deslocar para outra sala. De qualquer das formas para os que estejam perdidos podem sempre usar as dicas que se obtém ao clicar na caveira no nosso menu na parte inferior do ecrã.

E sendo esta aventura quase um filme interactivo, o que importa mais num filme? A sua representação. E como em todos os videojogos desta época baseados em FMV que joguei até agora (e admito que ainda me faltam jogar uns quantos), a representação é terrível. A Adrienne nem é assim tão má, mas a do seu marido chega a ser até cómca de tão má que é, assim como a mãe e filho vagabundos que ocupavam o celeiro, entre outras. Mas ainda assim, o jogo foi um sucesso de vendas, devido ao conteúdo adulto que promete. Cenas com algum gore podem ser vistas (se bem que poucas), mas Adrienne apenas pode morrer já perto do final do jogo e  o facto de ter uma cena de violação deixou este Phantasmagoria nas bocas do mundo e como tal acabou por ser banido numa série de países. Só que a cena em questão é absurdamente má que nem se entende o porquê de tanto alarido. Quer dizer, para a altura era algo chocante vindo de um videojogo AAA de uma produtora conceituada, isso é compreensível. As músicas não são nada de especial, tirando o tema principal que com os seus imponentes e tenebrosos cantos gregorianos fizeram-me antever que ia passar um óptimo bocado ao descobrir este Phantasmagoria. As restantes músicas são bem mais contidas e com qualidade MIDI.

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A mítica rape scene, que até parece começar bem, mas depois atinge níveis estratosféricos de muito má representação

Por incrível que pareça, para além da versão PC original, a outra plataforma que viu um lançamento deste jogo foi… a mítica Sega Saturn, mas esse lançamento ficou-se pelo Japão. Como seria de esperar a qualidade das FMVs é ainda pior devido à máquina da Sega não ter embutido um codec decente de MPEG video e, embora exista um acessório oficial para o efeito, o jogo não é compatível com o mesmo. De resto, e apesar de compreender o porquê deste jogo ter recebido um estatuto de culto ao longo dos anos pelo seu conteúdo bizarro e provocador para a época, no final de contas acabou por me desiludir pois esperava algo com melhor gameplay e claro, história e acting competente. Mas o sucesso de vendas fez com que uma sequela fosse lançada e, mesmo sem a Roberta Williams estar envolvida, dizem que tecnicamente é um jogo muito superior. Estou curioso, mas ficará para um próximo artigo.