Há uns meses atrás comprei um bundle muito interessante que incluiu imensos clássicos da Sierra no steam. Alguns jogos eu já tinha jogado como foi o caso dos Phantasmagoria, mas os lançamentos clássicos de séries como King’s Quest, Police Quest e Space Quest nunca os tinha jogado antes. Decidi começar pela série Police Quest, que nesta colectânea inclui os seus primeiros quatro títulos. É curioso que esta série apesar de ter começado com aventuras gráficas point and click, acabou por evoluir para a série SWAT, com shooters tácticos como os Rainbow Six.
Tal como o primeiro Larry e outras aventuras gráficas da Sierra, o primeiro Police Quest foi lançado em 1987 usando o motor gráfico AGI da Sierra, ou seja, um pouco como nas aventuras de texto de antigamente, teremos de escrever comandos para interagir com os cenários, como “open door“, “look“, “talk to man” ou “take uniform“. Portanto não só temos o desafio de procurar usar as palavras certas para cada acção, bem como temos de estar localizados no sítio certo, muitas vezes com uma precisão pixel perfect. Para além disso este era um motor gráfico ainda algo primitivo, que suportava apenas cores EGA. Nos anos 90 a Sierra decidiu lançar remakes de alguns dos seus jogos mais antigos no novo motor SCI, que suportava cores VGA, maior resolução e um interface verdadeiramente point and click, onde teremos de alternar os ponteiros do rato para ícones que representam diversas acções como falar, mover, observar ou interagir. Esta compilação inclui ambas as versões, pelo que irei abordar brevemente ambas.
Independentemente da versão que escolhermos jogar, a história base é a mesma. Nós encarnamos no agente policial Sonny Bonds que vive e trabalha numa cidade fictícia algures no estado da Califórnia. Era uma pequena cidade pacífica, mas nos últimos anos a criminalidade tem vindo a crescer, particularmente crimes relacionados com tráfico de droga. E nós começamos como um polícia que vai fazendo patrulhas de carro pela cidade, passar multas por excesso de velocidade, apreender bêbedos e entretanto a história vai evoluindo e lentamente iremos no encalço dos traficantes locais.

Eu sempre gostei de aventuras gráficas policiais tipicamente pelas suas histórias repletas de mistérios e reviravoltas, mas devo dizer que já não gostei tanto deste Police Quest, porque se baseia muito mais em seguir o protocolo policial, do que propriamente pela sua trama. Por exemplo, sempre que sairmos da esquadra temos de revistar o nosso carro antes de o usar. Caso não o façamos é game over porque um dos pneus afinal estava vazio. Ou quando nos preparamos para aprisionar alguém, temos de ter em conta que o devemos algemar e revistar antes de o levar para a cadeia, caso contrário as coisas podem correr mal. No remake, quando o levamos para a cadeia temos ainda de digitar uma série de códigos policiais referentes às infracções que o suspeito tenha cometido, como por exemplo o código 21603 corresponde à infracção “Driving under the influence of intoxicants“. Estes códigos estão todos incluidos no manual, que felizmente temos acesso a uma versão digital de alguns destes documentos. Compreendo que este tipo de técnicas eram usadas como mecanismo de protecção anticópia, mas torna a experiência bem mais aborrecida.

E ainda nem mencionei na questão das patrulhas das ruas. Tanto no original como no remake temos de percorrer as ruas de Lytton num carro patrulha, principalmente na primeira metade do jogo, literalmente à espera que algo aconteça. Seja através de contactos pelo rádio, uma chamada do rádio a avisar-nos para ir a qualquer sítio, ou simplesmente termos apanhado alguém a cometer uma infracção. E percorrer as ruas de Lytton é um martírio, em primeiro lugar porque temos de seguir as regras: manter uma condução dentro do limite de velocidade, estar atento a sinais vermelhos e tentar não embater noutros carros ou casas, senão é game over. Para além disso a navegação é confusa, pois o mapa é grandinho e é difícil saber para onde nos teremos de dirigir. O ideal será procurar um mapa na internet, particularmente na primeira versão do jogo, visto que no remake o interface de condução foi todo remodelado para usar apenas uma série de ícones e aqui poderemos também ver os nomes das ruas, bem como observar os edifícios, o que já será uma ajuda.

No que diz respeito aos audiovisuais, tal como aconteceu no primeiro Larry, apesar do remake possuir cenários e personagens bem mais coloridas e detalhadas, eu acabo por preferir o charme do pixel art mais minimalista do primeiro jogo. Até os diálogos ficaram melhor no original, na minha opinião. Por outro lado, o primeiro jogo foi lançado em 1987 e apenas suporta o PC Speaker como interface de som, pelo que este estará repleto de bips e bops. No remake já são suportadas uma série de placas de som, pelo que já teremos músicas e efeitos sonoros de melhor qualidade.
Portanto devo dizer que fiquei um bocado desiludido com este Police Quest, pelo seu maior foco em ser quase um “Police Simulator” do que uma aventura gráfica policial. A exagerada obrigação em seguir protocolos confesso que me deixou frustrado e é certo que terá sido certamente uma mecânica de jogo original para a época, mas eu não consegui mesmo apreciar. Mas estou bastante curioso em ver como a série evoluiu ao longo dos anos, pelo que deverei jogar a sua sequela em breve.
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Não tenho paciência para jogos baseados em comandos. Principalmente neste caso em que o jogo é tipo um “simulador” do cotidiano policial americano. O mapa junto ao painel me lembrou Sim City.
Sim, os jogos antigos da Sierra tinham todos esse interface que faz lembrar o Sim City!