Stacking (PC)

Continuando pelas rapidinhas, o jogo que vos trago hoje é algo que já tinha instalado no meu PC há vários anos, mas que, pelos mais variados motivos, nunca cheguei a dar-lhe a devida atenção, até agora. Tal como aconteceu com Costume Quest, este Stacking é também um jogo mais curto, tendo sido desenvolvido em paralelo com Brütal Legend (e que também hei-de jogar um dia destes!). À semelhança de Costume Quest, o meu exemplar digital veio num Humble Bundle comprado algures em 2013 por uma bagatela.

Stacking possui, no entanto, um conceito muito original. Decorrendo num mundo algo sombrio e claramente inspirado pela era da Revolução Industrial, todas as personagens são bonecos matryoshka, resultando numa jogabilidade repleta de puzzles onde encaixar uns bonecos dentro dos outros nos permite utilizar as suas habilidades únicas e assim ultrapassar os desafios que nos vão sendo apresentados.

A primeira secção do jogo acaba por ser um tutorial das mecânicas base deste jogo, que acabam por ser bastante originais

A história leva-nos a controlar Charlie Blackmore, o boneco matryoshka mais pequeno do mundo e também o filho mais novo da família Blackmore que, tal como muitas famílias das classes sociais mais baixas dessa época, vivia em grande pobreza. Em busca de uma vida melhor, o pai de Charlie decide ir trabalhar para a fábrica de um barão abastado, mas, após vários meses sem deixar notícias, a família Blackmore, agora cada vez mais endividada, vê-se obrigada a ceder todos os irmãos de Charlie, enviados também para trabalhar como aprendizes. Eventualmente, Charlie descobre que todos foram escravizados, assim como muitas outras crianças, e decide partir em sua busca para os libertar.

Se há coisa que o jogo vai mantendo é o seu bom sentido de humor

A principal habilidade de Charlie é poder possuir matryoshkas de tamanho imediatamente superior, passando a controlá-las por dentro e a utilizar as suas habilidades específicas. Pode ainda continuar a empilhar-se noutros bonecos maiores, herdando sempre a habilidade do último. As matryoshkas e as suas capacidades são bastante distintas entre si: desde flatulências, arrotos e chapadas de luva branca, até destrancar portas, reparar equipamentos e muito mais. O jogo apresenta-nos uma sucessão de puzzles que exigem possuir e usar as habilidades certas para progredir, sendo que muitos desafios possuem mais do que uma solução possível, incentivando-nos a descobri-las todas e recompensando-nos por isso.

Cada puzzle tem também mais que uma solução e o jogo encoraja-nos a encontrá-las todas!

Por exemplo, a primeira área que exploramos é a estação de comboios local, onde, devido a uma greve dos trabalhadores, várias crianças (incluindo um dos irmãos de Charlie) são forçadas a carregar carvão para as locomotivas. Para avançar, temos de convencer os representantes da indústria ferroviária a reunirem-se com os sindicalistas em greve. O problema? Os patrões estão retidos num lounge restrito a um público muito selecto e cuja entrada é guardada. Como entrar? Perto do local encontramos um boneco na forma de mecânico capaz de abrir uma conduta de ar, permitindo-nos infiltrar no lounge e, a partir daí, controlar os patrões para os conduzir até aos grevistas. Outra solução possível passa por aproveitar a mesma conduta, que sopra ar para dentro do edifício, e usar um boneco cuja habilidade especial é soltar um poderoso peido. Basta posicioná-lo em frente ao ventilador…

Para além de diferentes soluções para cada puzzle, o jogo também nos encoraja a explorar as diferentes personagens que podemos controlar e suas habilidades características

Este é apenas um dos muitos exemplos do tipo de puzzles que iremos encontrar. Ao longo do jogo exploramos também um navio cruzeiro, um zeppelin e até um comboio gigante. Todas as zonas podem ser revisitadas após terminar a narrativa principal, permitindo descobrir todas as soluções alternativas para cada puzzle e completar conteúdo opcional, como “coleccionar” todos os bonecos especiais ou explorar as suas habilidades para desbloquear troféus específicos. Nos desafios mais avançados, é necessário utilizar várias habilidades de forma sequencial, garantindo uma progressão de dificuldade equilibrada e satisfatória.

Para além da história principal, pelo menos a edição PC já vem incluída com um DLC com uma história adicional

Visualmente, este é um jogo tecnicamente simples, mas com um charme inegável, não só pelo conceito de controlarmos bonecos matryoshka com características distintas, mas também pela sua direcção artística, que retrata de forma estilizada um período muito característico da nossa história moderna. As cenas são apresentadas como filmes antigos sem som, com os diálogos surgindo em diapositivos de texto intercalados com a acção, e a banda sonora composta por temas de época, recorrendo sobretudo a pianos e instrumentos acústicos, tal como nos filmes mudos de outrora. O resultado é uma estética coesa e irresistível.

Stacking é, portanto, um jogo de puzzle bastante original nas suas mecânicas e que, apesar de consideravelmente curto, compensa em longevidade graças às múltiplas soluções de cada desafio e aos objectivos opcionais que nos encorajam a explorar tudo ao detalhe. Para além do jogo base, a Double Fine lançou ainda um DLC com uma pequena aventura adicional que expande a história de Charlie Blackmore. Não sei se tal aconteceu nas versões PS3 e X360, mas o meu exemplar PC já o trouxe incluído, um excelente bónus.

Grim Fandango (PC / Sony Playstation 4)

Na minha demanda para jogar todas as aventuras gráficas da Lucasarts que ainda não havia experimentado, chegou agora a vez de Grim Fandango, uma das últimas que o estúdio produziu, originalmente lançada para PC em 1998. Em 2015, a Double Fine relançou o título numa forma remasterizada para várias plataformas mais actuais. Os meus exemplares da versão original de PC foram comprados em feiras de velharias por uma ninharia, mas a edição remastered para a PS4 (que foi a que acabei por jogar) já me saiu bem mais cara.

Versão PC em formato caixa de DVD com dois discos e papelada

Em Grim Fandango, acompanhamos Manuel “Manny” Calavera, um “agente de viagens” no Departamento da Morte, encarregado de guiar as almas recentemente falecidas na sua jornada pelo Além. O seu trabalho de rotina sofre uma reviravolta quando se vê envolvido numa conspiração que ameaça não só o seu emprego, mas também a segurança de Mercedes “Meche” Colomar, uma cliente destinada a um tratamento muito melhor do que aquele que recebeu. Inspirando-se no imaginário do film noir e na iconografia mexicana do Dia dos Mortos, o jogo mistura intriga, humor e melancolia numa aventura que atravessa quatro anos no submundo, com Manny a tentar corrigir erros, expor corruptos e, quem sabe, encontrar redenção para si mesmo.

Jogo com caixa, versão remastered para a PS4

Grim Fandango é também notável por ser a primeira aventura gráfica da Lucasarts desenvolvida inteiramente em 3D. Tal como nos Resident Evil clássicos, utiliza tank controls e ângulos de câmara fixos devido à presença de cenários pré-renderizados. As personagens são modelos poligonais, tal como alguns veículos com os quais interagimos. A tradicional interface point and click foi abandonada: não existe cursor, e a interacção é feita movendo Manny pelo ecrã com o direccional e usando os botões para agir sobre o cenário ou falar com personagens. Sabemos que um objecto é interactivo quando a cabeça de Manny se vira na sua direcção. Na minha opinião, esta decisão não foi feliz, pois a navegação pelos cenários torna-se algo difícil. Por vezes fiquei preso sem saber o que fazer, seja por caminhos pouco visíveis, seja por itens bem camuflados. Para além dos habituais puzzles que envolvem objectos recolhidos e diálogo com personagens, há também quebra-cabeças mais tradicionais, embora nem sempre seja claro o que o jogo espera de nós. Casos notórios desses foram o puzzle da máquina na floresta, ou de outro em que era necessário arrombar uma porta de segurança. A versão Remastered introduz controlos mais modernos que facilitam a exploração, e os botões do comando da PlayStation permitem interagir, observar, ou abrir e fechar o inventário, de onde podemos equipar e usar itens. Li que esta edição permite activar uma interface point and click, mas na versão PS4 não encontrei tal opção.

Tal como nos restantes títulos da Lucasarts, os diálogos pemanecem sempre bem humorados.

Se a jogabilidade envelheceu de forma desigual, a narrativa forte e as personagens carismáticas eclipsam essas falhas. O conceito é fascinante e o jogo está repleto de figuras memoráveis. Manny Calavera é, à primeira vista, apenas mais uma alma presa no limbo, a cumprir o seu tempo como agente de viagens na esperança de um dia seguir para “o outro lado”. No entanto, distingue-se pela humanidade que mantém mesmo na morte: uma mistura de virtudes e defeitos que o torna uma figura complexa. É capaz de genuína empatia, como demonstra na sua preocupação constante com o destino de Meche, mas também não hesita em recorrer a artimanhas e interesses próprios, chegando a explorar outras almas quando assume o comando do seu próspero casino. Entre a boa vontade e a conveniência, Manny move-se sempre numa zona cinzenta, algo muito próprio de narrativas com atmosfera noir. Ao seu lado temos Glottis, um enorme demónio criado pelos deuses com a única função de ser mecânico para a “agência de viagens” onde Manny trabalha. Rapidamente “desviado” para nos ajudar, Glottis é uma figura de bom humor contagiante, mas cuja incapacidade de exercer a função para a qual foi criado o leva a uma espiral depressiva que tenta disfarçar com tiradas cómicas.

Tal como noutros jogos de acção da época, os cenários são pré-renderizados, logo com câmara fixa. Os controlos são tank controls e as personagens são renderizadas em 3D.

Visualmente, o jogo tem uma identidade muito própria. As personagens, todas representadas como esqueletos, beneficiam de um design que ajudou a disfarçar a simplicidade dos modelos poligonais da época. Os cenários pré-renderizados evocam fortemente os anos 50, sobretudo nas zonas urbanas. Contudo, devido a esta técnica, as melhorias gráficas da versão Remastered são limitadas: notam-se texturas mais definidas nos modelos e melhorias de iluminação, mas os cenários mantêm-se inalterados. Isto obriga a jogar mantendo a proporção 4:3, com barras laterais, ou então com a imagem esticada para 16:9, solução que não recomendo. Já no campo sonoro, o voice acting é de excelente qualidade e a banda sonora, dominada por temas de jazz, encaixa perfeitamente na atmosfera noir que o jogo respira.

A atmosfera noir encaixa que nem uma luva ao jogo!

Em suma, Grim Fandango revelou-se mais uma excelente experiência, com uma narrativa envolvente e um elenco de personagens memoráveis. É verdade que sofreu com a transição do 2D para o 3D (algo muito comum na época) mas essas arestas acabam por ser irrelevantes quando tudo o resto é tão bem conseguido.

Day of the Tentacle (PC / Microsoft Xbox One)

Na minha missão de jogar todas as aventuras gráficas da Lucasarts, chegou agora a vez do famoso Day of the Tentacle. É um jogo de que já ouvira falar bastante por parte de amigos que o adoram, pelo que as expectativas estavam altíssimas e posso desde já afirmar que não saíram, de todo, defraudadas. Os meus exemplares na colecção estão divididos em dois sistemas: por um lado, tenho a versão DOS incluída numa compilação chamada Tien Adventures, exclusiva do mercado neerlandês, que reúne dez jogos da Lucasarts; por outro lado, possuo também a versão remastered na Xbox One, em edição física lançada exclusivamente pela Limited Run Games. Tendo em conta que a versão DOS que possuo é a lançada originalmente em disquetes (e que, portanto, não possui voice acting), esta análise centrar-se-á na versão remasterizada.

Compilação da Lucasarts exclusiva do mercado holandês contendo a jewel case e dois CDs com jogos.

Day of the Tentacle é uma sequela de Maniac Mansion, decorrendo cerca de cinco anos após os acontecimentos narrados nessa aventura. Para quem jogou o Maniac Mansion, certamente se lembrará de dois tentáculos coloridos na mansão da família Edison: um verde, benevolente, e um roxo, com aspirações maléficas. Acontece que o cientista Fred Edison, embora agora livre do controlo psíquico do meteoro do primeiro jogo, continua a dedicar-se à criação de invenções malucas. Uma das mais recentes é a Sludge-O-Matic, uma máquina que produz resíduos tóxicos sem qualquer propósito prático. O Tentáculo Roxo decide beber esse líquido contaminado, o que faz com que lhe cresçam dois braços. Agora com membros superiores, sente-se poderoso e pronto para dominar o mundo e escravizar a raça humana. Alarmado, o Tentáculo Verde decide alertar Bernard Bernoulli (uma das personagens jogáveis no Maniac Mansion), agora um estudante universitário. Bernard recebe o pedido de ajuda e resolve alistar dois colegas: Hoagie, um roadie de uma banda rock com pouco tino, e Laverne, uma estudante de medicina com uma personalidade bastante peculiar. O plano de Fred Edison para travar o Tentáculo Roxo não poderia ser mais simples: usar uma máquina do tempo para regressar ao dia anterior e impedir que o tentáculo beba a água contaminada. Contudo, nada corre como previsto, e a máquina avaria. Hoagie acaba por ser transportado duzentos anos para o passado, Laverne para duzentos anos no futuro (onde a humanidade já se encontra escravizada pelos tentáculos) e Bernard permanece no presente. O novo plano passa, então, por ajudar os dois colegas a regressarem ao presente, consertar a máquina do tempo e impedir que o caos se instale.

Jogo com caixa

No que diz respeito à jogabilidade, esta é uma aventura gráfica do estilo point and click, pelo que podem esperar as habituais interacções: explorar cenários, coleccionar e combinar objectos, e conversar com diversas personagens para fazer a história avançar. Uma das funcionalidades introduzidas na versão remastered permite alternar, com o pressionar de um botão, entre visuais e interface modernos e os clássicos originais. O esquema de controlo clássico assenta no tradicional menu de verbos (caminhar, observar, usar, abrir, fechar, falar, entre outros). A ideia é clicar no verbo correspondente à acção desejada e, em seguida, no objecto ou personagem com o qual se pretende interagir. No esquema moderno, esse menu deixa de existir, sendo substituído por uma roda de ícones: ao clicar sobre um ponto de interesse (os quais podem, inclusive, ser destacados no ecrã com um outro botão), surgem várias acções disponíveis à volta do mesmo, facilitando a navegação para quem preferir um layout mais contemporâneo.

A versão remastered felizmente deixa-nos jogar com os visuais (e interface) originais se assim o desejarmos.

A premissa de termos três personagens em épocas distintas é aproveitada com enorme criatividade, permitindo manipular eventos passados e futuros de forma engenhosa. Por exemplo, Hoagie irá cruzar-se com figuras incontornáveis da fundação dos Estados Unidos da América, como George Washington, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, todos hospedados no mesmo edifício onde agora se encontram. Um exemplo prático dessa dinâmica temporal é o nosso poder de influenciar o design da bandeira americana, o que desbloqueará o progresso de Laverne no futuro. E os puzzles que envolvem um certo hamster são, de facto, bastante originais! As aventuras gráficas da Lucasarts, em particular os Monkey Island que antecederam o lançamento deste Day of the Tentacle, já nos habituaram a desafios inteligentes e alguma liberdade na ordem em que os podemos resolver. Agora, com estas três linhas temporais a decorrer em simultâneo, torna-se ainda mais impressionante toda a inventividade do design. A troca de itens entre personagens, essencial para a resolução de vários enigmas, é agora mais simples na versão remastered: basta abrir o inventário, seleccionar o objecto e usá-lo sobre o ícone da personagem a quem o queremos entregar. No original, era necessário ir até à cápsula do tempo de cada personagem para efectuar a troca, tornando o processo mais moroso. Esta optimização das acções repetitivas foi, portanto, bastante bem-vinda.

Os visuais novos, apesar de manterem o seu aspecto de desenho animado, acabam por parecer muito mais genéricos que o lindíssimo pixel art original

A nível audiovisual, este é um jogo bastante criativo. Os cenários e personagens apresentam um estilo cartoon muito característico dos anos 90, repleto de exageros visuais e expressões caricatas que complementam na perfeição o tom humorístico da aventura. As versões originais para DOS recorrem a pixel art bastante detalhada e charmosa, exactamente como eu gosto! Já a versão remastered opta por visuais inteiramente redesenhados em alta definição, mas infelizmente nem sempre à altura do original. Enquanto a arte em pixel do jogo de 1993 impressiona pelo nível de detalhe conseguido dentro das limitações técnicas da época, os novos gráficos em HD, embora mais limpos e suaves, revelam-se algo genéricos e com menos personalidade do que seria de esperar. Ainda assim, os visuais modernos oferecem uma interface point and click mais acessível, o que me levou a jogar a maior parte da aventura nesse modo. Em todos os ecrãs, no entanto, fiz questão de alternar momentaneamente para os gráficos clássicos, para não perder o encanto da versão original. A transição entre os dois modos é fluida, e o efeito de aumento de resolução e área visível, ao desaparecer o menu de verbos, está particularmente bem conseguido. A transição entre gráficos modernos e antigos é bastante fluída e o efeito da resolução e da área visível de jogo aumentar à medida que o menu de verbos desaparece está bem conseguido. No que diz respeito ao som, a versão original em CD-ROM já contava com voice acting competente e uma banda sonora agradável. A versão remastered melhora ainda mais nesse campo, com uma qualidade de áudio significativamente superior. As vozes foram remasterizadas e soam agora mais limpas e nítidas, enquanto a banda sonora foi inteiramente regravada, respeitando as composições originais, mas com uma riqueza sonora acrescida que valoriza a experiência global.

O modo remastered permite-nos também utilizar a interface mais moderna que acaba por ser mais confortável de se jogar.

Day of the Tentacle é, de facto, um grande clássico das aventuras point and click, e percebo agora perfeitamente por que motivo é tão acarinhado pelo seu núcleo de fãs. Possui um excelente sentido de humor, situações verdadeiramente bizarras, uma qualidade audiovisual acima da média para a sua época e um conjunto de puzzles inteligentes que tiram excelente partido do conceito de viagens no tempo e das consequências de acções passadas. Representa uma clara evolução em relação a Maniac Mansion que, curiosamente, está também incluído nesta versão e pode ser jogado na íntegra. A versão remastered, embora mereça reconhecimento por ter conseguido modernizar a interface de forma eficaz, acaba por pecar ao simplificar em demasia a arte original, resultando, a meu ver, em visuais algo genéricos. Ainda assim, continua a ser a melhor forma de experimentar esta obra-prima nos dias de hoje.

Costume Quest (PC)

Confesso que o trabalho de Tim Schaffer na Double Fine me tem vindo a passar algo ao lado. O Brutal Legend é um jogo que eu tenho a certeza que vou gostar, quanto mais não seja pela sua temática e o Psychonauts acabou por se revelar uma excelente surpresa, sendo um óptimo jogo de plataformas em 3D, com um sentido de humor muito peculiar e personagens bastante cartoonescas. Infelizmente ambos os jogos não tiveram grande sucesso comercial, pelo que os jogos seguintes da Double Fine terem sido jogos mais pequenos e em formato digital. Este Costume Quest é um dos primeiros jogos a serem lançado neste formato pela Double Fine e tal como muitos outros entrou na minha conta steam após ter sido comprado por uma bagatela num dos humble bundles.

Costume Quest - PC

E então em que consiste este Costume Quest? É um pequeno e fofinho RPG centrado no Halloween e na aventura de um grupo de crianças. As personagens principais são os irmãos gémeos Raymon e a menina Wren, novos no bairro de Autumn Haven. De forma a fazer novos amigos, os pais pedem-lhes que vão saiam para a rua e aproveitem o halloween, batendo às portas de todos os vizinhos e pedir doces ou travessuras e fazer novos amigos entretanto. Mas o que seria inicialmente uma noite pacífica, depressa se torna num pesadelo, com um dos irmãos a ser raptado por um estranho monstro devido ao seu disfarce se assimilar a um doce. Depois vamos vendo que de facto existem vários desses monstros, tanto nas casas como nas ruas, todos eles com a missão de roubarem o máximo de doces possível. O porquê vamos descobrindo ao longo do jogo, para já a preocupação é mesmo salvar o nosso irmão e chegar a casa antes da hora de ir deitar.

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As expressões faciais das personagens fazem-me lembrar o Wind Waker

Costume Quest é um jogo infantil sim, mas num bom sentido. Tudo aqui é simplificado, tanto nas batalhas, como na exploração, quests e customizações, mas não deixa de ser um jogo bastante original. Visto “de fora”, os disfarces das crianças são bem “fofinhos” e pequeninos, mas ao transitar para dentro das batalhas em si, então esses disfarces aparecem com um look bem mais “cool” e gigantesco, mesmo como uma criança se imaginaria ao vestir uma coisa daquelas. Por exemplo, o fato de robot que nos é dado no início para a personagem principal, visto de fora parece algo feito de cartão e às 3 pancadas, mas nas batalhas quase que parece que estamos a controlar um imponente Megazord. Ao longo do mesmo vamos encontrando mais amigos (para uma party de no máximo 3 personagens), sendo que cada um deles tem também um disfarce inicial. Mas iremos encontrar muitos outros disfarces que podemos alternar livremente entre todas as personagens, cada qual com suas respectivas características em batalhas.

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Dentro das batalhas, os mesms disfarces das personagens ganham proporções épicas

Nas batalhas podemos atacar ou fugir. Mas também temos um ataque especial que depende de uma barrinha de energia que se vai enchendo com o passar de cada turno. E são esses golpes especiais que de facto diferem uns disfarces de outros. Esses especiais tanto podem ser ataques bastante fortes ou de grupo, como magias de suporte como curar, aumentar defesa ou ataque dos inimigos, por exemplo. Mas fora das batalhas cada disfarce tem também uma habilidade própria, como os patins do robot que nos permitem mover rapidamente e saltar em rampas, ou o escudo do disfarce de cavaleiro que nos protegem contra certas coisas de nos cairem em cima, a lanterna do fato de astronauta que ilumina sítios escuros e que de outra forma não poderiam ser atravessados, entre muitos outros. A party partilha os mesmos pontos de experiência, logo sobem todos de nível ao mesmo tempo e a única forma de realmente customizarmos cada um, é através dos patches que podemos cozer nos disfarces. Apenas podemos equipar um, mas existem patches para todos os tipos de estratégia. Uns que nos aumentam os pontos de vida, outros a defesa ou ataque, outros que nos regeneram alguma vida no final do turno e por aí fora.

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Este minijogo acompanha-nos ao longo de toda a aventura e consiste em comer um certo número de maçãs (saudáveis) num curto intervalo de tempo

O jogo não é nada difícil, até porque se perdemos uma batalha a podemos tentar novamente sem qualquer penalização e no final a nossa saúde é sempre regenerada. Ainda assim, dada toda a simplicidade poderemos vir a ter algumas dificuldades uma vez ou outra, mas é uma questão de escolhermos os targets certos, por exemplo, matar primeiro os inimigos com a capacidade de se curarem a eles mesmos ou aos seus companheiros. Mas há algo ainda mais a ter em conta, e isso foi para mim o que menos gostei. Apesar de todas esta simplicidade nas batalhas, cada golpe que queiramos fazer (excepto os especiais) tem alguns QTEs envolvidos. Carregar repetidamente numa série de teclas, carregar numa tecla específica, por vezes num específico e curto intervalo de tempo. Os mesmos QTEs podem ser feitos para defender dos golpes inimigos. Eu como nunca fui grande fã destas mecânicas de jogo, não me agradaram. De resto temos também várias sidequests para ir jogando, se bem que muitas delas acabam por ser obrigatórias para progredir no jogo. Com um bocadinho de paciência, consegue-se explorar facilmente todos os territórios e completar todas as sidequests.

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Grubins on Ice é um DLC gratuito com uma nova história, novos disfarces e outras pequenas novidades

Graficamente é um jogo bastante colorido e com um estilo artístico muito peculiar e cartoonesco, como Psychonauts o foi, mas com um design diferente. Os diálogos são todos mostrados como balões de banda desenhada, e se para alguns é necessário carregar na tecla espaço para avançar, noutros (em especial nas cutscenes) temos mesmo de esperar algum tempo para os mesmos avançarem. Seria bom manter o espaço para se poder avançar mais rapidamente. As músicas são bastante alegres e festivas, cumprem bem o seu papel. Infelizmente, e apesar de ser um jogo bastante simples, a sua performance não é a melhor e tive um ou outro slowdown, ao contrário do que eu estaria à espera.

Costume Quest é um jogo bastante interessante e original. Apesar da sua simplicidade para qualquer fã de RPGs, não deixa de ser um título muito interessante a se experimentar. Existe um DLC gratuito que nos coloca numa outra aventura no mundo dos monstros e que facilmente nos dá mais um par de horas de diversão, e não é à toa que a Double Fine lançou recentemente uma sequela deste mesmo jogo.