Cocoon (Nintendo Switch)

Vamos agora voltar à Nintendo Switch para uma rapidinha a mais um jogo indie publicado pela Annapurna Interactive, empresa que tem vindo a lançar muitos títulos independentes irreverentes, como foi o caso de Stray, que já cá trouxe no passado. O meu exemplar foi comprado na loja espanhola Xtralife, algures em Setembro do ano passado, tendo-me custado cerca de 30 €. Adquiri-o numa altura em que o nome da Annapurna estava envolto em alguma polémica que levou ao despedimento de grande parte da sua força criativa principal. Com receio de que a edição física deste Cocoon esgotasse, acabei por comprá-lo a esse preço, até porque já me tinha sido fortemente recomendado por amigos. Meses depois vi-o a menos de 20 € noutras lojas. Teria sido inteligente esperar um pouco mais, mas é o que é.

Jogo com caixa e base para copos. Um brinde incomum.

O artigo de hoje é uma rapidinha porque este é um indie com uma premissa muito original, e entrar em demasiado detalhe nas suas mecânicas acabaria por estragar um pouco a surpresa. É um jogo com uma fortíssima vertente de puzzle e com uma narrativa extremamente minimalista, onde controlamos uma bizarra criatura insectóide num mundo alienígena e estranho, sem qualquer informação adicional sobre qual é o nosso papel ali. Os desafios começam simples: esferas de energia que podem ser utilizadas para activar diversos mecanismos, como plataformas amovíveis, portais de teletransporte e outros dispositivos. No entanto, à medida que avançamos na história, iremos obter esferas de diferentes cores, apercebendo-nos de que cada uma possui uma habilidade própria. As esferas laranja permitem materializar (e atravessar) certas pontes que de outra forma seriam inexistentes, as verdes solidificam ou gaseificam determinadas plataformas, as roxas podem ser clonadas ao interagir com plantas de aspecto similar, e as brancas permitem, em certos locais, disparar projécteis de energia. Cada esfera está associada a um mundo próprio e, eventualmente, teremos à nossa disposição um intrincado sistema de portais de teletransporte que nos permite atravessar estes mundos distintos.

Visualmente Cocoon é um jogo muito bem conseguido

À medida que o jogo progride, estas mecânicas vão sendo introduzidas de forma natural, tornando-se gradualmente mais complexas, até alcançarmos puzzles que exigem combinar todas as habilidades disponíveis e usá-las em diferentes mundos em simultâneo. Para além dos puzzles, há também alguns confrontos contra bosses que decorrem em várias fases, cada uma ligeiramente mais complexa que a anterior. São combates simples, mas funcionam como uma lufada de ar fresco, servindo de pausa bem-vinda entre momentos de exploração e resolução de enigmas.

Cada esfera colorida que recolhemos possui diferentes habilidades. E quando a recolhemos temos direito a um vislumbre do próximo boss.

Outro dos pontos fortes deste jogo são, sem dúvida, os seus visuais. Os mundos de Cocoon são misteriosos, alienígenas, repletos de motivos biomecânicos e insectóides que lhes conferem uma atmosfera muito particular. De um ponto de vista técnico, mesmo num sistema mais modesto como a Nintendo Switch, os gráficos acabam por estar muito bem conseguidos, em parte devido à própria geometria dos níveis ser consideravelmente simples. É, portanto, no design artístico que Cocoon mais se destaca nesta área. E a acompanhar os belíssimos visuais temos uma banda sonora igualmente minimalista, de contornos electrónicos, que casa na perfeição com a estética e a estranheza do mundo apresentado.

À medida que exploramos novos mundos, os puzzles que teremos pela frente obrigam-nos a revisitar mundos antigos e utilizar todas as habilidades à nossa disposição

No fim de contas, Cocoon acabou por se revelar uma óptima surpresa. Os visuais excêntricos, a narrativa minimalista e as mecânicas de jogo simples, mas gradualmente mais complexas à medida que avançamos na aventura, tornam este indie uma experiência muito interessante e uma forte recomendação para quem aprecia jogos com uma componente de puzzle e exploração bem integrada.

Stray (Microsoft Xbox Series X)

Vamos voltar à mais recente consola da Microsoft para um jogo que sempre me despertou curiosidade. Lançado originalmente em 2022 para o PC e consolas Playstation, acabou por receber também um lançamento para as consolas da Microsoft no ano seguinte e vários prémios desde então. O meu exemplar foi comprado algures no mês passado numa promoção da worten, tendo-me custado algo em torno dos 25€.

Jogo com caixa e uma série de postais de oferta

Neste Stray controlamos um gato vadio que, enquanto explora o mundo à sua volta em conjunto com outros felinos, acaba por cair numa grande ribanceira que o deixa nas profundezas de uma grande cidade subterrânea, decrépita e completamente cyberpunk. Sem querer dar grandes spoilers, digamos que a raça humana já não existe e no seu lugar sobreviveram toda uma série de robots com inteligência artificial. Outrora ajudantes dos humanos para tarefas manuais, com o seu desaparecimento estes acabaram por ficar ainda mais autónomos e a copiar muitos dos comportamentos humanos. Antes disso, no entanto, eventualmente descobrimos uma inteligência artificial que vivia num computador e conseguimos transferi-la para um pequeno drone que nos irá acompanhar ao longo de toda a aventura. É este drone que serve de interface para falar com os outros robots que iremos encontrar, bem como nos vai guiando ao longo de toda a narrativa. E mais não digo!

O design das personagens e toda a arte no geral acho que está mesmo fora de série.

A jogabilidade é simples mas interessante. Sendo o nosso protagonista um gato, vamos tirar bastante partido da sua agilidade, pelo que esperem por vários segmentos de platforming onde o bicho se poderá esgueirar por estreitas passagens e atravessar uma série de obstáculos como se nada fosse. Temos também alguns elementos de aventura, particularmente quando chegamos a algumas povoações onde teremos de interagir com vários robots, coleccionar objectos e por aí fora. Existe também uma componente de combate, onde na maior parte das vezes estamos completamente indefesos e a furtividade é a ordem do dia. Não me querendo alongar muito, até para não correr o risco de estragar algumas potenciais surpresas, a jogabilidade é sólida.

Para além de servir de interlocutor com os restantes robots e também de nos dar dicas, o drone ajuda-nos com outras tarefas, incluindo iluminar salas escuras

Já no que diz respeito aos audiovisuais, aqui também é um ponto onde acho o jogo muito bem conseguido. Todos aqueles visuais cyberpunk estão muito bem detalhados, óptima arte por todo o lado e as animações dos robots que vamos encontrando estão também fantásticas. Não existem grandes diálogos (pelo menos em linguagem perceptível), mas a banda sonora, atmosférica, vai representando muito bem todos os diferentes momentos que a aventura vai atravessando. A narrativa, mesmo num jogo com poucos “diálogos” está muito bem construída e acima de tudo vejo este Stray como uma grande crítica social.

Mal chegamos à “cidade morta” percebemos que estamos perante um jogo especial.

Portanto devo dizer que considerei este jogo uma óptima surpresa e considero-o merecedor de todos os prémios que recebeu. Se gostam de jogos de acção/aventura com boas narrativas, recomendo vivamente que dêm uma oportunidade a este Stray. No entanto, sendo um jogo curto, recomendaria que o fizessem quando apanharem alguma boa promoção.