Call of Duty: Vanguard (Microsoft Xbox Series X)

Vamos voltar à série Call of Duty para aquele que é, no momento, o último jogo da saga que possuo na colecção. Lançado originalmente em 2021, este é mais um dos que volta às raízes da série, focando-se no conflito da segunda guerra mundial, tal como o Call of Duty WWII de 2017 já o havia feito. E tal como todos os outros Call of Duty que já cá tenha trazido no passado, este meu artigo se irá focar unicamente no seu modo campanha. Sei bem que o robusto multiplayer competitivo ou mesmo o modo zombies (cooperativo) são as principais razões pelas quais a maioria das pessoas compram um Call of Duty, mas eu apenas o faço pelas suas campanhas, que tipicamente têm sido bastante curtas. Daí que também evito dar mais de 20€ pelos seus jogos, que foi precisamente o que este me custou, novo, numa Worten há uns meses atrás.

Jogo com caixa e papelada

A história leva-nos a encarnar numa unidade de forças especiais de elite, que são enviadas em segredo para o coração da Alemanha já nas fases finais do teatro de Guerra europeu, de forma a descobrir mais informação sobre um projecto ultra-secreto levado pelos nazis. Apesar de a acção se iniciar já em pleno solo germânico, numa missão empolgante a bordo de um comboio de carga do regime fascista, iremos ocasionalmente revisitar outros teatros de guerra, isto porque iremos também jogar na pele de várias das personagens desse grupo, quanto mais não seja para saber um pouco mais do seu passado. Então se por um lado a linha narrativa principal se passa em diversos pontos na Alemanha já durante o ano de 1945, iremos também visitar outros teatros de guerra como o pacífico, norte de áfrica, operações de sabotagem pré-desembarque da Normandia, ou a própria cidade de Estalinegrado, não fosse a equipa composta por membros de diferentes nações e exércitos. A campanha no entanto é bastante curta, sendo terminada em meia dúzia de horas. E apesar de ter os seus bons momentos na narrativa, creio que haveria potencial para a mesma ser bem melhor explorada, em particular o papel dos vilões envolvidos! Aquele final foi mesmo algo anticlimático…

O jogo abre com uma missão repleta de adrenalina: o assalto a um comboio repleto de nazis!

Na sua génese, a jogabilidade é a mesma de sempre de um Call of Duty, com a sua vida regenerativa, progresso salvo automaticamente através de checkpoints e a impossibilidade de carregar com mais de duas armas em simultâneo, apesar da variedade ao nosso dispor ser bastante generosa. Há no entanto algumas excepções pois como mencionei acima iremos, ao longo do jogo, encarnar na pele de diferentes personagens, cada uma com algumas habilidades únicas e que se diferenciam bastante entre si. O líder do grupo, Arthur Kingsley, tem a capacidade de dar pequenas ordens aos seus soldados, como ordenar fogo de supressão em certos alvos, permitindo-nos flanqueá-los ou atravessar zonas em segurança, um pouco como nos como acontecia nos Brothers in Arms. A única mulher do grupo, a russa Polina Petrova, é uma hábil sniper e também bastante ágil, esgueirando-se facilmente por entre passagens estreitas, assim como tem também a possibilidade de escalar paredes. O norte-americano Wade Jackson (piloto de aviões, onde acabamos por também jogar uma missão na importante batalha de Midway), tem a habilidade de super foco, onde, depois de activada, permite-nos, durante alguns segundos, ter os inimigos salientados no ecrã e, ao aproximar a mira, esta irá focar automaticamente um desses inimigos. Por fim, o australiano Lucas Riggs é especialista em demolições e com isso é o único membro capaz de carregar com 4 tipos de granadas letais (e facas também), enquanto todos os outros apenas podem carregar um tipo de granadas letais, assim como outras tácticas. São pequenas e simples alterações nas mecânicas de jogo, mas acabaram por resultar em alguma variedade adicional na jogabilidade, o que é positivo. De resto, o jogo inclui também mecânicas de abrigos algo evoluídas, permitindo-nos pousar a nossa arma em superfícies para melhor estabilidade de fogo, ou mesmo a de disparar às cegas por cima do abrigo.

Os Wolfenstein deixaram-me mal habituado, mas poderiam ter feito tão mais com estes vilões!

A nível técnico, apesar deste não ser o primeiro Call of Duty a sair numa consola de geração actual, acaba por tirar partido de um ano extra desenvolvimento para essas novas tecnologias e isso é bastante visível no decorrer do jogo. As paisagens são quase foto-realistas e fiquei com muita pena de não haverem quaisquer coleccionáveis para procurar ao longo da campanha, pois neste jogo deu-me mesmo prazer em explorar todos os recantos dos cenários. O facto de também termos umas quantas missões de flashback que nos levam a diferentes teatros de guerra foi também bastante positivo para a variedade de cenários. Explorar a cidade de Estalinegrado antes da invasão nazi foi um mimo! A banda sonora é épica e orquestral como sempre e o voice acting é igualmente francamente bom. No entanto, tive alguns bugs um bocadinho chatos. O primeiro foi numa das missões do americano, onde depois de “limpar” um bunker inimigo nada acontecia para avançar a missão. Recarreguei o último checkpoint e tudo se manteve igual! Ao explorar novamente todo o complexo de bunkers vi dois companheiros meus que estavam parados à entrada. A solução? Dar um tiro num deles, que me pediu para ter mais atenção e tal coisa acabou por os desbloquear, que automaticamente foram ter juntamente com os outros e a narrativa desbloqueou. O outro foi numa das missões do norte de África, onde teríamos de destruir uma série de objectivos. Um desses objectivos, apesar de estar visivelmente destruído, nunca chegou a ficar registado como tal, tendo-me obrigado a jogar a missão novamente.

Visualmente é um jogo de facto impressionante!

Portanto este Call of Duty foi uma boa experiência, apesar daqueles pequenos bugs que mencionei acima e pela campanha ser bastante curta. Acho que o seu antecessor, o Black Ops Cold War, possui também uma história bem mais interessante, assim como a própria campanha ser também ligeiramente mais longa, quanto mais não seja pelas missões opcionais que podemos desbloquear. No entanto, um outro ponto positivo em relação à experiência que tive com o Cold War prende-se com o processo de instalação. Enquanto no Cold War o jogo nem sequer me oferecia a possibilidade de jogar a campanha de início, obrigando-me a instalá-la a partir do menu inicial, o que por si já era um processo longo pois precisava de instalar primeiro todo o conteúdo multiplayer e respectivas actualizações, aqui não tive quaisquer problemas. O jogo instalou-se na sua totalidade e foi só arrancar a campanha.

Scorn (Microsoft Xbox Series X)

Vamos voltar agora à família Xbox para um jogo já exclusivo da actual geração de consolas. É um título curto e confesso que tem alguns problemas, mas também é um jogo marcante. Há aqui coisas que acontecem que dificilmente me irei esquecer! O jogo foi lançado originalmente em Outubro de 2022 para o PC e Xbox Series X, com uma versão PS5 a surgir um ano depois. Optei por comprar a versão Xbox em Março do ano passado visto que ainda não tinha em vista comprar uma Playstation 5 num futuro próximo, pelo que nessa altura infelizmente tive de importar o meu exemplar da Amazon americana, visto que a sua edição física estava já fora de circulação. No Outono desse mesmo ano acabei por comprar uma PS5 e reparei que o Scorn iria receber um reprint da sua versão física na Europa, pelo menos para a PS5, pelo que poderia ter poupado uns trocos e comprar antes essa versão se tivesse esperado, mas não havia como adivinhar, este é um jogo tão de nicho que não estava mesmo a contar que fosse lançada uma nova “fornada”. Ainda bem que o fizeram, é porque havia interesse para tal.

Jogo com sleeve exterior de cartão, steelbook bonito e papelada diversa. Versão norte-americana pois na altura que o comprei foi a única que consegui encontrar disponível para Xbox.

Este é um jogo que é inteiramente jogado na primeira pessoa e possui um conceito bastante peculiar. Basicamente estamos envolvidos num mundo muito estranho e bizarro (notoriamente inspirado pelos trabalhos do já falecido artista suíço Hans Ruedi Giger – criador do design do Alien, por exemplo) e onde encarnamos num humanóide que acorda nesse mundo bizarro e aparentemente abandonado. Grande parte do jogo é precisamente passada a explorar todo esse mundo que nos rodeia, com alguns puzzles ocasionais para resolver e eventualmente teremos alguns encontros com criaturas igualmente bizarras (ou até grotescas) pelo que quando isso acontece o jogo começa a assumir contornos de survival horror até porque os recursos são escassos e as armas que temos para nos defender não são propriamente a melhor coisa de sempre.

O jogo está repleto de momentos bastante perturbadores, este é só um dos primeiros de muitos!

É difícil falar deste jogo com detalhe sem estragar a experiência para quem o vai jogar, mas posso dizer que o mesmo não nos dá nenhuma informação escrita em lado algum. Alguns dos puzzles podem parecer até algo complexos e é precisamente a exploração, observação cuidada dos cenários e tentativa-erro que nos vão permitir avançar na narrativa, ao desbloquear caminhos e habilidades, como a capacidade de abrir certas portas, por exemplo. Até aqui tudo bem, pois o jogo possui uma atmosfera muito bem conseguida e foi de facto um prazer explorar todos aqueles corredores escuros, sinistros e sinuosos. O problema para mim foi mesmo quando o combate começa a ser introduzido, pois este é francamente mau e é mau mesmo por escolha própria dos criadores do jogo, o que eu não concordo a 100% com a abordagem escolhida.

Quando começamos a ter mais que um inimigo para combater ao mesmo tempo (à esquerda e em frente) as coisas começam a complicar bem mais

A primeira arma que desbloqueamos é uma espécie de um martelo pneumático, que tem um alcance muito reduzido e apenas o podemos utilizar duas vezes seguidas, precisando depois de esperar alguns segundos para que o mesmo recarregue. Como nada disto é explicado, é algo que iremos aprender com a tentativa-erro. A arma que apanhamos depois já é uma pistola, mas mesmo essa tem um caveat: precisamos de estar absolutamente estáticos para que a mira se foque e consigamos garantir que o nosso disparo será certeiro. No entanto, os primeiros inimigos “a sério” que encontramos possuem ataques de longo alcance que são bastante fortes e nos retiram uma percentagem elevada da nossa barra de vida e simplesmente demoram bastante a morrer com essas armas que nos dão inicialmente. Visto que as munições (e health kits) são bastante limitados, vamos mesmo ter de avaliar cada encontro se vale a pena ou não. Quando temos de enfrentar um inimigo de cada vez, rapidamente aprendemos que a melhor estratégia é aproximarmo-nos dele, atacar e correr novamente para longe, rezando para que não levemos com um ataque de longo alcance a meio. Quando começam a surgir mais do que um inimigo em simultâneo, a estratégia passa mesmo por usar bem os cantos para evitar os seus ataques e atacar de inteligentemente de forma a poupar munições e vida. Ou mesmo evitar o combate se possível!

Um dos pontos fortes é mesmo o da exploração e o ter que nos desenrascar sozinhos e sem qualquer tipo de ajuda!

Felizmente, as duas armas que apanhamos a seguir são mais poderosas e simples de utilizar, mas temos uma vez mais de ter em conta a pouca munição disponível. Para salientar ainda mais este fraco balanço que existe entre o jogador e os inimigos, lá na recta final vamos ter uns bosses para enfrentar que requerem uma estratégia própria para serem derrotados. Esses inimigos disparam-nos granadas e o dano provocado pelas mesmas é uma fracção do dano sofrido por ataques desses inimigos mais fracos que mencionei atrás. Isto aliado aos poucos checkpoints existentes, causaram-me alguns momentos de frustração, particularmente depois de ter apanhado a pistola, pois é aí que começam a surgir vários inimigos em simultâneo e muitas vezes teremos de passar pelos mesmos corredores estreitos e mais que uma vez, o que não nos dá muita margem de evitar o combate ou até de nos escondermos e atacar os inimigos de forma inteligente. Se as armas fossem um pouco melhores, ou o dano sofrido não fosse tão elevado nos inimigos mais básicos, teria sido uma experiência muito melhor, mesmo com a pouca munição e medkits disponíveis.

Sim, este é o nosso corpo (ou o que resta dele) e o que temos na mão esquerda é uma coisa orgânica que nos armazena sangue (medkit) ou munições para as diferentes armas que iremos eventualmente desbloquear

Mas se por um lado o combate é de longe para mim o ponto mais fraco do jogo, a exploração e toda a parte audiovisual é de longe a melhor e aquilo que me fez mesmo valer a pena o ter jogado, particularmente por ser um fã de toda a arte “biomecânica” que o senhor HR Giger nos trouxe ao longo da sua carreira. Sim, os cenários são sinistros e toda aquela arquitectura parece ter sido “crescida” naturalmente, e não simplesmente construída. Para quem viu o “Alien, o Oitavo Passageiro” (ou até os filmes mais recentes como o Prometheus), a nave onde os ovos dos alien são encontrados ilustra precisamente o tipo de arquitectura que vamos ver aqui. E depois todas as interacções que vamos ter com os cenários são marcantes, até porque o jogo tem vários momentos algo gore e bastante desconcertantes. Aquela recta final então que o diga! Para além de visualmente o jogo estar deslumbrante e representar muito bem esse estilo de arte muito peculiar e que eu tanto gosto, no som marca também pontos. Isto porque não temos quaisquer músicas, mas apenas todo o ruído de fundo de um ambiente sinistro, inóspito e desolador. É um jogo muito bem conseguido na atmosfera opressora que incute, o que acaba por ser ainda mais exacerbado pelo quão mau o combate é.

Visualmente o jogo é fantástico e quando desbloqueamos esta arma, o combate torna-se mais fácil, embora as suas munições sejam muito limitadas.

Portanto sim, este jogo é algo que eu recomende particularmente para quem gostar de Alien e da arte muito peculiar do senhor HR Giger. É uma aventura curta, embora como não há qualquer “ajuda” no que temos de fazer, contem que seja necessário perder umas horinhas extra só a explorar e resolver puzzles. O combate é infelizmente mau e visto que os checkpoints são espaçados, será algo que nos teremos mesmo de habituar, não havendo escape possível. Fico feliz por lançamentos mais de nicho como estes tenham tido direito a um lançamento físico, algo que infelizmente será cada vez mais raro na actual geração, a não ser através de limited runs da vida.

Stray (Microsoft Xbox Series X)

Vamos voltar à mais recente consola da Microsoft para um jogo que sempre me despertou curiosidade. Lançado originalmente em 2022 para o PC e consolas Playstation, acabou por receber também um lançamento para as consolas da Microsoft no ano seguinte e vários prémios desde então. O meu exemplar foi comprado algures no mês passado numa promoção da worten, tendo-me custado algo em torno dos 25€.

Jogo com caixa e uma série de postais de oferta

Neste Stray controlamos um gato vadio que, enquanto explora o mundo à sua volta em conjunto com outros felinos, acaba por cair numa grande ribanceira que o deixa nas profundezas de uma grande cidade subterrânea, decrépita e completamente cyberpunk. Sem querer dar grandes spoilers, digamos que a raça humana já não existe e no seu lugar sobreviveram toda uma série de robots com inteligência artificial. Outrora ajudantes dos humanos para tarefas manuais, com o seu desaparecimento estes acabaram por ficar ainda mais autónomos e a copiar muitos dos comportamentos humanos. Antes disso, no entanto, eventualmente descobrimos uma inteligência artificial que vivia num computador e conseguimos transferi-la para um pequeno drone que nos irá acompanhar ao longo de toda a aventura. É este drone que serve de interface para falar com os outros robots que iremos encontrar, bem como nos vai guiando ao longo de toda a narrativa. E mais não digo!

O design das personagens e toda a arte no geral acho que está mesmo fora de série.

A jogabilidade é simples mas interessante. Sendo o nosso protagonista um gato, vamos tirar bastante partido da sua agilidade, pelo que esperem por vários segmentos de platforming onde o bicho se poderá esgueirar por estreitas passagens e atravessar uma série de obstáculos como se nada fosse. Temos também alguns elementos de aventura, particularmente quando chegamos a algumas povoações onde teremos de interagir com vários robots, coleccionar objectos e por aí fora. Existe também uma componente de combate, onde na maior parte das vezes estamos completamente indefesos e a furtividade é a ordem do dia. Não me querendo alongar muito, até para não correr o risco de estragar algumas potenciais surpresas, a jogabilidade é sólida.

Para além de servir de interlocutor com os restantes robots e também de nos dar dicas, o drone ajuda-nos com outras tarefas, incluindo iluminar salas escuras

Já no que diz respeito aos audiovisuais, aqui também é um ponto onde acho o jogo muito bem conseguido. Todos aqueles visuais cyberpunk estão muito bem detalhados, óptima arte por todo o lado e as animações dos robots que vamos encontrando estão também fantásticas. Não existem grandes diálogos (pelo menos em linguagem perceptível), mas a banda sonora, atmosférica, vai representando muito bem todos os diferentes momentos que a aventura vai atravessando. A narrativa, mesmo num jogo com poucos “diálogos” está muito bem construída e acima de tudo vejo este Stray como uma grande crítica social.

Mal chegamos à “cidade morta” percebemos que estamos perante um jogo especial.

Portanto devo dizer que considerei este jogo uma óptima surpresa e considero-o merecedor de todos os prémios que recebeu. Se gostam de jogos de acção/aventura com boas narrativas, recomendo vivamente que dêm uma oportunidade a este Stray. No entanto, sendo um jogo curto, recomendaria que o fizessem quando apanharem alguma boa promoção.

A Plague Tale: Requiem (Microsoft Xbox Series X)

O A Plague Tale: Innocence foi um jogo que me passou completamente despercebido na altura em que saiu. Apenas soube da sua existência após um dos meus amigos (que por acaso faz parte do painel do The Games Tome) o ter considerado como um dos melhores jogos que havia jogado nos últimos tempos. Não tardou muito até eu ter procurado um exemplar para mim e de facto foi uma excelente experiência! Lembro-me de na altura dizer que preferia que não fizessem uma sequela desse jogo para não correr o risco de o estragar, mas acabaram por a fazer na mesma, tendo sido lançada no último trimestre de 2022 e em exclusivo para o PC e consolas da geração actual, para além da Switch em modo cloud. E depois de as mesmas pessoas que me deram feedback do Innocence me disseram que esta sequela estava ainda melhor, fiquei ainda mais interessado em jogar esta sequela! O meu exemplar foi comprado no final de Dezembro de 2023, tendo sido comprado por cerca de 30€ na Amazon.

Jogo com caixa

A história segue uma vez mais Amicia e o seu pequeno e frágil irmão Hugo e sem querer spoilar as coisas para quem não jogou a prequela digamos que Hugo tem uma condição física que o liga intimamente ao surgimento da Peste Negra na Europa medieval do século XIV. A narrativa segue portanto os eventos do primeiro jogo, na medida em que depois de derrotar a Inquisição que os perseguia na sua região natal, o que resta da família de Amicia e Hugo decidem viajar até à zona de Provence e procurar um famoso alquimista que poderá ajudar Hugo a melhorar a sua condição. Naturalmente, as coisas não vão correr nada bem até porque a peste volta a surgir e acabaremos por passar uma grande parte do jogo a explorar uma ilha mediterrânica, onde Amicia e Hugo acreditam que possui as respostas que procuram para salvar Hugo.

Visualmente o jogo está fantástico e foi um prazer percorrer todas estas ruas medievais

No que diz respeito à jogabilidade, o jogo herda todas as mecânicas do seu antecessor e mais algumas. Isto porque a acção vai-se desenrolando entre fases de combate e exploração. No caso do combate, Amicia continua a ser uma jovem adolescente contra adultos fortemente armados, pelo que o jogo nos encoraja a seguir uma abordagem mais furtiva. Munidos de apenas uma fisga (e as mesmas munições alquímicas que vamos eventualmente desbloqueando), teremos muitas vezes de nos esconder em terrenos com ervas altas ou atrás de pequenos muros ou paredes. Podemos distrair guardas ao atirar pedras ou outros objectos para lhes desviar a atenção para algum local específico. No caso de guardas que não possuam capacetes de protecção poderemos também matá-los com uma pedra na cabeça ou esganá-los com a fisga se os surpreendermos por trás, mas tanto uma opção como outra faz barulho que poderá atrair a atenção de outros soldados nas imediações. Quando é noite, ou estamos em subterrâneos escuros, as ratazanas que surgem em grande número marcam uma vez mais a sua presença e no caso do combate poderemos também as utilizar em nosso proveito. Por exemplo, ao apagar a fonte de luz perto de algum soldado inimigo faz com que as ratazanas o devorem.

Uma vez mais estamos em desvantagem perante os inimigos, pelo que teremos de ter uma abordagem mais furtiva e evitar o combate sempre que possível. Ou pelo menos fazer o máximo possível para não sermos descobertos mesmo que eliminemos os soldados inimigos

A alquimia e o crafting marcam também o seu regresso nesta sequela. Ao coleccionar certos materiais poderemos construir munições especiais que podem ser usadas em conjunto com a fisga, potes de cerâmica ou até flechas, pois eventualmente ganhamos acesso a uma besta que nos permite matar soldados que possuam um capacete, mas não uma armadura completa. Criamos assim maneiras de atear ou apagar fogos ou munições que servem munições para atrair temporariamente as ratazanas para o local onde as atiramos. A novidade está nas munições de alcatrão que se usadas no fogo servem para ampliar temporariamente a intensidade das chamas, logo aumentando o alcance da luz. Para além disto, também poderemos coleccionar ferramentas e materiais diversos que nos permitem melhorar o equipamento disponível, desde sacos de transporte que nos permitirão carregar mais matérias primas, melhorar a performance da fisga, da besta ou das flechas que disparamos. Esta última foi especialmente útil, pois as flechas surgem em números reduzidos e assim conseguimos reaproveitá-las ao recuperá-las dos cadáveres de soldados que abatemos. Portanto, com paciência, logo que não sejamos detectados, conseguimos limpar as áreas de inimigos e depois explorar mais à vontade. Os inimigos com armaduras completas têm também um ponto fraco que se atingido desmonta a sua armadura, deixando-os posteriormente vulneráveis a flechas. Ao longo do jogo vão também existindo vários momentos onde não temos como escapar ao combate, sendo portanto obrigados a tirar partido de todas estas mecânicas e ter o equipamento melhorado é sempre uma óptima ajuda.

As ratazanas estão de volta e as mecânicas com as fontes de luz também. Ao eliminar fontes de luz perto de soldados fazemos com que estes sejam devorados, o que é outra mecânica a ter em conta nos combates

Já no que diz respeito à exploração, teremos sempre alguns pequenos puzzles para resolver, seja arrastar carros de mão que sirvam de plataforma intermédia para alcançar locais mais altos, interagir com várias alavancas que nos desbloqueiem o progresso ou no caso da presença de ratos, teremos também de manipular as fontes de luz que nos permitem atravessar essas zonas em segurança. Amicia está na maior parte das vezes acompanhada de alguém que nos pode ajudar tanto na exploração como no combate. Hugo pode-se esgueirar por passagens estreitas e destrancar portas do outro lado, mas também a certa altura ganha a habilidade de controlar algumas ratazanas, que as podemos encaminhar para devorar certos soldados inimigos. Lucas é um aprendiz a alquimista que nos pode ajudar em certas partes a paralizar temporariamente os inimigos. Arnaud é um cavaleiro poderoso que pode combater alguns inimigos por nós, só temos de garantir que os combates são sempre de um para um. Por fim Sophia possui um prisma capaz de gerar luz se apontado para uma fogueira, o que é uma habilidade que teremos de utilizar ocasionalmente. A cooperação entre Amicia e todas estas personagens, particularmente a do seu frágil irmão Hugo continua no centro da narrativa, que está uma vez mais muito bem conseguida como um todo.

Ocasionalmente teremos também alguns puzzles para resolver que obrigam à cooperação com as personagens que nos acompanham

A nível audiovisual este é portanto um excelente jogo. Eu estreei a Xbox Series X com o Gollum, uma escolha 100% consciente pois estava genuinamente curioso em jogá-lo, apesar das (e principalmente pelas) suas más críticas, pelo que este A Plague Tale acaba por ser o meu primeiro contacto mais a sério com um título especialmente criado para os sistemas da geração actual e de facto há aqui uma diferença considerável quando comparando, por exemplo, com o que a Playstation 4 é capaz de fazer. Os cenários estão incrivelmente bem detalhados, atravessando desde verdejantes paisagens naturais como prados, florestas e montanhas, imensos subterrâneos e várias populações medievais. As texturas são bem mais detalhadas do que seria possível na geração anterior, assim como os seus efeitos de luz, sombra e a imensidão da área visível. As personagens, principalmente as principais, estão também bem detalhadas, embora aqui sinto que as consolas desta geração ainda nos vão conseguir oferecer resultados melhores, particularmente nas texturas de pele e cabelos. O voice acting está disponível em várias línguas e pelo menos a versão inglesa está excelente. Deveria ter mudado para vozes em francês para uma experiência mais autêntica, mas já me tinha habituado às vozes em inglês da primeira aventura. Já a banda sonora está também muito bem conseguida, consistindo em vários temas de influência medieval, recorrendo inclusivamente a instrumentos da época e outras músicas mais atmosféricas, muitas vezes de enorme tensão, que se adequam perfeitamente ao ambiente que o jogo nos propõe.

Ocasionalmente teremos também alguns momentos de pura acção como este onde teremos de controlar uma besta e eliminar inimigos que nos atacam à distância enquanto fugimos de barco

Portanto este A Plague Tale: Requiem é mais um excelente jogo dos franceses da Asobo. Os meus receios que uma eventual sequela ao primeiro jogo pudessem comprometer aquela obra prima foram todos infundados, pois a Asobo conseguiu uma vez mais apresentar um excelente videojogo com uma narrativa fantástica (e bem dramática), com mecânicas de jogo algo similares mas que expandem o conceito original e com excelentes audiovisuais a acompanhar. A maneira como o jogo termina abre a porta a novas sequelas, mas desta vez fico bem mais confiante em que a Asobo conseguirá replicar o sucesso destes dois títulos.

The Lord of the Rings: Gollum (Microsoft Xbox Series X)

Quando analisei o Dead or Alive 3 mencionei que tinha comprado muito recentemente uma Xbox Series X e como o jogo que vinha de oferta com a consola estava esgotado (entretanto já chegou e já o despachei também visto não ser de todo o meu género) tinha aproveitado então para jogar alguns dos jogos da Xbox original que tenho na colecção e que são retrocompatíveis. Mas no dia seguinte não resisti à ideia de começar a jogar algo desta geração. A Worten perto de minha casa não tinha nada de jeito a não ser o Diablo IV que ainda está bastante caro na minha opinião, pelo que depois de espreitar uma CeX no mesmo centro comercial lá me decidi a trazer este Gollum de lá. Sim, não deixa de ser irónico eu ter-me finalmente estreado na geração actual com um dos piores títulos deste ano, de acordo com a crítica. Mas mesmo sabendo de toda a sua má fama, sendo fã do lore de Tolkien acabei por arriscar. E de facto este Gollum não vai ganhar nenhum prémio de melhor jogo de sempre, mas já joguei muito pior, sinceramente.

Jogo com caixa

O jogo decorre algures entre os eventos do The Hobbit e The Fellowship of the Ring, com o Gollum/Sméagol obcecado em recuperar o anel de Sauron, que lhe havia sido roubado anos antes pelo hobbit Bilbo Baggins. A narrativa começa em in medias res, com Gollum a ser interrogado por Gandalf na cidade élfica de Mirkwood, de onde tinha sido feito prisioneiro. E Gollum começa então a contar a sua aventura que começa uns anos antes nas montanhas de Cirith Ungol, em Mordor, onde este tentava apenas sobreviver. E até que certo dia, depois de uma tentativa infrutífera de recolher comida, Gollum é avistado por um corvo. Suspeitando que o corvo iria revelar a sua localização aos mestres das forças maléficas de Mordor, este persegue-o para o tentar silenciar, acabando no entanto por ser descoberto e feito prisioneiro na torre de Barad-dûr. A primeira metade do jogo é então toda passada em Mordor, com Gollum a ter de fazer toda uma série de tarefas como escravo e a planear o seu escape, para que depois seja feito prisioneiro pelos elfos de Mirkwood onde, apesar de o tratarem melhor, querem na mesma descobrir o que Gollum sabe acerca do anel poderoso.

Alguns cenários até que são bonitos e gostei especialmente de vaguear por Mordor

Este Gollum é então na sua essência um jogo de acção/aventura com bastantes elementos furtivos. Pensem numa espécie de Prince of Persia ou Assassin’s Creed onde teremos de escalar paredes e saltitar entre estruturas frágeis, com os segmentos furtivos de um A Plague Tale, onde nos temos de movimentar pelas sombras ou ervas altas e inclusivamente distrair guardas ao atirar com pedras para objectos metálicos pare que lhes chamem à atenção. No entanto nenhuma das mecânicas de jogo é particularmente excitante. O platforming é na minha opinião o pior pois muitas vezes as coisas saem-nos completamente ao lado, com o Gollum a saltar numa direcção diferente da pretendida, ou falhar totalmente a distância entre plataformas, já para não dizer no quão frustrante foi fazer o Gollum se balancear entre barras. Os segmentos furtivos não são irritantes, são apenas algo básicos e claro, incoerentes. Por exemplo, os orcs que não tiverem equipados com um capacete podem ser assassinados se nos conseguirmos aproximar pelas suas costas sem ser detectados, mas numa das cutscenes finais vemos o Gollum a matar um orc com um capacete como se não fosse nada.

Muita da exploração que temos de fazer obriga-nos a algum platforming que só é arrasado pelos maus controlos

A mecânica realmente interessante que colocaram lida com a dupla personalidade de Gollum/Sméagol. Em certos momentos chave do jogo teremos de tomar uma decisão importante e as personalidades de Gollum e Sméagol têm vontades contrárias. Por exemplo, depois de termos sido apanhados a fazer asneiras, questionam-nos quem foi o nosso cúmplice e o Gollum quer incriminar uma pessoa, enquanto Sméagol outra. Uma vez escolhida a opção que queremos levar avante, somos levados para um diálogo entre Gollum e Sméagol, onde teremos de argumentar a nossa decisão ao escolher uma de várias opções que surgem no ecrã, a fim de convencer o outro a seguir a nossa ideia avante. Se não formos bem sucedidos, é automaticamente executada a outra opção. Infelizmente no entanto, as consequências das nossas escolhas são practicamente inexistentes. Há uma ou outra pequena coisa que muda na história, mas nada de especial. É uma mecânica de jogo interessante, mas que acaba então por ser muito mal aproveitada.

Noutras vezes o jogo briga-nos a jogar de uma forma furtiva e usar as sombras ou vegetação como refúgio

A nível audiovisual/técnico este é outro ponto algo sensível deste jogo. Anunciado em 2019 e com lançamento planeado para 2021, Gollum acabou por ser adiado várias vezes até finalmente ter saído neste ano. No entanto o resultado final chocou toda a gente, não só por existirem graves problemas de performance, bugs e claro, os visuais muito abaixo do esperado. Começando precisamente pelos visuais, o jogo não é lá muito bonito, de facto. Os cenários em si até que escapam, mas as personagens estão muito mal modeladas, especialmente as humanas/humanóides, como é o caso dos elfos ou Gandalf que estão todos horríveis. O próprio Gollum também é feio todos os dias mas isso já é normal na personagem, mas o Gollum deste jogo é especialmente atroz. Acho que é o cabelo estranho (problema que também afecta as outras personagens) que mais borra a pintura. O voice acting achei-o bem competente, sinceramente e a banda sonora é principalmente composta por temas mais discretos ou atmosféricos, o que também não me soaram mal. Agora sinceramente não tive nenhum bug assim tão sinistro que partisse completamente o jogo como muitos se queixaram no início. É certo que os controlos não são os melhores e o platforming é muitas vezes frustrante, mas acreditem que já joguei muito pior. Isto para mim indica que desde a sua janela de lançamento de Maio até agora terão saído alguns patches que tenham melhorado a experiência. O único bug que realmente me irritou tem a ver com esta sequência de falas que surge algures no início do segundo nível, onde depois de sermos feito prisioneiros, teremos de fazer toda uma série de tarefas para os orcs:
Sméagol: What does beasts mean precious, what does it mean?
Gollum: They’ll feed us to some beasts!
Sméagol: But we told him! Sméagol will find it! We swears!

O problema: desde que ouvi esta sequência de frases (ainda bastante cedo no jogo como referi), em 99% das vezes que morri depois disso, e foram inúmeras as vezes em que morri, o jogo passava essas 3 frases novamente ao fazer reload do último checkpoint, mesmo que ficassem sobrepostas com outras frases recentes relativas ao checkpoint em questão. Portanto não foi um bug que me tivesse impedido de continuar a jogar, foi só irritante à brava.

Em certos momentos chave temos de decidir se queremos optar pela decisão de Gollum ou Sméagol e depois convencer a outra metade a seguir a nossa vontade. Infelizmente as decisões são algo inconsequentes.

Portanto este Gollum é um jogo mauzinho sim, mas, jogado em Dezembro de 2023 e numa Xbox Series X não tive problemas de maior, pelo que acredito que já tenham corrigido muito do que haveria para corrigir de problemas técnicos. O problema é outro: mesmo que agora afinassem os controlos nos segmentos de platforming e refinassem os gráficos para ficarem qualquer coisa de incrível, Gollum continuaria a ser um jogo mediano. A história é aborrecida durante grande parte do jogo, as tarefas que temos de fazer também o são e o sistema de escolhas Gollum/Sméagol apesar de ser uma boa ideia foi completamente subaproveitado. Infelizmente este fiasco colocou a Daedalic Entertainment em maus lençóis, tendo aparentemente abandonou o ramo de desenvolvimento de videojogos para se dedicar apenas à sua publicação. A Daedalic é autora de inúmeras aventuras gráficas interessantes como a série Deponia, pelo que este desfecho me deixa com algum dissabor.