Recentemente fui desafiado pelos meus colegas do TheGamesTome a jogar mais um título da minha colecção, que já estava em backlog há muitos anos. A escolha foi nada mais nada menos que este Dark Cloud, um action RPG muito peculiar e lançado também ainda no início do ciclo de vida desta consola. É também o primeiro jogo da Level 5, que viria a desenvolver mais uns quantos RPGs e outros jogos não só na PS2, mas em muitos outros sistemas até aos dias de hoje. O meu exemplar foi comprado numa CeX algures em Novembro de 2016, aquando de uma longa viagem de trabalho à cidade de Belfast, na Irlanda do Norte. Custou-me 18 libras. E como sempre quando trago cá um artigo da rubrica Backlog Battlers do nosso podcast, deixo-vos cá o vídeo dessa mesma edição, onde me poderão ouvir a falar deste jogo.
O jogo leva-nos então a encarnar no jovem Toan, habitante da aldeia de Norune que havia sido destruída por um poderoso e maléfico génio, que por sua vez havia sido libertado por um grande império distante que ambicionava controlar o mundo. No entanto, Toan encontra o Fairy King, que lhe diz ter poderes para restaurar a sua aldeia e os seus habitantes, mas para isso teremos de recolher toda uma série de esferas mágicas espalhadas numa caverna ao lado da sua aldeia. E iremos ter de fazer o mesmo nas aldeias/cidades vizinhas, o que nos irá também fazer avançar na narrativa e eventualmente lá teremos de enfrentar o tal génio.
Dark Cloud é um jogo muito peculiar, com elementos ligeiros de RPG e de um roguelike, mas também de “city builder” visto que vamos ter bastante liberdade de restaurar as diferentes localizações que vamos encontrando. Mas vamos por partes e focarmo-nos primeiramente na exploração e combate. Ora as dungeons que exploramos são aleatórias e o objectivo principal é sempre o de encontrar uma chave que nos permita desbloquear a saída para o nível seguinte, sendo que entre níveis temos sempre a possibilidade de regressar à aldeia/cidade mais próxima para gravar o progresso no jogo ou comprar reabastecer os nossos mantimentos e retomar a exploração da dungeon no novo nível que desbloqueamos, ou revisitar um dos antigos, que uma vez mais será completamente aleatório. Até aqui tudo bem, mas este Dark Cloud é um jogo algo complexo nas primeiras vezes em que o jogamos devido às restantes mecânicas de jogo. Isto porque temos de ter em conta não um, mas três diferentes barras de energia: os nossos pontos de vida, pontos de vida da arma equipada e a sede. Sim, o jogo obriga-nos a ter sempre água à mão para não corrermos o risco de desidratação, o que nos irá diminuir os nossos pontos de vida.

Em relação às armas, como já devem ter compreendido, estas têm uma duração limitada, pelo que também devemos ter isso em consideração e comprar vários itens que as reparem. E isso é fundamental neste jogo, pois uma arma que se parta desaparece para sempre do nosso inventário, excepto a arma por defeito de Toan (e de outras personagens que eventualmente iremos desbloqueando). Isto para mim foi a parte mais aborrecida do jogo, especialmente nos primeiros níveis pois as armas acabam por sofrer dano muito rapidamente. De resto, à medida que exploramos as dungeons vamos poder encontrar também toda uma série de itens ou armas adicionais. Muitos dos itens que encontramos são objectos “anexáveis” às nossas armas, que lhes poderão conferir melhores atributos como agilidade, ataque, resistência, aumentar danos elementais ou contra certos tipos de inimigos. À medida que vamos combatendo (e garantindo que as nossas armas não se partem), estas vão ganhando pontos de experiência. Quando a barra de pontos de experiência da arma equipada estiver cheia, poderemos evoluí-la e a parte interessante é que o primeiro item equipado na arma é também absorvido pela mesma quando esta sobe de nível, herdando assim os seus atributos. Por outro lado, evoluindo as mesmas armas e os seus atributos consecutivamente, podemos eventualmente conseguir fazer uma de duas coisas: evoluir a arma para outra melhor, ou transformá-la num objecto anexável, que retém a maioria das suas propriedades originais, tornando-se assim num “customizável” poderoso para uma outra arma que queiramos evoluir rapidamente. Sim, são conceitos um pouco confusos e inicialmente eu também estava com alguma dificuldade em os absorver a todos, mas eventualmente lá se fez o “clique”.
De resto, o combate em si é todo em tempo real e ao explorar com cuidado, conseguimos na maior parte das vezes lutar apenas contra um inimigo de cada vez, o que é bastante útil visto que poderemos trancar a câmara nos inimigos e assim conseguir melhor evadir dos seus ataques e explorar as suas fraquezas. Para além de Toan, iremos desbloquear 5 outras personagens diferentes, cada qual com diferentes armas equipáveis e habilidades, sendo que metade das personagens usam armas que disparam projécteis, já a outra metade (incluindo Toan), usa apenas ataques corpo-a-corpo. Cada personagem possui também algumas habilidades que nos permitem atravessar certas zonas nas dungeons. Por exemplo, Xiao, a primeira personagem que se junta a nós, consegue saltar pequenos abismos enquanto que Goro, a personagem seguinte que se junta a nós, pode usar as suas armas para abrir certos tipos de passagens e por aí fora. Convém também referir que cada nível das dungeons possui também uma “porta traseira”, que nos dá acesso a zonas completamente opcionais, mas com inimigos muito mais fortes (que nos dão mais experiência) e itens mais raros. Mas tal como muitos roguelikes, tudo é aleatório e nem sempre conseguimos encontrar as chaves que nos desbloqueem essas zonas secretas.

O outro objectivo principal da exploração das diferentes dungeons é o de collecionar todas as atla, as tais esferas mágicas que retêm as casas, objectos e habitantes das diferentes aldeias/cidades que iremos explorar. As casas, seus objectos e habitantes podem então serem restaurados e interagindo com os habitantes poderemos também ouvir alguns dos seus pedidos. Por exemplo, certas pessoas preferem estar longe/perto de outras, já outras querem estar em locais elevados, perto de água, entre outros pedidos. À medida que vamos restaurando as aldeias/cidades e também atender aos pedidos dos seus habitantes vamos sendo recompensados com tesouros espalhados pelas localidades e também dentro dos edifícios que vamos restaurando. É com estas recompensas que poderemos encontrar muitos dos itens raros que podem fortalecer as nossas personagens, desde aumentar a sua defesa, pontos de vida e a barra de sede de cada uma. Portanto reconstruir as cidades e garantir que cumprimos a vontade dos seus habitantes é também uma prioridade a ter em conta!

A nível audiovisual este jogo é ainda consideravelmente simples. Não há uma grande variedade de cenários (são 6 ao todo) e os inimigos apesar de serem algo variados são também bastante simples no seu detalhe e o mesmo acontece nas localidades que exploramos/restauramos. A música é no entanto bastante agradável. Nada de especial a apontar aos efeitos sonoros do jogo, mas senti a falta de um voice acting. Sendo este um jogo onde passamos a maior parte do tempo a explorar dungeons (e iremos repetir vários níveis só para evoluir as armas das nossas personagens), não tem assim tanto diálogo quanto isso pelo que seria interessante haver algum voice acting. Tal foi a minha surpresa quando no fim do jogo vemos algumas pessoas a serem creditadas por dar a sua voz, pelo que pelo menos na versão original japonesa acredito que o voice acting exista, mas acabou por não ser incluído nesta versão europeia. Visto que este jogo é multi-lingua nos seus textos, aceitaria de bom grado as vozes originais em japonês! No entanto aparentemente as versões ocidentais deste Dark Cloud incluem alguns melhoramentos e conteúdo adicional não existente no lançamento original, como é o caso da Demon Shaft, uma dungeon opcional desbloqueável no fim do jogo.

Portanto este Dark Cloud é um jogo interessante por todos os diferentes conceitos que apresenta. É no entanto um jogo também algo frustrante e complexo, particularmente nas primeiras horas de jogo, enquanto não nos habituamos a todas estas mecânicas de jogo aqui introduzidas. Abastecer com mantimentos certos como alimentos, água e acima de tudo itens que reparem as armas será mandatório, mas no início do jogo dificilmente temos dinheiro suficiente para manter um inventário saudável. De resto, o Dark Cloud foi disponibilizado em 2015 na PS4 em forma digital, com upscales gráficos, troféus e outras novas funcionabilidades. Para além disso, deu também origem ao Dark Chronicle, seu sucessor espiritual lançado dois anos depois. Estou curioso em ver como a Level-5 evoluiu as mecânicas e conceitos nessa sequela!











