Mais conhecido por Castlevania 64 (até porque existem demasiados jogos chamados só de Castlevania e super diferentes entre si), este foi o primeiro título da série a ser desenvolvido em 3D. Sai originalmente no último dia do ano de 1998 em território norte-americano, com lançamentos japoneses e europeus uns meses depois, já em 1999. Escusado será dizer que os videojogos de acção completamente em 3D ainda eram algo primitivos, principalmente nas suas mecânicas e controlos, com a sua estandardização (nem sabia que esta palavra existia) a acontecer apenas nas consolas de gerações seguintes. Muitas séries já conhecidas tiveram dificuldades na transição do 2D para o 3D e a série Castlevania foi uma delas. No entanto, apesar de toda a sua má fama e defeitos que irei certamente mencionar, o jogo não é assim tão mau quanto o pintam. Há uns meses atrás fui desafiado por um amigo de painel do podcast TheGamesTome para jogar este jogo e eventualmente gravar um deep dive, onde o analisaríamos em detalhe e, após o ter deixado na gaveta durante todo esse tempo, finalmente o terminei e poderão ver a nossa opinião detalhada no vídeo abaixo partilhado.
A história leva-nos algures aos meados do século XIX (embora eu apostaria mais no final do século, ou até inícios do século XX visto que vamos encontrar inimigos que conduzem motociclos), onde poderemos encarnar numa de duas personagens distintas: Reinhardt Schneider, herdeiro do Vampire Killer do clã Belmont, ou Carrie Fernandez, uma jovem rapariga com poderes mágicos. Ambos pressentem o regresso de Drácula e decidem partir para o seu castelo de forma a derrotá-lo uma vez mais. Dependendo da personagem escolhida para a nossa aventura, assim como o tempo que demoramos a chegar ao confronto com o vampiro, a história poderá ser algo diferente.
No que diz respeito à jogabilidade, este é então um Castlevania em 3D que herda muitas das mecânicas pelas quais os Castlevania clássicos eram conhecidos, nomeadamente o uso de um chicote no caso do Rheinhardt como arma principal, várias armas secundárias como a cruz/bumerangue, água benta, facas ou o machado e claro, lutar contra várias criaturas sobrenaturais. Mas a transição para o 3D trouxe claramente os seus desafios, a começar pelos controlos e nisso o comando de Nintendo 64 não ajuda muito (embora tenha sido pioneiro a introduzir pelo menos um analógico como standard). O analógico é então utilizado para controlar o movimento da nossa personagem e visto que o d-pad não é utilizado de todo, poderemos ignorar a parte esquerda do comando da Nintendo 64 completamente. O botão A serve para saltar enquanto o B para atacar com a nossa arma principal. No caso da Carrie, mantendo este botão pressionado faz com que ela prepare um ataque mais forte e teleguiado aos inimigos mais próximos. O botão R serve para fazer lock-on a algum inimigo caso estejamos em combate, ou reset à câmara. Os botões C, os tais que parecem um direccional secundário, servem para fazer várias outras coisas como usar a arma secundária, alterar o tipo de câmara ou interagir com os cenários e apanhar itens. O botão Z serve para nos agacharmos! Infelizmente está longe de ser um setup agradável, mas como utilizei emulação lá mapeei melhor os controlos para este jogo em específico. Os botões faciais de um comando de Playstation ficaram com a função de saltar e atacar e interagir com os cenários/itens. O R1 mantive-o para o lock-on, enquanto que o L1 serviu para agachar e os restantes botões menos utilizados ficaram para o direccional.
Mas infelizmente, mesmo com os controlos mapeados da melhor forma que consegui, há de facto vários problemas com o jogo a começar pela câmara que é consideravelmente má e muitas vezes, no calor do combate ou durante segmentos de platforming mais exigente lá escolhe ângulos que não nos ajudam em nada. Mesmo o locking, que noutros jogos como The Legend of Zelda Ocarina of Time funciona lindamente, aqui nem tanto. Mas também temos de ver que este ainda era um problema muito recorrente em jogos 3D desta era que apenas começou a ficar resolvido com o uso eficiente de dois analógicos, um para o movimento e outro para a câmara. Outra das coisas que tive alguma dificuldade foram os saltos, particularmente para plataformas mais altas onde as personagens têm primeiro de as agarrar e depois escalar para as subir. O truque é mesmo manter o botão de salto pressionado durante esse processo, o que inicialmente estranhei, mas depois lá engatou.

Portanto, tirando estes problemas com o controlo e câmara, o jogo em si até que tem os seus momentos bons e que me surpreenderam pela positiva, nomeadamente o seu balanço entre acção e exploração. As primeiras zonas do jogo são muito mais focadas no combate, visto que os inimigos estão constantemente a surgir no ecrã e vindos de todas as direcções e isso até pode ser um problema, mas vamos ter também outras secções bem mais focadas na exploração e interacção com outras personagens, com os combates a serem eventos bem mais ocasionais. Logo o jogo practicamente que abre com uma luta contra um boss de um esqueleto gigante e que seguramente impressionou todos os que o jogaram na época. De resto, a mansão onde vive Rosa ou o velhote caçador de vampiros é o primeiro momento onde passamos mais tempo a explorar e a desenvolver a narrativa, com os combates a serem bem mais ocasionais.

O jogo possui também alguns detalhes adicionais interessantes, como a possibilidade de certos inimigos nos poderem envenenar ou no caso de sermos mordidos por vampiros caso não usemos nenhum item para curar tal condição, se passar demasiado tempo acabamos mesmo por nos tornarmos num vampiro e recebemos um game over. Aliás, a questão do tempo é algo também fulcral, pois o jogo possui um sistema de dia e noite, com certas personagens e passagens a ficarem apenas disponíveis em certas alturas do dia. Ao longo do jogo vamos poder encontrar itens como as moon cards ou sun cards que fazem o tempo avançar para a noite ou dia, respectivamente. No entanto, se demorarmos mais do que um certo número de dias “de jogo” a chegar ao drácula, trancamos automaticamente o pior final. Sinceramente não sou o maior fã deste tipo de sistemas, particularmente quando o jogo em certas alturas nos encoraja mais a explorar, mas é o que é. Um outro detalhe que achei bastante interessante é o demónio que podemos invocar para comprar itens. Sim, os inimigos vão largando dinheiro ou pedras preciosas (que substituem os tradicionais corações como munições para as armas secundárias), dinheiro esse que poderá ser utilizado para comprar itens a essa criatura. No entanto, se gastarmos demasiado dinheiro com ele, perto do final do jogo iremos combatê-lo como um boss, visto que considera que lhe vendemos a nossa alma.

No que diz respeito aos audiovisuais, este é um jogo bastante interessante na forma em como a Konami o apresentou. É certo que sofre do mesmo mal que qualquer jogo 3D da Nintendo 64, com o nevoeiro intenso em todo o lugar e as texturas de muito má qualidade. No entanto há ali uma certa atmosfera que acho que ficou muito bem conseguida, até porque a banda sonora é bastante mais contida e ambiental em muitas alturas. A narrativa, apesar de simples, também é um ponto positivo ao serem introduzidas toda uma série de interessantes personagens. Há também uma boa variedade de cenários que teremos de percorrer, sendo que alguns deles são exclusivos às diferentes personagens jogáveis. E temos também alguns (poucos) diálogos com voice acting. São poucos devido às limitições dos cartuchos seguramente, mas esses poucos que existem são bem competentes.
Portanto este Castlevania até que se revelou uma boa surpresa. É certo que envelheceu muito mal no que diz respeito a controlos e câmara, assim como alguns momentos de maior frustração (como é o caso de quando temos de carregar aquela nitroglicerina onde ao mínimo descuido é uma tragédia) mas acho que a Konami até fez umas boas coisas. O sistema de noite e dia possuía potencial para ser melhor aproveitado e a própria Konami admite que o jogo teve de ser algo apressado no seu desenvolvimento, pelo que fico muito curioso para ver o que a Konami conseguiu fazer com o Legacy of Darkness, que supostamente é uma versão “director’s cut” deste mesmo jogo, com muito conteúdo adicional que eles pretendiam incluir no título original.



2 opiniões sobre “Castlevania (Nintendo 64)”