Vamos a mais uma compilação com dezenas de jogos. Desta vez vou fazer o contrário do que fiz com a SNK 40th Anniversary Collection e este artigo será uma rapidinha. Até porque mais tarde irei escrever sobre a Atari 50, uma compilação mais recente e sinceramente que me desperta muito mais interesse. Esta Atari Vault foi desenvolvida pela Code Mystics, que por sua vez havia sido fundada por membros da Digital Eclipse, esta já com bastante experiência em trazer jogos antigos para sistemas mais modernos. O meu exemplar digital veio parar à minha conta steam já nem sei como nem quando mas terá sido seguramente muito barato.
Esta compilação, na sua versão base, traz-nos uns 100 jogos no total. Desses 100 temos 18 clássicos arcade da Atari, lançados entre 1976 e 1983, assim como uns 82 jogos de Atari 2600, por sua vez lançados entre 1977 e 1990, incluindo certos protótipos que nunca haveriam chegado a sair no mercado, mas que já tinham sido incluídos em muitas das consolas Atari Flashback lançadas há uns anos atrás. Todos os jogos aqui estão devidamente emulados, onde no caso dos arcade temos direito a várias customizações que estariam disponíveis aos operadores, assim como poderemos escolher qualquer uma das opções de jogo disponíveis em muitos dos cartuchos de Atari 2600, que nos permitiam escolher modos de jogo e dificuldades distintas ao interagir com uma série de alavancas presentes no sistema.
Os jogos arcade contêm representações das suas máquinas, enquanto os da Atari 2600 possuem representações das suas caixas.
Como é de esperar neste tipo de compilações há sempre uma certa atenção ao detalhe, com os jogos arcade a serem apresentados em réplicas das máquinas arcade da época, assim como os jogos de Atari 2600 a serem apresentados nas suas caixas. Infelizmente os modelos poligonais e texturas de ambos são mais fracos do que eu esperaria. Os títulos arcade possuem também vários folhetos e outras imagens promocionais que podem ser exploradas e, no caso dos jogos de Atari 2600 temos também direito a scans completos dos manuais de cada jogo, excepto os protótipos, claro.
Sempre achei piada a jogos com gráficos vectoriais e tive aqui algumas boas surpresas!
Bom, de resto só queria mesmo comentar mais uma pequena coisa. Os jogos de Atari 2600 envelheceram muito mal na sua maioria, é um facto. Há alguns que ainda são algo divertidos de se jogar, mas fora as conversões arcade, poucos foram os que me prenderam mais do que 5, 10 minutos. Já os jogos arcade… bom aí a conversa é outra. É que practicamente todos os jogos arcade aqui disponíveis são super simples nas suas mecânicas e audiovisuais (se bem que até gosto dos gráficos vectoriais), mas não deixam de ser bastante apelativos. Jogos como Asteroids, Gravitar, Lunar Lander ou Super Breakout ainda me divertiram bastante!
Os jogos arcade trazem folhetos e outro conteúdo promocional de bónus, enquanto que os da Atari 2600 possuem digitalizações dos seus manuais
Portanto esta até que é uma compilação sólida de material da Atari, sendo que todos os jogos aqui presentes foram desenvolvidos ou distribuídos por eles de alguma forma. Com o tempo a Atari lançou um DLCs com vários jogos adicionais, elevando o número de títulos para um total de 150, de onde se incluem também uns quantos jogos de Atari 5200. No entanto, com o lançamento da compilação Atari 50 em 2022, a empresa decidiu retirar esta Atari Vault do mercado. Tenho muita curiosidade perante a compilação mais recente, visto que já ouvi óptimas maravilhas da mesma.
Vamos agora voltar à Game Boy Advance para um jogo bastante curioso do seu catálogo. BackTrack é um dos vários FPS que o sistema portátil da Nintendo recebeu, tendo sido inclusivamente o primeiro FPS lançado no sistema, logo em 2001. Vou já avisar que não é um jogo bom, mas não deixa de ser um título bastante curioso, a começar pelo mistério da sua origem. Dependendo das fontes, o jogo terá sido lançado originalmente no PC em 1998 (ano em que surge na internet uma demo jogável do mesmo) ou de acordo com o Wikipedia (que cita o próprio site da Telegames) a versão PC finalizada sai algures entre 2002 /2003, já depois da versão GBA, portanto. O que não faltam são versões contraditórias na internet e aparentemente o cenário mais provável é que a versão PC nunca terá saído, visto que até aos dias de hoje apenas a tal demo de 1998 se consegue encontrar para jogar e a completa nunca foi vista em nenhum site de vendas ou fórum de comunidades. O que interessa aqui reter é que independentemente de ser um jogo de 1998, 2002 ou 2003, a versão PC parece um clone de Wolfenstein 3D, que usa tecnologia de ponta do ano de 1992. Entretanto, não há dúvidas nenhumas que a versão GBA existe sendo que o meu exemplar foi comprado a um grande amigo meu algures em Março do ano passado e é nessa que me irei focar.
Jogo com caixa, manual e papelada.
A história deste jogo é simples: uma civilização alienígena raptou imensos humanos para os transformar em andróides e assim invadir o nosso planeta. Nós somos o desgraçado incumbido com a missão de os derrotar, assim como resgatar todos os humanos sobreviventes que conseguirmos encontrar. A nível de jogabilidade, sendo este um clone de Wolfenstein 3D, esperem por controlos simples, com o direccional a servir para movimentar a nossa personagem, os botões de cabeceira para fazer strafing, os botões faciais para disparar e alternar de armas. O select mostra o mapa, enquanto o start pausa, onde poderemos inclusivamente gravar o nosso progresso no jogo. Como é normal em jogos deste género, à medida que vamos explorando iremos desbloquear diversas armas, cada qual com munição própria, assim como vários power ups ou outros itens como armadura ou medkits. Inicialmente estamos munidos de uma faca e uma pistola, mas poderemos ir encontrando várias outras armas como uma metralhadora ou uma arma que dispara raios laser. A partir daqui as coisas começam a ficar um pouco estranhas pois desbloqueamos um lança-chamas que é nada mais nada menos que uma lata de spray com um isqueiro, um lança granadas que é uma fisga, uma máquina que dispara bolas de sabão explosivas ou até um aspirador. Sim, este é um jogo que não se leva muito a sério.
Bom, digamos que as armas são algo originais. E não, o canivete suíço não dá lá muito jeito.
É também um título algo “ambicioso” para a sua época pois se a versão de PC sai realmente em 1998, esse é o mesmo ano de lançamento do Half-Life, onde uma das suas maiores qualidades (e inovações) é mesmo a maneira como o jogo se desenrola de forma contínua, sem estar dividido em níveis independentes. Aqui o jogo tenta implementar a mesma coisa, apesar de estar de facto dividido em níveis, estes são simplesmente diferentes andares da mesma base inimiga que exploramos, não existindo qualquer indicação que avançamos para o nível seguinte. Até porque é também possível voltar atrás, algo que teremos de fazer forçosamente na recta final do jogo. Por fim convém também mencionar que o jogo possui também um sistema multiplayer de encontros deathmatch, que não só pode ser jogado com mais 3 amigos recorrendo a cabos próprios, mas também com bots.
Imediatamente acima da cara do nosso jogador, sua barra de vida, armadura e munição, temos o inventário de armas, chaves e eventuais power ups utilizados. Sim, é demasiado pequeno para um ecrã de GBA.
A nível audiovisual, este é um clone de Wolfenstein 3D, ou seja, um jogo com uma geometria tridimensional ainda consideravelmente rudimentar, com paredes com ângulos de 90º entre si, sem quaisquer desníveis no chão ou tectos, embora o chão tenha texturas e o tecto algum shading que simule zonas mais ou menos iluminadas, o que não acontecia no clássico da id Software. As músicas não são nada do outro mundo, assim como os efeitos sonoros. Existem também algumas vozes digitalizadas que surgem ocasionalmente.
Quais são então os problemas deste jogo? Bom, vamos começar pelo facto de os “níveis” serem extremamente grandes, labirínticos e muito similares entre si, o que nos levará a andar muito tempo perdidos a vaguear pelos mesmos. Outra coisa que não ajuda é o facto de termos várias passagens secretas tal como no Wolfenstein 3D e outros jogos similares, cujas são descobertas ao interagir com as paredes até as encontrarmos. O problema é que ao contrário de jogos como o Wolf3D, aqui teremos mesmo forçosamente de encontrar algumas dessas passagens para conseguir progredir no jogo, o que aliado à natureza labiríntica dos níveis torna a coisa ainda mais chata. Jogando em emulação temos a vantagem de perceber que essas paredes especiais possuem uma ligeira degradação na cor, mas duvido que tal seja tão facilmente perceptível num ecrã original do GBA.
Pressionando o botão select podemos ver o mapa das áreas já exploradas, sendo esta a única indicação de que de facto existem níveis.
Outros problemas são inerentes à performance, e pelo facto de o GBA não ser um sistema particularmente indicado para correr este tipo de jogos, por muito boa vontade que a Telegames tenha tido, acredito que a sua equipa não tenha tido grande hipótese de tirar mais partido das limitações do sistema. A performance do jogo não é grande coisa como seria de esperar, assim como a draw distance ser consideravelmente reduzida, o que nos dificulta o combate. Os inimigos no entanto não nos poupam e a coisa mais segura que temos a fazer quando começam a surgir inimigos mais poderosos é mesmo disparar à distância, quando estes ainda mal começam a serem renderizados no ecrã. Por fim, apesar de ser possível gravar o nosso progresso no jogo e isso ser algo louvável, temos apenas um slot disponível (mais um volátil para saves temporários apenas). Um outro slot ou até uma alternativa adicional como um sistema de passwords seria benéfico pois é possível cairmos no erro de gravar o jogo num ponto de onde nos seja impossível continuar sem recorrer a códigos de batota.
Infelizmente os níveis não são muito variados entre si e a sua natureza labiríntica também não ajuda.
Posto isto este BackTrack é um jogo que me deixa com sentimentos mistos. Sim, o jogo não é grande coisa pelos seus problemas de performance, design de níveis e visuais desinspirados, tendo no entanto algumas coisas giras, como as suas armas e power ups bizarros. Mas o que acho mesmo fascinante é toda esta história por detrás do jogo em si. As origens misteriosas da versão PC, que já por si só era um clone de Wolfenstein 3D, mas supostamente lançada em 1998, num ano em que dentro do género tivemos grandes jogos como Sin, Blood II, Unreal, ou até um tal de Half-Life que já deverão ter ouvido falar. Não deixa então de ser impressionante o facto de uma empresa modesta como a Telegames ter a audácia de pegar num jogo de PC de 1998 já por si extremamente datado e que ninguém teria ouvido falar e convertê-lo para uma Game Boy Advance, um sistema com capacidades 3D muito rudimentares. E fizeram-no no seu ano de lançamento, embora apenas umas semanas antes do lançamento da conversão do Doom, que apesar de igualmente modesta, é bem mais apelativa que este BackTrack. A verdade é que a JV Games, o estúdio responsável por converter esta versão GBA, acaba mais tarde por lançar a versão GBA do 007: Nightfire, um outro FPS agora com um motor gráfico bem mais avançado.
Tempo de voltar às rapidinhas na Master System para uma modesta adaptação do jogo da Mega Drive de mesmo nome. Como deve calcular, esta versão é bastante mais primitiva, pelo que não me irei alongar assim tanto no jogo. O meu exemplar foi comprado através de um amigo meu numa loja perto da capital, estando em óptimo estado.
Jogo com caixa e manual
Aqui dispomos de dois modos de jogo, o arcade e o modo campeonato. O último é uma adaptação bem mais livre do desporto motorizado, na medida em que não temos de nos preocupar com a customização do carro nem nada que se pareça. Por outro lado, o objectivo é, à medida que vamos avançando no jogo, o de chegar pelo menos num lugar cada vez mais próximo do pódio para conseguirmos jogar o circuito seguinte. O modo campeonato já nos obriga a fazer qualificação antes de cada corrida, bem como nos dão algumas opções (simples) de customização do nosso carro. De resto nada de especial a dizer da jogabilidade, pois a mesma é simples e fluída quanto baste para um jogo de 8bit.
Sim, é um jogo com licença da FIA na Master System!
A nível audiovisual, esta é, como seria de esperar, uma adaptação bem pior que a da Mega Drive, que por sua vez era graficamente impressionante. Aqui os circuitos não possuem grande detalhe e os cenários de fundo são particularmente pobres. Mas ao menos a acção é fluída e ocasionalmente lá vamos vendo alguns pormenores gráficos interessantes como os túneis ou pontes. A música não é nada má, mas apenas existe no ecrã título, menus e ecrãs entre corridas. Já durante as corridas em si temos apenas os ruídos de fundo que são algo irritantes.
O porquê dos cenários serem algo pobres é explicado pelo facto de assentarem melhor no split screen
Portanto esta adaptação do F1 para a Master System é como se esperaria bem mais fraca que a sua versão de Mega Drive. Ainda assim não deixa de ser um jogo bem fluído para o sistema que é, embora o Ayrton Senna me pareça uma melhor opção neste sistema.