Beneath a Steel Sky (PC)

25689_frontJá há algum tempo que não jogava uma aventura gráfica do género point and click. E após visitar a minha conta no site gog.com relembrei-me que possuia uns quantos jogos freeware associados à minha conta desde que me registei. Um deles era mesmo o clássico Beneath a Steel Sky, da Revolution Software, os mesmos que mais tarde produziram a série Broken Sword. E este jogo é uma interessante mistura de temas mais sérios, sendo passado num futuro algo distópico onde cidades são na verdade mega corporações ou ditaduras que nos controlam como viver. Entretanto lá arranjei também uma cópia física numa feira de velharias por 5€.

Jogo em edição budget, de tal forma que nem um manual nem uma caixa de cd jewel case traz,

O herói desta aventura chama-se Robert Foster, este que em criança despenha-se com a sua mãe num acidente de helicóptero num deserto nas imediações da cidade de Union City. Apenas Robert sobreviveu ao desastre, tendo sido acolhido por uma tribo de aborígenes que vivia nessa zona. Robert eventualmente faz-se adulto e é levado de assalto pela Security, a polícia de Union City, que mata todos na tribo e leva Robert de novo para a cidade, sem prestar quaisquer explicações. A caminho da cidade, o helicóptero que os transporta sofre também um acidente e Foster aproveita a confusão para fugir. O resto do jogo será passado a tentar fugir da cidade, simultâneamente tentando saber mais detalhes sobre os seus mistérios, o que levou a mãe a fugir com Robert em criança e porque foi raptado vários anos depois.

Union City está repleta de arranha-céus. Mas ao contrário do que seria de esperar, os estratos sociais mais ricos são aqueles que vão estando mais próximo da superfície, não no topo das torres.
Union City está repleta de arranha-céus. Mas ao contrário do que seria de esperar, os estratos sociais mais ricos são aqueles que vão estando mais próximo da superfície, não no topo das torres.

A jogabilidade é a típica de um jogo point and click, que nos obriga a explorar todos cantos e recantos de cada cenário, à procura de itens escondidos ou objectos que possam ser interagidos, falar com pessoas e tentar combinações de itens que por vezes não pareçam ter muita lógica. É daqueles jogos em que é possível morrer, em certas alturas se não reagirmos rápido a alguma ameaça, se formos para o local errado à hora errada, ou se não tomarmos as devidas precauções, como entrar num reactor nuclear sem um fato protector. Portanto, ir gravando o nosso progresso no jogo, de preferência em ficheiros de save múltiplos, é algo que teremos de fazer com alguma frequência. O jogo foi desenvolvido com recurso à engine proprietária da Revolution, o Virtual Theatre. Uma das funcionalidades particulares dessa engine perante era a inteligência artificial mais avançada atribuída aos NPCs, permitindo-os ter rotinas e padrões de movimento que podem atravessar vários ecrãs. Isto é especialmente visível no nosso robot e companheiro Joey, que nos vai seguindo pelos ecrãs, embora a um ritmo mais lento, o que pode trazer algumas frustrações especialmente quando precisamos de apanhar elevadores. De resto a nível de jogabilidade resta-me apontar que os menus poderiam estar melhor implementados e nem sequer um ecrã título temos direito. Iremos também explorar alguns terminais e viajar mesmo para um mundo de realidade virtual dentro de LINC, a inteligência artifical que controla a cidade. Aí as coisas são algo estranhas e os puzzles que enfrentamos tornam-se um pouco incomuns.

Apesar de lidar com temas sérios da sociedade, o jogo está repleto de humor e personagens carismáticas
Apesar de lidar com temas sérios da sociedade, o jogo está repleto de humor e personagens carismáticas

A história é muito interessante, misturando conceitos mais sérios como ditaduras, guerras ou os perigos por detrás da inteligência artificial, com diálogos muito bem humorados e algumas personagens bastante carismáticas. O robot Joey então possui um humor muito corrosivo que me agradou bastante. O jogo está repleto de pequenos detalhes deliciosos, como uma referência num dos diálogos à camisola vestida por Robert, debaixo do seu casaco, e quando muito mais tarde acabamos por ver o que Robert tem vestido é algo hilariante. O cirurgião, o porteiro do clube mais estranho da cidade ou a senhora Piermont, que nos recebe em sua casa nuns trajes muito impróprios.

O conceito artístico deste jogo foi criado por um artista de banda desenhada e isso nota-se perfeitamente na cutscene de abertura, embora ache que a mesma deveria ser melhor idealizada.
O conceito artístico deste jogo foi criado por um artista de banda desenhada e isso nota-se perfeitamente na cutscene de abertura, embora ache que a mesma deveria ser melhor idealizada.

No que diz respeito aos audiovisuais, aí já possuo sentimentos mistos. O jogo começa logo com uma cutscene a abrir, em que aí sinceramente achei que o voice acting não está tão bom. E a cutscene em si é um pouco estranha, sinceramente não gostei nada. Mas depois quando entramos no jogo propriamente dito, então iremos explorar cenários bem detalhados, onde cada pixel está meticulosamente no sítio certo, resultando em personagens bastante expressivas, mesmo possuindo pouco detalhe. O voice acting vai alternando entre o bom e o mediano, com algumas personagens a resultarem bem melhor que outras. Mas no geral acho que a história está muito boa e só por isso já torna alguns dos seus defeitos bem perdoáveis. Ficou entretanto no ar a promessa de um Beneath the Steel Sky 2, o que é algo que eu vejo com bastante agrado, até porque este universo tem potencial para ser bem mais explorado.

Killer Instinct (Super Nintendo)

44387_frontStreet Fighter II foi um absoluto marco na indústria, de tal forma que catalizou todo o subgénero dos jogos de luta, após a sua prequela não ter sido lá muito bem recebida. E com esse sucesso naturalmente foram surgindo imitadores e outros jogos de luta que tentavam incutir diferentes aproximações à mesma fórmula de base. Um deles foi o Mortal Kombat, onde apesar de possuir uma jogabilidade mais simplificada que a de Street Fighter, foi dado um maior foco na violência. O seu sucesso também foi grande e a Rare então aproveitou para também se aventurar no meio, produzindo um jogo que tenta unir o melhor dos dois mundos: a jogabilidade mais frenética e focada em combos, com a violência característica de um Mortal Kombat. O meu exemplar veio da CeX de Belfast, tendo-me custado 6£ se a memória não me falha.

Killer Instinct tem um dos poucos, senão mesmo o único, cartucho negro da Super Nintendo. Originalmente vinha também com um CD com a banda sonora.
Killer Instinct tem um dos poucos, senão mesmo o único, cartucho negro da Super Nintendo. Originalmente vinha também com um CD com a banda sonora.

A história por detrás do jogo engloba uma vez mais uma corporação criminosa por detrás da organização de um torneio de artes marciais. A empresa é a Ultratech, que envia várias criaturas experimentais e cyborgs para o torneio de forma a testar o seu poder em combate. Para além de outros lutadores mais “normais” cujos objectivos podem passar por defrontar a própria Ultratech, temos outros lutadores algo estranhos como cyborgs, diferentes monstros como um esqueleto lutador, lobisomem ou aliens. O elenco até que é bastante abrangente e a jogabilidade possui algumas peculiaridades interessantes.

Graficamente o original de arcade era bastante imponente, infelizmente a versão SNES teve de sofrer bastantes cortes
Graficamente o original de arcade era bastante imponente, infelizmente a versão SNES teve de sofrer bastantes cortes

Uma dessas peculiaridades passa pela forma como os rounds estão divididos. Cada lutador possui 2 barras de energia, e os combates só terminam quando esvaziarmos as duas barras de energia do nosso oponente. No entanto, assim que esvaziarmos a primeira barra de energia o combate tem uma ligeira pausa, passando para o round seguinte, deixando-nos com a mesma vida com que ficamos no round anterior. Depois a outra novidade maior está no sistema de combos. Este é um jogo muito voltado para combos, no entanto é possível executar uma sequência específica de botões que nos fazem desencadear uma combo, sem ter de desferir cada golpe manualmente. Por outro lado, é possível também quebrar combos com os combo breakers. Por outro lado temos também a jogabilidade violenta, apesar de não ser tão gore quanto Mortal Kombat. Ao desferir golpes vemos sangue (ou outros líquidos dependendo dos lutadores em questão) a ser jorrado para o ecrã, mas não em tantas quantidades. Depois existem também os golpes finais que emulam as fatalities, embora não sejam tão violentas quanto a série rival. Outros, como os Ultra Combos fazem-me lembrar as Brutalities e temos também os Humiliations que fazem os nossos oponentes dançar.

Apesar de ser um jogo violento e até ter as suas próprias fatalities, não eram tão violentas quanto as de Mortal Kombat
Apesar de ser um jogo violento e até ter as suas próprias fatalities, não eram tão violentas quanto as de Mortal Kombat

Graficamente o original de arcade era um colosso. Apesar de ter sido desenvolvido num hardware com o nome “Ultra 64”, o mesmo nome de código da consola que viria a tornar-se na Nintendo 64, na verdade acabou por usar um hardware algo diferente, pois o projecto Ultra 64 ainda estava atrasado. O jogo foi então co-desenvolvido entre a Rare e a Midway, numa parceria entre ambas as empresas que trouxe o desenvolvimento de alguns jogos arcade com hardware similar à Nintendo 64, cujas conversões caseiras acabaram po se ficar exclusivas na plataforma da Nintendo, tal como os Killer Instinct e os Cruis in. Mas voltando especificamente a este Killer Instinct, na arcade este era um jogo bem bonito. Também com personagens e pré digitalizadas como a Rare fez no Donkey Kong Country, as arenas eram variadas e estavam muito bem detalhadas, com alguns pormenores em 3D. Cada personagem possuía uma pequena cutscene em vídeo no caso de vitória, a banda sonora era variada e excelente e o jogo estava também repleto de várias vozes. Inicialmente estaria previsto que fosse convertido para a Nintendo 64, mas como a consola atrasou o seu lançamento, acabaram antes por lançar uma conversão para a Super Nintendo e com isso muito do seu brilho acabou por se perder. As sprites ficaram menores, os efeitos 3D removidos ou subsitituídos por mode 7, as arenas também perderam muitos dos seus detalhes e a qualidade da música não é a melhor, bem como muitas das vozes foram retiradas. As pequenas cutscenes de cada lutador foram subsituídas por imagens estáticas que até ficaram um pouco esticadas face às originais.

Na transição arcade para SNES, algumas imagens ficaram bastante esticadas.
Na transição arcade para SNES, algumas imagens ficaram bastante esticadas.

Felizmente a jogabilidade continua excelente e no fundo é isso importa. Cortes na qualidade audiovisual seriam mais que esperados para a Super Nintendo, mas felizmente os combates são fluídos, assim como o seu sistema de combos. Acho um jogo de luta bastante competente que vos recomendo a jogar se o encontrarem a um bom preço. Melhor ainda, se tiverem a Xbox One podem encontrá-lo naquela compilação repleta de jogos da Rare.