A série Ultima de Richard Garriot (ou também conhecido como Lord British) é uma das franquias seminais de todo o género dos RPGs, onde em conjunto com Wizardry influenciaram toda uma série de RPGs ocidentais não lineares que fomos vendo ao longo das décadas, mas também serviram de inspiração para criações como o Dragon Quest, que por sua vez foi evoluindo para os RPGs japoneses que temos hoje em dia. E esta é uma série vou rejogando aos poucos, sendo agora tempo de escrever algo do Ultima V: Warriors of Destiny, lançado originalmente em 1988. E tal como todos os outros Ultimas que tenho no PC, este foi também comprado numa GOG sale, em conjunto com todos os outros jogos da série excepto o Ultima Online, tendo estado a um bom preço. Para além da versão digital, comprei mais recentemente na Feira da Ladra em Lisboa a versão em caixa, formato big box com todos os livrinhos e mapa em tecido. É uma beleza! Custou-me 5€ e é a versão para Amiga, sendo virtualmente idêntica a esta, não vale a pena criar um artigo novo. Segue a foto:

Jogo completo com imensos livrinhos, papeizinhos, um medalhão e mapa em tecido. Bastante bonito! Versão para Amiga, embora seja practicamente idêntica à versão PC.
O Ultima IV foi um jogo muito peculiar, na medida em que não tínhamos um megavilão com planos de dominar o mundo para derrotar, mas sim era uma espécie de aventura introspectiva, onde teríamos de alcançar o estatuto de Avatar, portador de 8 virtudes e modelo de pessoa a seguir por todos os Brittanians. Essencialmente não nos podíamos portar mal, como assassinar ou roubar inocentes, como o jogo sempre permitiu. Ultima IV marcou também uma nova Era para Britannia (outrora Sosaria) e a partir desse jogo iríamos ver uma boa evolução do mesmo mundo, cidades e personagens nos jogos futuros. E neste Ultima V também encarnamos no papel de Avatar, mas tal como em todos os outros jogos o Avatar somos nós mesmos, seres terrestres absolutamente banais do século XX, que por algum motivo somos chamados por Lord British ao seu mundo e enfrentar mais alguma quest árdua. Este jogo começa da mesma forma, embora o apelo para retornarmos a Britannia não tenha partido de Lord British. Quando lá chegamos encontramos o mundo num estado bem diferente do que o deixamos, com Lord British desaparecido, Blackthorn no poder, com um regime bastante opressor, mudando as 8 Virtudes para 8 Leis bastante rigorosas. Para além do mais, Britannia foi invadida pelos Shadowlords, seres místicos malignos que nos atacam e ao nosso antigo companheiro Shamino, logo no início da aventura.
Poderemos encontrar os nossos antigos companheiros do Ultima IV espalhados pelas várias cidades e teremos mais uma vez muita coisa para explorar. E ao contrário do que possa parecer, o nosso objectivo não é propriamente derrotar Blackthorn, mas sim reencontrar Lord British que ele depois trata do resto. Claro que teremos alguns vilões para derrotar, como os tais Shadowlords, mas a maneira como o fazemos também é algo original. Ao longo do resto do jogo teremos de ter em atenção que somos procurados por Blackthorn devido a ser “foras da lei”, podendo ser perseguidos por certos guartas fieis ao novo regime e mais uma vez teremos de ter algum cuidado em practicar as tais boas acções de forma a não perder a nossa “Avatarhood“. Mais uma vez teremos também os spells que podem ser construídos após comprar os reagentes necessários e desta vez temos também um esquema de ciclo de dia e noite, com a visibilidade do overworld a ficar cada vez mais reduzida conforme vai anoitecendo. As dungeons continuam um misto de primeira e terceira pessoa, com os corredores a serem atravessados numa perspectiva de primeira pessoa e a salas vêem-se numa perspectiva de “overworld”, servindo para combater criaturas geralmente mais fortes, mas também resolver alguns puzzles com passagens secretas.
Graficamente este é um jogo que apesar de me parecer utilizar o mesmo motor gráfico do anterior, é um grande salto de qualidade face aos restantes. As sprites possuem mais animações, estão bem mais detalhadas e coloridas. O mesmo pode ser dito de todo o mundo envolvente, as montanhas parecem montanhas, as florestas parecem florestas e as diferentes classes estão devidamente bem representadas. Foi também feito um esforço adicional nas “cutscenes” que contam a história, agora com uma artwork bem mais trabalhada. As dungeons em primeira pessoa, ao contrário dos jogos anteriores que tinham as suas paredes e inimigos representados com gráficos vectoriais, são agora representadas com diferentes texturas, o que lhes dá logo um aspecto mais agradável. Os inimigos também vão sendo vistos com sprites detalhadas, com a perspectiva a transitar da primeira pessoa para o top-down view quando entramos na batalha propriamente dita. Infelizmente para o PC, em 1988 ainda não era assim tão comum encontrar PCs com placas de som, pelo que a música foi mais uma vez sacrificada e os efeitos sonoros são os bips habituais da PC-Speaker. Felizmente que existem patches feitos por fãs que trazem a música de outras versões para esta de DOS.
Ultima V é mais um bom RPG. A história é cada vez um aspecto mais trabalhado e os NPCs são capazes de conversar connosco sobre muitos mais temas. A não linearidade de um mundo vasto, aliada a controlos ainda obsoletos poderão continuar a alienar jogadores de RPGs modernos, mas nada que um pequeno guia não ajude. No Ultima VI, apesar de ainda decorrer nesta “Age of Enlightnement”, foram vistas muitas mais mudanças e evoluções, mas isso ficará para um artigo próximo.
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