Gunvalkyrie (Microsoft Xbox)

Lembro-me perfeitamente de quando, algures em 2001, a Sega anunciou a sua retirada do mercado de hardware de consolas para se dedicar exclusivamente ao desenvolvimento como third party, uma decisão que se manteve até aos dias de hoje. Apesar de a Dreamcast ainda ter recebido alguns títulos de qualidade até ao ano seguinte, não tivemos de esperar muito até começarmos a ver os estúdios da gigante nipónica a anunciar jogos para outras plataformas. Entre simples conversões de jogos da Dreamcast, sequelas ou propriedades inteiramente novas, um dos destaques dessa onda inicial foi precisamente este GunValkyrie, desenvolvido pela Smilebit. Inicialmente concebido para a Dreamcast, acabou por se tornar um exclusivo da primeira consola da Microsoft, tendo sido lançado na primavera de 2002. O meu exemplar foi comprado a um amigo há já vários anos, embora já não me recorde exactamente quando.

Jogo com caixa e manual

O jogo decorre no ano de 1906, numa realidade alternativa e distópica do passado, onde, após a revolução industrial dos séculos XVIII e XIX, a tecnologia evoluiu de forma tão acentuada que o Império Britânico acabou por conquistar o mundo e expandir-se para o espaço, colonizando vários outros planetas. Assumimos o controlo de agentes de uma fictícia agência de inteligência imperial, enviados à colónia de Tir na Nog para investigar o desaparecimento dos seus colonos e, em seu lugar, o surgimento de uma raça de insectos gigantes. Ao longo do jogo, temos na verdade duas personagens à disposição: a jovem Kelly O’Lenmey e o japonês Saburouta Mishima. Kelly assume o papel de protagonista principal, destacando-se pela versatilidade do seu equipamento e das suas habilidades, enquanto Saburouta empunha uma arma consideravelmente mais poderosa, embora seja bastante menos ágil.

O jogo tem também um sistema de lock automático, logo que a mira esteja próxima do alvo. Em algumas armas, é possível ter também um mecanismo de lock semelhante aos Panzer Dragoon, embora com um número bem mais limitado de alvos activos

Pensem neste GunValkyrie como um jogo de acção em 3D com mecânicas interessantes, mas notoriamente complexas devido à sua exigente implementação nos controlos, o que resulta numa experiência com uma curva de aprendizagem bastante acentuada. De forma resumida, o jogo requer o uso intensivo de ambos os analógicos e dos gatilhos, com os botões faciais reservados quase exclusivamente para a selecção de armas. Desde o início aprendemos que o botão R serve para disparar a arma actualmente equipada, enquanto o L activa o propulsor nas costas da personagem, permitindo-lhe subir lentamente no ar, consumindo combustível visível no canto inferior esquerdo do ecrã. Este combustível regenera-se automaticamente quando não está a ser utilizado. Ao pressionar o analógico esquerdo em conjunto com uma direcção, executamos uma propulsão rápida (uma espécie de dash ou dodge) que pode ser usada tanto no solo como no ar. Existe também uma mecânica mais subtil, mas crucial: ao efectuar esse dash e, de seguida, mover o analógico (sem o pressionar) na direcção contrária, conseguimos manter a personagem quase estática no ar, numa queda lenta e com baixo consumo de combustível. Esta técnica permite-nos atacar inimigos a partir de uma posição mais vantajosa e, quando bem dominada, torna possível permanecer no ar durante largos períodos de tempo, algo que o próprio jogo espera que façamos com frequência.

O combate aéreo é algo que tem de ser dominado para termos sucesso no jogo!

Mas há mais nuances nos controlos. O analógico direito comanda a câmara, mas com o eixo vertical invertido, uma opção que infelizmente não pode ser ajustada nas definições (um inconveniente grande para mim, visto que prefiro o controlo padrão). Além disso, a rotação horizontal da câmara é bastante limitada, o que me obrigou durante muito tempo a reposicionar a personagem com o analógico esquerdo para obter o enquadramento desejado, o que por sua vez é um processo lento, que me causou bastantes dissabores em combate. Só mais tarde descobri que existe afinal uma mecânica de quick-turn: pressionar o analógico direito e movê-lo numa direcção faz com que a personagem se volte rapidamente para esse lado, algo que teria sido útil saber desde o início! Para além das barras de vida e de combustível do propulsor, existe ainda uma barra de energia adicional, que serve para executar ataques especiais, uma funcionalidade que também só vim a perceber mais tarde. Quando no solo, ambas as personagens podem activar um poderoso ataque (GV Napalm), ideal para situações em que estamos cercados, pressionando ambos os analógicos em simultâneo. Este ataque consome parte da energia especial, que pode ser reabastecida através de power-ups ou realizando combos aéreos bem-sucedidos. No ar, essa mesma combinação de analógicos activa uma habilidade diferente (o GV Meteor Crash) que projecta a personagem investida em chamas, causando dano a todos os inimigos no caminho. Esta habilidade está inicialmente disponível apenas para Saburouta, sendo que Kelly só a desbloqueia mais tarde.

Entre missões, podemos consultar uma loja que nos permite melhorar o equipamento das personagens em troca dos pontos amealhados

No final de cada missão, a nossa performance é avaliada com base em critérios como o tempo gasto, número de inimigos derrotados e segredos encontrados. Em função do resultado, recebemos um ranking e uma quantidade de pontos que podem ser utilizados numa loja entre missões, onde se podem adquirir upgrades que melhoram a armadura, o consumo de combustível ou o sistema de lock-on da arma principal, entre outros. No caso de jogarmos com Kelly, o seu fato pode sofrer evoluções significativas, concedendo-lhe novas habilidades. A primeira transformação ocorre após derrotar um certo boss, desbloqueando precisamente o já referido Meteor Crash. A última evolução só é obtida ao encontrar todos os segredos espalhados pelos níveis, algo que não cheguei a completar, mas que, segundo consta, torna Kelly ainda mais móvel e poderosa. Por fim, ao terminarmos o jogo desbloqueamos um modo adicional (Challenge Mode), onde podemos rejogar qualquer nível com qualquer personagem, incluindo as variações evoluídas da Kelly que tenhamos desbloqueado.

A estética segue uma realidade alternativa num passado distópico e steampunk

No que diz respeito ao audiovisual, GunValkyrie revela-se um jogo interessante para os padrões de 2002. O seu conceito visual assenta firmemente numa estética steampunk, algo que se reflecte tanto no design das personagens como na arquitectura de certos níveis. Os primeiros cenários, mais abertos e áridos, apresentam um nível de detalhe algo modesto, com texturas simples e ambientes muito despidos, ainda que se destaque, curiosamente, o efeito visual impressionante da água numa das lagoas. Já os níveis mais fechados denotam grafismo mais cuidado, com texturas mais ricas e alguns efeitos visuais mais elaborados. Inicialmente comecei por jogá-lo na Xbox Series X poise este é, um dos poucos títulos da Xbox original compatíveis com o sistema, correndo com uma resolução superior. No entanto, essa melhoria vem acompanhada de alguma perda de qualidade, sobretudo nas cenas pré-renderizadas entre níveis, que sofrem com a compressão. Este efeito tornou-se ainda mais notório por eu utilizar um monitor ultrawide, um formato em que o jogo claramente não se adapta. Por outro lado, devido à elevada curva de aprendizagem e dificuldade, acabei por recomeçar o jogo no PC via emulação, sobretudo para tirar partido dos save states. Jogando em modo janela e com a resolução nativa em 4:3, o jogo revela uma apresentação bem mais fiel e agradável. Em termos sonoros, GunValkyrie oferece uma banda sonora ecléctica, alternando entre faixas orquestrais que evocam o imaginário de uma realidade steampunk dos séculos XIX e XX, e composições electrónicas mais enérgicas, que se adequam perfeitamente ao ritmo acelerado do jogo. O voice acting cumpre a sua função, embora o volume das vozes seja notavelmente baixo, o que faz com que muitas vezes fiquem abafadas pela música.

Graficamente é um jogo bastante interessante para os padrões de 2002, sendo especialmente notório em ambientes mais fechados

GunValkyrie é, em suma, um interessante jogo de acção, com mecânicas distintas e boas ideias que o diferenciam de muitos títulos contemporâneos. Contudo, os seus controlos complexos tornam a curva de aprendizagem bastante acentuada, o que pode afastar alguns jogadores. A experiência facilmente beneficiaria de uma execução mais intuitiva, mantendo a essência das mecânicas mas tornando-as mais acessíveis. Por exemplo, a utilização dos analógicos para um controlo de câmara e movimento mais fluídos, ou a inclusão de um botão dedicado ao dash (sendo que o botão X, por exemplo, não tem qualquer funcionalidade) são melhorias que se destacam de imediato. Curiosamente, o jogo começou por ser desenvolvido para a Dreamcast e, ao que tudo indica, estava pensado para utilizar em simultâneo um comando e uma lightgun, o que me deixa particularmente curioso sobre a visão original da equipa de desenvolvimento. Infelizmente, GunValkyrie não teve o sucesso comercial que a Sega possivelmente esperaria (talvez por ter sido um exclusivo de uma consola com pouca penetração no Japão) e, até aos dias de hoje, nunca teve direito a qualquer actualização ou sequela. Uma pena, pois havia aqui potencial para algo maior.

Panzer Dragoon Orta (Microsoft X-Box)

Já há algum tempo que não dava nenhuma atenção à primeira Xbox. Até agora, a única referência a esse sistema que trouxe cá foi uma breve menção quando joguei o Shenmue II, pois apesar de ter jogado a versão remastered na Playstation 4, possuo também na colecção o lançamento original da Dreamcast e a versão Xbox. Apesar de nunca ter passado muito tempo com este primeiro sistema da Microsoft, na verdade a consola possui alguns exclusivos que muito me interessam, como é o caso deste Panzer Dragoon Orta, lançado exclusivamente nesse sistema algures nos anos de 2002/2003 dependendo da região. O meu exemplar sinceramente já não me recordo muito bem onde terá sido comprado nem por quanto, mas fico muito contente por o ter.

Jogo com caixa, manual e papelada

A história leva-nos vários anos após os acontecimentos do Panzer Dragoon Saga da Sega Saturn, onde encarnamos na jovem Orta, que viveu como prisioneira durante grande parte da sua vida. A certa altura o império ataca a povoação dos Seekers que a mantinham em cativeiro, mas no último minuto Orta é salva por um dragão e o resto do jogo será passado não só a combater as forças imperiais que a querem assassinar, mas também em busca da verdade sobre o seu passado.

O jogo coloca-nos no papel de Orta, uma jovem adolescente que viveu como prisioneira toda a sua vida, até que o império decide atacar e destruir a população que a deteve

No que diz respeito aos controlos, este é mais um on-rails shooter onde voamos nas costas de um dragão e o jogo herda várias mecânicas não só dos primeiros 2 Panzer Dragoon, como do próprio Saga. Ao longo do jogo iremos viajar por uma série de níveis muito bem detalhados e com o objectivo de destruir tudo o que nos apareça à frente, desde bizarras máquinas voadoras do império, como várias outras estranhas criaturas que habitam aquele mundo. Os controlos são simples, com os botões faciais a servirem para disparar (botão A) que por sua vez se o mantivermos pressionado em conjunto com o direccional permite-nos trancar vários alvos que serão atingidos por lasers teleguiados disparados pelo dragão assim que largarmos o botão. Por outro lado, se apontarmos a mira e pressionarmos várias vezes esse mesmo botão, Orta dispara a sua arma. Existem alguns alvos, como os projécteis disparados pelos inimigos que não podem ser atingidos pelos lasers teleguiados do dragão, pelo que teremos de alternar de forma inteligente entre ambas as formas de fogo ao longo de todo o jogo. Os triggers L e R servem para rodar a câmara 45º na direcção pretendida, o que nos ajudará a combater todos os perigos que vão surgindo em várias direcções.

Neste jogo podemos alternar entre 3 distintas formas para o nosso dragão. O Heavy Wing é a forma que causa mais dano, embora seja a menos ágil e a que nos permite fazer lock-on a menos alvos

No canto inferior esquerdo, para além da nossa barra de vida temos também de ter em conta duas outras barras distintas. A amarela é uma barra que nos permite usar a habilidade de acelerar ou travar o nosso movimento (X e B), que pode ser usado, entre outros, para evadir de alguns ataques inimigos. Uma outra barra de cor verde quando cheia permite-nos desencadear os ataques berserk, capazes de causar dano em todos os inimigos presentes no ecrã. Tanto uma barra como a outra vão sendo regeneradas ao longo do tempo. Um outro aspecto importante a ter em conta é a possibilidade de transformarmos o nosso dragão durante o jogo recorrendo ao botão Y. Digamos que a forma como começamos é a normal e com o botão Y podemos alternar entre essa forma, a pesada e a ligeira. A forma pesada do dragão possui lasers teleguiados bem mais poderosos, embora o número de alvos dos quais podemos fazer lock é bem mais reduzido e o dragão também não é muito ágil. A forma mais ligeira, com um dragão de asa curta é bem mais ágil e temos mais oportunidades de usar o glide attack quando aceleramos, mas perdemos a possibilidade de usar os lasers teleguiados do dragão, embora possamos usar de forma bem mais eficiente as armas de Orta. De resto, à medida que vamos jogando poderemos vir a apanhar alguns power ups que melhorarão a performance do nosso dragão, mediante a forma que estejamos a utilizar no momento.

Por outro lado o glide wing é o mais ágil e apesar de não podermos fazer lock-on nos inimigos, é a forma que nos permite ter uma espécie de autofire das armas de Orta

Panzer Dragoon Orta é uma óptima evolução do Panzer Dragoon e Panzer Dragoon II Zwei da Sega Saturn, mantendo a jogabilidade bastante directa de um shooter on rails, acompanhado por níveis bastante diversificados e com uma direcção artística fantástica como a série bem nos habituou. O jogo em si não é muito longo, mas mediante a nossa performance e tempo de jogo, poderemos vir a desbloquear muito conteúdo adicional numa categoria intitulada Pandora’s Box. Aqui desbloqueamos missões secundárias e toda uma segunda história sob os olhos de Iva, uma criança orfã que luta pelo império, assim como uma espécie de enciclopédia daquele mundo, galerias de arte e uma conversão do primeiríssimo Panzer Dragoon. Todo este conteúdo pode no entanto ser também desbloqueado ao fim de 20h de jogo.

O facto de ser um jogo de Xbox permite-nos atravessar cenários lindíssimos e muito bem detalhados

A nível audiovisual, este Panzer Dragoon Orta é um jogo excelente. Sempre que escrevo sobre um Panzer Dragoon é impossível não referir toda a visão artística envolvida para criar todo aquele mundo fantasioso, uma espécie de híbrido entre fantasia, ficção científica e um cenário pós apocalíptico, onde não só enfrentamos criaturas estranhas, mas também inúmeras máquinas de uma tecnologia algo surreal e quase alienígena, artefactos deixados por uma civilização antiga e extinta. O Panzer Dragoon Orta tem tudo isso, mas agora num sistema tecnologicamente bem mais capaz que a velhinha máquina 32bit da Sega. É por isso que acredito que um remake ou reboot desta série nas mãos dos seus criadores originais daria muitos bons frutos, algo que o Panzer Dragoon Remake não conseguiu alcançar. A banda sonora segue o mesmo registo dos títulos anteriores, com músicas algo ambientais e operáticas e que bem complementam toda a visão artística desta série.

Os bosses são combates longos e tal como no Panzer Dragoon Saga obrigam-nos a procurar os seus pontos fracos

Portanto este Panzer Dragoon Orta é mais um excelente jogo desta série, tendo pecado apenas por ter saído numa plataforma que, apesar de tecnologicamente bastante superior à sua concorrência, não conseguiu catapultar esta série para a ribalta, mantendo-a num estatuto de culto. É um óptimo jogo e apesar de curto, todos os extras que inclui acrescentam bastante à sua longevidade, no que se inclui uma conversão do primeiro Panzer Dragoon também.

90 Minutes: Sega Championship Football (Sega Dreamcast)

Voltando às rapidinhas a jogos desportivos, ficamos agora com este 90 Minutes para a Dreamcast. Depois do UEFA Dream Soccer, a parceria entre a Sega e a Silicon Dreams chegou ao fim e a empresa nipónica olhou para os seus estúdios internos de forma a produzir mais um jogo de futebol para a sua última consola, que não teve o apoio da Electronic Arts, logo ficou sem a sua linha de jogos desportivos. O meu exemplar foi comprado em Agosto a um particular, veio num bundle de uma Dreamcast e vários jogos que acabou por me ficar muito barato.

Jogo com caixa, manual e papelada

Na altura da Dreamcast, apesar da consola ter recebido alguns jogos de futebol como os Worldwide Soccer 2000, Virtua Striker 2 ou mesmo o tal UEFA Dream Soccer que já referi acima, era a série FIFA da Electronic Arts que dominava a cena, com os ISS Pro da Konami também a terem muito boa reputação com os jogadores. Com a ausência de títulos da Electronic Arts na Dreamcast, e o suporte da Konami ser muito limitado também, a Dreamcast nunca chegou a receber nenhum desses títulos mais famosos. Enquanto os restantes desportos como basquetebol, hóquei no gelo e futebol americano acabaram por ficar muito bem servidos pela série 2K, a Sega nunca conseguiu competir a sério no futebol neste período. Depois de três títulos produzidos pela Silicon Dreams, foi a vez da Smilebit tentar fazer a diferença e o resultado foi este 90 Minutes.

Olha o Quim à baliza!

No que diz respeito ao conteúdo, sinceramente até que gostei do que vi aqui. Temos várias competições diferentes para abordar, desde partidas amigáveis, campeonato do mundo de selecções nacionais, várias ligas de diferentes países, bem como outras competições e torneios distintos, como torneios de clubes europeus, por exemplo. E aparentemente a Sega conseguiu a licença da FIFA pois temos aqui clubes reais e nomes de jogadores também. Já no que diz respeito à jogabilidade, bom, eu não sou grande jogador deste tipo de jogos e não gastei tanto tempo com o 90 Minutes assim. Mas a acção pareceu-me algo lenta e não era muito fácil controlar a bola ou passá-la para onde quisermos mas isso pode ter prefeitamente falta de jeito da minha parte.

Infelizmente achei a acção algo lenta e os controlos imprecisos

No que diz respeito à apresentação, acho que o jogo até que possui bons gráficos, mas devo dizer que gostei mais das animações dos jogadores no UEFA Dream Soccer. Temos uma série de estádios genéricos onde podemos escolher jogar, bem como poderemos escolher também as condições atmosféricas bem como a altura do dia, o que lhe dá uma maior variedade na sua apresentação. As músicas, como bem sabemos apenas tocam durante os menus e afins e aí devo dizer que este 90 Minutes possui uma banda sonora clássica da Sega, com algumas músicas mais rock, com solos de guitarra bem melódicos e sonantes! Já durante as partidas, temos os comentários de um comentador britânico e, se por um lado é impressionante ele ter gravado vozes para os nomes de todos os jogadores, durante as partidas os seus comentários acabam por ser muitas vezes muito aborrecidos, o que é pena.

Acho que o Zidane já tinha menos cabelo nesta altura

Portanto este 90 Minutes até que me parece ser um jogo de futebol bem completo, tanto nos seus modos de jogo e competições distintas, como na variedade de equipas que podemos escolher e com os nomes dos jogadores reais, o que não era muito comum na época a não ser nos FIFAs. Já na jogabilidade, lembro-me que na altura a imprensa não a avaliou bem e eu realmente achei o jogo um bocado lento e os controlos nem sempre eram assim tão precisos.

Sega Rally 2 (Sega Dreamcast)

Sega Rally 2

O Sega Rally original da Sega Saturn é muito provavelmente o meu jogo de corrida preferido de todos os tempos. E eu não sou um grande fã de jogos de corrida, para mim têm de ser bastante arcadey ou então mais futuristas à lá Wipeout ou F-Zero. E o Sega Rally original teve direito a uma excelente conversão para a Sega Saturn, traduzindo-se numa das melhores experiências arcade que alguma vez chegou a uma plataforma 32bit. Naturalmente, como na década de 90 as arcades ainda não estavam num declínio tão acentuado assim, uma sequela foi produzida pela mesma equipa que trabalhou no original, mas para o avançadíssimo sistema Model 3. Com o lançamento da Dreamcast, uma conversão para a consola pareceria obrigatória e foi isso mesmo que aconteceu. A minha cópia deste jogo deu entrada na colecção algures durante o verão do ano passado, tendo sido comprada a um particular por uma quantia entre os 5 e 6€.

Jogo completo com caixa, manuais, papelada e uma sleeve exterior de cartão que a Ecofilmes resolveu inventar

O problema com o Sega Rally original é que era simplesmente uma conversão do jogo da  arcade, com 2 carros e 3 circuitos, com um carro e circuito secretos a desbloquear ou por cheat codes, ou pela habilidade de chegar ao final em primeiro lugar. E por muito bom que Sega Rally na Sega Saturn tenha sido, o facto de ser um jogo muito curtinho acabou por o prejudicar. Este Sega Rally 2 acaba por colmatar algumas dessas falhas, mas no geral continua a ser pouco mais do que um jogo arcade. Dispomos então dos seguintes modos de jogo: Arcade (conversão directa), 10 year championship, que como o nome indica é uma espécie de campeonato ao longo de uma década, uma vertente multiplayer para 2 jogadores em splitscreen e por fim o Time Attack, onde lutamos por obter o melhor tempo possível.

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Graficamente é um jogo bem mais polido que o primeiro, tal como seria de esperar.

O modo Arcade é uma conversão directa do original, onde dispomos de 4 circuitos para jogar: Desert, Mountain, Snowy e Riviera, com a hipótese de escolhermos um de 8 carros disponíveis logo ao início. O 10 year championship apresenta mais 2 circuitos: os Muddy e Isle. Neste modo de jogo, à excepção do circuito Riviera, todos os outros possuem 3 variantes, resultando assim num muito maior número de pistas disponíveis face ao jogo original. Neste modo de jogo iremos correr na mesma em 4 circuitos em cada “ano”, no entanto o grau de dificuldade vai ser cada vez maior à medida em que vamos progredindo na temporada. Apesar de continuar a ter uma jogabilidade bastante arcade, aqui incluiram mais algumas customizações que podemos fazer antes de cada circuito, como alterar a suspensão, pneus, transmissão, entre outros. À medida em que vamos completando cada temporada, e caso terminemos em primeiro lugar, desbloqueamos um carro extra, aumentando assim para um total de 18 carros que podemos desbloquear neste Sega Rally 2.

De resto a jogabilidade é o que podemos esperar de um Sega Rally clássico. Não é propriamente um jogo de simulação, na medida em que não esperem representações realistas de condução, mas é bastante divertido de jogar e difícil de dominar. O 10 years é mesmo um modo de jogo bastante desafiante, que acaba por colmatar mais uma vez a pouca variedade de cenários. Mas o que não poderia mesmo faltar são as indicações do co-piloto, que desta vez é uma jovem, que nos vão avisando ao longo de cada circuito das curvas, lombas ou outros percalços a ter em atenção.

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Circuitos à noite ou com diferentes alterações climatéricas aparecem também neste jogo.

Uma das curiosidades desta conversão é que a mesma utiliza as APIs do Windows CE. Para quem não sabe, existem 2 tipos de APIs que podem ser utilizadas nos devkits da Dreamcast: a Katana, tendo herdado o nome do protótipo japonês da Dreamcast (sim, houve um americano, só mais uma das confusões da Sega…), e uma outra APIs que usa o Windows CE e instrucções Direct X, criada especialmente para facilitar a vida dos programadores em conversões PC – Dreamcast. Uma das condições acordadas entre a Sega e a Microsoft foi que a própria Sega teria de lançar alguns jogos sonantes utilizando as APIs do Windows CE e este Sega Rally 2 foi um dos contemplados. Infelizmente isso resultou em framerates inconstantes, pois as APIs da própria Sega oferecem melhor performance à consola, como seria de esperar. Essas inconsistências eram muito evidentes na versão japonesa do jogo, que corria a 60fps, mas com quebras constantes. Nas versões ocidentais resolveram trancar o framerate a 30fps, tendo ficado mais consistente.

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O splitscreen retira algum do detalhe gráfico, como seria de esperar.

Graficamente é um jogo bonitinho, tendo em conta que é um jogo de primeira geração para a Dreamcast. Os circuitos vão mudando, podendo ser jogados à noite, onde os efeitos de luz são bem implementados, com chuva ou neve, onde mais uma vez esses efeitos gráficos são bem convincentes. No circuito “Muddy” então, é possível ver o carro a ficar cada vez mais sujo à medida em que vamos avançando no circuito. Os efeitos sonoros são excelentes, e ouvir a nossa co-piloto a berrar “very long easy left, maybe” em conjunto com o rugir dos motores, dão uma grande adrenalina à experiência. A banda sonora por si é o clássico da Sega, embora para mim não seja tão boa como a do Sega Rally original, que era mais focada em rock progressivo. Aqui temos na mesma algumas malhas de rock progressivo, mas também muitas outras mais jazz, funk ou dance music. Não deixa de ser uma boa banda sonora, como em quase todas as adaptações dos jogos arcade da SEGA.

No fim de contas, Sega Rally 2 pode não ter o mesmo sentimento nostálgico que o original de Sega Saturn provocou em mim, mas não deixa de ser um excelente jogo de corridas arcade dos reis do género. Fruto de ter sido desenvolvido com a API do Windows CE, existe também uma conversão do jogo para PC, que não experimentei, mas suponho que corra numa resolução mais alta e com um framerate bem estável. Ainda assim, Sega Rally é para ser jogado em Arcade ou consola, e é uma entrada indispensável no catálogo Dreamcast de um coleccionador que se preze.

Jet Set Radio (Sega Dreamcast)

JetsetradiopalboxartE o primeiro artigo da Sega Dreamcast que escrevo neste blogue é nada mais nada menos que um dos seus jogos mais originais, o Jet Set Radio. Durante a era da Sega Dreamcast, os estúdios da Sega atravessaram um dos seus períodos mais criativos, criando jogos como Phantasy Star Online, Shenmue, Skies of Arcadia, Rez ou este jogo. Jet Set Radio é um jogo que mistura a jogabilidade de um Tony Hawk com graffitis, o feeling de um jogo arcade como a Sega bem o sabe fazer e uns visuais únicos para a época. A minha cópia foi comprada algures no ano passado através da Amazon UK. Foi um óptimo negócio na minha opinião, visto que comprei uma cópia selada pelo preço de 0.99£ mais portes.

Jet Set Radio - Sega Dreamcast
Jogo completo com caixa e manual

Jet Set Radio tem uma história algo surreal, pelo que não adianta escrever muito sobre a mesma. O jogo decorre numa versão distorcida da capital japonesa Tóquio, onde diversos “gangs de patinadores” lutam entre si em vários distritos da cidade, marcando o seu território com pinturas em graffiti em diversos pontos. Podemos jogar com várias personagens do gang G.G. do distrito de Shibuya-cho, onde inicialmente defrontamos elementos dos gangs rivais ao longo de vários locais da cidade, bem como as forças policiais que tentam restabelecer a ordem. Com o decorrer do jogo a trama vai-se desenvolvendo com a inclusão de um outro gang, este já mafioso que está por detrás dos vários conflitos que têm acontecido. Tudo isto é narrado através do doido Professor K, um DJ da rádio pirata mais famosa do sítio: Jet Set Radio.

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Alguns graffitis mais complexos exigem que se repita os movimentos mostrados no ecrã com o stick analógico

Tal como referi acima, a jogabilididade cruza-se com a de um Tony Hawk Pro Skater com algo mais arcade. Todas as personagens estão equipadas com uns patins, o que lhes permite fazer as habilidades mirabolantes do costume em videojogos de desportos radicais, desde “grindar” corrimões, patinar sobre paredes, carros e afins, saltos acrobáticos, etc. Em todos os níveis do jogo temos como objectivo pintar com graffitis alguns pontos chave, marcados através de setas vermelhas. Para isso temos de ir coleccionando latas de spray que estão espalhadas pelos locais. Alguns graffitis são bastante simples de se fazer, bastando apenas apertar o botão no momento certo, já os grafittis mais complexos exigem que o jogador repita com o analógico os movimentos que vão surgindo no ecrã. Claro que se fosse só isso o jogo seria fácil, mas existem vários empecilhos que se vão colocando à nossa frente. Inicialmente apenas somos importunados por alguns polícias, depois lá começam a vir corpos de intervenção, equipas SWAT, helicópteros, tanques de guerra e por aí fora, mediante a dificuldade do nível. Nós não temos como lutar contra maioria dos inimigos, excepto alguns – marcados com setas verdes – que podem ser pintados com graffitis. Mas os inimigos não são a nossa única preocupação – como um jogo arcade, temos um limite de tempo para completar cada nível.

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A história vai sendo contada com cutscenes entre os níveis, quer pelo Professor K, quer por outras personagens do gang GG

A jogabilidade é bastante simples, utilizando apenas botões para saltar, acelerar e centrar câmara/pintar graffitis. Esta versão original para a Dreamcast, ao contrário da versão em HD que a Sega lançou recentemente para Steam/XBLA/PSN/whatever não é possível controlar-se a câmara, o que causa alguns problemas pois por vezes a câmara insiste em dar o pior ângulo possível. De resto, apesar de ter uma jogabilidade simples, Jet Set Radio não é propriamente um jogo fácil e tem também imenso conteúdo para desbloquear. Ao longo da aventura vamos sendo desafiados por outras personagens, seja para repetir algumas habilidades que elas façam, ou correr do ponto A ao ponto B. Se vencermos os desafios, essas personagens juntam-se à nossa equipa, podendo ser jogáveis. Cada personagem tem os seus pontos fortes e fracos, seja a resistência física ao dano, destreza para “graffitar”, ou técnica de skating para se obter melhores truques. Para além destas personagens ainda existem outras mais secretas ainda, algumas mesmo exigindo rankings máximos em cada nível para serem desbloqueadas, bem como existem outros modos de jogo mais desafiantes para desbloquear. Ainda mais, esta versão para Dreamcast tinha algumas funcionalidades online, na medida em que poderíamos criar os nossos próprios graffitis, partilhá-los com a comunidade e utilizá-los no jogo. Como é óbvio, o serviço online da Dreamcast já foi descontinuado há muito, pelo que isto me passou ao lado.

Jet Set Radio é sem dúvida um jogo original. Para além das suas mecânicas de jogo que já referi, é impossível não se gostar do carisma de algumas personagens, desde o desgraçado do Captain Onishima que tenta sempre nos apanhar, aos diálogos bem humorados do DJ narrador Professor K, ou mesmo no visual de todos os intervenientes do jogo. E o visual é mesmo a primeira coisa que saltava à vista em Jet Set Radio. Sendo um jogo pioneiro ao utilizar o cel-shading, uma técnica que conferia um aspecto cartoon a objectos poligonais, Jet Set Radio chamou à atenção por isso mesmo. Era nitidamente um jogo 3D, mas no entanto os visuais pareciam mesmo vindos de um anime. Mas não eram só os gráficos fora de série que chamaram à atenção do jogo, a banda sonora também. Ao longo de toda a aventura podemos ir ouvindo uma grande variedade de géneros musicais, mas todos eles a fazerem o perfeito sentido naquele universo distópico do submundo de Tóquio. Desde os esperados J-Pop e J-Rock, passando por músicas electrónicas, hip-hop, funk, trip-hop, há conteúdo para todos os gostos. As músicas que compõe a banda sonora de JSR tanto provêm das composições de Hideki Naganuma como de vários outros artistas “licenciados”, sendo que estas últimas vão variando de versão em versão. Algumas apenas estão disponíveis no lançamento original japonês, outras no europeu, outras no Jet Grind Radio norte-americano.

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E lá vem o Onishima atrás de nós…

Concluindo, Jet Set Radio foi mais um dos excelentes jogos lançados pela Sega no período da Dreamcast e que pouca gente lhe prestou atenção. Ainda assim ganhou uma sequela na Xbox com o nome de Jet Set Radio Future bem como um estatuto de culto por parte da comunidade gamer mais afincada. Para quem não tiver Dreamcast, existe uma conversão em HD para vários sistemas distribuição digital em diversas plataformas. Essa conversão, para além de ter os visuais melhorados, inclui melhorias na jogabilidade, tal como o controlo de câmara já referido acima. A versão Steam especificamente, por vezes é alvo daquelas promoções malucas, pelo que pode ser comprada a um preço muito convidativo em certas alturas.