Ah, o Quake II… adorei o primeiro jogo, assim como tudo o que a id software tinha feito até então. Mas o Quake II foi a primeira wake up call que tive que precisaria de fazer um upgrade ao meu PC, algo que só veio a acontecer muito depois. O primeiro Quake marcou a passagem dos FPS pseudo 3D (pois usavam sprites para inimigos e itens) para modelações completamente 3D. O segundo acabou por ser uma evolução do primeiro e foi talvez o maior responsável pela popularização e crescimento na adopção de placas aceleradoras 3D, o que a minha placa com 1MB de VRAM dificilmente faria. O jogo foi também convertido para algumas consolas e a versão Playstation foi surpreendentemente boa. O artigo irá falar no Quake II no geral, destacando as particularidades da PS1 sempre que necessário. Os meus exemplares vieram de locais distintos. A versão Playstation foi a primeira que arranjei, em Julho ou Agosto de 2016 na Cash Converters de Benfica por 3.5€. A de PC veio logo no mês seguinte, na feira da Vandoma do Porto. Ficou-me por volta de 3€, o que foi um excelente preço visto ser a big box completa e aquela que eu sempre quis ter quando era miúdo mas o meu PC não aguentava.

Enquanto o primeiro Quake levava-nos por viagens interdimensionais a mundos algo medievais e com criaturas retiradas de algum universo Lovecraftiano, fruto também de um desenvolvimento algo atribulado, a história deste Quake II já é muito mais o que seria esperado de um estúdio como a id. Aqui a raça humana estava em Guerra com os Stroggs, uma civilização alienígena. O jogo começa com os Space Marines a prepararem-se para aterrar no planeta dos Stroggs e tentar eliminar o seu líder, de forma a prevenir uma eventual invasão ao nosso planeta. Mas as coisas não correm bem e todos os soldados acabam por ser mortos ou capturados assim que aterram no planeta. Todos, claro, menos nós que sofremos um pequeno acidente de percurso e acabamos por aterrar ilesos. Como todos os first person shooters da época, acabamos por ser nós sozinhos a lutar contra todo um exército, mas seria de estranhar se fosse de outra forma em Quake.

O jogo continua rápido e visceral como seria de esperar. Há no entanto uma série de mudanças. O jogo já não está repartido em níveis mas sim em missões com diferentes objectivos para cumprir. Os níveis em si, ou digamos, áreas de jogo, são bem grandinhos e por vezes teremos mesmo de revisitar áreas antigas de forma a progredir no jogo. Algumas das armas presentes no primeiro jogo, como as shotguns ou os lança granadas/rockets, marcam aqui o seu regresso. Outras armas como metralhadoras, railguns ou armas futuristas foram introduzidas, incluindo uma nova versão da BFG do Doom. De resto, a jogabilidade mantém-se como se quer, com inimigos agressivos e violência a rodos, em acção non-stop. Podemos carregar todas as armas e a vida não é auto regenerativa, mas sim com recurso a medkits, mesmo como manda a lei. A versão Playstation naturalmente a nível de controlos não é tão boa, embora os mesmos se possam customizar bastante e possui também suporte ao rato official da Playstation. Essa versão é também mais curta, possuindo muito menos níveis que a versão PC e os mesmos estão algo diferentes, existindo muitos corredores que separam umas áreas das outras, devido aos loadings que vamos ter de passar. Essa é uma das grandes desvantagens da versão Playstation, os loadings.

Depois temos o multiplayer, que no PC era excelente, com variantes do deathmatch, capture the flag e podendo também jogar o modo história de forma cooperativa. Eu pouco joguei, pois na altura o meu PC não conseguia correr o Quake II. Mas nas LANs da escola isso já era outra conversa… A versão Playstation apenas permite multiplayer em split screen com até 4 jogadores, se bem que as arenas desta versão são exclusivas para a Playstation.

A nível gráfico este era um jogo excelente para a época em que foi lançado, tirando partido das primeiras placas aceleradoras 3D, com os cenários e inimigos a ganharem mais detalhe, mais polígonos e texturas e efeitos de iluminação melhores. Detalhes dos ferimentos causados pelo combate foram uma das coisas novas que a tecnologia deste Quake II nos trouxe, algo que foi ainda mais explorado na série Soldier of Fortune, que usa versões modificadas do motor gráfico deste Quake II. Infelizmente não há é muita variedade de cenários, sendo na sua maioria instalações militares ou industriais, onde os tons de castanho de metal oxidado e cinza do cimento são uma constante. A versão Playstation surpreendentemente acaba por se portar muito bem. Os gráficos não são tão polidos e bastante mais pixelizados, mas ainda assim acaba por mostrar um nível de detalhe e fluidez impressionantes para uma Playstation 1. Diria ainda que é o jogo 3D mais bonito da consola! A nível de som é também um óptimo trabalho, com a banda sonora a assentar principalmente em rock e metal. As guitarradas ficam muito bem num jogo deste género. Na Playstation a banda Sonora também é similar, incorporando temas também das expansões. No entanto, cada vez que há um loading, a música muda, e com os loadings frequentes da versão Playstation não dá para apreciar tão bem a banda sonora.

Portanto Quake II é um clássico. Talvez dos últimos grandes FPS clássicos, antes de Half-Life ter surgido em cena e mudado por completo o paradigma dos FPS single player. O multiplayer de Quake II foi também muito forte, com a sua sequela, o Quake III Arena a focar-se exclusivamente nessa vertente de jogo.